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domingo, agosto 08, 2010

Humberto Delgado (1)

Encontrei, há dias, um exemplar do manifesto da candidatura presidencial do general Humberto Delgado, em 1958, entre as folhas de um livro antigo do meu pai.

A fotografia que encima este post figura na primeira página dessa "Proclamação". Essa era também a imagem que, à época, aparecia nos cartazes colados em algumas as paredes de Vila Real. Eu tinha 10 anos, mas recordo, como se hoje fosse, o momento em que o meu pai - "republicano" dos sete costados, o que então queria dizer "democrata" - me levou a ver Delgado depor uma coroa de flores no monumento a Carvalho Araújo, na avenida com o mesmo nome, em Vila Real. Era 22 de Maio de 1958. À época, eu estava longe de perceber bem a importância desse tempo, mas era-me sensível o ambiente de tensão que então se vivia.

A candidatura de Delgado terá sido, porventura, a maior ameaça de contestação interna que o Estado Novo sofreu em todo o seu percurso. Oriundo do regime, para cujo sucesso contribuiu com entusiasmo, e que serviu com dedicação durante muitos anos, o general teve uma passagem de alguns anos pelos Estados Unidos que terá estimulado a sua propensão contestatária e o fez aderir a um ideário liberal. Crescente crítico de Salazar, essa sua atitude não passou desapercebida à hierarquia militar, que não deu alento à carreira profissional que ambicionava, acabando por assim espoletar a sua dissidência. Uma ala moderada da oposição ao salazarismo, conhecedora dessa sua evolução, teve então a iniciativa de lhe propor ser candidato "independente" à Presidência da República, vindo a conseguir arrastar em seu favor outras correntes mais radicais, em especial o PCP, que originalmente qualificava Delgado como o "general Coca-Cola".

Delgado veio a protagonizar uma campanha cujo entusiasmo popular não encontra paralelo na história política portuguesa, como a imagem seguinte, da receção que lhe foi feita no Porto, melhor documenta.
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A personalização do combate a Salazar, que encarnou de forma enérgica e destemida, trouxe-lhe uma imensa e inesperada popularidade, em quase todo o país. Ao afirmar, com frontalidade, que demitiria o ditador, se acaso viesse a ser eleito, Delgado rompeu com o endeusamento histórico que protegia Salazar e abriu um tempo novo na vida política portuguesa.

O candidato do regime era o inenarrável contra-almirante Américo Tomás, um obscuro ex-ministro que Salazar selecionara para evitar a recandidatura do general Craveiro Lopes, o qual dera sinais de algumas reticências à liderança política do homem de Santa Comba.

O período eleitoral foi muito duro, com Delgado e os seus adeptos a serem objeto de forte coação e intimidação, com perseguições, prisões e mortes, na sequência de muito violentos atos de repressão. O comportamento do candidato esteve sempre à altura da coragem que se lhe creditava e que lhe veio a dar o cognome histórico de "general sem medo".

Sabe-se hoje que, dentro do regime, se passaram então horas de grande angústia e que essa tensão contribuiu para agravar confrontações entre personalidades do governo, que não deixaram de marcar os anos seguintes. No plano institucional, o susto foi ao ponto do regime decidir mudar a Constituição e acabar, pouco tempo depois, com a eleição por sufrágio direto, passando a escolha do Presidente da República a ser feita por um "colégio eleitoral" de fiéis da "situação".

Com os cadernos eleitorais desatualizados, com uma generalizada fraude no escrutínio, Humberto Delgado viria, mesmo assim, a obter cerca de 1/4 dos sufrágios expressos - isto durante um regime que, em anteriores e posteriores eleições legislativas, nunca permitira à oposição eleger um único deputado.

Delgado seria depois afastado das Forças Armadas. Foi forçado a exilar-se no Brasil e, depois, na Argélia. Viria a ser assassinado, em Fevereiro de 1965, por uma brigada da PIDE, em Espanha, perto de Olivença.

domingo, agosto 01, 2010

Ruy Patrício

Conheci pessoalmente Ruy Patrício quando cheguei ao Brasil, como embaixador, em 2005. Foi em casa de Alberto Xavier, naquela que acabou por ser uma longa e agradável noite de conversa, onde falámos de amigos comuns e trocámos histórias de vida. Eu tinha curiosidade em conhecer o último ministro dos Negócios Estrangeiros do regime para cujo derrube tinha modestamente contribuído, em 1974. Ao Ruy, presumo, terá sido interessante saber um pouco mais do novo representante diplomático que Lisboa mandara para o Brasil, dos muitos que conhecera desde o exílio que se auto-impusera, depois da Revolução. Lembro-me bem de, nessa noite, lhe ter dito, na presença de um seu filho, que seria imperdoável se não publicasse as suas memórias.

