Lembrei-me do belo poema de Manuel Alegre que assim começa ao apreciar a discussão em torno do golo ilegal que qualificou a França para a fase final do campeonato do mundo de futebol.
Estes são momentos de verdade para avaliar se o "futebolismo" acéfalo ultrapassa alguma racionalidade. Nos comentários franceses ao falso golo criado por Thierry Henry, viu-se de tudo: desde os que lamentaram o acontecido e criticaram a falsa inocência assumida por Henry, até aos adeptos do "vale tudo desde que se ganhe". Posso estar enganado, mas tenho a sensação que, no conjunto dos comentários lidos e ouvidos, prevaleceu por aqui um certo sentimento de se estar "mal à l'aise" e mesmo com vergonha pelo facto da França ter ganho o acesso desta forma. Interessante foi ver muitos sectores da classe política desgostosos com o que se passou, parte dos quais reclamando mesmo a (impossível) repetição do jogo. Atitude de "fair play" que acho extremamente saudável.
Pergunto-me para que lado teria pendido a nossa balança de comentários se o mesmo caso se tivesse passado com a selecção portuguesa? Lembro-me de um antigo dirigente desportivo, com uma formação profissional que o vocacionava para equilíbrio de julgamento, que um dia disse mais ou menos isto: "quero que o meu clube ganhe, mesmo que seja com um golo marcado com a mão, em posição de fora de jogo e já depois do tempo regulamentar". Em todo o mundo há gente (pelo menos a pensar) assim, mas, se isto é desporto, vou ali e já venho.
Uma última nota para referir que, naturalmente, veio por aqui várias vezes à colação, nas últimas horas, a célebre "mão do Vata", um lance ilegal com que o Benfica derrotou o Olympique de Marseille. Foi há 19 anos, mas só os elefantes têm mais memória que os adeptos de futebol...
Estes são momentos de verdade para avaliar se o "futebolismo" acéfalo ultrapassa alguma racionalidade. Nos comentários franceses ao falso golo criado por Thierry Henry, viu-se de tudo: desde os que lamentaram o acontecido e criticaram a falsa inocência assumida por Henry, até aos adeptos do "vale tudo desde que se ganhe". Posso estar enganado, mas tenho a sensação que, no conjunto dos comentários lidos e ouvidos, prevaleceu por aqui um certo sentimento de se estar "mal à l'aise" e mesmo com vergonha pelo facto da França ter ganho o acesso desta forma. Interessante foi ver muitos sectores da classe política desgostosos com o que se passou, parte dos quais reclamando mesmo a (impossível) repetição do jogo. Atitude de "fair play" que acho extremamente saudável.
Pergunto-me para que lado teria pendido a nossa balança de comentários se o mesmo caso se tivesse passado com a selecção portuguesa? Lembro-me de um antigo dirigente desportivo, com uma formação profissional que o vocacionava para equilíbrio de julgamento, que um dia disse mais ou menos isto: "quero que o meu clube ganhe, mesmo que seja com um golo marcado com a mão, em posição de fora de jogo e já depois do tempo regulamentar". Em todo o mundo há gente (pelo menos a pensar) assim, mas, se isto é desporto, vou ali e já venho.
Uma última nota para referir que, naturalmente, veio por aqui várias vezes à colação, nas últimas horas, a célebre "mão do Vata", um lance ilegal com que o Benfica derrotou o Olympique de Marseille. Foi há 19 anos, mas só os elefantes têm mais memória que os adeptos de futebol...
21 comentários:
Um grande amigo meu alentejano, enviou-me ontem este poema :
Ce ne sont pas des mains d'artiste,
De poéte proprement dit,
Mais quelque chose comme triste,
En fait comme un groupe en petit;
de um poema de Verlaine.
Os Irlandeses deram na quarta-feira passada em Paris uma grande liçao de disciplina e fair-play.
Qualquer outro povo na mesma situaçao teria aplicado à regra a expressao francesa : "Venir aux mains", apos o jogo.
Pois... a "mão do Vata" e, mais grave ainda (se é que estas coisas se podem graduar), a célebre "mão do Maradona" que deu um Mundial à Argentina!
