Custou um euro e meio, num alfarrabista no boulevard St. Michel, na manhã de domingo. É um livro de Marie-France Garaud, de 2006. Muitos leitores deste espaço não devem fazer ideia de quem foi. Quem seguiu a vida política francesa, em especial o movimento gaullista pós-De Gaulle, lembra-se bem do “tandem” conspirador que ela fez com Pierre Juillet.
Marie-France Garaud chegou a ser considerada a mulher mais influente de França. Era uma “viúva” de Pompidou, uma estratega contra Mitterrand, que apoiou Giscard d’Estaing “faute de mieux”, pelo ódio a Chaban-Delmas (o Lisboa-Porto, em França, tem o seu Paris-Bordéus. Alain Juppé que o diga!). Protegeu Jacques Chirac, de quem se afastou com a definição lapidar: “Eu pensava que Chirac era feito do mármore de que se fazem as estátuas. Afinal, é feito da faiança de que se fazem os bidés...”. Teve o “desplante” de tentar concorrer às eleições presidenciais de 1981 (obteve pouco mais de um por cento...), passou depois à França anti-europeia mais radical, ao ponto de vir a apoiar Marine Le Pen, em 2017.
O livro é um expressivo manual de perfídia, que ajuda a perceber os truques e as artimanhas da França conservadora - que tentou atrasar, sem sucesso, as ascensão ao poder da esquerda, em 1981. Dou-me conta de que nunca tinha lido nada desta fantástica “operacional” da política reacionária e, devo dizer, é um texto muito bem escrito. E eu gosto muito de ler livros com que sei que não vou concordar e que pouca gente lê...
Assumo-me como um “dependente” da história política da França contemporânea (como o sou da britânica, da espanhola, da americana e da brasileira - e de mais nenhuma!) e dou comigo a pensar da imensa “sorte” que tive, durante os anos em que por aqui trabalhei, de ter tido os meus dias muito ocupados e sem grandes “escapadelas” para pesquisas de bibliografia lúdica. Ai de mim, se tivesse tido tempo para me “atulhar” destes livros, ao “preço da chuva”, dos “bouquinistes” às vendas a retalho, sobre essas décadas que me interessam imenso. Agora, dentro da reforma, posso dar-me a estes “luxos”, por €1,50... Desde que caibam na mala!
Na esplanada em que ontem almoçava, num dos mais deliciosos fins-de-semana em Paris neste ano, com sol e calor qb, notei que um cavalheiro idoso (isto é, mais ou menos da minha idade), da mesa ao lado, me olhava com circunspecta curiosidade. Por que diabo, devia estar ele a perguntar-se, um tipo de cabelos brancos, pela certa estrangeiro (a minha pronúncia não engana), lia um livro, com mais de uma década, da autoria Marie-France Garaud, dele citando em francês passagens a quem o acompanhava? O homem estava visivelmente perplexo. Tinha uma comenda da Ordem de Mérito, no blazer azul forte, com lencinho vermelho com motivos, a pingar do bolso. Deixei-o no mistério. Afinal, intrigar gente claramente de direita constitui para mim, desde há muito, um bom e justo objetivo de vida.
7 comentários:
Lido com gosto.
Despacho:
"O livro é um expressivo manual de perfídia, que ajuda a perceber os truques e as artimanhas da França conservadora - que tentou atrasar, sem sucesso, as ascensão ao poder da esquerda, em 1981."
Então só a direita francesa é que tem "truques e artimanhas..."? Isso não existe na esquerda? Ou numa é útil e na outra é vicío?
O gosto em ler não deu para deferimennto.
O Anónimo das 13:21 é um “whataboutiste”: se se fala de uma coisa, tem de se falar de outra, para conpensar. Por que será que, se a nota tivesse sido ao contrário, até aposto que nada suscitava. Mas isso não interessa aqui. Isto não é um “orgão de informação”, é um espaço de comentário pessoal, tendencioso. É o meu espaço: falo do que quero e não falo do que não quero. Simples, não é?
E compensar é com “eme”, claro
@ Francisco Seixas da Costa.
E, Eu até ser tolerado...... posso comentar o seu pensamento [não universal] como entender.....Right?
It's simple and straight.
[That is thee true democracy!!!]
Também li o livro. Vivi cá a sua época e acompanhei a no seu itinerário.
A Rasputine de saias, com o seu alter ego Jean Pierre Juillet, eram o terror de l’Elysée… Mas Bernadette Chirac mandou-a para férias longas…no Poitou! Mas quando se aliou a dois barões terríveis, um verdadeiro, Philippe de Villiers et outro falso, Charles Pasqua , antes de se aliar a Le Pen, demonstrou a sua panóplia da perfídia que tinha em reserva.
Caro Joaquim de Freitas. Não confunda Pierre Jouillet com Jean-Pierre Jouillet!
Oui, Oui, OUI, Senhor Embaixador… tem razão. As minhas desculpas.
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