Trump baixou a bolinha. As fortes reações dentro dos EUA às insanas medidas aduaneiras obrigaram-no a recuar, salvo quanto à China, conhecida "bête noire" da América de todas as cores. Os trumpófilos, tomando-nos por parvos, vão dizer que foi "recuo programado". Pois, pois...
quarta-feira, abril 09, 2025
terça-feira, abril 08, 2025
segunda-feira, abril 07, 2025
Saudades da solidão
Que saudades do tempo em que entrava num avião e me punha a ler um livro, em que não havia telefone nem internet. Agora, com estas modernices, estou para aqui a perder tempo convosco.
Soletrar banalidades
Já não há pachorra! Entra-se numa livraria e as estantes estão atulhadas de coisas de " lifestyle" e auto-ajuda. Há mesmo assim tanta gente que não consegue pensar pela sua própria cabeça?
Trumpotimistas
Eles estão à cata, ao virar da próxima esquina. Se e quando, alguma das insanas medidas de Trump tiver um efeito colateral que possa ser lido como positivo ou menos detrimental, os trumpotimistas saltarão de imediato a terreiro. Estejam atentos! Há malucos para todos os gostos.
Diplomacia afetiva
"Olha lá! Mas então tu tens amigos que são radicais de esquerda e tens outros situados bem à direita na política?! O que é que essa malta tem de comum, para serem todos teus amigos?" Respondi: "É muito simples! O que têm de comum sou eu".
O economista instantâneo
É extraordinária a quantidade de economistas instantâneos que as medidas aduaneiras de Trump criaram. Um taxista eleborava sobre os efeitos nas taxas de juro e no petróleo, com à vontade idêntico ao de um seu colega que, há anos, detalhava sobre a "saída limpa" depois da "troika".
... por aí além!
domingo, abril 06, 2025
José Neves
Ele, o meu vizinho de cadeira (do outro lado, tinha uma simpática "rapper"), era, em toda aquela mobilizada sala, a pessoa que mais direito teria de ali estar. E passava completamente desapercebido. Chama-se José Neves e há meio século que nos cumprimentamos com grande cordialidade, embora sem nos conhecermos bem.
Lembrei-lhe que ele seria ali o único membro que estivera presente na reunião fundadora do Partido Socialista, na Alemanha, a menos que o Alberto Arons de Carvalho andasse algures pela sala (o restante, Rui Mateus, há muito que "saiu" da História). "Tenho 94 anos, sabe?". Caramba! Eu não sabia.
Falei-lhe da famosa fotografia de 19 de abril de 1973, em Bad Münstereifel, na transformação da Ação Socialista Portuguesa em Partido Socialista, em que Mário Soares queria criar o partido e Maria Barroso se opunha e perdeu. "Eu apareço na parte de cima das fotografias, sou o mais baixo. Mas não estava em pé: estava sentado num banco..." E acrescentou: "Pensando bem, é muito estranho que tivesse havido fotografias: era uma reunião clandestina!" Assinalei que não surge, na imagem mais conhecida da reunião, Seruca Salgado, talvez por ter sido ele o fotógrafo. Mas José Neves notou: "Há outra fotografia em que ele aparece". Fui agora confirmar e assim é. E falou-me de uma outra reunião, em Paris, de que eu nunca tinha ouvido falar: "Foi num espaço arranjado pelos socialistas franceses. Dessa não há fotografias".
José Neves é uma figura histórica do socialismo português. Esteve exilado desde 1965 em Londres e só regressou a Portugal com a Revolução. Publicou, em 2023, "Partido Socialista: da Génese à Refundação (1875-1973). Muita saúde, foi o que lhe desejei com um abraço solidário, no fim da festa.
E vamos a isto!
Jerónimo Martins
Comigo saem outros cinco colegas, um português e quatro estrangeiros, num processo de rotação que se processa com toda a normalidade, similar a outros que testemunhei no passado. No meu caso, aliás, a saída estava definida e datada há três anos.
Passarão agora a integrar o conselho, além de figuras estrangeiras, três personalidades portuguesas extremamente qualificadas, que aliás conheço bem e que, tenho a certeza, carrearão novas perspetivas, fruto da sua muito diversa e rica experiência profissional, para os debates no seio da administração.
É esse, precisamente, o sentido da contribuição que se pretende seja dada pelos administradores não-executivos ao trabalho das empresas, facto que a opinião pública em regra desconhece. A grande maioria dos administradores não-executivos raramente é oriunda do ramo económico das companhias que integram.
Foi em dezembro de 2012, a semanas de sair de embaixador em Paris, por imposição legal, e de ir abandonar o serviço público que tinha exercido por mais de quatro décadas, que recebi um convite de Alexandre Soares dos Santos para me juntar à Jerónimo Martins. Tinhamo-nos encontrado brevemente ao tempo em que ambos presidíamos aos Conselhos Gerais de duas universidades públicas.
