sexta-feira, dezembro 10, 2021

São Bentos

Ao contrário de Rui Rio, António Costa irá ter oportunidade de constituir um grupo parlamentar com densidade técnico-política, muito graças aos ex-governantes que vão sair de cena e regressam ou passam a integrar a AR. Conhecer os dossiês é uma imensa mais valia para o trabalho parlamentar, em especial em comissão. 

Também ao contrário de Rio, Costa pode dar-se ao luxo de preservar no “backbench” alguns ”tokens” de diversidade opinativa, por muito que eles o irritem. É que se torna importante amansar os extremos heterodoxos do partido, sejam aqueles por quem a direita morre de amores, sejam os que são o ai-jesus dos antigos parceiros da Geringonça. A ambos, as televisões chamam-lhes um figo. Na guerra, chama-se a isto ”friendly fire”.

Para um próximo governo, Costa terá, contudo, um desafio difícil: que caras novas e independentes, com qualidade publicamente reconhecida e capacidade política para afrontarem a selva da política, estarão dispostas a entrar noutra aventura minoritária? E como compatibilizar esses egos emergentes, com notoriedade mas sem disciplina partidária, com a coesão de um executivo de combate em que a autoridade do primeiro-ministro possa exercer-se da forma plena, como já se percebeu que Costa não dispensa? 

Porém, enquanto o pau vai e vem folgam as costas e o exercício do poder, embora se vá desgastando, revela-se sempre um excelente cimento, dando, por algum tempo, pano para mangas e saias. E há muito que, em Portugal, não se via alguém a exercer esse mesmo poder com tanta maestria como o faz António Costa. Sob o olhar, algo lúdico, divertido, mas eu diria que também bastante admirativo, de Belém.

10 comentários:

Maria João disse...

"(...) densidade técnico-política, muito graças aos ex-governantes que vão sair de cena e regressam ou passam a integrar a AR."

Densidade? Técnica?

Parei aqui.

Ser-lhe-á absolutamente indiferente, Senhor Embaixador, é certo. Mas sinto-me gozada, mentalmente subalternizada, quando leio afirmações como esta. Elas levam-me a questionar o merecimento do muito apreço que, fora elas, nutro pelo blog.

Francisco Seixas da Costa disse...

O facto da Maria João não estar sintonizada com o sentimento prevalecente na maioria dos portugueses que, como saberá pelas sondagens e, desde 2015, tem vindo a avaliar pelos sufrágios, faz uma avaliação bastante positiva do trabalho do governo e dos seus integrantes não a interroga minimamente?

rsc disse...

A mim não me interroga nada e estou totalmente de acordo com Maria João. Tendo em conta a sua habitual capacidade de distanciamento e de análise crítica independente, confesso que também me faz impressão que o Sr. Embaixador tenha uma leitura tão acrítica de António Costa. Quanto ao sentimento prevalecente na maioria dos portugueses não esquecer que em 2015 foi Passos Coelho que teve a maioria dos votos e não António Costa. Densidade política ou truques habilidosos?? Espero que um dia se escreva com rigor sobre o impacto das cativações no real desenvolvimento do país. Densidade política ou sobrevivência no poder a todo o custo? Ver relação com os partidos aliados na geringonça. Densidade política ou amiguismo cúmplice? Eduardo Cabrita primus inter pares!
Já agora, as melhores saudações leoninas


Francisco Seixas da Costa disse...

Acritica rsc? De apoio claro e inequívoco, atenta a avaliação globalmente muito positiva que faço do seu trabalho. Criticar é avaliar e eu avalio AC e a generalidade do governo - Cabrita, Van Dunen, Themido, etc - de forma muito positiva. Não posso?

A.B. disse...

Porque razão acha que o PS não conseguirá uma maioria absoluta? As sondagens são apenas isso. O circo que os outros têm montado não lhes augura grandes voos.
Este governo tem dado muitos tiros nos pés? Sem dúvida. Mais que qualquer outro? Não diria tanto. E algum aproveitamento sem escrúpulos de certos acidentes, por parte da oposição, talvez tenha um efeito inesperado.

joão pedro disse...


...Não posso ? diz o Sr. Embaixador, na resposta a rsc... Pode, sim, Sr. Embaixador ! Mas as suas crónicas já não são o que eram...perderam muita patine ! Olhe, é pena!, mas acontece aos melhores. Conforme-se !

João Pedro

rsc disse...

A mim não me interroga nada e estou totalmente de acordo com Maria João. Tendo em conta a sua habitual capacidade de distanciamento e de análise crítica independente, confesso que também me faz impressão que o Sr. Embaixador tenha uma leitura tão acrítica de António Costa. Quanto ao sentimento prevalecente na maioria dos portugueses não esquecer que em 2015 foi Passos Coelho que teve a maioria dos votos e não António Costa. Densidade política ou truques habilidosos?? Espero que um dia se escreva com rigor sobre o impacto das cativações no real desenvolvimento do país. Densidade política ou sobrevivência no poder a todo o custo? Ver relação com os partidos aliados na geringonça. Densidade política ou amiguismo cúmplice? Eduardo Cabrita primus inter pares!
Já agora, as melhores saudações leoninas


rsc disse...

Claro que pode e deve, porque felizmente vivemos num regime que lhe dá todo o direito e legitimidade para expressar o que entender e que respeito, apesar de discordar. Não posso?

José Figueiredo disse...

Para responder a essa questão o melhor que sei é indicar todos os "Vieira da Silva" que Costa possa agarrar, incluindo alguns que não têm cartão partidário; e escolher poucos, dado que governos extensos só atrapalham. Tenho pena que no grupo parlamentar a extensão do pluralismo consentido não comporte Francisco Assis. É muito melhor que a maioria dos que têm enchido as cadeiras do Parlamento e, c'os diabos, há muita gente no partido que se tivesse qualidades para exprimir as suas ideias se posicionaria muito mais à direita (alguns sem se aperceberem).
José Figueiredo
Braga

José Figueiredo disse...

Para responder a essa questão o melhor que sei é indicar todos os "Vieira da Silva" que Costa possa agarrar, incluindo alguns que não têm cartão partidário; e escolher poucos, dado que governos extensos só atrapalham. Tenho pena que no grupo parlamentar a extensão do pluralismo consentido não comporte Francisco Assis. É muito melhor que a maioria dos que têm enchido as cadeiras do Parlamento e, c'os diabos, há muita gente no partido que se tivesse qualidades para exprimir as suas ideias se posicionaria muito mais à direita (alguns sem se aperceberem).
José Figueiredo
Braga

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