A operação mediática em torno do nascimento de um novo príncipe britânico, a exemplo do que ocorreu com o casamento de seus pais ou com o "jubileu" da raínha, está a ser feita com um imenso mas já tradicional profissionalismo. Se o interesse dentro do país é natural, acompanhado do "merchandising" de regra, já a exportação intensa, um pouco por todo o mundo, deste "glamour" acaba por ser muito curiosa, pelo facto de conseguir mobilizar, durante semanas, jornais, revistas e televisões de culturas muito diversas e nada similares à britânica.
O que será que torna a coroa britânica mais apelativa, face aos seus congéneres? Seria muito interessante fazer uma análise deste fenómeno, que leva a que a coroa londrina suplante, a grande distância, qualquer dos seus pares europeus. Ainda há dias, verificámos que a transmissão de poder real na Bélgica, tal como há semanas ocorrera no caso holandês, quase que passou despercebida, tal como o nascimento de um príncipe sueco ou luxemburguês apenas suscita algumas modestas linhas. Dir-se-ia que só as coroas monegasca e espanhola conseguem concitar algum interesse similar, mas sempre a uma imensa distância do caso britânico.
É claro que, nas últimas décadas, quase todas as coroas tiveram de viver, lado a lado com estes fatores simbólicos de sedução, com a revelação de crises familiares que as ensombraram, que vieram a provar (o que já ocorria, mas era um pouco disfarçado) que, afinal, a vida das realezas sofre dos mesmas problemas da do comum dos mortais - com os seus dissídios, traições, divórcios, corrupção e coisas análogas. Essa circunstância, se bem que algo debilitante do caráter "mágico" das coroas, pode contudo ter servido como um fator de aproximação da existência da coroa à vida vulgar de cada um de nós. No caso britânico, o fenómeno Diana trouxe mesmo uma figura com um final trágico a esta saga familiar.
Dito isto, só cabe desejar longa vida ao novo príncipe e, provavelmente, futuro chefe do Reino Unido da Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, bem como chefe da Comunidade britânica.
17 comentários:
A orquestra britânica, mesmo quando desafina, parece afinada. O diapasão dos interesses unidos dá o tom para todo o Reino Unido. O suspense em torno do nascimento de uma criança "real" tem tanto de interesseiro como de parolo. Veja-se o mau gosto dos objectos criados para a ocasião. E o "crianço" já tem nome? Na minha casa de apostas de vão de escada, aconselhado por
um banqueiro (António), por um ex-presidente do reino da bola (José), um treinador (José) que bem conhecem os meandros financeiros, justiceiros e futeboleiros do Reino de Sua Majestade Majestade, aposto que se chamará António José - Anthony Joseph e resmas de apelidos a seguir. A uma criança só se pode desejar um ridente futuro, mesmo em maré de crise.
Acho muito bem, Senhor Embaixador, que refira no seu blog este facto político, afastando-se do tom condescendente de galhofa usado às vezes por alguns republicanos bem-pensantes e limitados. Basta seguir na BBC (que não é propriamente a "Hola") as reacções ao nascimento do Príncipe para entender que se trata de um facto político altamente relevante - e todos, mas todos, os agentes políticos britânicos (ou os "players", como se diz agora) o souberam entender. Lamento que o novo Rei dos Belgas não tenha suscitado tanta adesão, mas atribuo isso à maldade dos flamengos e às parvoíces financeiras da pobre Rainha Fabíola (uma espanhola!). E quanto à Monarquia Espanhola, teria muitas reflexões a fazer, mas limito-me a dizer agora que a fome de dinheiro é má conselheira e que ser já muito rico (como a Família Real Britânica o é) ajuda muito.
Viva o Rei!
a) Haroldo de Menezes Vasconcellos (Vinhais)
PS - Quanto ao Mónaco, aquilo não é Monarquia, é "entertainment"...
Da Escócia, talvez não (façamos figas)
parece, ou é mesmo assim, que as receitas de tudo quanto se vende à volta do acontecimento (viagens,turismo, hoteis, lembranças, transmissões) são de tal monta que influenciam a receita do ru nestes dias...
“Pounderada” a questão é fácil chegarmos a conclusões!
É como diz Senhor Embaixador. Terá a ver com o culto pela tradição cerimonial que atravessa todas as classes sociais? Será porque a Magna Carta já foi assinada em 1215, e, que isso já configure a casa real com uma simbologia tão forte, como o número 4 para os chineses ou o 13 para os ocidentais? O que é certo é que tudo é pensado ao pormenor nas cerimónias dos nascimentos às mortes dos que vivem em torno da rainha. Há um profissionalismo que vai do Primeiro-Ministro ao vendedor de Oxford st.