Durante os anos que permaneci no Brasil, construímos uma muito agradável convivência, chegando mesmo a planear escrever um livro "a dois" - uma espécie de cruzamento de leituras sobre o papel de Portugal no mundo, antes e depois do 25 de abril. Julgo que o Ruy não me levará a mal a revelação pública desta nossa ideia. Por insuperáveis dificuldades logísticas e de agenda, nunca levámos a ideia à prática. Tive pena.

Há meses, a Leonor Xavier disse-me que estava a fazer uma longa entrevista ao Ruy, que iria passar a livro. Mandou-me o texto e, sobre ele, escrevi um comentário que, ao lado do de outros colegas diplomatas, é publicado na contracapa do livro:
 
"Ruy Patrício, um homem sem angústias na fidelidade ao seu passado, ajuda-nos a melhor entender certas decisões assumidas na política externa do Portugal de então, num curioso retrato, a preto e branco, do estertor da ditadura – uma foto, em alto contraste, de dois mundos separados por uma certa noite de Abril."

terça-feira, julho 27, 2010

40 anos

Estava um dia de intenso calor. Tinha acabado de desembarcar na estação da Régua, vindo de Vila Real, pela velha linha do Corgo. Aguardava o comboio que, partido de Barca d'Alva, me levaria ao Porto. Aí apanharia a ligação para Lisboa, onde deveria chegar depois de uma viagem de cerca de 10 horas. Era assim, no Portugal de então. "A rádio está a anunciar que morreu o Salazar", disse-me o meu cunhado, que tinha ido tentar apanhar, na tabacaria, o "Diário de Lisboa" do dia anterior, que não tinha chegado a Vila Real e cuja leitura era então, para nós, "obrigatória".

Recordo-me bem de não ter tido qualquer sentimento particular perante a notícia. Salazar tinha morrido politicamente quase dois anos antes, em Setembro de 1968, quando fora substituído por Marcelo Caetano. Desde então, a decadência física do antigo ditador havia sido exposta algumas vezes à mórbida curiosidade pública, com patéticas aparições cuja mediatização quase que parecia destinada a sublinhar o deperecimento político do próprio salazarismo. Alguns, mais bem informados, conheciam o episódio caricato da entrevista ao "L'Aurore", que revelava a existência de um cenário de ilusão em S. Bento, que dava a Salazar a ideia de que ainda era chefe do governo, com a participação teatral de alguns ministros.

No que aos portugueses verdadeiramente interessava, o caetanismo mostrara, nesse período, ter chegado ao limite em termos de abertura política. Uma crise académica séria atravessara o país. As eleições de 1969 haviam constituído uma enorme farsa, a política colonial mostrava-se, definitivamente, como o eixo cristalizador de um regime em que a repressão e a censura se acentuavam de novo. Sá Carneiro e a "ala liberal" iam perdendo as esperanças na propalada "primavera política".

Passam hoje 40 anos sobre esse dia, quase tantos quantos o regime autoritário dirigido por Salazar, que começou e se prolongou sob tutela militar, havia imposto a Portugal. Menos de quatro anos depois, outros militares iriam pôr termo ao que restava do salazarismo.

Desde então, Salazar transformou-se numa curiosidade histórica. Revindicado por saudosistas ou diabolizado pelos opositores, talvez venha a propósito lembrar que a única vez que se sujeitou a sufrágio - e foi eleito - foi durante a vilipendiada Primeira República. 

sexta-feira, julho 16, 2010

Basil Davidson (1914-2010)

Alguém dizia, há semanas, que, por vezes, é preciso alguém morrer para darmos conta de que, afinal, ainda estava vivo. É uma frase cruel, de que me lembrei ontem, ao dar de caras, num jornal, com um obituário de Basil Davidson, que pensava desaparecido há muito.

Davidson faz parte do elenco dos mais proeminentes europeus que apoiavam as lutas anti-coloniais. Historiador de grande mérito, que teve a África pré-colonial como objeto privilegiado de análise, viria a destacar-se num trabalho de divulgação internacional dos movimentos independentistas nas colónias portuguesas e na denúncia do "apartheid". Essa sua simpatia pelo anti-colonialismo levou Edward Said a dizer que "in effect, (he) crossed to the other side". Antes disso, porém, Basil Davidson teve um percurso aventuroso pelos mundos da "intelligence" britânica e uma carreira jornalística muito diversificada, em grande parte como correspondente parisiense de jornais britânicos.

Lembro-me bem do impacto que teve, nos meios oposicionistas portugueses, a publicação do seu "The Liberation of Guine", editado pela Penguin em 1969, um dos mais de 30 livros que escreveu, alguns editados em Portugal, mas só depois do 25 de abril.

quinta-feira, abril 29, 2010

Aristides Sousa Mendes

O exemplo de Aristides Sousa Mendes, o diplomata português que salvou milhares de refugiados ao tempo em que era Cônsul em Bordéus (a imagem é das intalações consulares portugueses), foi ontem evocado numa muito concorrida sessão que organizámos na Embaixada em Paris, com uma exposição documental e bibliográfica e a apresentação de três novos livros sobre o diplomata. 

