quarta-feira, dezembro 21, 2011

A democracia e o "The Economist"

A "Economist Intelligence Unit" (não sei se ainda anda por lá o meu amigo Mark Hudson) do "The Economist" faz este ano a sua tradicional "medição" do estado da democracia e das liberdades em 165 países independentes e dois territórios, atribundo-lhes quatro categorias: democracias plenas, democracias com falhas, regimes híbridos e regimes autoritários. Os critérios são os seguintes: processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do governo, participação política, cultura política e liberdades cívicas.

Este ano, a "bíblia" do neoliberalismo baixou Portugal para 27º lugar (éramos 26º), colocando-nos no grupo das "democracias com falhas". A principal razão, explica o relatório, deveu-se a erosão da soberania e da responsabilidade democrática, associada aos efeitos e às respostas à crise da zona euro. O relatório destaca ainda que, em alguns países, já não são os governos eleitos que definem as políticas, mas sim os credores internacionais, como o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional. A severidade das medidas de austeridade contribuiu, no entender do estudo, para enfraquecer a coesão social e diminuir ainda mais a confiança nas instituições públicas.

aqui falei, há tempos, desta questão, que é, de facto preocupante. É que, para além de alguma arrogância "patronizing" que subjaz a este tipo de avaliações, o relatório não deixa de tocar nalgumas feridas que a atual situação abriu em várias democracias europeias. Mas também cria uma dúvida: afinal, esta alegada quebra de democraticidade da situação em países como Portugal não é derivada pela adoção de políticas de austeridade e de estrito controlo macroeconómico por parte de entidades internacionais, como aquelas que o "The Economist" sempre defendeu? Em que ficamos? 

20 comentários:

jj.amarante disse...

Nesse caso aparentemente o Economist tem uma escala de valores, preferindo a austeridade à democracia. Há uma contradição que me preocupa mais que consiste em reduzir as pensões de forma a evitar que haja inflação, o que teria como consequência terrivel baixar o poder de compra dos queridos pensionistas.

Anónimo disse...

"patronizing" é "paternalista", certo?

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Anónimo das 17.53: É, mas não é a mesma coisa, isto é, é um paternalismo anglo-saxónico, "stiff upper lip", percebe?

Anónimo disse...

Eu percebo !!!
Uma excelente democracia é aquela que já está madura,ou seja,metade dos activos, são funcionários publicos! Os activos são metade dos pensionistas!
Metade dos desempregados têm menos de 40 anos( metade da vida activa).

Metade dos desempregados têm o Pai reformado!
E metade dos pensionistas têm os filhos emigrados!
E metade dos emigrados têm os filhos desempregados!

Resumindo a coisa democraticamente, para que isto fique em condições, só falta a outra metade dos pensionistas que recebem menos de 400€ por mês, morrem por falta de condições de saude! Ai é que a democracia ficava mesmo boa!!!

OGman

patricio branco disse...

sem duvida que não vivemos numa democracia plena. Tem falhas, como diz a influente pblicação.

em portugal há eleições? sem duvida que sim.
mas o programa eleitoral dos partidos é cumprido pelo(s) vencedor (es)? não, não é cumprido e quase nada vale, é até ironico e cinico publicitar um programa que se sabe de antemão que é letra morta.
a justiça é um poder independente e democratico em portugal? não, sabemos ou desconfiamos por experiencia de casos nunca resolvidos que o poder jusdicial cobre muitas vezes poder politico, que é cara e acessivel para os endinheirados e pouco acessivel para os de menos rendimentos, indefesos; que a justiça é lenta, muitas vezes ineficaz e não nos resolve problemas que lhe confiamos.
há liberdade de imprensa? sim, mas tambem há tentativas de a limitar, por vezes com sucesso.
o parlamento é eleito mas os parlamentares respondem depois perante os eleitores uma vez instalados? não, deixam de estar em contacto com os eleitores ou o seu circulo. Não os conhecemos, são inacessiveis.

A aplicação das medidas de austeridade ditadas por instituições internacionais apenas veio acrescentar algo mais à falta de qualidade da nossa democracia (do 26 pró 27)- muitas ou a maioria das falhas democraticas são já anteriores.