Foi para mim uma total surpresa: viviam-se os tempos da "troika" e do governo Passos Coelho, executivo que ninguém desconhecia estar muito longe da minha simpatia. Entendi dever dizer isso mesmo, com clareza, a quem me formulava o convite, não fosse dar-se o caso de poder haver algum equívoco. A resposta desarmou-me: "A política não é para aqui chamada. Precisamos de si para nos ajudar a pensar o futuro, à luz da sua considerável experiência internacional. Só isso!"
E foi exatamente assim, durante 12 anos. Os meus colegas de conselho, entre os quais fiz alguns amigos para a vida, testemunharam frequentemente a minha teimosa heterodoxia, e até algum isolamento, em face de outras perspetivas conjunturalmente dominantes nos debates. Mas sempre ali disse tudo o que quis dizer, às vezes coisas que sabia irem ser menos cómodas de ouvir. Honra muito a empresa o cultivo desse saudável ambiente de pluralismo e de tolerância.
Aliás, a prova provada da total liberdade que sempre vivi na Jerónimo Martins - também comum a outras empresas com que colaborei e a outras em que atualmente continuo a trabalhar - é que, como colunista de três jornais, que entretanto tinha passado a ser, eu zurzia regularmente, sem contemplações, as minhas "bêtes noires" políticas. Contudo, nem por isso alguma vez recebi a menor observação de desagrado, ou sequer uma recomendação de contenção, da parte de qualquer dos meus empregadores. Nem por uma só vez! E eu sabia, de certeza segura, que, muitas vezes, eles não concordavam minimamente com muito do que eu por ali escrevia.
Quando entrei para a Jerónimo Martins, fui à Colômbia, à inauguração da primeira loja que lá foi criada. No ano passado, abrimos ali a loja 1000! Nos quatro mercados onde hoje opera, a Jerónimo Martins tem cerca de 6000 lojas, dando emprego a mais de 140 mil pessoas. Há 12 países membros da ONU que têm menos habitantes...
Quero, assim, nesta ocasião, deixar claro que tive um imenso gosto e orgulho em ter colaborado, durante estes 12 anos, com a Jerónimo Martins, onde fui muito bem acolhido e que, afetivamente, me sentirei para sempre "lá de casa".
Aproveito para deixar um sincero abraço a Pedro Soares dos Santos, o líder da empresa, o principal responsável pelo imenso êxito que ela tem vindo a ter, nas quatro geografias onde hoje atua. É público e notório que Pedro Soares dos Santos é uma pessoa que, em certos setores, suscita alguma polémica, que tem motivado o surgimento de alguns detratores e até, posso imaginar, de alguns inimigos. Mas é bom que se saiba que também tem muitos amigos. Eu, por exemplo.
sábado, abril 05, 2025
Desculpa, Manuel!
O meu primeiro telegrama
Esses telegramas, nome que no MNE se dá às comunicações entre as embaixadas e Lisboa, são assinados pelos dois embaixadores com quem ali trabalhei sucessivamente e, em escassos casos, subscritos por mim próprio, como "encarregado de negócios", nas ausências dos titulares e no período em que assumi a chefia entre esses dois embsixadores.
Estava eu entretido a ler essas escassas centenas de textos quando, de repente, deparei com este telegrama. Tem a curiosidade de ser o primeiro texto dessa natureza que eu assinei, no dia 17 de julho de 1979. Há dias, curiosamente, deixei aqui cópia do último que subscrevi, em janeiro de 2013. Verdade seja que, se este último tem algum "sumo", o que hoje publico é um texto completamente vulgar, que constato que apenas cuidei que estivesse bem ao estilo MNE.
Se bem atentarem, nele sigo a regra sacrossanta da Casa de evitar artigos e preposições, uma prática já então sem o menor sentido, que ainda refletia os tempos em que os telegramas eram enviados pelo telégrafo e era preciso poupar nas letras e no custo do envio. Nesse ano de 1979 e muito depois, a regra só era mantida por mero seguidismo com a liturgia da casa. Recordo-me bem quando um dia, 25 anos mais tarde, como embaixador no Brasil, dei instruções escritas aos meus colaboradores para passarem a escrever textos corridos: houve quase um motim! A tradição deixa raízes.
A máquina em que grafávamos os textos não permitia colocar acentos nem cedilhas, o que, como notarão, obrigava à repetição da letra em sua substituição. Por exemplo, "não" é "naao", para utilizar algo (por ora ainda felizmente) em voga. No texto, repararão também que as nossas autoridades máximas eram (e continuam a ser) antecedidas por "Sexa". O ". /." no final era uma convenção nossa para dar sinal disso mesmo, de que o telegrama chegava ao fim.
