A revolução iraniana acabara de acontecer. Estava na Noruega, era 1980, há 30 anos. O Xá tinha saído do país e os nossos colegas iranianos tinham desaparecido dos circuitos diplomáticos. A Embaixada do Irão era um belo edifício, quase em frente à nossa, na Drammensvein.
Um dia, sou avisado que um português, residente em Oslo, queria falar comigo - eu era então o encarregado de negócios, na ausência do embaixador. Aparece-me um tipo gorducho, algo afogueado, a apresentar um problema. Desde há anos que era cozinheiro da Embaixada iraniana. De um dia para o outro, todos os iranianos da Embaixada se tinham ido embora. Ele estava sozinho, sem instruções, sem dinheiro... o que havia de fazer? Pensava ir à procura de um novo emprego. E faz-me uma pergunta inesperada: podia eu ficar com a chave da Embaixada, para eu a dar aos meus futuros novos colegas iranianos?
A ideia era bizarríssima. Cuidei em nem sequer transmitir o assunto a Lisboa. Os telegramas com historietas, subscritos pelos substitutos dos chefes de missão são, no anedotário do MNE, motivo regular de gozo dos colegas. E a história de um cozinheiro português a "entregar-me" a Embaixada do Irão iria fazer o gáudio dos claustros das Necessidades. Assim, optei por entrar em contacto com o serviço do protocolo do Ministério dos estrangeiros norueguês, com quem aconselhei o cozinheiro a falar.
Passadas semanas, uma nova e mais ortodoxa equipa diplomática iraniana chegou, finalmente. O nosso cozinheiro foi, de imediato, despedido. O menu tinha mudado no Irão.
Lembrei-me deste episódio ao verificar que, aqui por Paris, está a ser recordada a mudança política ocorrida há três séculos no Irão. Aliás, foi de França que, nesse mesmo ano de 1979, partiu o Ayatollah Khomeini, que aqui viveu refugiado por cerca de um ano, depois de um exílio por vários outros países.
Um dia, sou avisado que um português, residente em Oslo, queria falar comigo - eu era então o encarregado de negócios, na ausência do embaixador. Aparece-me um tipo gorducho, algo afogueado, a apresentar um problema. Desde há anos que era cozinheiro da Embaixada iraniana. De um dia para o outro, todos os iranianos da Embaixada se tinham ido embora. Ele estava sozinho, sem instruções, sem dinheiro... o que havia de fazer? Pensava ir à procura de um novo emprego. E faz-me uma pergunta inesperada: podia eu ficar com a chave da Embaixada, para eu a dar aos meus futuros novos colegas iranianos?
A ideia era bizarríssima. Cuidei em nem sequer transmitir o assunto a Lisboa. Os telegramas com historietas, subscritos pelos substitutos dos chefes de missão são, no anedotário do MNE, motivo regular de gozo dos colegas. E a história de um cozinheiro português a "entregar-me" a Embaixada do Irão iria fazer o gáudio dos claustros das Necessidades. Assim, optei por entrar em contacto com o serviço do protocolo do Ministério dos estrangeiros norueguês, com quem aconselhei o cozinheiro a falar.
Passadas semanas, uma nova e mais ortodoxa equipa diplomática iraniana chegou, finalmente. O nosso cozinheiro foi, de imediato, despedido. O menu tinha mudado no Irão.
Lembrei-me deste episódio ao verificar que, aqui por Paris, está a ser recordada a mudança política ocorrida há três séculos no Irão. Aliás, foi de França que, nesse mesmo ano de 1979, partiu o Ayatollah Khomeini, que aqui viveu refugiado por cerca de um ano, depois de um exílio por vários outros países.
9 comentários:
Delicioso...
Estou a ficar seriamente viciada! :)
Desculpe o comentário...
Sobre a epígrafe do blogue:
Embaixador português... em França?
Excusez-moi!
É verdade. Em toda a França. Não sabia?
Parabéns pelo blog. Magnífica a escolha e a edição dos conteúdos; tanto como a excelência saborosa da escrita. Um abraço
António S.
Palavra que não compreendo a interrogação de a.m, acima publicada, que mereceu uma exacta resposta do meu querido Amigo Chico Seixas da Costa, actual Embaixador de Portugal em toda a França. E o Seixas da Costa é bom de escrita. Veja-se, por exemplo, o livro que publicou em finais do ano passado, mais uma demonstração da sua escrita escorreita, perfeita, ótima (nv. Acd Ort)
Tem por título Tanto Mar? e subtítulo Portugal, o Brasil e a Europa. Resultou esta obra -interessantíssima e, como sempre, estilisticamente um monumento -, dos anos entre 2005 e 2008 em que foi Embaixador no Brasil.
Aproveito, até, com muita alegria e satisfação, este blogue para agradecer a oferta autografada que dele me fez. Bem haja, Chico!
Mas, toda a moeda tem reverso. Um pedido: arregimente-se no batalhão 4456/09 - Os Meus Seguidores. Não custa nada, zero euros, muito menos joia de inscrição ou quotas regulares. Nadinha, juro pela minha virgindade (1941/09/20).
Abração
Coitado do cozinheiro...Até na gastronomia é assim: quando muda a música, toca a mudar a ementa. Ah! este mundo não tem emenda!
Alegro-me de vir encontrar um comentário do menino Henriquinho no blogue do Sr. Embaixador Seixas da Costa.
Mas mais atrasado que o sósia do Fernão Mendes Pinto no Antigo Reino do Sião.
Essa coisa de jurar pela virgindade deixa-me a rir!
Se o menino Henriquinho já nasceu sem ela!
Simplesmente....delicioso !!
Forte Abraço
Rui M Santos
Lembro-me bem desse episódio do cozinheiro da Embaixada do Irão. Ainda nos rimos um bom bocado lá em Oslo à conta das chaves da Embaixada. Tivemos outros episódios hilariantes na altura da Guerra das Falkland à custa do teu colega da Embaixada da Argentina - Miguel Ángel, se a memória não me atraiçoa - quando entoávamos em côro "Las Malvinas seran Argentinas?"
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