terça-feira, agosto 30, 2016

E as uvas, meus senhores?


As uvas são a maior riqueza do Douro. Por muitas e boas razões, da economia à organização do território, da cultura à gastronomia, nunca provavelmente se falou tanto de uvas, de castas, de novas e belas adegas pelas várias áreas da região do Douro. O vinho está na moda, o enoturismo cresce a olhos vistos, o discurso sobre o Douro nunca foi tão desenvolvido e trabalhado, agora com as vindimas aí à porta. Vivam as uvas!

E, contudo, experimentem pedir uvas, como sobremesa, nos restaurantes da zona do Douro, os mesmos onde nos mostram cardápios com dezenas de vinhos. "Uvas?! Não temos!", respondem, em esmagadora regra, como se estivéssemos a pedir uma fruta exótica. Mas, claro, kiwis, papaias e mangas não faltam. (Já tenho perguntado a alguns empregados se essas mangas são de Alpaca, que lhes explico ser uma zona espanhola onde são produzidas as melhores do mundo...). Uvas é que nem vê-las! Pergunta-se porquê e ninguém sabe responder.

Há uns anos, tive uma experiência similar na Madeira (não posso garantir que as coisas não tenham entretanto mudado): pedia bananas como sobremesa e em nenhum restaurante do Funchal conseguia comê-las. Mais sorte tenho tido nos Açores, onde o abacaxi surge geralmente em muitos restaurantes. Nunca experimentei pedir cerejas no Fundão...

Para concluir: são precisas uvas à venda nos restaurantes do Norte, meus senhores!

13 comentários:

jj.amarante disse...

Abacaxi? Então nos Açores não têm ananás?

Portugalredecouvertes disse...

Também as queremos "com fartura" no Algarve !

Luís Lavoura disse...

As uvas de mesa são de castas diferentes das que se usam para fazer vinho. No Douro há castas apropriadas para vinificar, não para comer.
Seria ridículo estarem a cultivar uvas de mesa quando a região é afamada pelos vinhos. Seria um desperdício de recursos. É a lei económica das vantagens comparativas: uma região deve especializar-se naquilo em que tem vantagens comparativas, que no Douro é o vinho e não a produção de uvas de mesa.

ignatz disse...

deve ser o abacaxi diplomático da madeira, acertou na infrutescência mas falhou no arquipélago.

Anónimo disse...

Já experimentei pedir uvas moscatel em Alijó e Favaios. Não há, vão todas para vinho. Talvez com escopro e martelo se consiga abrir uma fenda para introduzir a suspeita de que talvez seja mais lucrativo vender uva de mesa ao invés de esmagá-la.

Anónimo disse...

Os discursos sobre o Douro são muito "elaborados" mas são todos, sem exceção, produzidos por quem não percebe nada do Douro. Ou, dito de outra maneira, por quem percebe de "tudo" incluindo do Douro!
Ainda não há uvas "de mesa" no Douro este ano pela simples razão ("comezinha") de que ainda não estão maduras!
Não me lembro de um ano em que não provei uvas "do cedo" em Agosto! Sinais dos tempos (climáticos).
Ontem provei dois bagos de uvas sem grainha de Espanha. Eu já sabia ao que ia. Mas quem provar o moscatel, alicante, cardinal, o colhão de galo, etc. do Douro não considera aquilo uvas!

Quanto à organização do Douro. Escusa de a esconder. está desfeita. Estamos ao sabor dos humores dos exportadores. Os políticos "arredaram-se"...

O Duriense

Joaquim de Freitas disse...

Existe o mesmo problema em França. Nos restaurantes, pode-se encontrar a “tarte aux pommes”, mas não a maçã O valor acrescentado da tarte é muito superior. A mesma coisa para os outros frutos. E aqui dizem que a perda quando não se vendem rapidamente, é grande. Money is Money!

Anónimo disse...

Estejam descansados que enquanto houver pequenos lavradores no Douro haverá uvas de mesa de excelência, em quantidade suficiente, para fornecer todos os restaurantes locais. Sempre foi um gosto dos lavradores cultivá-las e não é por aí que fica mais pobre. Mas na época e só na época! "Os restaurantes só têm que procurar ali nas redondezas"

O Duriense

Anónimo disse...

Aqui bem se pode aplicar o ditado: "Santos de casa não fazem milagres"

Anónimo disse...

Pois, Joaquim Freitas, a restauração sempre foi about money, mesmo quando o money era contado a meireis, não é? Quem está estabelecido não pode andar a investir em produtos com fraca venda para a freguesia, como é o caso da maçã. Nem sequer é o valor acrescentado. Quem é que agora pede maçãs num restaurante? Deve passar-se o mesmo com as uvas, mesmo no tempo certo. Também eu queria que as leis do mercado ficassem suspensas quando vou a um restaurante, mas não pode ser.

Joaquim de Freitas disse...

Senhor anonimo das 16:24


Olhe Senhor « Anónimo » : Estou tanto mais de acordo, que o escrevi : produtos perecíveis rapidamente não podem constar duma ementa. Compreendo perfeitamente.

Deixe-me contar uma história de hoje. Fui almoçar com minha Esposa e o “dessert” ou sobremesa, era “Poire belle Hélene”. Não sei se posso traduzir por “Pêra Bela Helena” . Trata-se duma pêra, de gelado, de chocolate. Dito assim, não quer dizer grande coisa. Mas é uma grande sobremesa.
Mas é preciso, descascar as peras. Deixando a cauda!
Fazer um “molho” com água e açúcar.
Aromatizar com baunilha., canela e gengibre.
Pôr a ferver.
Deixar arrefecer as peras.
Pô-las no frigorifico 10 minutos.
Derreter o chocolate ao banho-maria.
Deitar o chocolate quente em cima das peras, devagarinho.
Servir quando o chocolate é ainda fumegante …


A sobremesa custou 10euros
O prato 20 eurosL

Total 30 euros.
Não estava no guia “Michelin”. Mas uma pêra, rendeu mais de 9 euros de valor acrescentado.

A última vez que fui a Portugal, jantei com 7 euros – sopa, filetes de boa pescada com arroz, queijo e… vinho. Uma refeição mais barata que a sobremesa francesa.
Os estrangeiros que vão a Portugal dizem todos que comem bem e barato. O segredo do turismo português é este., porque no estrangeiro come-se frequentemente caro e mal. Aquele sabor da cozinha portuguesa é especial! Mas quando fiz os meus cálculos perguntei a mim mesmo de que vivem os restauradores. Pagar os produtos, a energia, os salários e os impostos… e ganhar algum… Há aqui algo que tem de mudar um dia se queremos que Portugal se desenvolva; Economia de miséria !

Majo Dutra disse...

Gostei sobremaneira da ironia...
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alvaro silva disse...

Aqui há dois anos em viajem para Espanha desci a Mirandela e entro num cafézito junto ao espelho de água e proximo duma loja que vende alheiras e azedos e, era época destas especialidades, como eram 4 da tarde peço ao empregado/patrão para me fazer uma alheira e um ovo estrelado. Olhou para mim como se fosse um extra-terrestre e assegurou-me que no seu estabelecimento tal não se servia, mas sim, se quisesse petiscar tinha francesinhas, pregos e cachorros. Ora toma! Na altura passei-me dizendo-lhe que mudasse de ofício e que fosse vender m.... a copo. Se não fosse a minha envergadura o gajo saltava-me ao pescoço , mas temeu-se e eu desopilei o f´gado e fui beber um "fino" e comer a dita a outro café/tasco que me serviu e bem.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...