Pode parecer estranho que o embaixador de Portugal em França aborde um tema relativo ao Reino Unido. Mas a verdade é que, hoje em dia, nada do que é europeu nos é alheio.
A reacção nacionalista dos trabalhadores britânicos, ao procurarem limitar a contratação de operários estrangeiros, mesmo aqueles que são oriundos de países nos quais eles próprios têm direito de trabalhar, deve ser analisada com grande atenção. O que se passou no Reino Unido pode, com muita facilidade, repetir-se aquém-Mancha.
Esta reacção de proteccionismo nacional pode ter o seu quê de compreensível, se pensarmos na angústia dos desempregados britânicos. Mas compete aos governos - a todos os governos europeus - terem a frieza de esclarecer os seus cidadãos, desempregados ou não, que, ao limitar-se a livre circulação de trabalhadores, está-se a ferir o contrato europeu, está a desrespeitar-se o compromisso assumido formalmente por todos os subscritores da União Europeia - protegerem as "quatro liberdades": mercadorias, serviços, pessoas e capitais.
Se acaso amanhã viesse a considerar-se legítimo limitar a possibilidade dos trabalhadores serem recrutados livremente dentro do espaço da União Europeia, independentemente do seu país de origem, então seria igualmente legítimo que nos interrogássemos por que razão deixamos entrar os produtos estrangeiros nos nossos supermercados, qual o motivo por que permitimos que as nossas empresas possam ser adquiridas livremente por estrangeiros, que lógica existe para que uma seguradora, um banco ou uma construtora de um país europeu possa actuar sem entraves noutro, etc.
A União Europeia é um todo, as suas vantagens e desvantagens compensam-se entre si, pelo que a bondade das suas diversas dimensões não pode ser considerada e avaliada isoladamente. Se acaso algum governo europeu se sentisse tentado a dar cobertura política a quaisquer sentimentos populares assentes em reacções emocionais da índole dos que afloraram na desesperada reacção dos trabalhadores britânicos, isso significaria entreabrir uma porta trágica para o regresso da intolerância. Daí à xenofobia e até ao racismo seria um curto passo. Entendamos as razões da angústia de quem sofre, mas encontremos para ela respostas racionais e serenas.
O cartaz acima reproduzido é, a meu ver, a triste marca de uma Europa que nos compete recusar, em absoluto. Até por todas razões subliminares que porventura ocorram ao leitor, ao olhar para ele.
A reacção nacionalista dos trabalhadores britânicos, ao procurarem limitar a contratação de operários estrangeiros, mesmo aqueles que são oriundos de países nos quais eles próprios têm direito de trabalhar, deve ser analisada com grande atenção. O que se passou no Reino Unido pode, com muita facilidade, repetir-se aquém-Mancha.
Esta reacção de proteccionismo nacional pode ter o seu quê de compreensível, se pensarmos na angústia dos desempregados britânicos. Mas compete aos governos - a todos os governos europeus - terem a frieza de esclarecer os seus cidadãos, desempregados ou não, que, ao limitar-se a livre circulação de trabalhadores, está-se a ferir o contrato europeu, está a desrespeitar-se o compromisso assumido formalmente por todos os subscritores da União Europeia - protegerem as "quatro liberdades": mercadorias, serviços, pessoas e capitais.
Se acaso amanhã viesse a considerar-se legítimo limitar a possibilidade dos trabalhadores serem recrutados livremente dentro do espaço da União Europeia, independentemente do seu país de origem, então seria igualmente legítimo que nos interrogássemos por que razão deixamos entrar os produtos estrangeiros nos nossos supermercados, qual o motivo por que permitimos que as nossas empresas possam ser adquiridas livremente por estrangeiros, que lógica existe para que uma seguradora, um banco ou uma construtora de um país europeu possa actuar sem entraves noutro, etc.
A União Europeia é um todo, as suas vantagens e desvantagens compensam-se entre si, pelo que a bondade das suas diversas dimensões não pode ser considerada e avaliada isoladamente. Se acaso algum governo europeu se sentisse tentado a dar cobertura política a quaisquer sentimentos populares assentes em reacções emocionais da índole dos que afloraram na desesperada reacção dos trabalhadores britânicos, isso significaria entreabrir uma porta trágica para o regresso da intolerância. Daí à xenofobia e até ao racismo seria um curto passo. Entendamos as razões da angústia de quem sofre, mas encontremos para ela respostas racionais e serenas.
O cartaz acima reproduzido é, a meu ver, a triste marca de uma Europa que nos compete recusar, em absoluto. Até por todas razões subliminares que porventura ocorram ao leitor, ao olhar para ele.
5 comentários:
A tese é, não só justa, como pertinente. E será – em tese - subscrita por todo o ser de bem. Mas…
Passeava pela cidade e sentia esse ar viciado e oloroso enquanto os olhos resvalavam pelas formas sortidas que representam o humano universo em que nos perdemos.
Pernas do mundo pelas vias parisienses. Olhos seduzidos e línguas babélicas que tropeçavam nos ouvidos silenciosos, à escuta da diferença.
O mesmo em Londres. Praga. Veneza. Nova Iorque. Miami…
Enquanto passeamos, há uma tolerância grata, um afecto estranho por tudo o que diverge de nós.
Poisados na telúrica rotina, fecham-se os abraços e abrem-se fossos entre o onírico e o baque real das coisas concretas.
Isto é verdadeiro para os excursionistas ocasionais, que são tantas vezes (e quiçá crescentemente) ferrenhos nacionalistas, ou ainda mais: regionalistas.
Que são pessoas comuns, com problemas vulgares, mas reais.
Ouço então as portas que se fecham aos sotaques, vejo os mirares enviesados às cútis pigmentadas, os murmúrios em preces ortodoxas contra a novidade e o acumular de hordas de deslocados.
A falta de memória dos ‘bidonvilles’, dos barcos a aportar em Ellis Island.
Do tempo das Descobertas.
O que sucedeu no reino de Isabel II repetir-se-á.
Até aqui, em lusas e brandas terras de fraternidades serenas.
Aguardemos.
A justeza racional e as pias intenções não se sobreporão às viscerais revoltas.
Quando há revolta, soçobra a razão.
O passo está dado.
O desenho traduz sempre uma forma de compreender o mundo. Bem lembrado. E ocorrem claramente diversas razões ao olhar para ele - e nenhuma recorda as propostas churchillianas. Um abraço, João Paulo Bessa
Meu Caro Francisco, quase estremeci ao ver o acima exposto cartaz que não só pelas palavras de ordem mas também pelo estilo gráfico nos relembram ideologias passadas...vade retro!
O cartaz é...arrepiante !!
O tema, extremamente actual...
O seu "post", excelente, como sempre !!
Abração
Rui M Santos
Senhor Embaixador,
Já tinha lido algumas das suas publicações, mas só agora comecei a ler o blogue a partir do início. Foi precisamente o cartaz desta publicação que me impediu de passar ao texto seguinte sem antes fazer o meu primeiro comentário.
Quase uma década após ter publicado este texto e cartaz, é assustador constatar o aumento galopante (estarei a exagerar?) dos movimentos extremistas na Europa.
Continuando a "folhear"...
Cumprimentos,
Inês Amado
(Berlim)
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