sábado, novembro 07, 2009

Inveja

Há semanas, uma conversa com compatriotas aqui residentes há bastantes anos trouxe à discussão a questão das "lideranças" da comunidade portuguesa em França. Alguém dizia que, contrariamente a outras comunidades de origem estrangeira, os portugueses não geram figuras de dimensão nacional, que possam projectar a sua especificidade no seio da sociedade francesa, levando as instituições deste país a terem mais em conta - e mais em consideração, o que não é necessariamente a mesma coisa - aquilo que interessa à nossa comunidade.

Em muitas dessas conversas, o mote é clássico: "nós, os portugueses, não nos sabemos unir", "não aparece gente capaz para ocupar lugares de relevo" e, na lógica de quem quer "passar uma bola" que o incomoda, "é importante que alguém faça alguma coisa para mudar isto".

Há uma triste ironia quando se comparam estas conversas com algumas outras em que se discute pessoas de nacionalidade ou origem portuguesa que, numa ou noutra actividade, conseguiram uma certa relevância e projecção ou estão em percursos de ascensão. Aí, o tom já é outro: "não passa de um ambicioso", "está a aproveitar-se de ser português para obter lugares de 'poleiro' ", "o que ele quer é subir na vida à nossa custa" ou "comigo não conta ele para se promover".

Talvez não seja por acaso que a última palavra de "Os Lusíadas", essa obra que é um pouco o nosso espelho histórico, seja "inveja".

4 comentários:

Paulo M. A. Martins disse...

Caríssimo Embaixador,

Pura e simplesmente, limito-me a dizer que são as chamadas conversas de quem não sabe o que diz e fala do que não sabe, mas sempre com a inveja à flor da pele!

Helena Oneto disse...

Senhor Embaixador,

Infelizmente tem razão.
.
Acabo de ouvir que, pelo menos, 3 compatriotas morreram num dramático acidente em Andorra e muitos outros estão gravemente feridos.
Tenho um respeito enorme por todos os portuguêses que trabalham e muitas vezes morrem longe da terra onde nasceram.

Portugal está de luto. Eu também.

Unknown disse...

.... a "tirada" da inveja ("está a aproveitar-se de ser português para obter lugares de 'poleiro' ", "o que ele quer é subir na vida à nossa custa".....) felizmente já é bem menos utilizada e surte muito menos efeitos inibidores do que no passado. O seu período áureo foram os anos 1980 e 1990. Agora o que temos como “gente que dá nas vistas” são sobretudo portugueses com excelentes performances culturais e (ou) técnicas instalados em França nos últimos 10-15 anos e luso-descendentes, que fizeram bons estudos ... e que paulatinamente “desgrudam” dos círculos da “saudade e da maledicência”. Ainda bem. O peso demográfico dos portugueses e luso-descendentes em França começa finalmente a ter correspondência em termos de "peso" cultural, económico, social e político.

Anónimo disse...

É...
E o pior é quando se ultrapassam os limites do bom senso e se move algum tipo de perseguição velada tipo deixar passar a suspeição de Mulheres que pese embora as competências evidentes, há alguém que por pura inveja, confunde os mais vulneráveis a acreditar, que a ascenção foi devida á diferença de género ou á obrigatoriedade de cotas.
Conheço um caso assim.
Isabel Seixas

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...