Quando o avô da criança casou eu estava em Londres. Fazia muito calor nesse dia 29 de Julho. A rainha ofereceu a cerveja nos pubs entre as 20.00h e as 10.30h. Foi uma noite de festa colectiva. Aproveitei bem a Guiness de que tanto gosto e que custa mais caro que as outras cervejas. Tudo era "for free". No dia seguinte de manhã encontravam-se muitas pessoas ainda nos passeios aonde tinham caído de sono... A ligação afectiva das pessoas (em qualquer idade) com aquele casamento é de não esquecer... E, mais importante ainda; as notas emitidas em muitos países da Commonwealth ( perto de 50) têm a cara da rainha.
Marketing real!
Desde o nascimento ontem, duma criança real no Reino Unido, morreram 18 000 crianças no resto do mundo, discretamente ! De fome ! Segundo a FAO.
"The great business" para os Britânicos, este nascimento dum varão na família dos Windsor. Uma firma inglesa comercializa babeiros de alta qualidade a 40 euros a caixa de 4 ! Bastava para alimentar durante uma semana 100 crianças algures. O turismo funciona a pleno regime; não há um quarto de hotel livre em Londres!
Mas daqui a um mês, haverá mais crianças mortas de fome no mundo que de habitantes no centro de Londres! Os jornais não gastarão um cêntimo para noticiar este acontecimento.
Pobre mundo que perdeu o sentido dos valores essenciais. Politicamente incorrecto dizê-lo, talvez, mas que me importa o nascimento duma criança, a quem desejo portanto vida e felicidade, se o sorriso duma criança que ilumina a noite das pessoas, aquece os corações , faz nascer a esperança, se transforma na tristeza dum olhar de criança perdido no horizonte, algures no mundo, a pele esticada pelos ossos, e o ventre inchado pelo kwashikor provocado pela fome.
Não, não aceito todo este espectáculo mediévico para anunciar a vinda duma criança que tem o futuro assegurado. Porque é indecente.
Preferia que a sociedade metesse o mesmo empenho no único combate que vale: Como esmagar o monstro da fome no mundo.
" Wrechet world", como dizia o Rei Lear, tão miserável que mesmo um cego vê que o mundo vai mal! (a man may see how this world goes without eyes). Sim, o mundo nao é "self evident".
« L’homme qui veut demeurer fidèle à la justice
doit se faire incessamment infidèle aux injustices
inépuisablement triomphantes. »
Charles Péguy
Os britânicos nunca brincam em serviço. Só brincam e muito fora do serviço. Trabalho é trabalho cognac é cognac.
Meu caro amigo
Este seu comentador monárquico, Haroldo de Menezes Vasconcellos, lembra-me um nosso comum amigo, só que republicano de gema e a viver actualmente no Golungo Alto.
Será que são parentes, como Gaspar e Louçã?
O que terá feito Joaquim de Freitas pelas crianças esfomeadas do mundo. É importante sabê-lo porque o mundo tem a intenção de acabar com a fome. Não tem é conseguido mas com o iluminado conselho de Freitas talvez lá se chegue. A primeira coisa, claro, é tornar infelizes e esfomeados os britânicos e os que tem algo de seu de que gostam.
O velho argumento daqueles a quem não falta nada, consiste a dizer que o problema daqueles que não têm nada não lhes diz respeito. Como diria um republicano puro e duro nos Estados Unidos.
Sabia que o meu comentário podia perturbar a consciência daqueles que consideram que o mundo é perfeito e que , se não é perfeito, não se deve dizer nada que possa pôr em causa a ordem estabelecida.
Mesmo quando o excesso de riqueza é insultuoso para o excesso de miséria.
Ignorar, seria fazer como aquele alemão que , sob Hitler , viu partir os vizinhos para a prisão, , um a um, mas que não o perturbou; e não disse nada porque o primeiro era comunista, o segundo, judeu, o terceiro, socialista e depois, quando lhe bateram à porta, foi ele também; só que ele era democrata. Quis protestar, mas já era tarde demais. Não havia ninguém para o defender.
Quando existe um bilião de esfomeados no mundo, o mínimo que se pode fazer é participar nas campanhas de sensibilização do mundo político para este grave problema. O que faço, com outros. São os meios de que disponho.
Há dez anos, os leaders políticos mundiais comprometeram-se a reduzir de metade a fome no mundo até 2015. Mas a vontade política faltou. E porquê?
As grandes empresas de negócios alimentares, os gigantes internacionais das sementes e fertilizantes, realizam benefícios substanciais.
Os preços dos produtos exportados pelo terço mundo são estabelecidos não pelos produtores mas pelos negociantes ..
A especulação internacional sobre o preço do petróleo agrava o custo do transporte.