Um neto de Aristides Sousa Mendes, Geraldo Mendes, o escritor Eric Lebreton e Manuel Dias - figura que, desde há anos, desenvolve um relevante trabalho de memória em torno do antigo Cônsul português em Bordéus - intervieram perante um público atento e interessado.

Pela minha parte, aproveitei para falar um pouco sobre o meu "colega" Aristides Sousa Mendes, do modo como as Necessidades o viam no passado, bem como da forma como hoje é visto naquela casa. E também referi a imensa solidão que deverá ter sentido um homem no seio de um regime que abertamente até então apoiava (coisa de que muito poucos falam) e contra cujas ordens sentiu, a certa altura, o dever de se rebelar por um muito estimável sobressalto ético. 

Falei igualmente de um tema que outros procuram esquecer, crendo-se absolvidos por atitudes de tempos mais recentes: da oposição ao Estado Novo, que nunca teve uma palavra de apoio para com o diplomata ostracizado pela proteção dada aos refugiados que fugiam da barbárie nazi. Para concluir que Artistides Sousa Mendes não é uma personalidade ideológica, "propriedade" da esquerda ou da direita, mas apenas um homem simples que, revoltado e emocionado pela tragédia, colocou a dignidade à frente do dever formal de obediência a uma ordem injusta.

Aproveitei a ocasião para saudar duas personalidades, por quem tenho admiração e amizade, e que, tal como Manuel Dias, têm vindo a desenvolver, no estrangeiro, um louvável, generoso e dedicado trabalho de realce da figura de Aristides Sousa Mendes: João Crisóstomo, nos Estados Unidos, e Paulo Martins, no Brasil. É muito graças a pessoas como eles que a memória de Sousa Mendes se mantém viva e exemplar para as novas gerações. Em especial para os nossos diplomatas.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Censura

Com o tema da censura a ser suscitado por aí, falemos do tempo em que ela existia.

A censura, no tempo do Estado Novo, era uma atividade que o regime tinha colocado nas mãos dos militares. Em Lisboa, eram famosos os "coronéis" que, dia-a-dia, se dedicavam a assinalar, a lápis azul, aquilo que, nos textos da imprensa, entendiam como podendo ofender os seus mestres ou os costumes oficialmente protegidos.

Na província, a "Comissão de Censura" (depois, com Marcelo Caetano, passou ao eufemismo de "Exame Prévio") tinha também os seus militares. Em Vila Real, era o  velho capitão Medeiros.

No final dos anos 60, já na universidade, comecei a publicar alguns artigos em "A Voz de Trás-os-Montes", um jornal local ligado à diocese, que ainda existe. Iniciei-me na escrita desportiva mas, na "primavera marcelista", ousei entrar pela política interna. Os textos eram muito rebuscados, cheios de duplas leituras, só acessíveis a alguns "happy few", um pouco à moda do que então lia no "Diário de Lisboa", no "República" ou na "Seara Nova". Agora, ao revê-los, fica patente a sua total inocuidade, garantida pelo reduzidíssimo número de potenciais leitores, afastados pelo caráter quase impenetrável da escrita. 

Por uma ou duas vezes, o capitão Medeiros ironizou com o meu Pai sobre as minhas "ideias avançadas", expressão para designar tendências esquerdistas que pressentia nas entrelinhas. Ao diretor do jornal, o padre Henrique Maria dos Santos, o nosso censor local passou também algumas mensagens de aviso, no sentido de eu me "deixar de espertezas". Lá fui, contudo, continuando a escrever, com algum cuidado mas sempre sem grandes obstáculos. Aliás, o capitão Medeiros deve ter ficado menos preocupado quando, a partir de certa altura, passei a dedicar-me apenas a temas de política internacional. Até um dia!

O tema era a Rodésia e eu analisava os problemas entre o Reino Unido e o independentismo branco de Ian Smith, bem como as polémicas entre a ZAPU e a ZANU. O texto era algo hermético, com muitos e dispensáveis detalhes, que eu tinha bebido na imprensa internacional. (Com os diabos! Só temos 20 anos uma vez!)

Uma tarde, o capitão Medeiros encontrou o meu Pai na rua Direita, esse eixo de Vila Real, e deu-lhe os parabéns: "Parece que o seu filho está a entrar no bom caminho! Escreveu um bom artigo sobre a Rodésia!". O meu Pai, que ainda não tinha lido o texto, conhecendo-me bem, estranhou, mas agradeceu o elogio.

Dias depois, o diretor do jornal, à porta da Gomes (essa pastelaria mítica da cidade), disse-me: "O capitão Medeiros está furioso. Afirma que você o enganou com o texto sobre a Rodésia. Levou uma advertência dos serviços centrais da censura, em Lisboa. Já me disse que, por este caminho, não o deixa publicar mais nada".

