segunda-feira, janeiro 04, 2016

Michel Galabru


Com a morte de Michel Galabru, desaparece o último membro do magnífico sexteto que, em 1964, inaugurou a série de filmes dos patuscos "gendarmes" de Saint-Tropez, cuja figura central era Louis de Funès. Galabru "fazia" de chefe de Funès, que titulava as principais confusões e situações divertidas.

Vistos hoje, os "gags" da trupe dos "gendarmes" ainda divertem, mas, no que me toca, acabam por cansar um pouco. Fazem parte de um outro tempo da comédia "trapalhona", que teve os seus cultores em todos os países e que, nos EUA, continuam a prosperar.

Acabaram assim os "polícias de Saint-Tropez". Não seriam tão famosos na localidade como foi Brigitte Bardot, mas a verdade é que da primeira vez que visitei a cidade, fui logo à procura do local (falso) onde aqueles "gendarmes" brilharam durante seis filmes.

domingo, janeiro 03, 2016

António Barreto


Na sua coluna dominical no DN, António Barreto afirma hoje isto: (Jorge Sampaio) "fez o que pôde para afastar António Guterres da liderança socialista, já agora também do governo. Depois de o conseguir, entregou o poder ao PSD".

Tudo isto é rotundamente falso, como bem sabe quem viveu as coisas por dentro. Melhor: como sabe qualquer pessoa minimamente informada, quanto mais António Barreto. E, no entanto, isto surge escrito com um ar de verdade incontroversa.

Havia necessidade? Vale tudo?

Passeio de domingo


Dizia uma para a outra:

- E tu, em quem votas?

- Deixa-os pousar...

Henrique Neto


Em 23 de março de 2015, escrevi por aqui isto:

"Pronto! Começou a corrida. Henrique Neto é candidato declarado à presidência da República. O primeiro.
Com 78 anos, um passado digno de anti-fascista, "self-made man", industrial, homem de palavra frontal, Henrique Neto não é um homem "fácil". Tens ideias próprias, diz sempre o que pensa e di-lo com palavras fortes, às vezes ácidas. No seio do Partido Socialista, ao olhar para as últimas décadas, verifica-se que quase sempre foi uma figura incómoda, incontrolável, crítica. 
Deixo daqui um sincero abraço de simpatia pessoal a Henrique Neto, pessoa que me merece respeito, com quem tenho trocado impressões esparsas e francas, ao longo destes anos. Um respeito que é agora reforçado pela coragem que teve para entrar nesta aventura, a qual nem por ser impossível deixa de ser nobre. Estarei algures, mas só lhe posso desejar um valente combate."

Na ocasião, não foram poucos os amigos que me criticaram por ter colocado a público esta nota de simpatia pessoal, não obstante o meu "estarei algures" deixasse explícito que Henrique Neto não poderia vir a contar com o meu voto.

Ontem, vi, por mera casualidade, o seu debate com Sampaio da Nóvoa. Não foi a "nobre" aventura e o "valente" combate que eu esperava que ele assumisse. Foi um espetáculo tristíssimo de ressabiamento e agressiva acrimónia,  que foi ao ponto de convocar a cumplicidade do falso "moderador", que funcionou como seu "compère" (ou seria o contrário?).

É com muita pena que digo que aquilo a que ontem assisti não está à altura do passado de Henrique Neto. Pelo menos, do Henrique Neto que eu julgava conhecer mas que, pelos vistos, os meus amigos conheciam melhor que eu.

Presidenciais

Tinha prometido a mim mesmo não ver debates televisivos nas eleições presidenciais. Mas "a carne é fraca" e, anteontem, não resisti a observar o anunciado espetáculo de Tino de Rans com Marcelo Rebelo de Sousa. O show foi antecedido do "número" de um senhor grave que, "à Santana Lopes", abandonou a cadeira. Havia ainda um outro senhor cujo nome (ainda) não decorei e cujo fascinante currículo vou pesquisar no LinkedIn, e que disse umas coisas notáveis. Um ponto comum a todos os candidatos foi terem proferido afirmações da maior "sensatez" - a acreditar em Marcelo Rebelo de Sousa, qualidade não acessível a todos os mortais.

Há pouco, noutra distração - apenas porque no "zapping" tinha achado graça ao "ticket" -, assisti ao debate entre Henrique Neto e Sampaio da Nóvoa, "moderado" por Rodrigues dos Santos. Este pareceu possuído pela diabolização de Sócrates e, subitamente, deixou de tentar ser jornalista moderador e passou a atacar Sampaio da Nóvoa, como se a este não bastasse o facto de Henrique Neto já o ter tomado como alvo, nem que para tal tivesse sido obrigado a dizer bem de Passos Coelho. Nóvoa, coitado, correto mas claramente sem "killer instinct", fez de "punching bag" de ambos, acabando despedido secamente por um deliciado Rodrigues dos Santos, dono do gong.

