sábado, novembro 14, 2009

Petróleo

O empreendedor Joe Berardo anunciou que pretende explorar petróleo na costa portuguesa.

Há anos, a Galp e a Petrobras estabeleceram um acordo que previa a realização de sondagens, com o mesmo objectivo, também nessa área. Perdi o assunto de vista e não faço ideia do calendário de execução desses trabalhos. A experiência comum das duas empresas na detecção de petróleo em zonas de profundidade, que teve grande êxito em áreas da costa brasileira, abre uma interessante expectativa.

Que há petróleo em Portugal, na costa e "inshore", nunca houve dúvidas. A questão está em saber se é numa quantidade que justifique a sua exploração. Recordo-me bem, há anos, de ver equipamento de sondagens instalado entre a Atalaia e a Merceana, perto de Torres Vedras. Mais tarde, ouvi também falar de trabalhos idênticos na zona de Alcobaça.

Um mito político antigo atribui a Salazar a seguinte reacção, quando o foram informar da descoberta de petróleo em Cabinda: "Só nos faltava mais essa!". O nosso paroquial ditador revelava assim a consciência de que a descoberta de petróleo em Angola só iria aumentar as ambições internacionais sobre o território, ameaçando ainda mais a tutela colonial portuguesa.

Hoje, tenho a certeza que a reacção dos nossos dirigentes, se acaso fosse descoberto petróleo em quantidades e condições exploráveis na nossa costa, seria bem diferente. Contudo, temo que, por muito tempo, acabemos por ter de nos contentar com o petróleo que o saudoso Raul Solnado descobriu no Beato...

6 comentários:

Anónimo disse...

De facto, numa era em que a possibilidade de replicação do dinheiro determina o sonho de qualquer comum ou não, o petróleo diamante negro,emerge como um Deus inatingivel.
Isabel Seixas

Santiago Macias disse...

O desenho que escolheu para ilustrar o texto não revela, de facto, muita fé numa futura exploração...

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador,
Ouvi a entrevista feita por Mário Crespo a Joe Berardo. Embora nem sempre seja fácil acompanhar o seu raciocínio, porque o português não deve ser a sua língua negocial, Berardo afirmou isso mesmo: que havia petróleo na costa e no inshore portugues e que, hoje, os métodos modernos de exploração iriam permitir chegar mais cedo a resultados. E, se bem percebi, estes seriam visíveis já entre 2010 e 2011.
Espero bem que sim e que esta terra que tanto amo possa ter, assim, uma ajuda providencial para que todos vivamos melhor!

José Barros disse...

Li algures que esse petróleo não é nosso mas das gerações que hão-de vir. A Terra precisou de algumas centenas de milhões de anos, numa lenta elaboração, para produzir as poucas centenas de milhões de toneladas de petróleo que se está a consumir ao ritmo de três a quatro biliões de toneladas por ano. A este ritmo, os nossos descendentes próximos ficarão definitivamente espoliados. Com o devido respeito a Joe Berardo!

Julia Macias-Valet disse...

E se Joe Berardo investisse nas energias renovavéis ?

Fernando Correia de Oliveira disse...

Senhor Emebixador:

desculpe-me o pessimismo, mas sem querer parafrasear Salazar, "só nos faltava mais essa".
Com os índices de corrupção que se sabem, petróleo seria sinónimo de mais corrupção, em nada iria beneficar a saúde, a educação, a justiça, os índices de desenvolvimento e de bem estar do colectivo a que ainda chamamos Portugal. Se houver, espero já cá não estar para ver o triste espectáculo que adivinho, tendo como pano de fundo uma realidade de terceiro mundo.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...