sábado, dezembro 10, 2011

Variações sobre o "sim" e o "não"

"Há por aqui, de facto, expressões separadas e distintas para "sim" e para "não". Mas sendo indelicado, segundo os costumes locais, usar esta última palavra, a primeira é utilizada com ambos os sentidos. Assim, fica ao critério da pessoa que ouve decidir se o "sim" que recebeu como resposta deve ser interpretado, afinal, como um "não" definitivo ou como um "não" que ela pode converter num "sim", expressando o pedido de outra forma. Mas, normalmente, o "sim" quer significar que o pedido recebe um acolhimento favorável, o que acaba por ter como consequência que nenhuma ação subsequente será tomada. Se convidar um nacional local para jantar, e ele aceitar, daí não se deve deduzir necessariamente que ele vai estar presente, mas apenas que, ao dizer que aceitava, ele quis ter para consigo um gesto de cortesia; dessa forma, ele transferiu a obrigação de si próprio para si e considerou-se desobrigado de aparecer."

Extrato de um telegrama de um embaixador britânico, num determinado país, citado em "Parting shots", um delicioso livro de Matthew Parris e Andrew Bryson, sobre correspondência diplomática. 

8 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Ó Senhor Embaixador que alívio me proporcionou com este post.
A filosofia que ele expressa vai ser integralmente plagiada por esta sua amiga. Deliciosa ideia para este assoberbado período de Natal...

Anónimo disse...

Cheira-me a Ásia...

São Canhões? Sabem mesmo a manteiga... disse...

Pecebi nã...ê sempre tive dificulté in precever us rituais maçónicos e eclesiásticos os diplomáticos e a maneira como o lacaio transporta as meias reais que um cortesão terá o previlégio de calçar

já lá dizia D.Salvador de Madariaga
a diplomacia eurropeia é inescrutável a ibérica é críptica

patricio branco disse...

pelo que me pareceu, o autor refere se ao especial uso do "sim" num determinado país onde dizer directamente "não" é mal visto.
O "sim" tem nessa sociedade, portanto, 2 sentidos: sim ou não. E não se comete mentira ao usar um pelo outro.
Compete portanto, se bem percebi, à pessoa que fez a pergunta, emitiu o convite ou fez a proposta interpretar qual o significado ou orientação da resposta que recebeu.
Interessante uso sócio linguístico do sim, mas em que pais assim é ou se passa?
Em portugal isso não funcionaria e poderia criar confusão ou mal-entendido entre os 2 interlocutores.

Anónimo disse...

Japão....?....

Anónimo disse...

Mas, Sr. Embaixador, essa linguagem já é usada há algum tempo por certos políticos! Ao dizerem que não aumentarão os impostos e que não é possível impôr mais austeridade, o que querem dizer é exactamente que vão aumentar os impostos e impôr mais austeridade.

DL

patricio branco disse...

Sim, sim, dl tem razão, aqui um não é um sim no dia seguinte e vice versa. Não foram os ingleses que descobriram a polvora dos opostos que não o são

gherkin disse...

Comentário ao artigo “A Importância da Política”
Caro senhor embaixador e distinto amigo. Bom este seu ponto! Aqui, na sua muito conhecida Grã-.Bretanha, o tempo em que os principais membros do governo têm de aguardar em qualquer canal de televisão, como qualquer mortal, é corriqueiro! Porém, o que me leva a ocupar este seu espaço é o fato do descuido, principalmente dos políticos, em não desligarem os minúsculos microfones de que são munidos e das suas graves consequências. Recordo o caso do ex primeiro-ministro, Gordon Brown, aquando da campanha eleitoral, em Maio de 2010, ao fazer um infeliz, mas natural comentário, sobre a intervenção de uma senhora que o interrogou sobre a sua ação governamental, captada e transmitida pela SKY, de sentir-se incomodado com a que considerou impertinência da eleitora, por sinal há muito adepta do seu partido - Labour. Sem se aperceber que o microfone estava ligado, e depois de ser informado do sucedido, eis que Gordon Brown teve a humilhação de propositadamente ir à residência da senhora e pedir-lhe imensa desculpa! Obviamente este episódio foi bem explorado pelos media e, naturalmente pela Oposição.

Netanyahu

Tal como vários dos seus contrapartes já fizeram, seria interessante que Luís Montenegro anunciasse que, se Benjamin Netanyahu puser um pé e...