José Rodrigues dos Santos, que em tempos longínquos estagiou na BBC, esforça-se há anos por fazer de Jeremy Paxman da paróquia, mas nem na qualidade das gravatas consegue aproximar-se. E - uma vez mais! - fez passar uma vergonha ao diretor de informação, Paulo Dentinho. Não foi "Serviço Público", foi "Serviço Correio da Manhã".

sábado, janeiro 02, 2016

Mundo islâmico

Quando os americanos, sob o falso pretexto da existência de "armas de destruição maciça"*, atacaram o Iraque, muitos comentadores responsáveis alertaram para o risco de uma desagregação desse país poder ter consequências catastróficas para toda a região e, muito em particular, poder afetar o equilíbrio entre Bagdad e Teerão. Viu-se que tinham carradas de razão. A noção de que as grandes "obediências" muçulmanas - shiitas e sunitas - pudessem vir a agravar a sua tradicional conflitualidade estava também presente nesses avisos, que a "intelligence" americana desprezou, por irrelevante.

Se se olhar para a tensão nas últimas horas entre o Irão e a Arábia Saudita pode perceber-se que essa realidade está cada vez mais presente e sabe-se lá até onde poderá chegar.   

(*a propósito: à época, um opinador luso disse que, se acaso não houvesse "armas de destruição maciça" no Iraque, se passearia nu pelo Rossio. Creio que ninguém é "demandeur" do espetáculo, mas será que nunca mais voltou a opinar sobre o assunto?)

Vamos lá, rapaziada!


Futeboys

A nossa diligente imprensa de investigação, que tão afoita se mostra quando lhe dá para cuscuvilhar a vida de um qualquer cidadão, não tem a mesma curiosidade sobre a vida financeira (nomeadamente dívidas à banca e situação fiscal) das grandes agremiações futebolísticas. 

Aí, sim! Os números seriam importantes, quase a contarem para o défice...

Seria bonito, mas a cobardia, pelo medo ao boicote organizado dos adeptos das várias cores, atenua o escrúpulo profissional e não permite o empenhamento, não é?

Boa memória (1)


A sério: valeu mesmo a pena tudo aquilo?

sexta-feira, janeiro 01, 2016

Foi assim...


Não éramos muitos. Apenas algumas dezenas. Na maioria, especialistas nas áreas económica e jurídica, além de uns quantos diplomatas, numa convivência pouco habitual mas que, com os anos, se foi tornando cada vez mais natural e frutuosa. Grande parte vinha da estrutura que havia representado os interesses sectoriais portugueses no processo de adesão às então chamadas "Comunidades europeias". Alguns haviam sido destacados de outros departamentos técnicos. Outros ainda, provinham do núcleo que, nas Necessidades, tinha sido responsável pelas negociações. Eu vinha... de Angola! Juntámo-nos todos naquele edifício da Visconde de Valmor, para dar início à grande aventura que começou a fazer-se há precisamente 30 anos.

O "know-how" português sobre as questões europeias era considerável, mas algo lacunar. No MNE, no Ministério das Finanças e em vários outros departamentos do Estado, havia já gente com forte experiência em alguns dossiês, em particular dos que haviam sido objeto de negociação mais intensa. Porém, a globalidade do universo bruxelense era algo que ainda nos transcendia.

Sabíamos bem o que era essencial para os nossos interesses, aquilo a que deveríamos estar atentos em prioridade. Essa era a agenda “defensiva” a que estávamos aculturados. Mas havia um conjunto de temas que, por não serem relevantes para essa nossa agenda nacional, não suscitavam então a nossa reação.

As instituições europeias são uma "fábrica" de papelada, se bem que, à época, a sua "produção" fosse bem mais limitada do que hoje sucede. Não obstante, lembro-me de aterrarem então sobre as nossas secretárias resmas de documentação sobre cujo tratamento nos interrogávamos, com “deadlines” para eventual resposta que nos angustiavam e que, passadas que fossem, nos deixavam “aliviados”.

Depois dos primeiros meses de 1986, tudo começou a ficar mais claro: os assuntos coneçavam a ser hierarquizados com maior realismo e, pouco a pouco, o que sentíamos como alheio passou a mobilizar a nossa atenção. Porém, muitas das vezes, os departamentos técnicos que consultávamos não eram capazes de manifestar nenhuma opinião e, recordo, a perplexidade sobre a atitude que devíamos assumir podia ser imensa. 

Interessante passou a ser a nossa participação nas reuniões de Bruxelas, onde à timidez inicial de alguns sucedeu o “atrevimento” de outros, quando ousavam pronunciar o “Portugal pensa que…” Éramos todos aprendizes de uma arte nova, alguns já com experiência internacional anterior, outros dando os primeiros passos num terreno em que todos tínhamos a consciência de ir assentar muito do nosso futuro.

