sábado, agosto 27, 2016

RT Quê?


André Macedo foi um bom diretor do "Diário de Notícias". Como leitor atento, embora quase nos antípodas da sua leitura político-económica dos factos, tive sempre gosto em ler o jornal sob sua direção - aliás, com uma excelente equipa coadjuvadora.

Um dia, foi divulgado que ia sair do jornal para integrar a direção de informação da RTP. Fiquei um pouco surpreendido, porque pensava que essa direção da empresa já estava completa. Pelos vistos, estava enganado.

Pouco depois (corrijam-me p.f. se estou errado), li um comunicado do Conselho de Redação da RTP que, por unanimidade, afirmava ser contra essa nomeação, adiantando diversas e razoáveis razões. Esse comunicado, muito justamente, salvaguardava a consideração profissional que o jornalista lhe merecia.

Leio agora que André Macedo vai assumir tais funções.

Já sei! O parecer do Conselho de Redação não é vinculativo.

Quer isto dizer que uma posição, por unanimidade, do Conselho de Redação (eleito por todos os jornalistas) não tem mesmo a menor consequência?

Que isto se passe numa empresa privada, sujeita às lógicas do capital mandante, ainda vá que não vá! Agora numa empresa pública, do Estado, é pacífico que a opinião formal dos representantes dos jornalistas seja 100% irrelevante?

Assim, pergunto: será excessivo se eu concluir que a administração da RTP se está, em absoluto, "nas tintas" para a posição unânime do Conselho de Redação da empresa?

Será assim ou serei eu quem está enganado?

E, nestas condições, ninguém tuge nem muge lá pela RTP? Caramba! Isto parece a paz dos cemitérios!

Na prática, ajudem-me, por favor, a compreender: qual é a diferença entre o papel dos jornalistas da RTP hoje, no tocante à organização e gestão da sua estrutura redatorial, e aquele que tinham no tempo de Ramiro Valadão?

Não estou a brincar!

6 comentários:

A Nossa Travessa disse...

Chicamigo

Boa pergunta. Ele há cada coisa que cada duas é um par... ÀS tangente: não gosto do A Macedo... E creio que tenho razão..

Abç do Leãozão (muito abananado)

ignatz disse...

desde quando é que a comissão de trabalhadores manda na administração? é por causa destas confusões estatutárias que o malandreco que pisca o olho ao telespectador faz o que quer e ainda goza com o pessoal. aquilo é um cóio de fachos e só entram tarefeiros que dêem garantias aos direitolas.

Anónimo disse...

Mas há algum motivo para que o parecer dos jornalistas não seja vinculativo numa empresa de jornalismo.o privada? Não estou a ver qual.

Anónimo disse...

"RTP:aquilo é um cóio de fachos e só entram tarefeiros que dêem garantias aos direitolas."

Vou guardar. Sobretudo porque é o que me parece. E não é só por causa do "Orelhas"

Anónimo disse...

Eu lamento o meu querido amigo Luís Filipe Castro Mendes que tem que suportar uma administração destas.

E lamento ainda que o telejornal principal da nossa televisão seja apresentado pelo pior lucutor de Portugal.

JPGarcia

Carlos Fonseca disse...

Não direi que André Macedo é um homem sem vergonha. Mas talvez seja um homem sem memória.

Em 2007 escreveu no Diário Económico:

"Faz sentido o Estado gastar dinheiro numa programação que pouco traz de relevante ao país? A RTP e seus derivados fazem mesmo serviço público? A resposta é simples: a Rádio Televisão Portuguesa não faz falta nenhuma. Não se perderia nada de substantivo se o canal público desaparecesse de vez".

E, ainda referindo-se à RTP, escreveu: "no fundo, no meio de muito telelixo, fazem alguns documentários de qualidade e patrocinam uns poucos telefilmes de autor que, no limite, só servem um objectivo final: justificar, com o inevitável banho de pseudo-cultura televisiva, o 'statu quo' de uma classe de devoristas. Ou seja, só servem para disfarçar a indigência generalizada da sua programação".

O que mudou? Possivelmente, André Macedo, a precisar de emprego condizente com o seu nível profissional (e de vida?), porque a RTP não me parece hoje significativamente melhor do que era então.

No fundo, talvez Macedo seja um involuntário seguidor de Mário Soares que, tendo falhado as promessas eleitorais, disse um dia, já lá vão quase 40 anos, que só os burros é que não mudam.

25 de novembro