terça-feira, novembro 03, 2009

Coabitação (1)

Nenhum regime crismou o termo "coabitação" de uma forma tão marcante como a V República francesa. Um dos tempos mais interessantes dessa coexistência entre um presidente da República e um primeiro-ministro, oriundos de famílias políticas opostas, foi o período em que François Mitterrand, como Presidente da República, coincidiu com Jacques Chirac, como primeiro-ministro.

Por essa razão, e porque tem alguma graça ver como os políticos, com distância, se avaliam, não resisto a transcrever este breve extracto do primeiro volume das memórias de Chicac, sob o título «Chaque pas doit être un but», que hoje foi publicado:

«Je n’ignore pas la complexité du personnage, ni les zones d’ombre qui jalonnent son parcours, mais l’homme que je découvre au fil de nos entretiens m’apparaît d’une finesse de jugement et d’une intelligence tactique que j’ai rarement rencontrées dans le monde politique. Son amour de la France est indiscutable, et il n’admet pas que celle-ci soit abaissée, même s’il tend, selon moi, à l’enfermer dans des perspectives archaïques et eût sans doute rêvé de la laisser vieillir comme un paysage qu’il aimait. Nos valeurs communes sont celles de deux provinciaux attachés aux traditions terriennes, comme aux idéaux de la République. Et si, pour le reste, nos convictions semblent à l’opposé l’une de l’autre, probablement l’un est-il moins à gauche qu’il ne le fait croire et l’autre moins à droite qu’il ne le laisse paraître. Plus que ses idées, c’est la façon de les mettre en scène que la cohabitation m’a permis d’admirer chez François Mitterrand. "Salut l’artiste!" m’est-il arrivé de penser en assistant à quelques-unes de ses prestations.".

4 comentários:

Anónimo disse...

Não percebo a admiração. Socrates não faria apreciação semelhante de Cavaco, Cavaco de Soares, Soares de Eanes ?

Vizinho Ex-marxista

Helena Sacadura Cabral disse...

Em política nada é completamente "isto" ou "aquilo". Tê-lo-ei aprendido à minha custa.
Ao ler este curioso texto que connosco partilhou, perguntei a mim própria porque é que os políticos se não limitarão a escrever...
Não gosto de Chirac, das suas políticas, nem da forma como governou a França. Mas era o que aqui se chama de "animal político". À semelhança, aliás, de Miterrand, de quem não aprecio muita coisa, mas que, indubitavelmente, me fascina muito mais do que Chirac.
E essa co-habitação entre ambos foi, de facto, para os politólogos e até para os cidadão comum, um período histórico riquíssimo!
Por isso, e nesta época precisa, lembrá-lo é de grande oportunidade...

Anónimo disse...

À espera da "Coabitação 2"...
Albano

Helena Oneto disse...

Deux épicuriens qui avaient en commun le goût des bonnes choses la vie...
Ambos com "zones d'ombre" nos respectivos percursos para o poder. Duas personagens complexas e carismáticas que marcaram profundamente a vida (politica) deste País.

Infeliezmente, não deixaram sucessor à vista...

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...