Foi assim. Correu bem, mesmo muito bem, essa magnífica aventura iniciada a 1 de janeiro de 1986.

2016 !


quinta-feira, dezembro 31, 2015

A bem "dezer"...


... o ano até nem correu nada mal!

Schengen


Feliz Ano Novo!


"O Independente"


Nuno Saraiva, a abrir uma crónica ontem no DN, a propósito do livro "O Independente - a Máquina de Triturar Políticos", de Filipe Santos Costa e Liliana Valente, escreve esta frase: "Foi dos livros em que mergulhei nos últimos tempos o que mais prazer me deu". Ora eu gostava de dizer que o Nuno me tirou as palavras da boca. Foi exatamente isso o que eu senti.

Se, neste final de ano, me é permitido aconselhar a compra e a leitura de um livro, esta seria a minha escolha. Está ali o essencial para se perceber a evolução daquilo a que, em tempos, se chamou o "cavaquismo" e do Portugal desse tempo. Há por ali retratos imperdíveis de figuras cuja importância se esvaiu com o tempo, mas que pareciam então ter um destino nacional assegurado. Mas também por ali está o perfil, a preto e branco, de um jornal que, com muita arte e às vezes com muito pouca ética deontológica, não deixou de marcar um tempo importante no jornalismo português, por muito que isto possa parecer algo incongruente. 

Durante esses anos em que foi dirigido por Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas, "O Independente" foi um ator central na vida política portuguesa. "Queimou" pessoas, destruiu carreiras, bombardeou inimigos de estimação, protegeu amigos do peito, desenvolveu uma espécie de jornalismo onde, lado a lado, o brilhantismo convivia com alguma canalhice, numa total impunidade. O livro retrata tudo isso sem estados de alma, mas também sem contemplações. Lê-lo é um prazer, difícil é pô-lo de parte quando o tempo do dia não é suficiente. Recomendo-o vivamente. 

quarta-feira, dezembro 30, 2015

"Europa - um Feliz Ano Novo?"


Na "Visão" desta semana, que saiu hoje com um interessante conjunto de textos sobre o ano que aí vem, publico um artigo sobre os desafios da Europa para 2016, intitulado "Europa: um Feliz Ano Novo?". Pode lê-lo aqui.

Fraga da Almotolia


Há dias, falei aqui do Buraco Sagrado, um dos lugares "secretos" de Vila Real. Hoje estive perto de outro, a Fraga da Almotolia. 

Pergunte-se a um vilarealense se conhece a Fraga da Almotolia. Em dez, deve encontrar um que diz que "ouviu falar" e, em cem, talvez um tenha por lá passado algum dia. E, no entanto, se lhes pedirmos indicação sobre onde é o Chaxoila, quase todos dirão que sabem - sem que reconheçam que o tal lugar da Fraga da Almotolia (porque se chamará assim?) é quase por detrás do restaurante Chaxoila, desde há muito uma "casa de pasto" de referência das cercanias da cidade de Vila Real.

A Fraga da Almotolia, uma área na zona das Flores, à saída de Vila Real para Chaves, era um lugar tradicional de exercícios militares do RI 13, a unidade do Exército da cidade. A seguir à descolonização, a exemplo do que aconteceu em outras zonas do país, a agência norueguesa para a cooperação, Norad, criou na Fraga da Almotolia um bairro para acolher famílias de "retornados", numa acção de solidariedade que viria a ser complementada com uma magnífica ajuda à construção e equipamento do novo Hospital de Vila Real. Não obstante ter dado a uma das suas avenidas o nome de Noruega, fico com a sensação de que a cidade nunca agradeceu devidamente estes desinteressados gestos nórdicos.

Por que falei hoje na Fraga da Almotolia? Porque fui almoçar (aliás, muito bem) ao Chaxoila e achei que o serviço público que é este blogue também tem obrigação de revelar aos seus leitores os locais do Portugal desconhecido que existem na minha terra. Prometo não exagerar nesta toponímica bizarra, mas ainda não excluí elucidá-los sobre os mistérios da esquina da Cardoa, partindo já do princípio de que lhes são familiares os Quinchosos, que já foram beco e hoje ganharam vida nova. 

terça-feira, dezembro 29, 2015

Portas


Paulo Portas é um dos mais talentosos políticos portugueses. Goste-se ou não da sua forma de estar na vida pública, qualquer opinião independente será forçada a constatar que ele tem sido, ao longo dos anos, um dos grandes "performers" do nosso espetro partidário.