O que acontecera? O pobre do capitão Medeiros deixara-se "enrolar" nas minhas considerações e, em especial, permitira a última e fatal frase que eu incluíra no texto: "Ou muito me engano ou a Rodésia tem à sua frente um futuro negro". 

A quatro décadas de distância, eu estava longe de imaginar que, por detrás da procurada ambiguidade da minha frase, acabaria por residir uma triste e insuspeitada presciência...

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

O "4 de Fevereiro"

Há precisamente 49 anos, um grupo de independentistas angolanos foi responsável, em Luanda, pelo chamado "4 de Fevereiro", a primeira ação armada que foi organizada contra a presença portuguesa em Angola. Com ataques de surpresa a prisões, forças policiais e outros pontos estratégicos da capital angolana, que causaram vítimas mortais, as escassas centenas de ativistas do "4 de Fevereiro" instabilizaram por horas Luanda, sendo subsequentemente alvo de forte repressão - militar, policial e civil -, a qual atingiu também diversos setores da população autóctone residente na cidade.

A data de 4 de Fevereiro de 1961 constituiu, assim, o início das revoltas coloniais contra Portugal, as quais, a partir de 1964, se iriam estender a Moçambique e à Guiné. Entretanto, no final desse ano de 1961, a União Indiana iria invadir o Estado da Índia, pondo um ponto final à presença da administração portuguesa naquele território.

O movimento de "4 de Fevereiro" foi, em si mesmo, um acontecimento bastante complexo, muito mais do que algumas versões simplistas que sobre ele foram mais tarde conhecidas e divulgadas. A sua génese política é também importante para se entenderem as raízes do que foram as profundas clivagens entre os grupos político-militares angolanos, que, logo após a independência do país em 1975, se saldou numa mortífera guerra civil, que, com diferentes formatos, se prolongaria até 2001.

Quando vivi em Angola, nos anos 80, tive o ensejo de conhecer e falar com algumas das figuras envolvidas no "4 de Fevereiro". Pude então saber algo mais sobre esse movimento e, em especial, informar-me com maior detalhe sobre a importância que nele teve uma figura religiosa, o Cónego Manuel das Neves, pároco envolvido na mobilização e no apoio logístico da revolta, que viria a ser preso e expulso para Portugal. Aí ficou com residência fixa, tendo morrido em Soutelo, em 1966. Muito pouco se falou sempre sobre esta figura do nacionalismo angolano e talvez valesse a pena refletir por que razão isso aconteceu.

O "4 de Fevereiro" seria apenas o início, simbólico e trágico, da revolta angolana. Em 15 de Março de 1961, membros da  UPA (União dos Povos de Angola), que mais tarde se viria a transformar em FNLA, estiveram na origem de sangrentos e chocantes ataques a populações civis em zonas rurais no norte de Angola.

O efeito conjugado daqueles dois acontecimentos teve uma forte repercussão em Portugal, que iniciou então o envio de forças militares que, por 13 anos, conseguiram assegurar a permanência da soberania portuguesa no território. 

As ondas de choque político que esses acontecimentos provocaram, ligadas a outros eventos políticos que então se registaram na sociedade política portuguesa, viriam a contribuir para transformar esse ano de 1961 num dos mais difíceis e movimentados anos da história do Estado Novo. Disso falaremos um destes dias.

quarta-feira, outubro 21, 2009

Saudades do Meireles

Uma patética tragédia na eleição autárquica em Mondim de Basto em 2009, fez-me recordar que, em Outubro de 1969, precisamente 40 anos antes, fomos por lá fazer campanha eleitoral pela Oposição Democrática contra o Estado Novo.

Como já aqui foi referido, as listas eleitorais, ao contrário do que hoje sucede, eram então impressas sob responsabilidade das forças políticas promotoras (aliás, só havia duas: a "Situação" e a "Oposição"...) e entregues pelo correio ou directamente aos eleitores, neste caso num porta-a-porta mais seguro, mas nem sempre fácil.

Numa reunião da Comissão Democrática Eleitoral de Vila Real, dirigida por essa figura, para mim inesquecível, que foi o médico Otílio de Figueiredo, e que congregava o escasso número de quantos, no distrito, abertamente se dispunham aos riscos de enfrentar o regime, demo-nos conta que o concelho de Mondim de Basto era o único onde não dispúnhamos de nenhum contacto.

Na discussão sobre o assunto, ao ser constatada esta lacuna, o Carvalho Araújo protestou: "Ora essa! Temos lá o Meireles! Já fez connosco o Norton e o Delgado. O Meireles é fixíssimo". (Um parêntesis para dizer que o nome "Meireles" me ficou na memória, mas posso estar enganado. Porém, para o que aqui importa, é irrelevante).