Helena Oneto disse...

Senhor Embaixador,

Em que ficamos? that's the question!

Este post da pano para mangas.
A "petite fadette" já deve estar a afiar o lapiz...:)

Fada do bosque disse...

A "petite fadette" não diz bujardas bilingues, fala português claro. É que para certos comentários, mais valia a certas pessoas, nem "darem a cara em público". Só fazem figuras tristes e nem se apercebem que são gozadas por outros comentadores. Com todo o Respeito pelo sr. Embaixador.

Quanto ao post... só realça um pouco o óbvio.

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Fada: estamos no Natal e no Natal ninguém leva a mal. Apenas ficou evidente para todos os comentadores, bem como para mim, que a minha Amiga se tornou especialista em teses conspiratórias e anti-globalizantes que,por acaso, encontram neste particular algum alimento.Vá lá! Não se aborreça.

Fada do bosque disse...

Não levo a mal Sr. Embaixador... mas não gosto de ser o "bombo da festa", uma vez que nunca faço isso com ninguém. E para ser o "bombo da festa", têm de provar que não sou dotada de sensatez. Isto já é repetido.

Posso não pertencer às elites da banca ou sector financeiro, mas não é por isso que se sintam do direito de me faltar ao respeito.
Dá para perceber quando as intenções não são as melhores e se querem ter protagonismo, não precisam de ter "alvos a abater".
O meu avô sempre me disse que quem se exalta será humilhado... mas há aqueles que nem isso percebem.

Quanto ao post já disse e volto a dizer que está a constatar o óbvio. Nem sequer consigo desenvolver nenhuma "teoria conspiracionista" a partir de algo tão óbvio.
Sou sua leitora/comentadora há anos e se não digo àmen a tudo, o Sr. Embaixador sabe que não é para aborrecer, é porque tenho a minha visão. Talvez as coisas no mundo se estejam a aproximar das teorias conspiracionistas...

Quanto a essa frase Sr. Embaixador, não é para o carnaval?

Um Jeito Manso disse...

Caro Embaixador,

Estamos mal de finanças, baixam-nos o rating. Pedimos ajuda, perdemos soberania.

É aquela coisa, sabe?, 'se correr o bicho pega, se ficar o bicho come'.

Levemos tudo isto com pragmatismo (até porque é verdade: estamos nas mãos de uns e outros e pouca soberania nos resta) mas, também, com boa disposição.

Anónimo disse...

Há quem ainda não compreendeu que o Capital não tem amigos, nem tão pouco os quer. O que, porventura, este Governo (e outros em circunstâncias semelhantes) estão a fazer (neste caso mal, mas isso é outra conversa) não releva uma vírgula quer para as tais Agências de Rating, quer para os analistas dos Economist desta vida (global).
Sinceramente, aplique-se-lhes o remédio:
Que pasaria por acabar - de vez - com a Banca Privada, por cá , e neste pequeno jardim, e por esse mundo global. E passem os Estado e seus Governos a controlarem o Capital Financeiro, que deixaria de existir como tal "capital financeiro". Aqui fica uma proposta para o Pai Natal Global (que é um velho reaccionário e não me me vai ligar pêvas!).
Boas Festas a todos (menos ao tal Capital),
"O Menino Jesus"

Helena Oneto disse...

Cara Fada do bosque,

“La Petite fadette” é um livro de fadas que as minhas filhas, quando pequeninas, adoravam que eu les lesse. Chamar-lhe “Petite fadette” não tem nada de depreciativo, antes pelo contrario! É uma “maneira ternurenta de me referir a si. Todos sabemos que a Fada do bosque, como todas as boas fadas, gostam de fazer bem e dizer coisas bonitas. Acredite que concordo com muitas coisas que diz e com algumas coisas que diz que disseram ou escreveram ou ouviu aqui, ali e acolá. Mas muitas das vezes o seu discurso é ”trop lourd” e longo. E acaba por ser cansativo.

