quinta-feira, março 12, 2009

Angola

JustifierFoi um caminho longo, muito longo. Dos traumas da guerra às crises pós-independência, das andanças da UNITA por Lisboa aos acordos de Bicesse, das tensões diplomáticas pontuais à recuperação da confiança.

As relações luso-angolanas parece terem encontrado, nos últimos anos, um ponto de estabilidade favorável aos interesses dos dois países. Ainda bem que assim sucede. E todos esperamos que assim continuem, agora que a nova prosperidade angolana lhe permite um cruzamento de interesses financeiros com Portugal.

Vivi em Angola, entre 1982 e 1986, num dos períodos turbulentos que marcaram as relações entre os dois países. Era um tempo de guerra civil, com Luanda quase sitiada, com recolher obrigatório e montras e lojas desertas. Às vezes não havia água, às vezes faltava a luz, dias havia em que, no Hotel Trópico, o menu era peixe frito com arroz ao almoço e arroz com peixe frito ao jantar. Salvavam-se os fins de semana na ilha ou no Mussulo, as lagostas do Mário em Cabo Ledo, os muitos amigos e a imensa simpatia de um povo sofrido e cansado.

No plano político-diplomático, foram momentos muito complexos para as relações bilaterais, anos de trabalho paciente e delicado. Espero que esse esforço possa ter contribuído para alguma coisa do que, posteriormente, se construiu.

A Angola de hoje - dizem-me - é algo diferente, mais cosmopolita e movimentada, com negócios a emergir por todo o lado, com uma presença portuguesa mais actuante e bem aceite. Mas, em especial, agrada-me pensar que os sorrisos largos e francos das quitandeiras dos mercados de Luanda podem agora reluzir, mais felizes. Bem o merecem!

8 comentários:

Anónimo disse...

Não é por nada de especial(ou será afinal por tudo?) que este dito blog é profundamente chato, presumido "olha cá estou eu tão importante" recheado das gravatinhas encadernadas típicas nos meninos das Necessidades?
J.A.Dias

Helena Sacadura Cabral disse...

Concordo inteiramente com a sua descrição. Apenas dicordo num ponto vital. Senghor sempre se orgulhou da sua negritude. Ao contrário, o Presidente de Angola parece-me o negro mais branco que conheço. Possivelmente o erro será meu!

Francisco Seixas da Costa disse...

Quanto ao comentário (anónimo) assinado J.A.Dias, duas notas apenas:

1. Se o blogue é chato, tem bom remédio: não leia.

2. Há um concurso em breve, para aceder às Necessidades. Claro que é difícil, mas por que não tenta entrar? Ou já terá entrado e não nos quis dizer?

3. E, confesse lá!, estava à espera que o seu comentário fosse publicado? Quem não deve...

Anónimo disse...

Sobre Angola nada posso dizer.
Não conheço, o que sei recordo do que o meu pai contou em tempos que já lá vão e o que amigos 'retornados' lamentaram.
E, ainda, só o que vejo na televisão e vou lendo por aí.
A sensação é sempre de algum desconforto.
Não gosto de muito do que se ouve e tanto de que de que nos apercebemos.
Isto de 'engolir sapos' tem que se lhe diga..., mesmo que por um alega 'bem maior'...
Aí residirá muita da arte da diplomacia, a qual cada vez mais me surpreende e encanta.
Por exemplo, o que nestes comentários se verificou...
Extraordinário entrarem na 'casa' de alguém para desfeitear; formidável serem recebidos com luvas de pelica.
Ele há mesmo coisas que provam que estamos sempre a aprender...
Obrigada, Senhor Embaixador.

Anónimo disse...

