Há dias, diverti-me, por mais de uma hora, a ver e ouvir, no YouTube, uma entrevista, feita já há uns meses, a Herman José, num registo muito solto, na qual o humorista deu conta dos seus gostos, revelou facetas curiosas da sua vida, tudo dito sempre com imensa graça, inteligência e farta cultura.
Portugal é um país a quem “saiu a sorte grande” ao ter o privilégio de dispor, desde há várias décadas, de uma figura como Herman José. É uma banalidade, mas eu repito-a, dizer-se que a ele se devem alguns dos grandes “retratos” e momentos maiores da história do nosso humor. Pessoalmente, devo-lhe imensas horas de boa disposição e sinto um grande orgulho em tê-lo como compatriota. Para além do que faz em televisão e fez em rádio, Herman brinda-nos hoje, quase diariamente, com fantásticos pequenos vídeos no Instagram, deliciosas “trouvailles” só acessíveis a alguém que é um evidente génio na sua difícil arte.
E é porque Herman José é um homem culto, vivido, com a cabeça aberta às coisas boas do mundo, que conhece muito bem, que fui surpreendido, no meio da entrevista, com a sua ideia de que o reconhecimento de um pintor como Mark Rothko é apenas uma simples “fraude” (não sei se o vocáculo era esse, a ideia sim) inventada por um qualquer galerista que convenceu outros de que se tratava de um grande pintor, daí se gerando uma onda imparável que deu a imensa fama que a obra do artista hoje tem.
Tive pena de ouvir Herman dizer isto. Acho perfeitamente normal que alguém deteste o que Rothko (ou Pollock) pintam. Conheço muita gente que pensa assim. Gostos não se discutem e entendo que Herman possa não apreciar minimamente esse género de pintura. Mas Herman José, precisamente por ser o homem culto e aberto de espírito que é, deve perceber que há outras pessoas - e eu e muitos (mesmo muitos) estamos entre elas - que, não sendo “manobradas” pelos galeristas ou condicionados por movimento artificiais de opinião, consideram Rothko como um dos maiores génios da pintura contemporânea.
Possuir um Rothko ou um Pollock, ou, domesticamente, alguns fabulosos Hogan ou Pomar, seriam o único alibi que conseguiria encontrar para me arruinar financeiramente.
19 comentários:
O Herman é impagável !!! Mas quem não gostaria de discordar dele e ter em sua casa qualquer um desses grandes pintores ! Até o próprio Herman .
Cumprimentos
O Herman tem dessas coisas, mas isso também faz parte do seu ar de sua graça.
ao Francisco de Sousa Rodrgues
Tem razão ao Herman perdoa-se tudo , pois não se sabe nunca se estar a falar a sério ou a gozar ... aí consiste a graça e a inteligência dele , pois até consegue enganar um expert como o emb. FSC , que não deve ter percebido que era piada . Grande Herman !
Sabe, FSC, o Herman José não é seu compatriota. Ele é alemão e quer manter-se assim. Até há uma entrevista onde ele conta que, de X em X tempo tem de ir ao SEF tratar de umas papeladas quaisquer.
Quanto ao talento do "verdadeiro artista", isso foi chão que já deu uvas. Há muitos anos que as entrevistas dele valem muito mais do que os seus trabalhos. Como apresentador é repetitivo e desinteressante; como cantor, é mau; e, como ator, a sua especialidade é estragar bonecos criados por outros. O RAP tem a honestidade de dizer que só sabe fazer dois ou três bonecos mas, o HJ - a quem a modéstia costuma ser uma toma de balanço para, depois, cair em cima de colegas (como ele gosta de ajustar contas nas entrevistas que dá) -, nunca seria capaz de reconhecer que é muito pouco elástico na forma de vestir as personagens.
O HJ foi um monstro (no bom sentido) numa dada altura, depois, perdeu a corrida para os novos talentos. Já vi espetáculos ao vivo, dele, que eram deprimentes pela preguiça e recurso ao humor fácil, brejeiro e - até -, de mau gosto.
A questão é que o o HJ se tornou a Amália do humor. Mesmo quando não "canta", toda a gente lhe diz que "encanta".
sinto um grande orgulho em tê-lo como compatriota
Ele não é nosso compatriota, Francisco: Herman José é cidadão alemão e, embora podendo ter nacionalidade portuguesa, sempre rejeitou explicitamente solicitá-la. Como se pode chamar "compatriota" a quem rejeita explicitamente ser da nossa pátria?