Lamento que o meu “franciu” a incomode. Mas acontece-me, com muita frequência, hélas, expressar-me melhor em francês ou inglês (porque as falo e escrevo todo o dia no banco em que trabalho) que na minha lingua mãe. Como vê, estou longe de ser “perfeita” mas gostaria de deixar bem claro que se “bujardas” ouve, não sou eu que as escrevi.
Quanto a dar a cara, sempre dei. Dou a cara, dou o meu nome e dou a mão à palmatoria quando erro e assumo sempre o que digo e faço. Mais, o que me interessa é o que eu penso dos outros e não o que os outros possam ou não pensar de mim.

Antes de terminar este comentário -que nunca pensei ter de escrever- asseguro-lhe que me estou absolutamente nas ‘tintas’ de ser gozada por si ou por outros comentadores anónimos
que se servem deste excelente blogue para derramar o fel que lhes corre nas veias.

Aproveito a acasião para lhe desejar um bom Natal, se possivel sem complots, mas em paz consigo, com os seus e com os outros.

Anónimo disse...

Cara Fada,

Quando no seu bosque encontrar o tal "lapiz" que dizem ter, avise-nos porque gostávamos de ver semelhante exotismo...

;)

Anónimo disse...

"petite fadette" é o correspondente francês de "rapidinha" ?

patricio branco disse...

ontem à noite na rtp informação um interessante debate sobre estes temas que estão na ordem do dia: a lista do economist sobre o grau de democracia e o convite do pr min para os jovens emigrarem

Anónimo disse...

Ontem a Zita Seabra explicou que na ultima visita que fez à Russia já não encontrou comunismo nenhum e que o sistema da ditadura do proletariado não tinha deixado rastos!

Disse também que a sociedade tolerava mais as atrocidades do Estalin do que do Hitler !

No nosso sistema democratico o povo descobriu agora que as dividas do Estado são para pagar pelo Povo ( contribuintes) ao contrário do que pensava e tinha estudado ex- primeiro ministro!

OGman

Anónimo disse...

Em melhores dias lia assiduamente o Economist, por isso creio conhecer bem a linha editorial desta revista, digamos, incontornável. É, para mim, provavelmente a melhor revista internacional, e nunca me pareceu que fosse a "bíblia" do neoliberalismo. O tratamento editorial é, em geral, equilibrado, sabendo-se que o liberalismo (old style), isso sim, é ali cavalo de batalha. Ou seja, bate-se contra barreiras alfandegárias e qualquer tipo de proteccionismo.

Quanto ao seu comentário, mais este downgrade é preocupante. O Economist não é um jornal qualquer. As falhas que aponta nas democracias europeias são um diagnóstico que deveria colocar-nos de imediato em alerta. Portugal levou muitos anos a posicionar-se como um actor respeitado entre os países ocidentais e agora está a perder em pouco tempo o que custou tanto tempo e esforço a construir.
Como não podemos paternalisticamente aconselhar o Economist a emigrar, talvez devêssemos pensar em fazer realmente qualquer coisa...

DL

Anónimo disse...

"Lourdes" vem de "lourd"? É que tenho uma prima que é um bocado gorda...

Fada do bosque disse...

Só encontro aqui umas falhas, Sr. Embaixador... que não posso deixar de salientar:

A Justiça com falhas é Justiça? -
A Ética com falhas é Ética?
A Verdade com falhas é a Verdade?
A Democracia com falhas é Democracia?

É uma nova "Filosofia" esta, de quererem cortar às fatias conceitos Universais de Razão Humana?!
É a Filosofia dos homens "lobotimizados" pelo Sistema?
Sim, porque se os homens admitem que estes conceitos Universais podem ser reduzidos a nada, pela demagogia populista e orientada para orientar, então temos de admitir, que à Razão (ou será cérebro?) humana também lhe foi retirada uma fatia.
Vendo bem, a Filosofia de Atenas foi substituída passo a passo, pela "Filosofia" do Capital. Isto até dói.

Anónimo disse...

Se a diferença não existisse a igualdade teria alguma importância?
Penso que não !

Há pessoas que sendo muito iguais e padronizadas , sentem-se muito importantes chateando aquelas que são diferentes. Umas não vivem sem as outras.

OGman

25 de novembro