1. E lá vai Dilma à vida, com poucos a chorarem-na e levando consigo o PT. Não houve golpe constitucional (as instituições funcionaram regularmente), mas houve uma evidente subversão do espírito do sistema, por uma enviezada parlamentarizacão do regime presidencialista, a colocar a política do lado do qual passou, de um momento para o outro, a soprar o vento popular. Temer, renegando sem vergonha o programa sob que foi eleito, foi o instrumento oportunista. Ficará na História, mas com adjetivos de que a família se não orgulhará.
2. Trump parece que cai nas sondagens mas Hillary Clinton continua a ter uma rejeição muito elevada. Levar uma figura como Farage para a campanha americana é a prova de que o exercício já passou os limites da racionalidade, depois de há muito ter atravessado os da decência. Por este andar, Marine le Pen ainda vai, um destes dias, "fazer uma perninha" a Washington.
3. O puzzle angolano toma um novo formato. Mais um. Um novo vice-presidente surge como o putativo sucessor de José Eduardo dos Santos. Já vimos este filme no passado e, em todas as ocasiões, acabou sempre de forma diferente da que se previa. Angola é um "happening" mas, goste-se ou não, a capacidade do presidente e do MPLA para segurarem o poder é notável.
4. Será desta que Rajoy forma um governo esável? É mais trágico do que parece, mesmo para nós, o penoso arrastar do processo político espanhol. Este impasse tem um preço imenso na credibilidade de um país que é importante para a Europa. O PSOE brinca com o fogo e com o seu futuro como partido do sistema. Já para o rei, esta prova de fogo veio cedo demais e, infeluzmente, revelou que não conseguiu criar uma magistratura de influência como a que o pai chegou a criar. É um péssimo sinal para a monarquia espanhola, podem crer.
5. Sarkozy não desiste de tentar regressar ao Eliseu. Em 2012, a França estava muito cansada dele e, francamente, duvido que tenha recuperado desse sentimento. Agora, "lepeniza" a cada dia discurso, tentando arrastar a respeitável direita democrática para um sinistro populismo, o que vai obrigar gente decente como Juppé a ir por outro caminho. Com Hollande a bater no fundo, fica a certeza de que a esquerda nunca votará em Sarkozy numa 2ª volta (como fez em Chirac em 2003). A presidente Marine é, assim, possível.
6. Erdogan está nas suas sete quintas. Arranjou um imbatível alibi para fazer uma limpeza interna e, como já previsto, arranjou um pretexto para "molhar a sopa" na Síria, para por ali desfazer as milícias curdas. Os EUA, que estão "desertos" para subcontratar esta guerra, aplaudem, devem estar a fornecer "intelligence" e reduzem a pressão para repatriar Gullen. Um belo favor de Obama a Hillary Clinton, que se preparava para fazer isto mesmo. Só há uma América: a dos interesses.
7. A última pedra no túmulo da Parceria Transatlântica foi posta há dias pelo ministro alemão da Economia. Como muitos previam, já não vai haver nenhum TTIP, o que marca um forte recuo protecionista no espaço euro-atlântico. "Much ado about nothing"? Resta saber o que os europeus farão se o preço do petróleo disparar de novo e precisarem do gás de xisto americano, que era a contrapartida pela liberalização do comércio.
8. Os europeus continuam a reunir em grupinhos, com Hollande a fingir de charneira e a tentar estar em todas. Umas vezes é o proto-diretório com a Itália, noutras mete-se a Polónia e recupera-se Weimar, finalmente o sul - que passa o tempo a dizer que "não somos a Grécia!" ou coisas parecidas a propósito de qualquer outro vizinho do lado de quem os mercados não gostem - vai também conversar à parte. Olhando para esta Europa, percebe-se agora melhor o sentido da palavra balcanização.
9. Os británicos revelam que não sabem o que fazer com o Brexit. Dá ideia que uma (já) maioria do país está arrependida da aventura em que Cameron (desaparecido em combate, para bem do país) irresponsavelmente o meteu. Theresa May parece tentar ganhar tempo e, curiosamente, depois da vergonhosa reação anti-democrática do lado do continente, até os "27" estão mais calmos, já percebendo que só os mercados comandam o "timing" da invocação do artigo 50 do famigerado Tratado de Lisboa. Resta saber se uma "mini-saída" é possível. Leia-se o "Economist" ou o FT para medir a perplexidade que por ali vai.
10. Hoje é o dia C (o terceiro) para medir as hipóteses reais de António Guterres vir a ser designado o próximo SG da ONU. O dia D virá em outubro, sob presidência russa do CSNU. Posso confessar um segredo?: nunca acreditei que as hipóteses do candidato português chegassem a ser tão elevadas. E que bom que era para Portugal,me para a diplomacia portuguesa (poderemos falar depois sobre isto), se Guterres fosse escolhido!