Portas teve o azar de "encalhar" num partido que atingiu o seu "princípio de Peter" político há bastantes anos. Surgido dos conservadores (e muitos reacionários) inquietos com a Revolução de 1974, o CDS nunca conseguiu superar a preeminência do PSD na direita portuguesa. Portas, que se iniciou na juventude do PSD, fez do jornalismo (foi um excelente jornalista, no que à qualidade da escrita diz respeito) a sua trincheira, até que aportou à liderança do CDS, num dia em que se fartou de ser "ponto" para um ator em cujo sucesso deixou de acreditar. Tentou então transformar o partido, que parecia condenado à insignificância. Crismado de Partido Popular (coincidência de iniciais?), deu-lhe uma coloração eurocética e soberanista, colocou a democracia-cristã na gaveta e, a partir de um certo momento, assumiu as cores liberais que os tempos pareciam justificar. Contudo, nunca enveredou pela direita pura e dura, do populismo extremista, hiper-securitário ou xenófobo, há que reconhecer.

Por uns tempos, o CDS/PP pareceu protagonizar os interesses de nichos sociais mais frágeis, das pessoas idosas e pensionistas à "lavoura" familiar, colocando-se no campo mais renitente às causas fraturantes da modernidade, que sacodem incomodamente um certo Portugal tradicional. Era talvez o seu lado democrata-cristão a emergir, diziam uns; era um saco de votos à mão, acharam outros. Mas foi sol de pouca dura e logo partiu para outra. Com Paulo Portas, o CDS pareceu uma "barata tonta", andando de um lado para o outro. Se se perguntar hoje a alguém "onde está" ideologicamente o CDS, ninguém saberá responder. Porquê? Porque Portas teve necessidade de "romper" por onde tivesse mais ganhos potenciais, saltitou de causa em causa, à procura de um mercado político próprio, que nunca chegaria a encontrar. Não obstante ter conseguido uma fatia de poder, isto é, uma capacidade de representação de alguns interesses e de conquista de lugares para prosélitos, falhou no essencial: não chegou ao verdadeiro poder, à chefia do governo. À direita, o poder está e estará, por muitos e bons anos, no PSD. Em Belém, é agora Marcelo Rebelo de Sousa, de um certo PSD, quem, por cinco anos, tem as hipóteses maiores. Portas guarda-se para 2021?

Por ora, Portas deve ter-se cansado. De toda a direita desiludida pela hábil manobra de António Costa, o desespero de Portas mostrou ter sido ele o mais afetado. A demarcação que Passos Coelho dele quis fazer também acabou com um capítulo da sua vida política.

Era tempo de sair de cena, com ar de estar a dar o lugar aos novos, que se desunharão entre eles. Agora, Portas vai querer ganhar distância, vai tentar assumir "gravitas", vai procurar "senadorizar" a sua imagem. Uma empresa ou uma instituição, talvez lá por fora, vai ser o seu Vale de Lobos. Com Portas, como o passado provou, aquilo que, no presente, é definitivo pode passar a ser revogável no futuro. Sem dramas e sem corar, porque ele sabe bem que este é um país de crédulos de memória flácida. Como já aconteceu com Marcelo, lembremo-nos. Por isso, aguardemos pelas cenas dos próximos capítulos. Daqui a uns tempos falaremos.

segunda-feira, dezembro 28, 2015

2016 à mesa


Durante os meses de Janeiro e Fevereiro, está prevista a publicação, numa revista, de três guias com várias dezenas de restaurantes do Norte do país, que cobrem três regiões: o Minho (descendo até às cercanias do Porto), Trás-os-Montes e Alto Douro (com "fatias" do distrito de Viseu e do Douro Litoral) e da cidade do Porto e arredores. Após essa publicação, mas não antes, os guias surgirão no blogue "Ponto Come". 

Trata-se de escolhas pessoais, cuja subjetividade assumo sem a menor dificuldade. Algumas omissões ocorrerão (só falarei sobre aquilo de que tenho informação segura) e admito que algumas injustiças também.

Os eventuais leitores poderão depois comentar livremente no blogue "Ponto Come". 

Piropo

A nova e avançada legislação que o parlamento português aprovou, criminalizando o piropo, é o que se pode chamar uma lei boa como o milho...

Mais a sério: há piropos e piropos, há que reconhecer. Uma boca foleira agressiva, que indisponha quem a recebe, cheia de palavrões e insinuações sexuais, não é admissível. Mas acho perfeitamente normal que, com graça e simpatia, de uma forma que haja a convicção de que agrada a quem o ouve, se possa fazer um elogio à beleza de alguém. Confesso, no entanto, que me preocupa, a partir de agora, o critério de quem vai julgar a ampla "zona cinzenta" entre estes dois extremos. E, muito em especial, pergunto-me se esta legislação não vai reduzir o espaço à legítima sedução, motor do mundo...

É a vida?

O PS não tem pena de não ter sido um seu governo a anunciar o novo aeroporto (não conta, claro, o "anúncio" feito por Pedro Nuno S...