Na vida internacional, recebem-se frequentemente algumas prendas que consideramos bizarras. As mais das vezes, isso deve-se ao facto dos critérios estéticos de certas culturas serem muito diferentes dos nossos. Por isso, ficamos frequentemente "sem graça" ao ser confrontados com ofertas que, de imediato, concluímos que não irão nunca ter um lugar nas nossas casas. Se as oferecemos a terceiros, para além disso poder representar uma ofensa a quem no-las deu se se acabar por se saber desse desvio, também ficamos com a obrigação de explicar o que estamos a dar e a razão por que isso acontece. É sempre um problema, até porque, não raramente, se trata de peças caras, não tendo nós o direito de não reconhecer a gentileza do gesto.
Recordo-me que, há uns anos, a minutos de sair de um hotel de um riquíssimo país do Golfo, para o qual tinha apenas levado uma mala de mão e uma pequena pasta, cheiíssimas já com roupa e papelada, fui surpreendido pela oferta de uma imensa - mas horrorosa! - e muito pesada peça de cristal. Nem eu tinha como a transportar, numa viagem que iria ter duas escalas, nem aquilo poderia alguma vez ser exposto em sítio algum. Optei, em desespero de causa, por oferecê-la ao motorista que tinha andado comigo nos dias anteriores, não sem antes passar uma declaração escrita, garantindo que se tratava de uma oferta da minha parte... Espero que o homem não tenha tido problemas e, em especial, que não tenha contado nada às suas autoridades!
Há dias, pelo Natal, recebi, de um colega de um país onde os critérios estéticos divergem muito dos nossos, uma dessas peças "impossíveis". Comentando o assunto com um amigo, ele notou que também as instituições internacionais são, às vezes, alvo de ofertas que, não podendo ser recusadas, criam problemas para a sua exibição. É que, na decorrência de publicitadas e públicas ofertas, as instituições ficam naturalmente obrigadas a expô-las, sob pena de criarem incidentes diplomáticos.
Isso fez-me recordar uma questão que era objeto de muitas piadas, ao tempo em que estive em Nova Iorque. Tratava-se da famosa estátua de um elefante em metal, oferecida à ONU pelo Nepal, Namíbia e Quénia, uma obra de um artista búlgaro.
O secretário-geral da ONU decidiu colocar a estátua no jardim da organização, entre a 1ª avenida e a rua 48ª. Só que logo surgiu um problema: a expressão hiper-avantajada de um certo órgão do animal suscitou, quase de imediato, um escândalo na cidade, com uma romaria de visitantes a apreciar aquilo que ficou conhecido como a "endowed elephant statue" (estátua do elefante bem dotado).
O secretário-geral da ONU decidiu colocar a estátua no jardim da organização, entre a 1ª avenida e a rua 48ª. Só que logo surgiu um problema: a expressão hiper-avantajada de um certo órgão do animal suscitou, quase de imediato, um escândalo na cidade, com uma romaria de visitantes a apreciar aquilo que ficou conhecido como a "endowed elephant statue" (estátua do elefante bem dotado).
Para grandes males, grandes remédios. Com a ajuda de jardineiros hábeis, as Nações Unidas lá conseguiram fazer crescer uma sebe junto ao animal, que lhe tapa as "partes" exageradas e torna mais aceitável a exposição da obra de arte. Consta, além disso, que aquela área do jardim da ONU já não admite visitas, apenas sendo possível ver a estátua de longe. A eficácia deste "cover-up" é tal que na net não se consegue encontrar nenhuma foto do elefante sem a sebe.
A diplomacia foi sempre a arte de resolver grandes problemas. Ou problemas grandes...
11 comentários:
Viva sr. Embaixador
Fez-me lembrar o sr.Poças de Relvas q ía levar farinha do seu moínho a VRL e tapava o burro quando passava no Colégio de S. José....
Um bom ano.
Arm.
Grandes males grandes remédios...
Com o perdão da brincadeira e com todo o respeito ...
Seria um elefante de duas trombas?
A Senhora Indira Gandhi quando a entrevistei para o DN em 1982, ofereceu-me um elefante em metal, um sari para a Raquel - que ela sabia ser goesa - e um... saco de 50 quilos de arroz basmati, por esse mesmo motivo.
O elefante (que não tinha nada de especial, ao contrário deste da ONU que ainda vi sem camuflagem, era absolutamente inofensivo e não era exibicionista) e o sari passaram tranquilamente na alfândega aqui em Lisboa. O saco de arroz é que foram elas...
Mas, enfim, safei-me. Se não fosse o trólei, não tinha chegado ao carro do jornal que me esperava cá fora
Bem humorado lhe digo que oxalá a diplomacia conseguisse resolver o grande problema ou o problema grande em que estamos metidos.
Boa história! Venham mais.
Votos de excelentes entradas em 2012.
JM
Francisco
Acho que em cada familia existe um presente de grego.
Minha irmã Elisa quando casou ganhou um enfeite. Um cavalo enorme.
Ela deixou ele lá em casa.
Ja quebramos um monte de jarras de cristal de mamae mas o danado do cavalo da Elisa e Gabriel está lá inteirinho.
Uma hora vou mostrar para o senhor.
com carinho e amizade um feliz ano novo de sua amiga Monica
Já que muito se fala de elefantes, ainda temos o trabalho que deu a entrega do presente de D.João III ao seu primo Arquiduque Maximiliano de Austria a quem ofereceu um elefante vivo que tiveram de transportar de Portugal até esse país, em grande parte da viagem a pé, ou "A Viagem do Elefante" de José Saramago!
Bom Ano 2012!
No meu dia a dia não costumo encontrar elefantes. Mas lido com muita gente sempre de trombas e que ocupa muito espaço...
Ao chefe de uma delegação que integrei, no fim da visita a um pais africano, foi gentilmente oferecida uma cabra.
Dados os costumes locais, uma recusa estava fora de questão e o animal era, evidentemente, intransportável no Falcon utilizado.
O Embaixador acreditado mas não residente na capital em questão tornou-se, por despacho verbal do superior hierárquico, o orgulhoso proprietário do espécimen caprino.
Em resposta 'a objecção sobre dificuldades de transporte, recebeu instruções para voltar, num dos dias seguintes
Para uma visita de cortesia, de carro e sem ajudas de custo ou outras dEspesas para o Estado.
Durante algum tempo, o Chefe da Delegação preocupou-se em pedir notícias do animal; a resposta era sempre tranquilizante: a cabra estava bem e substituía, briosamente, a maquina de cortar relva no jardim da residência.
História deliciosa...mas que me deixa ligeiramente apreensiva!
interessante história, Feliz 2012 Sr. Embaixador!
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