segunda-feira, janeiro 22, 2018

Queixas

Há dois dias, num funeral, naqueles momentos em que sentimos compulsão para dizer uma graça para desanuviar o ambiente, embora ela não possa ser muito forte para não contrastar com o momento de pesar que vivemos, uma amiga que, tal como muito de nós, se sente fortemente desencantada em face das perdas que temos vindo a ter entre os nossos conhecidos, dizia, sorrindo ao de leve: “Devia haver alguém a quem nos pudéssemos queixar desta ceifa...” Uma voz, ao lado, retorquiu: “Sorte têm os que acreditam em algo “lá em cima”, pois têm uma espécie de instância de recurso”. A conversa entre ateus - porque todos eram ateus - prosseguiu com um terceiro interlocutor: “Eh, pá! Mas esses que acreditam nunca se queixam, porque acham sempre que há razões insondáveis...”. Todos concluímos que não há uma ASAE para a morte.

2 comentários:

Os olhares da Gracinha! disse...

Nesse momento nenhuma ASAE tem voto na matéria =》

Anónimo disse...

De facto pouco se tem falado da morte, por ser uma coisa.... misteriosa para aqueles que não acreditam que poderá haver outra forma.

Deve ser a primeira vez que a humanidade não quer abordar o sentido da morte.

Ainda me lembro de me dizerem quando míudo: Vamos ao enterro de fulano mas tu ficas em casa porque ainda não tens idade para estas coisas. Em minha casa não eramos ateus.
Deve ser muito dificil aceitar no fim de uma vida, que isto é apenas uma vela que se apaga e por isso encontramos ao longa da existência dos seres humanos a tentativa de criar uma esperança que assim não seja na totalidade.
Agora já nunca nos preparam para essa condição humana de a vida terminar.

Tudo isto tem mudado tanto que hoje para quem morre de repente toda as pessoas dizem: Não teve sofrimento.
Há uns 60 anos dizia-se: não teve tempo para se preparar para a morte.

Poder é isto...

Na 4ª feira, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal que desde há quatro anos faço no Jornal Económico com o jornalista António F...