Vila Real tem aeroporto ou um aeródromo (não sei se há diferenças). Isso não significa, porém, que a cidade esteja, em permanência, ligada à capital por voos regulares, que permitam atenuar a interioridade. Ao longo dos anos, tem havido períodos em que houve voos, outros há, como agora acontece, em que o aeroporto é apenas uma estrutura para atividades lúdicas.
Tudo começou nos anos 80, quando a cidade era servida por pequenos aviões, com quatro lugares para passageiros e um outro ao lado do piloto. Sempre me perguntei o que aconteceria se este tivesse uma indisposição, mas logo concluí que há perguntas que dá azar fazer. Numa viagem de Lisboa para Vila Real, o piloto enganou-se e, da escala que fizéramos em Viseu, zarpou diretamente para Bragança, destino de todos os restantes passageiros. Eu ia distraído com a paisagem e só "acordei" à vista do castelo da cidade. Advertido do erro, o homem não se incomodou: "Não há crise. À ida para baixo, deixo-o em Vila Real". E assim foi.
Chegados ao aeroporto de Vila Real, a pessoa que prestava assistência ao avião informou-me que um familiar tinha estado à minha espera mas que, tendo-se constatado que o voo tinha ido diretamente para Bragança, concluíra que eu tinha adiado a minha viagem, pelo que regressara à cidade. Nesse tempo, não havia telemóveis. De mala à ilharga, pedi ao responsável pelo aeroporto - verifiquei então que se tratava precisamente da mesma e única pessoa - que me deixasse chamar um taxi ou, como por por ali se diz, um "carro de praça". Guardo até hoje a frase que então dele escutei: "Nem pense nisso! Levo-o eu a casa. Deixe-me fechar o aeroporto e já vamos para Vila Real". E, com uma chave Yale, lá "fechou" (a porta da então pequena instalação d) o aeroporto e partimos para a cidade.
O meu amigo Teófilo Silva deixou-se, pouco depois, dessas aventuras aéreas e, desde há muito, dedica-se ao seu "Museu dos Presuntos", um dos melhores restaurantes de Vila Real, com uma escolha de vinhos do Douro dificilmente bativel. Este ano, ainda por lá não fui dar-lhe um abraço, mas hoje, ao passar por perto do aeroporto (ou aeródromo), lembrei-me desta historieta, típica das pequenas cidades, como aquelas que Vila Real já foi. Tempos em que ainda havia aviões.