Convém esclarecer que o Carvalho Araújo era um homem já idoso, feroz republicano, que havia sido demitido da função pública nos anos 30, por actividades anti-regime. Tinha sempre um semblante grave e fechado, tratando-nos a nós, os mais novos que andávamos envolvidos na acção política da Oposição, com visível distância e até alguma desconfiança. Na verdade, não tínhamos andado com "o Norton" ou com "o Delgado": as eleições em que Norton de Matos havia sido candidato presidencial tinham tido lugar em 1949 (eu tinha nascido no ano anterior, o que, como se compreenderá, condicionou muito a minha participação na respectiva campanha...) e a idêntica aventura de Humberto Delgado fora em 1958 (altura em que as minhas prioridades se centravam na admissão ao liceu...). Porém, se o Carvalho Araújo, democrata experimentado, assegurava o apoio do tal Meireles, era uma oportunidade que havia que aproveitar.

Assim, no dia seguinte, com a mala de um carro (creio que era um NSU do Délio Machado) cheia de envelopes já endereçados com boletins de voto, lá avançámos nós para Mondim. Aí chegados, com o Carvalho Araújo no comando das operações, fomos à procura do Meireles. Tarefa que se revelou menos viável, porque o Meireles havia falecido... já há sete anos!

Quando pensávamos que o Carvalho Araújo se ia deixar abater pela dura realidade, ele renasce: "Não há problema! Vamos à farmácia!". Olhámo-nos intrigados: "À farmácia? Para quê?". O Carvalho Araújo lança-nos, condescendente, a sociológica revelação: "Meus amigos, os farmacêuticos são sempre gente com espírito liberal, as farmácias são espaços de tertúlia, confiem em mim!". Verdade seja que as alternativas eram poucas e tínhamos necessidade de "despachar" as centenas de boletins de voto (os inscritos de então não eram muitos) que levávamos connosco.

O nosso homem tomou conta das operações, foi falar com o responsável da única farmácia local e, impante, regressou com o anúncio: "Eu não lhes dizia?! É um democrata, fica com os boletins de voto e encarrega-se de distribuí-los". Ficámos banzados! E a nossa admiração pelo sentido estratégico do Carvalho Araújo cresceu, de modo exponencial.

Semanas mais tarde, quando o nosso saldo eleitoral em Mondim de Basto se computou no magérrimo resultado de escassas dezenas de votos, o pior em todo o distrito de Vila Real, creio que tivemos a piedade de não comentar com o Carvalho Araújo a eficácia da sua "operação farmácia". E, mesmo sem o termos conhecido, sentimos fortes saudades do Meireles.

sábado, julho 18, 2009

Maspero

Entre 1956 e 1975, uma livraria fazia parte do circuito de um certo Portugal político em Paris. A "Joie de Lire", na rue St. Severin, junto à place St. Michel, propriedade do editor François Maspero, era um ponto de encontro de muitos, que por aqui viviam, com outros que, como eu, por aqui passavam, a partir da segunda metade dos anos 60. Para aquela espécie de turistas políticos que alguns de nós então éramos, a Maspero (ninguém dizia a "Joie de Lire") era uma "meca" da livralhada inacessível em Portugal, à qual se juntavam panfletos e publicações dos partidos portugueses na clandestinidade, que despertavam a nossa imensa curiosidade.

François Maspero tinha como orientação não entregar à polícia - à "polícia da burguesia" - quem fosse apanhado a roubar livros, o que criou, em muita gente, uma espécie de impunidade que, ao que se dizia, terá acabado por levar a livraria à ruína económica. Fui testemunha presencial de uma frutuosa e furtuosa "romagem" à Maspero de um amigo português, ao tempo estudante em Paris, convenientemente dotado de um avantajado capote alentejano, que dava espaço para um eficaz "arquivar" de volumes. Ainda o estou a ouvir: "Ora cá está ele! Faltava-me o volume 8 das obras do Bataille!". E lá desapareceu o avantajado volume da Gallimard no bojo do capote...

terça-feira, julho 14, 2009

Palma Inácio (1922-2009)

Há menos de uma semana, aqui em Paris, falei longamente sobre Palma Inácio com Mário Soares. Comentámos que a sua vida daria um belo filme. Acabo de saber que morreu hoje, na data mais revolucionária da França. O dia da Tomada da Bastilha é um dia bonito para Palma Inácio morrer.

Confesso que sempre tive uma grande admiração por Hermínio da Palma Inácio, como uma das grandes figuras da resistência ao salazarismo. Tive o feliz ensejo de lho dizer, há já bastantes anos, dele recebendo um agradecimento de grande modéstia. Desde jovem, lutou intensamente pela liberdade, tendo estado envolvido em imensas tentativas de sublevação. Foi preso e violentamente torturado pela PIDE, com um comportamento de grande dignidade na cadeia. A foto que ilustra este post recorda a sua saída de Caxias - a saída dos presos políticos, a seguir ao 25 de Abril, que foi atrasada precisamente porque o general Spínola não queria Palma Inácio em liberdade. E porque os outros presos não queriam sair sem ele.

