sábado, janeiro 27, 2018

Para trás


Quando se sai, de carro, da embaixada portuguesa em Paris, na rue de Noisiel, é-se obrigado a circundar todo o quarteirão. Quero com isto dizer que somos conduzidos a passar muito próximo do lugar de onde partimos, com a porta da embaixada de novo à vista. Naquele dia 25 de janeiro de 2013, recordo-me bem de que não fui tentado a olhar, por uma última vez, para a porta de onde acabara de sair.

E, no entanto, aquele era o último dia de uma “aventura” que se iniciara mais de 37 anos antes, quando, em 13 de agosto de 1975, ingressara na carreira diplomática portuguesa. Esse percurso profissional terminava ali, aos 65 anos, idade que iria cumprir três dias depois e que, à época, era o limite para a atividade no serviço externo. Estava tudo perfeito: tinha chegado o termo de um trabalho diplomático que me satisfizera plenamente e, em Portugal, esperavam-me outras coisas agradáveis para fazer (não pensava eu que iriam ser tantas, confesso...). 

Mas - lembro-me bem! - não olhei a porta da embaixada, onde, um minuto antes, me despedira de alguns colaboradores que deixei como amigos, porque nunca olhei para trás em qualquer das fases da vida profissional que cumpri. As “coisas” têm o seu tempo e, no final, esses capítulos fecham-se com naturalidade, sem nostalgias, partindo-se para outra. Sem nunca esquecer o passado, a única vida que existe é o dia seguinte.

Entretanto, passaram cinco anos. Nunca pensei que estes anos acabassem por ser tão bons como foram. Um regresso calmo a Portugal, com trabalho, com tarefas agradáveis de diversa natureza, um reencontro mais regular com a família e com os amigos antigos, a criação de muitos novos e bons amigos, mas também viagens, escrita, comidas, conversas, livros, com saúde qb. Ah! E também algumas polémicas, alguns dissídios e, claro, algumas tristezas. A vida, sem sal, seria sensaborona. Repito: em geral, tudo (mais que) perfeito!

Se fosse religioso, dava graças a deus. Não o sendo, dou graças à vida, que tem sido muito generosa comigo e à qual, como toda a modéstia, só vou pedindo uma coisa muito simples, embora essencial: tempo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Francisco,

Muitos parabéns!

Por mais anos que eu viva, nunca esquecerei todas as atenções que teve para comigo nos nossos anos de Paris, e em particular as palavras que proferiu num almoço na rue de Noisiel, em Outubro de 2011, perante silêncios ensurdecedores.

Um abraço

JPGarcia

Anónimo disse...

Tal como Pablo Neruda, o Senhor Embaixador confessa que viveu... e que continua a viver! PARABÉNS!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...