segunda-feira, outubro 29, 2018

Presidente Bolsonaro


Marcelo Rebelo de Sousa, como manda a regra, enviou as felicitações ao seu homólogo e futuro presidente do Brasil. Porque Jair Bolsonaro será, simultaneamente, chefe de Estado e chefe do governo, António Costa mandou-lhe igualmente uma nota.

Ambos os textos são irrepreensíveis, fruto de uma diplomacia experiente e sabedora da medida das coisas.

Eu, que já saí das "lides" há uns anos, dei-me ao exercício de escrevinhar aquela que poderia ser uma mensagem "alternativa" por parte do nosso presidente, embora reconheça que a sua extensão é menos conforme com as práticas protocolares habituais.

Ela aqui fica, por mera curiosidade:

Senhor Presidente eleito Jair Bolsonaro
Excelência

A inequívoca expressão democrática da vontade do povo brasileiro determinou, no passado domingo, a eleição de Vossa Excelência para a presidência da República Federativa do Brasil. Começo por felicitá-lo por isso, em nome de Portugal.

Os nossos países mantêm entre si, vai para dois séculos, uma relação muito particular, fruto de intensos períodos comuns na História e da partilha de uma Língua universal que nos liga a outros povos, criando, nos dias de hoje, uma Comunidade de culturas e de valores que, estou certo, é desejo de todos podermos continuar a desenvolver e afirmar em conjunto.

Em ciclos políticos de sinais por vezes muito diferentes, e não raramente contrastantes, em ambos os lados do Atlântico, a sabedoria e o pragmatismo acabaram por decantar um bom-senso que ajudou a manter e reforçar o nosso relacionamento, por sobre as ocasionais divergências de opinião dos dirigentes. É que o destino nos condenou, com felicidade, a desenhar uma constante convivência humana, recentemente feita mesmo de diásporas cruzadas.

Nesta hora, em nome do povo português, desejo expressar a Vossa Excelência os votos muito sinceros de que o futuro do Brasil, durante o seu mandato, possa estar à altura das expetativas legítimas que determinaram a sua escolha para a suprema magistratura brasileira - em liberdade, tolerância, paz e progresso, honrando as virtudes democráticas da Constituição brasileira de 1988.

O Brasil pode ter a certeza de que contará sempre com a empenhada vontade de Portugal para continuar a desenvolver os laços bilaterais existentes e com ele continuar a trabalhar, na ordem internacional, nomeadamente no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, para a construção de uma sociedade global respeitadora do património de valores civilizacionais que são hoje comuns aos Estados e povos que têm a Democracia como referente identitário e a Liberdade como princípio inalienável na regulação cívica da vida das suas sociedades.

Com os meus respeitosos cumprimentos

Marcelo Rebelo de Sousa

Presidente da República Portuguesa

10 comentários:

APS disse...

Um "case study" exemplar do melhor barroco-conceptismo português. E, maneirista embora, à altura contorcionista das singulares esculturas do Aleijadinho.

Anónimo disse...

Bolsonaro já sinalizou em estreitar relações com Portugal. O governo socialista só interessava relações com países com sua ideologia, mandou bilhões de dólares do BNDES para ditaduras pelo mundo. Todo estado brasileiro está aparelhado com a mais suja ideologia socialista da corrupção e roubo dos cofres públicos. Inicia uma nova era para o Brasil.

Anónimo disse...

Faltou-lhe o "Se deus quiser", porque ambos são muito crentes.

Anónimo disse...

"Nesta hora, em nome do povo português, desejo expressar a Vossa Excelência os votos muito sinceros de que o futuro do Brasil, durante o seu mandato, possa estar à altura das expetativas legítimas que determinaram a sua escolha para a suprema magistratura brasileira - em liberdade, tolerância, paz e progresso, honrando as virtudes democráticas da Constituição brasileira de 1988."

um forcingzinho...

Luís Lavoura disse...

Eu substituiria "paz" por "ordem", para ficar como o slogan na bandeira na brasileira.

Manuel disse...

Este texto pressupõe que quem o lê tem a literacia suficiente para o compreender, o que não me parece ser o caso.

Anónimo disse...

Manuel disse….
Este comentário evidencia bem, a exemplo de outras análises meio idiotas o "Tuga chico esperto", que acha que os mais de 5o milhões que votaram no Bolsonaro são idiotas.

Joaquim de Freitas disse...

Manuel disse….
"Este comentário evidencia bem, a exemplo de outras análises meio idiotas o "Tuga chico esperto", que acha que os mais de 5o milhões que votaram no Bolsonaro são idiotas.
30 de outubro de 2018 às 00:23"

Escreveu " Idiotas" ? Nao, nos 50 milhões de votos existe de tudo.

O que significa concretamente? Significa que a defesa do mercado, da propriedade privada e da lógica do lucro, por exemplo, é respeitável em termos civilizatórios, por maiores que sejam as discordâncias.

No entanto, quando se afirma que a culpa do estupro é da mulher, que gays e lésbicas são doentes, que os negros devem sofrer porque um suposto antepassado bíblico ficou nu na frente do pai etc., a situação muda de figura.

Todas estas afirmações ferem postulados básicos, e burgueses, de igualdade formal e laicidade do Estado. Quer-se com elas discriminar negativamente um grupo, ou seja, impor-lhe uma condição social inferior, oprimi-lo e humilhá-lo, o que é inaceitável.

O obscurantismo não se resume ao ódio desmedido à esquerda e sobretudo ao PT.

O grupo é bem variado: separatistas paulistas, supremacistas, antinordestinos, skinheads, fascistas, fanáticos religiosos e tantos outros.

A eles podemos adicionar agora os "justiceiros", cujas acções bárbaras são apoiadas por âncoras de jornal e por uma massa de comentários raivosos nas páginas de internet.

Comentários que, em regra, permanecem recônditos de tão inconfessáveis, mas que pululam quando alguma figura pública do obscurantismo mostra o caminho. Mesmo ao mais alto nível do candidato a presidente, agora eleito.

Quando vemos o que se passa no caso do jovem que foi mutilado e amarrado numa via pública do Rio de Janeiro por um bando de "justiceiros", temos mais uma hipótese deste tipo, e até pior.

Anónimo disse...

Grande texto de alguém que tem sentido de Estado.
Quanto ao resto, o problema é dos brasileiros.

Anónimo disse...

Guilherme Boulos, candidato socialista derrotado, já está as ruas promovendo o que sempre soube fazer, baderna. Terça Feira na Avenida Paulista em São Paulo liderou um quebra-quebra com mascarados e vagabundos que por um sanduíche de mortadela e uma Sukita vendem até a alma ao diabo. Essa é a esquerda no Brasil. Sempre foi um vagabundo convicto, especializado em invadir propriedades produtivas.

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