Mário Soares contou, nessa bela noite de memórias em casa de amigos comuns, algumas histórias curiosíssimas sobre as suas relações com Palma Inácio. Entre as quais, o dia em que teve de escondê-lo em casa de José Fernandes Fafe, na linha do Estoril, depois de uma das suas épicas e legendárias fugas da prisão.

Durante muito tempo, o facto de Palma Inácio ter sido o chefe do grupo que assaltou a filial do Banco de Portugal, na Figueira da Foz, fez convergir na sua pessoa uma ignominiosa imagem de alguém que se havia apropriado, para finalidades pessoais, do dinheiro então obtido. Esse era o objectivo insultuoso que o regime ditatorial dele quis dar à opinião pública. Porém, quem conhece a história da oposição ao Estado Novo sabe bem que Palma Inácio foi um homem sério, que nunca utilizou essas verbas em seu proveito e que viveu sempre com grandes dificuldades, devotado às causas políticas em que acreditou. Mas terá sido essa miserável "fama" a razão que atrasou a atribuição de uma merecida Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, com que o presidente Jorge Sampaio o agraciou em 2000.

Leia mais sobre Palma Inácio aqui e aqui.

sexta-feira, junho 19, 2009

O "Lisboa"

Reconheço que se trata, talvez, de uma atitude muito geracional. Mas, tenho de confessar, a desaparição, já há quase duas décadas, do "Diário de Lisboa" acabou por ser, para mim, algo traumática, no saldo de memória da imprensa portuguesa em que fui criado. Por isso, a morte do seu antigo proprietário e director, António Ruella Ramos, agora ocorrida, associa-se a essa tristeza e convida aqui a uma nota sobre o jornal.

O vespertino lisboeta foi, durante as décadas da ditadura, uma referência diária na imprensa democrática portuguesa. Tentou sempre representar, ao lado do "República", um espaço para as vozes dissidentes, muito mais do que o equívoco "Diário Popular" (que me desculpem os amigos que por lá tive) e bem antes de "A Capital" - um jornal que resultou da saída , em 1968, de um grupo de jornalistas do "Lisboa". Uma anedota oposicionista espalhava então que os ardinas, pelas ruas de Lisboa, anunciavam assim os quatro jornais da tarde: "Lisboa / Capital / República / Popular!".

O "Lisboa" era um jornal diferente de todos os outros. Menos "popular" que o "Popular", menos "reviralhista" que o "República", menos "à la page" que "A Capital". Para nós, os fiéis, tinha códigos de leitura muito próprios, tinha entrelinhas que nos animavam as tardes nos cafés, funcionava como um repositório de esperança democrática. E tinha gente nova, que aí escrevia, com quem nos cruzávamos, depois da saída do jornal, na "Brasileira" ou no "Monte-Carlo".

Para mim, que "aderi" ao jornal aí por 1966, marcaram-me muito os tempos de "Mosca" (um suplemento humorístico dos sábados, que fez história), do DL Juvenil (suplemento literário para jovens, por onde passou quase tudo quanto "foi gente" na cultura portuguesa imediatamente posterior) e do seu destacável cultural (creio que às 4.ªs feiras, num tempo em que todos os vespertinos mantinham espaços idênticos). Comprar o "Lisboa" era um "vício": imaginem o que seria, nos dias que correm, esperar pelo jornal de ontem, a meio da tarde do dia seguinte! Pois era isso que nos acontecia, pela província onde passávamos férias, disputando com ardor os escassos exemplares vendáveis. Eram outros tempos! Melhores? Claro que não, apenas muito diferentes.

O "Lisboa" teve na redacção nomes da literatura como Sttau Monteiro, Cardoso Pires, Urbano Tavares Rodrigues, Carlos Eurico da Costa, Fernando Assis Pacheco ou José Saramago (fazia inicialmente traduções...). E jornalistas como Álvaro Salema, Norberto Lopes, Artur Portela, José Carlos de Vasconcelos, Veiga Pereira ou Manuel de Azevedo. E a pena ácida e certeira de Mário Castrim ou Pedro Alvim, entre tantos e tantos outros.

Recordo, em particular, os tempos eleitorais, em que aguardávamos o "Lisboa", com aquele "lettering" de título idêntico ao "Le Monde", com grande ansiedade, para ver o que a censura tinha "deixado passar". E, valha a verdade, também lembro os tempos de uma menos saudável ortodoxia, após o 25 de Abril, onde a antiga pluralidade se diluiu - e que terá contribuído, entre outros decisivos factores, para liquidar o jornal.

Mas hoje é tempo de saudar o saldo bem positivo do velho "Diário de Lisboa", na hora da saída de cena de Ruella Ramos, um homem de bem, uma grande figura da imprensa portuguesa, que manteve o seu jornal até onde lhe foi sustentável.

quinta-feira, junho 18, 2009

Carlos Candal (1938-2009)

Morreu Carlos Candal, advogado e democrata de Aveiro, figura histórica da oposição ao Estado Novo e político saliente em vários tempos da nossa vida pública.

