O meu amigo e distinto gastrónomo Virgílio Nogueiro Gomes, no seu imperdível site, acaba de anotar que nasceu na Cruz Quebrada um restaurante chamado "Estória", onde, pelos provados, se comerá bem (lá irei, a seu tempo). Já havia, nos arredoresdo Procópio, o "Estórias da Casa da Comida" (onde não se come nada mal, mas que é bem carote).
Mas isto, hoje, nada tem a ver com comida. É apenas a propósito da "estória", um termo que me encanita supinamente.
Há uns anos, no blogue "Delito de Opinião", o Pedro Correia fez uma listagem das palavras de que não gostava. Não sei se o "estória" dela constava. Achei então piada ao exercício e cheguei a pensar fazer o mesmo. Mas, depois, meteu-se-me a aposentação pelo meio e, olhem!, deixei de ter tempo para essas coisas...
Na minha lista pessoal de palavras detestáveis o termo "estória" permanece, de há muito, irremovível no topo das mais sinistras invenções neologistas da paróquia.
É um termo que sempre ligo ao CPLPimbalhismo, uma corruptela saloia, a armar ao popularucho, à sem-cerimónia com a língua, usado para qualificar uma historieta que hesita (as mais das vezes com vergonhosa razão) em se promover como se fosse uma coisa séria. Os "estoriadores" estão na minha lista negra!
Se alguém um dia me vir utilizar num texto a palavra "estória", agradeço que avisem as autoridades: será sinal de que já me "passei"...
10 comentários:
Não percebo talvez por não perceber nada do assunto, mas na minha distantíssima memória da primária, estória seria o relato de um acontecimento corriqueiro ( da carochinha, do António da pesca etc) e história seria a descrição ou interpetação do passar da vida do povo, do país, da Europa, do mundo. Pelos vistos não será assim mas é natural que não seja porque a quarta classe já lá vai há muito!
João Vieira
O termo "estória" foi introduzido, tanto quanto sei, na tentativa pindérica de adaptar ao português o léxico inglês que faz a distinção entre History e Story.
Em português tal palavra não existe.
Cumprimentos
Comungo. E também tenho os meus ódios de estimação. Por exemplo, a "governança", que uns "pipis-da-tabela" agora usam, talvez porque pensem que isso lhes dá mais estatuto e importância...
mas diga caro embaixador
se uma palavra lhe causa tanta coceira, o burquini nao lhe trara alergia?...
cumprimentos
Chicamigo
Eu uso - e não me envergonho...
Abç do Leãozão
Senhor Embaixador
À margem do essencial deste seu postal, chamou-me a atenção ter escrito que, com a aposentação, deixou de ter tempo para fazer uma compilação das palavras que detesta.
Pela minha parte, após a reforma, passei a interrogar-me como é que, anteriormente, eu arranjava tempo para trabalhar...
José Neto
Senhor Fernando Frazão:
Dá sempre jeito ter um dicionário à mão.
- Porto Editora, 8.ª edição, 2008, p. 705: estória = história de carácter ficcional ou popular, conto, narração curta (De história ou do inglês story).
- Cândido de Figueiredo, Bertrand Editora, 23.ª edição, 1986, p. 1122: estórea ou estória = grafia antiga de história.
- Houaiss, Temas e Debates, 1.ª edição, 2003, p. 1631: estória = narrativa de cunho popular e tradicional; história.
O José Fontes, julgando que não, deu razão ao Frazão.
É a "estória", é o "é suposto...", é o "implementar"...
Ah, e não esqueçamos os "O que eu gosto", "Aquilo que eu gosto"
Viva, meu caro. Estória não entra na minha lista, que com gosto recordo aqui:
http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/tag/parole
(Ups, listagem consta...)
Um abraço. Pedro Correia
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