11. Exemplar, até agora, tem sido o comportamento de Augusto Santos Silva e do MNE no caso dos fedelhos agressores iraquianos. Palavras certas, tempo exato, decisões acertadas. É uma grande e experiente máquina a das Necessidades, com séculos de bom-senso e de excelente serviço público. Sei que sou suspeito, mas sinto orgulho em ter feito parte dessa grande escola de sentido de Estado.
2. Trump parece que cai nas sondagens mas Hillary Clinton continua a ter uma rejeição muito elevada. Levar uma figura como Farage para a campanha americana é a prova de que o exercício já passou os limites da racionalidade, depois de há muito ter atravessado os da decência. Por este andar, Marine le Pen ainda vai, um destes dias, "fazer uma perninha" a Washington.
3. O puzzle angolano toma um novo formato. Mais um. Um novo vice-presidente surge como o putativo sucessor de José Eduardo dos Santos. Já vimos este filme no passado e, em todas as ocasiões, acabou sempre de forma diferente da que se previa. Angola é um "happening" mas, goste-se ou não, a capacidade do presidente e do MPLA para segurarem o poder é notável.
4. Será desta que Rajoy forma um governo esável? É mais trágico do que parece, mesmo para nós, o penoso arrastar do processo político espanhol. Este impasse tem um preço imenso na credibilidade de um país que é importante para a Europa. O PSOE brinca com o fogo e com o seu futuro como partido do sistema. Já para o rei, esta prova de fogo veio cedo demais e, infeluzmente, revelou que não conseguiu criar uma magistratura de influência como a que o pai chegou a criar. É um péssimo sinal para a monarquia espanhola, podem crer.
5. Sarkozy não desiste de tentar regressar ao Eliseu. Em 2012, a França estava muito cansada dele e, francamente, duvido que tenha recuperado desse sentimento. Agora, "lepeniza" a cada dia discurso, tentando arrastar a respeitável direita democrática para um sinistro populismo, o que vai obrigar gente decente como Juppé a ir por outro caminho. Com Hollande a bater no fundo, fica a certeza de que a esquerda nunca votará em Sarkozy numa 2ª volta (como fez em Chirac em 2003). A presidente Marine é, assim, possível.
6. Erdogan está nas suas sete quintas. Arranjou um imbatível alibi para fazer uma limpeza interna e, como já previsto, arranjou um pretexto para "molhar a sopa" na Síria, para por ali desfazer as milícias curdas. Os EUA, que estão "desertos" para subcontratar esta guerra, aplaudem, devem estar a fornecer "intelligence" e reduzem a pressão para repatriar Gullen. Um belo favor de Obama a Hillary Clinton, que se preparava para fazer isto mesmo. Só há uma América: a dos interesses.
7. A última pedra no túmulo da Parceria Transatlântica foi posta há dias pelo ministro alemão da Economia. Como muitos previam, já não vai haver nenhum TTIP, o que marca um forte recuo protecionista no espaço euro-atlântico. "Much ado about nothing"? Resta saber o que os europeus farão se o preço do petróleo disparar de novo e precisarem do gás de xisto americano, que era a contrapartida pela liberalização do comércio.
8. Os europeus continuam a reunir em grupinhos, com Hollande a fingir de charneira e a tentar estar em todas. Umas vezes é o proto-diretório com a Itália, noutras mete-se a Polónia e recupera-se Weimar, finalmente o sul - que passa o tempo a dizer que "não somos a Grécia!" ou coisas parecidas a propósito de qualquer outro vizinho do lado de quem os mercados não gostem - vai também conversar à parte. Olhando para esta Europa, percebe-se agora melhor o sentido da palavra balcanização.
9. Os británicos revelam que não sabem o que fazer com o Brexit. Dá ideia que uma (já) maioria do país está arrependida da aventura em que Cameron (desaparecido em combate, para bem do país) irresponsavelmente o meteu. Theresa May parece tentar ganhar tempo e, curiosamente, depois da vergonhosa reação anti-democrática do lado do continente, até os "27" estão mais calmos, já percebendo que só os mercados comandam o "timing" da invocação do artigo 50 do famigerado Tratado de Lisboa. Resta saber se uma "mini-saída" é possível. Leia-se o "Economist" ou o FT para medir a perplexidade que por ali vai.
10. Hoje é o dia C (o terceiro) para medir as hipóteses reais de António Guterres vir a ser designado o próximo SG da ONU. O dia D virá em outubro, sob presidência russa do CSNU. Posso confessar um segredo?: nunca acreditei que as hipóteses do candidato português chegassem a ser tão elevadas. E que bom que era para Portugal,me para a diplomacia portuguesa (poderemos falar depois sobre isto), se Guterres fosse escolhido!