Finalmente, uma nota sobre o conteúdo do texto. Era prática regular as embaixadas informarem Lisboa das notícias que saíam sobre Portugal e, ao fazê-lo, era interessante explicar qual era a orientação dos jornais que traziam essas notícias. É o que faço no texto.
Enfim, ao reler agora aquele meu primeiro telegrama, fiquei com alguma pena pelo facto de ele não ter sido mais "literário" e de substância. Mas, pensando bem, fui prudente: se há coisa que o Ministério detesta é ver os encarregados de negócios, conjunturais chefes de missão, porem-se "em bicos de pés".
sexta-feira, abril 04, 2025
Uns para os outros
E lá fui ao Cacém. Na sala de espera, sentei-me ao lado de uma senhora, passada dos oitenta de idade, que olhava com curiosidade o iPad em que eu lia notícias, para matar o tempo. A certa altura, não resistiu: "Isso tem as "coisinhas" iguais às do meu telemóvel. Deve ser bom poder ler com essas letras grandes. No meu telemóvel - veja! - são letras tão pequeninas!" Também não resisti: "Quer ter letras maiores no seu telemóvel? Dá-me licença que mude as letras que usa?" E lá fiz a alteração, aumentando-lhe num segundo as letras, com a senhora encantada com o resultado: "Nunca ninguém me tinha dito que isto era possível! Vejo muito melhor assim! O que a gente aprende!".
Entretanto, já ia passando bastante tempo sobre a hora para a qual tinha sido convocado, e a minha nervoseira ia aumentando. À minha parceira de espera não escapou o facto de eu olhar repetidamente para o quadro eletrónico. A certa altura, perguntou: "O que vem aqui fazer?" Disse-lhe e foi então a vez de ela me ser útil: "Ah! Mas isso não é aqui! É lá ao fundo, na outra sala. Ainda há dias fui lá com uma prima!"
Eu estava, como diz o Sérgio Godinho, "à espera do comboio na paragem do autocarro". O que a gente aprende! Temos de ser uns para os outros, não é?
Tarifaço
Os brasileiros são incomparáveis na sua capacidade imaginativa para descobrir palavras "gráficas", que crismem certas realidades. As medidas aduaneiras de Trump são, claro, um "tarifaço"!
China
A resposta chinesa às medidas aduaneiras de Trump não "desiludiu" as expetativas: olho por olho. Como estamos em mares nunca dantes navegados em termos de comércio internacional, só nos resta perceber o modo como os mercados vão reagir e, claro, sofrer as eventuais consequências.
Sem olhos em Gaza
Trump e a NATO
Burden
Os aliados europeus dos EUA deram por adquirido, durante décadas, que era do interesse estratégico americano garantir a defesa da Europa. Por essa razão, não iam levando muito a sério os sucessivos avisos para aceitarem o "burden sharing". Agora, Trump acordou-os.
quinta-feira, abril 03, 2025
China
A Rússia é um "fait divers". Para os EUA, o que realmente conta é a China. Com o "tiro no porta-aviões" do comércio, os EUA concretizam agora um ataque sem precedentes aos interesses de Pequim. Nunca sabemos bem o que está na cabeça dos chineses, salvo a questão de Taiwan. Terá graça ver como irão reagir.
Na hora do bitaite
É num dia como o de hoje que me congratulo com o facto de ter decidido suspender o meu comentário regular sobre temas internacionais. É que, estou certo, seria tentado a "dar bitaites" sobre as medidas protecionistas de Trump, tema em que os economistas se dividem.
Isto
terça-feira, abril 01, 2025
Militares
Tive ontem o gosto de ser convidado a falar sobre um tema internacional durante o almoço numa associação que reúne pessoas orgulhosas do seu passado militar profissional. Foram algumas largas dezenas que se deram ao cuidado de me ouvir, entre eles oficiais generais dos três ramos das Forças Armadas. As perguntas foram muitas e excelentes, em quase três horas muito bem passadas. No final, foi bonito ver respeitado um minuto de silêncio "em memória dos nossos camaradas que morreram em combate", seguido do canto do hino nacional.
Xenofobia
O diretor da PJ, Luís Neves, cometeu um lapso ao deixar-se ficar na imagem ao lado de Fernando Gomes. A extrema-direita, que nunca lhe perdoou as palavras corajosas com que denunciou o alarmismo xenófobo, caiu-lhe agora em cima. Estou certo que a senhora ministra da Justiça não é das pessoas que se deixam impressionar por estas manobras.
Trump
Trump baixou a bolinha. As fortes reações dentro dos EUA às insanas medidas aduaneiras obrigaram-no a recuar, salvo quanto à China, conhecid...