Regressemos ao final de 2015, ao momento em que António Costa surpreendeu o país com o acordo parlamentar que proporcionou a « geringonça » que nos tem governado.
Lembremo-nos do tom patibular de Cavaco Silva, da deselegância política com que reagiu ao entendimento parlamentar que reconduziu a esquerda ao poder. Recordemos o « roadshow » revanchista que a antiga maioria promoveu pelo país, tentando incendiá-lo politicamente contra a nova solução governativa. Elenquemos as « cassandras » (nas quais me incluo) que davam por certa a incompatibilidade entre socialistas e os companheiros da « frente popular ». Tenhamos presente as previsões que garantiam que Bruxelas, que detesta ver a « esquerda da esquerda » perto do poder, iria fazer vergar o primeiro orçamento, esmagar com sanções o défice herdado dos seus « amigos » e criar uma guerrilha permanente que transformasse este num Verão em que do calor não resultassem só incêndios. E quantos não foram, à pressa, reler a detestada Constituição, tentando perceber os meses que faltariam para que o futuro presidente de direita dissolvesse o parlamento, convocasse eleições e retornasse os seus ao poder ?
O futuro é sempre mais imaginativo do que os homens. A maioria, embora sacudida pela chantagem do sindicalismo paleolítico e por umas flores legislativas « fraturantes » que a sua natureza obrigou a adotar, demonstrou uma inesperada capacidade para trabalhar em conjunto. Com maior ou menor esforço e sucesso, ultrapassou algumas crises, como a dos contratos de associação com o ensino privado, polémicas de conjuntura, como a demissão de João Soares ou os governantes « voadores », ou ratoeiras herdadas do passado, como o Banif ou a Caixa.
A crise das (não) sanções acabou por gerar um momento de indignação nacional, que atrapalhou a oposição e colocou o país atrás de António Costa. O Euro futebolístico acabou por reforçar o otimismo com que o sorriso do primeiro-ministro tem vindo a acalmar um país que, em boa medida, viveu estes meses num surto de alguma esperança, de recuperação de rendimentos e de uma « oxigenação » salutar do seu quotidiano.
Seria de uma grande injustiça não pôr também a crédito do novo presidente da República uma fatia importante da descrispação que o país atravessa. Mas não nos iludamos. Por muito boa vontade que Rebelo de Sousa pudesse ter, se tudo se tivesse desconjuntado, por exemplo, em matéria de finanças europeias, as coisas não estariam como estão.
Em perspetiva, há que convir que a « geringonça » soube ultrapassar os grandes testes com que foi confrontada. Até ver, a avaliar pela nervoseira raivosa que provoca nos seus opositores, saiu « melhor do que a encomenda ». O futuro ? É só amanhã ! Ninguém morre de véspera.
(Artigo que hoje publico no "Jornal de Notícias")
8 comentários:
É a dívida que sobe já não interessa para nada?
João Vieira
João Vieira,
A dívida que sobe? Mas qual é a dúvida, não há como a dívida descer, os juros acumulam-se e não têm feito outra coisa, de há anos para cá, se não subir. Ou acha que a tróika pôs cá dinheiro sem juros usurários?
Sem reestruturação nunca aquilo parará.
E o desemprego que desce? E o défice que cai?
Indicadores há para vários gostos.
Anónimo: a pergunta era concretamente para o embaixador que escreveu vários posts sobre como era estranho que a dívida não viesse por aí a baixo, apesar do déficit. Esperava-se que, com a geringonça, esse suave milagre acontecesse.
Quanto aos juros usurários é uma conversa datada para a qual não há resposta.
João Vieira, o que o embaixador disse sobre a dívida e o défice não estou a ver - mas também não me recordo de ele ter andado por aí.
Usar o termo geringonça é usar o termo dos eleitores do PSD e do CDS-PP - que o embaixador o faça só evidencia a má vontade com a solução, já no seu caso, João Vieira, imagino que votou neles.
Dizer que se esperava que a dívida viesse por aí a baixo, é atribuir às esquerdas coisas que elas nunca disseram. Mais, CDU e BE disseram sim que a dívida não tem como descer sem reestruturação. GAlamba e Nuno Santos também andaram por aí.
Os juros usurários serão conversa datada para quem acha que são a forma de castigar o País e movê-lo para o terceiro mundo social. Os juros usurários são sim conversa omnipresente e intemporal.
E depois, se porventura tivesse votado neles? Não posso? Eu ta mbém concluo que votou na esquerda geringonçante pela conversa dos juros que nunca são devidos à quem pede emprestado. Deve aprender a ler o que os outros escrevem. Não disse que a esquerda dissesse que os juros vinham por aí a baixo. À esquerda o que diz é que quem pede emprestado porque gasta o que não tem, não tem obrigação de pagar as dívidas e não perde liberdade porque os outros, os usurários, até as pernas lhes tremem. Como se tem visto.
Pode votar na Coligação de Direita que quiser, joao Vieira, não me queria e convencer que emprestimos contraídos para salvar banqueiros entrevistados pela D. Judite de Sousa nas condições em que foram contraídos são uma cena e um investimento virtuosos. Por menos prenderam a D. Branca. O país há seis trimestres que vem em queda de crescimento do PIB, esta-se mesmo a ver que os agiotas vão conseguir recuperar o dinheiro deles com as restrições económicas e financeiras que se tem sido forçado a seguir.
mais uma vez leu mal: não falei da qualidade dos empréstimos nem em investimentos nem das causas do que se tem passado nem sequer das razões do que se passa mas confesso: com a minha idade, estou farto da conversa ideológica da esquerda que é exatamente igual, sem tirar nem pôr, desde que me lembre. Mais de cinquenta anos depois é obra ser tão conservador! podem cair todos os muros, todos os países com sol que os ilumine mas a conversazinha continua exatamente a mesma!
A sério João Vieira, pensava que tinha falado de dívida e que essa decorre de empréstimos e investimentos e pagamentos a bancos. Quem governa há 40 anos são vocês com as vossas práticas e com o sucesso que está à vista, mas a culpa é das nossa ideias. Tanta coisa com a queda dos muros e do apagar do sol e ainda não repararam no sucesso Económico e social e belicoas vossa alternativas sem cobtraditorioal.
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