11. Exemplar, até agora, tem sido o comportamento de Augusto Santos Silva e do MNE no caso dos fedelhos agressores iraquianos. Palavras certas, tempo exato, decisões acertadas. É uma grande e experiente máquina a das Necessidades, com séculos de bom-senso e de excelente serviço público. Sei que sou suspeito, mas sinto orgulho em ter feito parte dessa grande escola de sentido de Estado.
6 comentários:
vai com deus querida. Golpe ou uma evidente subversão do espírito do sistema foi vc. Dilma que deu no Brasil, com mentiras consegui um segundo mandato. Faliu o Brasil. Vai e nunca mais volte junto com os cacos que sobraram do PT. Esquerdalha canalha!!!
Habitualmente gosto de comentar estes temas. Cheguei ao fim da lista e disse cá para comigo que desta vez não há “food for thought” ! Que comentário é possível fazer a algo que é “bien ficelé ? Está tudo tão bem dito!
Só procurando melhor (volto atrás, como o inspector Colombo, o da gabardina usada e o velho Peugeot!) : Quando escreve: “Só há uma América: a dos interesses.” Não posso deixar de recordar a sua réplica, quando eu escrevia a mesma coisa há uns meses atrás, com uma ponta daquilo que se chama aqui, por vezes, “anti americanismo”, e a que eu chamo “imperialismo” , e o Senhor Embaixador replicou: “ Olhe que talvez não seja, talvez não seja”. Claro que eu não sou diplomata e não representei Portugal nos USA.
Ah, (finalmente sempre há mais!) já agora, Senhor Embaixador, o que é que o camarada Guterres pode trazer de bom a Portugal, se for eleito para a ONU? Que peso tem o secretário-geral no Conselho de segurança?
Tenho tão mas recordações doutro Português numa instância internacional, que assistiu impavidamente entre três crápulas, à invasão dum país que se chamava Iraque!
Também é verdade que este “camarada” foi na sua juventude contra os verdadeiros camaradas, menos radicais que ele.
Não há golpe contitucional, porque as instituições funcionaram regularmente? Isso é daquelas explicações “mecânicas” que, para utilizar um outro seu texto, me encanitam. Não leve a mal, mas é um daqueles argumentários de “manga de alpaca” que não lhe faz justiça e que, aliás, contraria quando de seguida diz que houve uma evidente subversão do espírito do sistema. Ora, se é assim, as instituições, mesmo funcionando com as roldanas oleadas, não está bem, bem, a funcionar regularmente.
Ou há crime que justifique o afastamento, ou não há crime, e a questão será de má gestão, coisa que se resolve nas urnas. Digo eu, que não sou pós-moderno. Entretanto, isto é inédito. Nunca vi, pelo menos em democracia. Um dia, um presidente americano foi afastado da presidência antes de terminar o mandato, mas foi pelo que se sabe, isto é, por cometer um crime tipificado na lei e, para além disso, porque a lei lá diz que um presidente que o pratique deve ser afastado. Mesmo aqueles malucos que agora acusam o presidente Obama de ser terrorista muçulmano, etc, não se atrevem a pedir o seu afastamento por impeachment. É o diabo encarnado, mas, paciência: a lei não diz que um presidente, por ser o diabo, deve ser destituído antes de terminar o seu mandato normal.
O ponto 9 só para rir! E invocar o Economist e o FT, que eram anti-Brexit, não dá cimento ao argumento.
O RU e o seu - actual - Governo, da tal Srª T.May, sabe muito bem como gerir a saída do RU dessa estrumeira político-económica chamada UE. É uma grande Senhora.
O Cameron, que era a favor da continuidade do RU na UE, foi parvo por outras razões, porque acreditava que o Brexit não ganhava e que deste modo, ao convocá-lo, faria pressão sobre a Comissão e a restante UE, se o resultado, como ele julgava que seria, fosse o contrário do que foi.
Portanto, o RU sairá - de vez - do atoleiro que é a porcaria da UE e mais dia menos dia, saiam mais. Holanda, Dinamarca, etc. E a França de---Marie Le Pen. E é o Requiem! Sem saudades. Nenhumas. Só mesmo para europeísta saloios. Aliás, um tal alemão, do governo da Merkel, já foi começando a avisar do que devemos esperar. Como só tenho 55 anos, alimento a esperança de que um dia esta UE, mais o Deutsch Mark, vulgo Euro, venham a dar o berro. Coitaditos dos parasitas que vivem à custa dos contribuintes da tal UE, essa malta da Comissão e quejandos!
(Fernando Mateus)
E o dia C voltou a correr bem a António Guterres. Será que ???
Era bem bom
O importante para Guterres é que a coisa lhe não corra mal. Malcorra, ex chefe de gabinete de Ki-Moon é a ameaça.
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