Tenho saudades de ir ao Brazen Head, em Dublin, quando o pub vivia cheio de fumo de tabaco. Como foi criado em 1198, alimentei a ideia de que, com um pouco de sorte, o dom Afonso Henriques quase podia ter passado por lá, numa aventura de turismo céltico. No Café Club, em Vila Real, que eu atravessava, fugidio e preguiçoso, para evitar dar a volta ao quarteirão, havia uma núvem de tabaco que quase escondia os cajados dos feirantes. Já para não falar da sala de dominó do Excelsior ou do Imperial do Lima, na noite de 24 de dezembro, também lá por Vila Real. Ou da sala de jogo por detrás dos bilhares no Montecarlo, ao Saldanha, em Lisboa, ou da cave com balcão do Montarroio, na Sampaio Bruno, no Porto, cidade onde a zona do strip da Candeia também pedia meças. Ou da zona do balcão do recém inaugurado Viana Mar, ou do Bar Oceano, lá por Viana do Castelo. Não guardei nenhuma imagem do Ronnie Scott’s, onde se ouvia bom jazz ou outro assim-assim, em Londres, sem estarmos todos a bufar uns para cima dos outros, com uma onda de fumo a encher o espaço. Havia também uma cave, em Luanda, abaixo do Trópico, cheia de “garinas” (connosco, os da embaixada, a portarmo-nos sempre bem, para que conste) com um ar quase tão espesso e irrespirável como o das noites da boîte do Méridien de Brazaville, onde histórias passadas (com outros, claro) não são para contar aqui. Já tive saudades (nos últimos anos, já não tinha, confesso) do branco fumarento do Procópio, nos tempos do Juvenal, quando a ASAE não nos poupava os pulmões, épocas em que ainda era “facilitado” tabaco ao balcão, em noites de carência extrema do Nuno Brederode. Para sempre, guardo na memória olfativa o cheiro do Blue Note, em Nova Iorque, onde o tabaco era “moderado” por alguma “green grass tea”. Curiosamente, o mesmo cheiro que havia no De Karpershoek, em Amsterdam e num restaurante abaixo de qualquer classificação, em Oslo, no final dos anos 70, local cujo nome esqueci (às vezes também tenho esse direito, caramba!), em que se passeava entre as mesas um tipo a tocar viola que, mal nos via, entoava o “¿ Ai Portugal por qué te quiero tanto?”
Tenho saudades de todos aqueles fumos. Sei lá bem porquê! E, já agora, esclareço: eu não fumo nem nunca fumei!