A Bola não foi metida com a mão! Nem foi Thierry Henry quem a meteu. O golo em questão é de Gallas e com a cabeça dentro da área de jogo autorizada pelas regras futebolísticas. Porque é que o árbitro não foi interrogar o goleador que aceitou meter a bola com a cabeça depois do Thierry a ter acariciado com a mão? Decerto esta interrogação é absurda. Mas também este espectaculoso alarido que leva pessoas sensatas (falo da maioria dos adeptos da modalidade) a viverem emoções fortes e a vociferarem uma animosidade verbal durante os desafios agindo perante os resultados como se perdessem ou ganhassem, elas mesmo, directamente, os biliões que estão em jogo, me parece exagerado.
Seria tempo de atribuir ao desporto o simples lugar que ele deve ocupar.
Ou então voltar à importância que os torneios medievais tiveram. Recordo particularmente o torneio de Valdevez, por volta de 1140, que teria tido uma importância de primeiro plano na independência de Portugal. Com efeito a inteligência dos dois monarcas, naquele período histórico do advir portucalense, com uma simples justa entre um cavaleiro leonino e um cavaleiro português aceitaram a vitória do português como prelúdio à negociação do armistício entre Afonso VII e Afonso Henriques em vez da batalha campal que esteve eminente entre os dois exércitos nas margens do rio Vez. Este Torneio teve uma incidência favorável e irreversível para a independência definitiva de Portugal.
Rectifiquei o meu texto em função da correcção feita por José Barros. De facto, não foi Henry quem marcou o golo, foi apenas quem o "criou"... Mas, para mim, o golo continua a ser "dele". Quanto ao colega que efectivamente marcou o golo, seria de um preciosismo extremo (e sem sustentação nas lei do futebol) estar a puni-lo.
A aparente bonomia de Trapatoni perante tão estranha(?)situação, só é compreensível por tambem ter memória de elefante...
Como se ganha um campeonato em Portugal?
Livre inventado, carga ilegal sobre o guarda-redes e "consumatum est".
Se uma mão lava a outra,pia da água benta, não sei, mas que houve outro campeonato lavado com a mão de deus Ronny da capital do móvel,lá isso houve. Que as dos outros deuses estejam connosco...
Nutrindo um carinho especial pela selecção de um país que já foi o meu por uns tempos - a Irlanda -, confesso que não consigo deixar de sentir alguma desilusão com o desfecho.. A esperança tem destas coisas.
Ainda assim, e como o Sr. Embaixador tão bem referiu no seu texto, é de elogiar a integridade daqueles que, com honestidade, sabem respeitar o adversário - na vitória e na derrota.
E diz o Senhor Embaixador que eu pertenço a uma geração que, para o bem e para o mal, tem memória!:))
Que dizer, então, das memórias futebolísticas aqui reveladas?
Se o Fernando Peça fosse vivo ouviriamos, de certo, o seu "e esta hein?!"
Leio: "Interessante foi ver muitos sectores da classe política desgostosos com o que se passou, parte dos quais reclamando mesmo a (impossível) repetição do jogo. Atitude de "fair play" que acho extremamente saudável."
Esta declaraçao do Presidente da República, Nicolas Sarkozy, logo a seguir ao jogo, ter declarado ilustra bem o que se lê? - "As peripécias da qualificação não interessam, o que interessa é que é muito importante estarmos na África do Sul"....
Que eu saiba, apenas a coitada da Ministra Lagarde disse que o jogo deveria ser repetido
Saiba a Senhora Dra. Helena Sacadura Cabral que o autor deste blogue, na sua juventude, fez um curso de arbitragem de futebol (com nota de 14!), o que, no mínimo, o qualifica para poder ter uma maior sensibilidade perante estes casos.
Como se fala aqui de recordações, por que não recordar que nos dois jogos mais recentes em fases finais, que dariam acesso à final do Europeu e do Mundial, contra a França, Portugal perdeu sempre por penaltis mais ou menos esquisitos?
Face ao comentário de um Anónimo, esclareço que vários deputados e senadores se pronunciaram nos termos que citei. E também são "classe política".