Pois...
O Herman...
Foi-lhe dado em tempos e não interessa por quem muita trela. De tal forma que ele foi perdendo a cabeça com o sucesso de um rir facil para a população. No entanto como fazem todos a certa altura começou a espadeirar a torto e a direito. O humor que se pode ter em Lisboa não é o mesmo na provincía. E assim foi retirado do prime time.
Da cultura que ele tem, não o conheço, mas a imagem não me parece muito acertada. É um humorista de multidões o que é sempre desgastante e alienante.
O ele não gostar de um pintor ou um artista......Quem é que em Portugal conhece Rothko?
Enfim......vamos andando.... nem sei se vale a pena comentar o que diz o João aqui na tasca da rua sobre isto.
Enganar é uma grande arte!
E tem rendido bem...
Gostaria de saber o que Herman saberá sobre a paleta cromática utilizada por um pintor porque me parece que ele apenas sabe de "palettes" de tudo o que apenas o interessa.
Isso de haver uma galeria de arte que promove um pintor que passa a ser um sucesso só aconteceu em Portugal nos anos 80. Esses artistas eram necessários ao país para mostrar que havia cultura em Lisboa. Grande parte deles hoje não teem interesse nem entre os colegas.
Rothko tem valor económico e artistíco em todo o mundo.
Não se esqueçam que o Herman nunca deixou de ser um artista de revista por isso pode mudar o discurso conforme o poder no poleiro. A sua noção de estética é revisteira por isso é normal que não entenda um artista como Rothko.
Alguém aqui sabe dizer porquê que o pintor em causa é bom, para além de ser caro e outros especialistas o confirmarem?
“O propósito da arte é lavar a poeira da vida quotidiana de nossas almas.”
Parece que a alma de muita boa gente é um mealheiro!
Neste e noutros casos para fazer dum pintor ou outro artista qualquer um génio , é mesmo acreditar na célebre frase : o rei vai nu , dita por um galerista conhecido ou agente do próprio , para os patetinhas coleccionadores irem atrás e começarem a comprar as obras . E não é que às vezes “ pega” mesmo ?
@ Anónimo das 09:39.
“O propósito da arte é lavar a poeira da vida quotidiana de nossas almas.”
Isso das almas em Portugal não é muito conhecido por razões que não interessam agora.
Um dia, no consultório de um cirurgião, reparei que as paredes estavam cheias de boas obras de arte. À minha pergunta porquê respondeu-me o mesmo cirurgiâo:
Durante as minhas cirutgias vejo coisas tão feias que tive de recorrer à estética seja na cor seja na forma para me compensar.
Concordei.
Herman é um grande humorista, muito inteligente e intuitivo, mas a sua cultura, apesar de abrangente, é superficial. Rothko é muita areia para a sua camioneta. Gostar e entender não são a mesma coisa.
A matemática é a essência da obra de arte. Por exemplo o binomio de Newton é tão belo como a venus de milo.
Ou seja quem não entender matemática só pode gostar (ou não gostar) da arte mas nunca a poderá entender!
Também é certo que quem não sabe cáculo não é culto. Logo fico sossegado, sabendo calculo quando gosto de uma obra de arte entendo-a...
Só não entendi um safanão do guarda quando me aproximei demasiado da venus... Afinal estava a perceber a formula matemática...
@ anónimo das 22:28
Está a referir-se à essência da estética ou de uma obra de arte. É que até há pouco andava-se à procura da obra de arte anti estética.
De resto gostei do seu comentário.
Eu apenas ironizei juntando frases de génios: Nadir, Pessoa e outra de que não me lembro o nome!
A única que percebo é a de Picasso e em certa medida a de Pessoa. Senti a de Picasso quando vi guernica e outras obras ao vivo!
Alguém vir dizer que este ou aquele está a dizer asneira neste assunto, como alguns comentam, está a asneirar na certa!
Um dia vi um pintor ser entrevistado por um reporter que lhe perguntou:
Fale-nos da sua obra X presente nesta grande exposição.
Respondeu o autor:
Quem deve falar dela é quem a vê porque a mensagem que quiz transmitir está lá. Mas cada um pode vê-la como entender.
Está tudo dito.
Isso dos colecionadores é interessante:
Geralmente teem obras mediocres de boas assinaturas. Para se fazerem colecionadores não era preciso ter noções de estética.
Em tempos em Portugal era preciso mostrar interesse pela cultura sem perceber nada de nada. Era sim uma promoção social.
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