Era uma figura que nunca recusava a polémica, nada "politicamente correcto", dotado de uma ironia sarcástica, que muitos confundiam com arrogância, que intervalava com as baforadas do seu emblemático charuto. Tinha uma voz grossa e uma gargalhada forte, de quem sempre esteve de bem consigo mesmo. A certo passo, deixou-se tentar pela aventura do Parlamento Europeu, onde nos cruzámos diversas vezes e comentámos uma Europa que sempre me pareceu ver de soslaio político. O que confirmei, num debate que tivemos em Aveiro, há mais de uma década.

No início dos anos 60, havia sido líder da luta académica, em Coimbra. Jorge Sampaio contou-me que, num dia desses tempos, foi de Lisboa a Coimbra para um diálogo entre lideranças universitárias, em período de tensão política forte. Com todos os cuidados que a segurança recomendava, dirigiu-se à "República" onde vivia Carlos Candal, que não conhecia pessoalmente. Bateu à porta e atendeu uma governanta, que disse que "já ia chamar o Dr. Candal" - em Coimbra, à época, "era-se" doutor antes do curso acabado. O ambiente era muito diferente do contexto homólogo lisboeta, com desenhos humorísticos pelas paredes, garrafões e outros artefactos pendurados do tecto, enfim, toda a parafernália simbólica da boémia coimbrã. Minutos depois, Jorge Sampaio ouviu, do alto da escada, um vozeirão: "Olá, menino! Já desço". Sampaio olhou e lá estava, ainda de roupão indiciador de grande noitada na véspera, a figura do seu interlocutor político, Carlos Candal. Nesse momento, o futuro Presidente da República terá percebido melhor a diferença eterna entre a maneira de ser das academias de Lisboa e de Coimbra. E dos políticos oriundos de ambas, claro.

sexta-feira, junho 12, 2009

Aristides Sousa Mendes

É hoje à noite, pelas 20h35, que o canal televisivo France 2 projecta o filme "Désobéir. Aristides Sousa Mendes". Leia o texto da apresentação feita:

Juin 1940. La France vient de capituler. Les Allemands arrivent, poussant devant eux des cortèges de réfugiés jetés sur les routes par la peur et le danger. A Bordeaux, le consul du Portugal, Aristides de Sousa Mendes (Bernard Le Coq, tel qu'en lui-même), voit affluer à ses grilles des centaines de malheureux, suppliant son pays, neutre, de leur accorder un visa. Après trois jours de réflexion, l'aristocrate catholique, le fonctionnaire sans histoire va prendre une décision qui plongera sa vie dans le chaos et en sauvera 30 000 autres : en un mois, aidé de son fidèle secrétaire (trop rare Roger Souza), Sousa Mendes délivrera autant de visas, dont un tiers à des juifs, malgré une circulaire de Salazar l'interdisant formellement. Racontée avec sobriété et sensibilité par Joël Santoni sur un scénario de José-Alain Fralon et Jean-Carol Larrivé, cette histoire belle et vraie rend justice à l'homme de bien. Enterré vivant par la dictature de Lisbonne, qui ne pardonnera jamais à ce juste d'avoir désobéi, Sousa Mendes accomplit la plus grande action de sauvetage menée par une seule personne durant la Shoah.

E leia mais aqui. Tempos futuros trarão outras homenagens a Aristides Sousa Mendes, a que a Embaixada de Portugal vai associar-se ou promover.

sábado, junho 06, 2009

Dia D

Hoje, na Normandia, comemoraram-se os 65 anos de um dia decisivo para a libertação da Europa. De toda a Europa? Não. Para além da Europa que Ialta deixou sob a tutela de Moscovo, os aliados "esqueceram-se", por razões que a Guerra Fria explicará, de fazer um gesto favorável ao desmantelamento das duas ditaduras ibéricas. E assim o povo português foi condenado a mais três décadas de autoritarismo e o nosso Dia D foi adiado até 25 de Abril de 1974.

quinta-feira, maio 28, 2009

28 de Maio

Há minutos, um amigo perguntava-me se, nas notas que este blogue costuma fazer em relação a algumas datas portuguesas, não havia espaço para o 28 de Maio. Não que ele pretendesse comemorá-lo - deixou claro -, mas porque isso seria talvez interessante, como memória para alguns leitores mais jovens, para quem as diferenças entre tempos passados acabam por diluir-se no seio de alguma indiferença. Tem toda a razão.

O movimento de 28 de Maio de 1926 foi um golpe de Estado militar, com apoio de sectores conservadores civis, que pôs termo à experiência democrática iniciada cerca de 16 anos antes, com a instauração da I República, em 1910. Muito por obra da persistente oposição dos seus inimigos, a que se somou a incapacidade da burguesia urbana de consensualizar um modelo político fora dos vícios do antigo rotativismo monárquico, cumulado por um agitação operária que ia com os tempos, a jovem República acabou por instalar um regime de grande instabilidade política, que alienou, sucessivamente, vários sectores sociais, diminuindo drasticamente a sua base de apoio.