A crise global é accentuada pela generalização do princípio de especulação a toda a actividade, a todo recurso e à vida ela mesma. O preço dos cereais nos mercados mundiais dobrou ou triplicou. Preços que deixaram de ser regulados, graças à Organisaçao Mundial do Comércio. O problema é portanto político.
Os povos vulneráveis são conhecidos : os países sub desenvolvidos e mesmo os pobres dos países desenvolvidos.
As vitimas encontram-se nos bairros miseráveis do mundo inteiro. E não só os das favelas ou dos barrios da América Latina. Que o papa Francisco denunciou hoje mesmo no Rio.
Eis a situação do mundo que denuncio. Com os meios de que disponho.
Por conseguinte, mesmo se isso desagrada aos "munidos", entre uma criança que nasce na abundância e uma criança que vai morrer de fome, prefiro falar desta.
O resto deixo-o aos "people" do mundo inteiro e aos media de todos os níveis que têm lá um evento que lhes vai fazer ganhar muito dinheiro. O único valor universal para essa gente.
é o expoente máximo de uma das vertentes do soft power de Joseph Nye
não é marketing. é inteligência!
Eu acho que a criança se deveria chamar John Valley Windsor Cambridge, em homenagem a um advogado benfiquista que viveu em tempos por aquelas terras e que por lá gastou muito dinheiro...
Pobre menino rico, perdeu desde logo os direitos fundamentais...
Mais do que a um país
Que a uma família ou geração
Mais do que a um passado
Que a uma história ou tradição
Tu pertences a ti
Não és de ninguém
Mais do que a um patrão
Que a uma rotina ou profissão
Mais do que a um partido
Que a uma equipa ou religião
Tu pertences a ti
Não és de ninguém
Vive selvagem
E para ti serás alguém
Nesta viagem
Quando alguém nasce,
Nasce selvagem
Não é de ninguém
http://www.youtube.com/watch?v=EqiyhH2wMXM
Qualidade superior na comunicação social(todos os media) é um exemplo que devia ser estudado por cá e pelo Brasil. Os dividendos directos foram agora até realçados mas os indirectos merecem ser analisados. A influencia nas decisoes, até politicas, doutros estados beneficia e muito o povo ingles. Pena que se aprecie a flor e não se cuide das raizes!!
Fica evidente que os regimes Monárquicos, as Famílias Reais, são de longe os maiores potenciadores de unificação não apenas nacional, mas até global.
Veja-se este caso do mais recente membro da Família Real Britânica, que por si só, conseguiu gerar enorme entusiasmo não apenas na Inglaterra e em toda a Commonwealth mas sim um pouco por todo o mundo.
Esta é de facto uma das grandes características dos regimes Monárquicos e não se conhece nenhuma republica que tenha conseguido sequer algo semelhante.
Para além de motivo de regozijo e orgulho por todo o planeta, o surgimento deste bebé já trouxe à economia Britânica um importante e significativo encaixe financeiro.
Fica ainda demonstrado a carácter moderno das Monarquias actuais que ao contrário daquilo que muitas pessoas erradamente pensam, Monarquia não é coisa do passado, não é o Rei em cima do cavalo de espada na mão atrás dos Mouros. È sim futuro e de longe o melhor que qualquer país pode almejar, quer por aquilo que representam, quer pela defesa dos valores a que estão associados.
Viva a Monarquia!
Viva o Rei!
"Fica ainda demonstrado o carácter moderno das Monarquias actuais que ao contrário daquilo que muitas pessoas erradamente pensam, Monarquia não é coisa do passado, não é o Rei em cima do cavalo de espada na mão atrás dos Mouros. È sim futuro e de longe o melhor que qualquer país pode almejar, quer por aquilo que representam, quer pela defesa dos valores a que estão associados."
Assim escreveu o Sr.Mello Breyner !
Vamos lá devagarinho, por favor, porque se uma tal demonstração de fidelidade ao regime monárquico não estabelece certos limites, o " carácter moderno das Monarquias actuais" engloba automaticamente as monarquias do Golfo. Aquelas monarquias onde o executivo é dominado pelas grandes famílias, a democracia politica é desconhecida, as mulheres são lapidadas por adultério, ou decapitadas, os ladroes têm a mão direita decepada, e o monarca tem o direito de via e de morte dos seus sujeitos sem passar pelos tribunais. Uma monarquia absoluta temperada pelo assassinato, em suma.
Sei que não são estes "os valores associados" à Monarquia, que "qualquer pais pode almejar". Por isso é sempre delicado de generalizar .
Sei que existem Republicas onde se faz o mesmo.
De qualquer maneira, a palavra "mono" arrepia-me, sobretudo quando é hereditária e ligada a "archein" ! E de direito divino, ainda pior. Por isso :
Viva a República
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