...é verdade senhor Embaixador que vários deputados e senadores se pronunciaram nesses termos. Mas acho que a maioria...
E eu também gostaria muito de ter ouvido a opinião do Platini: afinal ele tem responsabilidades no foot, n'est-ce pas?
Michel Platini falou do assunto, de forma oblíqua, ao dizer que este incidente não abriria nunca caminho para a visualualização dos lances, questão que, no seu entender (e eu concordo), "mataria o futebol". No fundo, o futebol é também isto. Sempre foi mas, no passado, não havia televisão...
Saiba o Senhor Embaixador que esta sua leitora atenta não pára de se surpreender com as revelações que nos vai fazendo a seu respeito!
Tenho dois netos. Um deles, campeão de trampolim e devoto dos desportos aquáticos, acaba de me revelar que pretende ser árbitro. Não sei bem de quê. Espero que não seja das facções políticas aqui de casa. De nada lhe valeria a especialização...
Depois da sua revelação e vendo o seu exemplo - ele tem 13 anos -, fico com mais esperança no futuro dele.
Mas sempre lhe pergunto se o curso de arbitragem não teria sido uma forma de, cedo, preparar aquilo que viria, afinal, pós Económicas, a ser a sua opção profissional?
É que na diplomacia saber arbitrar é fundamental!
Há anos, na bancada de Alvalade, este sportinguista teve a ousadia de dizer, alto e bom som, que uma queda de um jogador do Sporting na área adversária não tinha sido penalti, contrariando a opinião quase unânime da ululante massa verde. Julgando-me "lampião" ou "andrade" (sabe o que é?), eu ia sendo linchado! Valeu-me de muito o meu curso de arbitragem. Nas bancadas, um adepto honesto é uma "avis rara" e em risco de iminente extinção. Por isso, a diplomacia não vale muito...
Mais outra área de comunhão Senhor Embaixador: o Sporting. E eu que achava que era do FCP!
Vou dar apoio à pretensão do jovem desportista -não sei a quem possa sair com tal vocação - não vá ele acabar, como um tio, na carreira diplomática!
Senhor Embaixador, confesso-lhe que, para além do prazer de ler os seus post's, já tenho rido de verdade com o seu sentido do humor. Bem haja!
De memórias em revelações, este debate está a ser interessantíssimo...:)
Sempre me fascinou o impacto gerado por qualquer decisão tomada pela equipa de arbitragem num jogo de futebol e o consequente debate aceso que promove principalmente no género masculino...
Deveras mais intenso que as imagens de devastação e morte provocadas pela fome ou guerra...
Cá em casa somos todos Sportinguistas por hereditariedade e genética, aliás começo a acreditar vivamente que é um óptimo exercício para aumentar a tolerância à frustração, para incrementar a capacidade de dizer naturalmente e por inerência não à vitória que nos pode tornar pedantes, e também saber adiar recompensas... Penso finalmente poder registar a patente do perfil psicológico do sportinguista "O adepto Resiliente" ou seja com maior capacidade sustentada de não deflagrar perante a derrota na linha de água e desfalecimento na areia.
Isabel Seixas
Mão da discórdia ou mão do diabo!
Nem uma nem outra. É uma acção de jogo.
Comentar um facto calmamente, com recuo, é uma coisa, vivê-lo sobre tanta pressão...
O árbitro é um juiz de campo. No momento, ele censura ou não, e decide. Ponto!
Fair-play ! May friend ( a T. Henry... ) Fair-play !...
C. Falcão
Este post deixa-nos perceber como o futebol é fantástico... um recorde de comentários e o Senhor Embaixador a interagir com os seus fiéis leitores (o que nem sempre acontece).
Quero que o meu clube ganhe, mesmo que seja com um golo marcado com a mão, em posição de fora de jogo e já depois do tempo regulamentar? O dirigente desportivo teria ficado feliz se tivesse estado presente em Paris. É que foi isso mesmo que sucedeu. O jeito com a mão é precedido de um fora de jogo...
Um curso de arbitragem (e com boa classificação)? Fico surpreendido com essa revelação mas não duvido da sua utilidade na carreira de um diplomata.
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