Na execução do 28 de Maio cooperaram forças de vária natureza, desde monárquicos revanchistas a republicanos desiludidos, de sectores integristas católicos a meios empresariais cansados das tensões sindicais. O movimento, que acabou por se revelar filofascista, teve inspiração em modelos congéneres que emergiram noutros países europeus e, no caso português, acabou por servir de escape a um profundo mal-estar no seio da instituição militar, que a participação na Primeira Grande Guerra tinha potenciado.

Em poucos dias, o 28 de Maio trucidou sucessivamente dois dos seus líderes, acabando a nova Ditadura Militar por deixar na chefia do Estado o general Óscar Fragoso Carmona, que abriu o caminho que viria a ser prosseguido pelo jovem economista coimbrão, militante católico conservador, que deu pelo nome de António de Oliveira Salazar.

Um dia, Salazar, num dos seus mais célebres discursos, disse: "Sei o que quero e para onde vou". E, porque ele sabia, escusou-se a perguntar aos portugueses, durante quase 40 anos, se queriam ir por aí.

sexta-feira, maio 22, 2009

Bénard da Costa (1935 -2009)

A partir da carta escrita pelo Bispo do Porto a Salazar, no final dos anos 50, a vida política política portuguesa passou a contar, de forma cada vez mais interveniente, com a presença de personalidades católicas no seio do campo democrático que se opunha ao salazarismo. Ficou então claro que o Estado Novo não tinha o monopólio do apoio dos católicos portugueses, que parecia incontestado desde o início da ditadura.

João Bénard da Costa, que acaba de falecer, foi uma das figuras que esteve no centro desse novo tipo de actividade cívica dos católicos, o qual acabou por ter significativa expressão política - desde diversos manifestos à organização da Revolta da Sé (1959), de uma participação activa nas listas da Oposição democrática, uma década depois, às movimentações em torno do caso do padre Felicidade Alves ou dos incidentes da Capela do Rato (1971). Pelo meio, chegaria mesmo a ser criado um efémero movimento radical, com forte presença de alguns desses católicos, o MAR (Movimento de Acção Revolucionária).

Mas seria no terreno intelectual, em torno da propagação em Portugal das ideias do Concílio Vaticano II e das reflexões de Emmanuel Mounier e de Teilhard de Chardin, que os então chamados "católicos progressistas", no seio dos quais Bénard da Costa viria a ter um papel decisivo, iriam representar um tempo novo na vida portuguesa. A Moraes Editora e a revista "O Tempo e o Modo" constituíram o eixo prático dessa movimentação, como o próprio Bénard da Costa bem relata, num pequeno mas importante livro chamado "Nós, os Vencidos do Catolicismo".

Este perfil cívico não deve fazer esquecer que Bénard da Costa foi, também, uma figura maior da memória do cinema em Portugal, como crítico de escrita inigualável e, mais tarde, como director da Cinemateca Nacional. Foi uma personalidade de grande valor, das mais importantes da sua geração, que muita falta fará à cultura portuguesa. Ver mais aqui.

sexta-feira, maio 15, 2009

Edgar Rodrigues (1921-2009)

Em Novembro de 2008, enquanto embaixador português no Brasil, prestei uma homenagem, no nosso Consulado-Geral no Rio de Janeiro, a Edgar Rodrigues, o mais antigo exiliado político português naquele aíd. Foi a enterrar no Rio de Janeiro em 15 de maio de 2009.

Conhecia Edgar Rodrigues apenas por alguns dos seus muitos livros, essencialmente dedicados ao movimento anarco-sindicalista. No Brasil, tive algum trabalho até conseguir contactá-lo, porque não fazia parte dos circuitos tradicionais da comunidade portuguesa. Escrevi-lhe e respondeu-me com uma carta comovente, de grande reconhecimento pelo meu gesto de aproximação.

Edgar Rodrigues era uma figura muito interessante, que viveu quase sempre alheada dos principais grupos políticos que mantiveram oposição ao Estado Novo no Brasil. A sua obra escrita, com várias dezenas de livros, publicados em diversos países, é de grande importância para o estudo dos movimentos sociais em Portugal. Foi objecto de diversas exposições e os seus trabalhos foram reconhecidos por vários investigadores.

Tentei que, ainda em vida, fosse atribuída a Edgar Rodrigues a Ordem da Liberdade. Não consegui.

Sobre Edgar Rodrigues recomendo as seguintes leituras: http://arepublicano.blogspot.pt/2009/05/in-memoriam-de-edgar-rodrigues-1921.html e https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Edgar_Rodrigues

É a vida?

O PS não tem pena de não ter sido um seu governo a anunciar o novo aeroporto (não conta, claro, o "anúncio" feito por Pedro Nuno S...