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François Maspero tinha como orientação não entregar à polícia - à "polícia da burguesia" - quem fosse apanhado a roubar livros, o que criou, em muita gente, uma espécie de impunidade que, ao que se dizia, terá acabado por levar a livraria à ruína económica. Fui testemunha presencial de uma frutuosa e furtuosa "romagem" à Maspero de um amigo português, ao tempo estudante em Paris, convenientemente dotado de um avantajado capote alentejano, que dava espaço para um eficaz "arquivar" de volumes. Ainda o estou a ouvir: "Ora cá está ele! Faltava-me o volume 8 das obras do Bataille!". E lá desapareceu o avantajado volume da Gallimard no bojo do capote...
3 comentários:
O François Maspéro publicou agora um comovedor romance autobiográfico... Viste?
Nestra livraria encontrava-se todo o tipo de ediçoes de esquerda e de extrema esquerda. Até documentos editados clandestinamente ali se encontravam. Bastava descer ao piso de baixo onde encontravamos panfletos que para ali iriam também com uma certa discriçao.
Frabçois Maspero ficou marcado pela historia familiar durante o periodo da resistência. O seu pai, Sinologo, professorava no colégio de França quando foi preso em 1944 e morto no campo de concentraçao de Buchenwald; o seu irmao foi morto no mesmo ano em combate; a sua mae foi também atirada para o campo de concentraçao de Ravensbruük mas consegue sobreviver.
François Maspero abriu esta livraria ali no quartier Latin, em 1955, com os seus jovens 23 anos de idade, e deu-lhe um cunho de esquerda e de abertura sem qualquer tipo de censuras...
Obrigado Embaixador por trazer esta juventude du Joie de Lire.
José Barros
Uma boa recordação. Passei horas nessa livraria onde nasceu uma boa parte dos livros que tenho. Paguei-os sempre com a noção de que estava a ajudar alguém que os não pudesse pagar!
Crenças de um tempo que não volta. E utopias de quem não tem de gerir um património.
Por razões diversas, faz-me lembrar a aventura da Morais, do meu saudoso António Alçada!
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