Vivi em Angola 3 anos, num período diferente daquele em que esteve o Embaixador Francisco Seixas da Costa, 04-06, quando já se tinha iniciado a recuperação económica do país e a estabilidade política era um facto adquirido.
Do ponto de vista diplomático, sem dúvida que o período vivido por FSC terá sido mais interessante de ser seguido e relatado.
Enquanto lá estive, fui assistindo ao crescente investimento estrangeiro, na sua maioria português, proveniente de vários sectores, da Banca à Industria, passando pelo Comércio. E foi, confesso, com satisfação que segui esse desenvolvimento nas relações económicas entre os dois países, Portugal e Angola (que durante as últimas duas décadas e meia tinham estado quase de costas voltadas), que permitiu, com isso, um estreitamento dos laços políticos, com reflexo para as relações bilaterais que assim se aprofundaram.
A recente visita de José Eduardo dos Santos a Portugal é pois o corolário lógico desta nova era de relacionamento entre dois países que hoje se respeitam e procuram, juntos, trilhar um caminho de reciprocidades e partilhas económico-políticas.
Ainda bem que este foi o caminho escolhido. Ambos têm a ganhar com esta atitude.
E, convém registar, Angola escolheu, e bem, um caminho distinto do seu vizinho da RDC. O contraste não podia ser maior. Angola tem estabilidade política e a sua economia cresce a níveis invejáveis. Ao contrário daquele país.
Se a isso aliarmos os seus abundantes recursos naturais, uma população relativamente escassa para a sua enorme área geográfica, constata-se que Angola possui hoje os “ingredientes” necessários que lhe possibilitam dar início a um desenvolvimento sustentado, a médio prazo.
Haja vontade política.

Paulo Delgado Rufino

PS: Já depois de ter escrito isto, a propósito do oportuno e pertinente comentário que sobre Angola fez o Embaixador Seixas da Costa, li o Post de J.A.Dias. Ficou-me a impressão que se estaria a referir a um outro local qualquer, onde deve ter passado e confundiu com as tais Necessidades. Redondo lapso, pois por lá, nas ditas Necessidades há gente excelente, trabalhadora, com gravata é certo, tal como em muitos outros locais de trabalho, que entre muitas outras coisas, contribuiram, laboriosamente, para que as relações entre Portugal e Angola sejam hoje excelentes.

Anónimo disse...

Raramente tenho lido um texto onde se pode ler mais no que não está escrito do que naquilo que se escreveu. Agora, que está aí em Paris, "bravo, m. l'Ambassadeur"!

ABC

Anónimo disse...

Acabei de ler, com grande emoção, o que o Francisco Seixas da Costa escreveu sobre Angola. Vivi lá de 1973 a 1986 e, foi no período de 82 a 86 que tive o grande privilégio de conhecer e criar uma grande e verdadeira Amizade com FSC e sua mulher.
Apesar de ter vivido o antes e o após independência, foi este último período que me deixou mais saudades.
Foi lá que vivi com os meus filhos, foi lá que nasceu o meu 5º filho, em 1980, foi lá que deixei bons amigos, foi lá que cresci pessoal e profissionalmente.
Obrigado Francisco por me lembrares esses tempos. Obrigado aos que lá ficaram a lutar para fazer de Angola um País melhor, mais digno e dar ao Povo angolano o País que ele merece.

Anónimo disse...

Angola. Andei por lá oito anos divididos por três períodos. O mais recente até Julho de 2008. Sai de lá com duas certezas apenas. O país é fantástico, gosto das suas gentes, pouco dadas a palmadinhas nas costas até que lhes apeteça, e ainda que Luanda é a cidade mais mísera para se viver. Há outras no mundo mais pobres, mais sujas, mais poluídas, mais corruptas, mais intransitáveis... tudo isso é verdade, mas nenhuma onde todas estas "qualidades" estejam tão bem representadas no seu conjunto. De resto, se tivesse que apostar num país com uma perspectiva de 10-15 anos, Angola estaria no topo das lista, tanto para viver como para investir. Mas fora de Luanda, semprte longe de Luanda, mesmo muito mas muito longe daquela choldra. WE não vejo soluções possíveis. Só com intervenção dos Céus... pode ser que com o Papa a coisa vá lá!!!
Rui Trancoso

25 de novembro