sexta-feira, fevereiro 26, 2021

Não são saudades, é pena!


A casa tem hoje este aspeto desolador. Passei por lá, há poucas horas. Ninguém dirá, ao ver aquela ruína, que ali foi um dos restaurantes populares mais em moda na noite lisboeta.

No Painel de Alcântara, de início uma única sala, com uma cozinha muito simples à entrada, servia-se excelente comida. Na última metade dos anos 80, comecei a ser um cliente fiel da casa. E, até ao fim, continuei a sê-lo.

O Painel, nome que imagino derivado de um painel de azulejos com uma imagem de Lisboa que existia numa parede, onde a mão distraída do mestre-de-obras tinha cometido o lapso de colocar quatro azulejos ao contrário, dando um toque surreal ao conjunto, preponderava o meu amigo Cardoso.

Era um jovem nervoso, trabalhador incansável, que ia às cinco da manhã para a praça, com uma imensa atenção aos clientes. Na cozinha inicial esteve o Zé, que um dia foi chamado para a tropa e a quem uma moscambilha inocente conseguiu atrasar o recrutamento; ingrato, logo que liberto dessas lides, zarpou para outra casa, para imenso desgosto de quem usufruía da sua arte. No balcão das contas andava a Zezinha, uma jovem simpática, companheira do Cardoso, que um dia se cansou daquela vida, arranjou um emprego e deixou o homem inconsolável. Lia-se-lhe isso na cara.

O Cardoso teve muito sucesso com o Painel. Alargou a casa, comprou o espaço ao lado, ganhou fama e, sempre, mais clientes. Ali se ouviram fados! Chegou a ser difícil reservar mesa, mas eu nunca me pude queixar! O Cardoso, a certo passo, foi obrigado a ir ele próprio para a cozinha. Para assegurar a qualidade de uma oferta que nunca desiludiu. Viamo-lo desfazer-se em trabalho, com um ar cada vez mais cansado, magro e, sempre, agitado. Ganhou bom dinheiro, chamou irmãos para trabalhar com ele. Meteu-se em negócios e abriu outro espaço, ali perto. Também passei por lá. Mas algo não correu bem. 

Nas minhas passagens por Lisboa, nunca deixei de o visitar, de lhe dar um abraço, de amizade e de gratidão, pela imensa simpatia de que fui feliz destinatário. Via-o nervoso, cada vez mais nervoso. E triste. Entretanto, tinha casado, teve um acidente, esteve doente, a vida pessoal correu-lhe mal. O Painel, um dia, fechou e o meu amigo Cardoso desapareceu (*), dizem-me, vivendo lá para a Beira. 

As coisas não duram sempre, claro. Mas damos mais conta disso quando gostamos das coisas e das pessoas. Não são saudades, é pena!


(*) Depois de ter publicado este texto, soube que Adelino Cardoso morreu, em 2019.

Olhares noturnos (3)


Em 1954, Ferreira de Castro e Aquilino Ribeiro estiveram na origem da Sociedade Portuguesa de Escritores (SPE). Dois anos mais tarde, ela veio a ser autorizada pela ditadura. Em 1965, ao tempo em que era presidida por Jacinto do Prado Coelho, a SPE decidiu atribuir o Grande Prémio de Novela ao livro “Luuanda”, de Luandino Vieira, um militante nacionalista angolano então preso no Tarrafal. Dias depois, a SPE foi extinta, por despacho do ministro da Educação, Inocêncio Galvão Telles. Nessa mesma noite, um bando de legionários e fascistas correlativos assaltou e destruiu a sede da SPE. Só em 1972, já no marcelismo, a SPE viria a recuperar parte da sua memória, sendo então criada a Associação Portuguesa de Escritores (APE). Nos dias de hoje, a atividade mais relevante da APE parece ser atribuição de prémios literários, mas imagino que desenvolva outras ações a que eu tenha estado desatento. A sua sede fica na minha rua. 

quinta-feira, fevereiro 25, 2021

David Mourão-Ferreira


À meia-noite, na RTP Memória, produzido na RTP2 ("where else?"), teve início um excelente e já antigo documentário, com testemunhos sobre David Mourão-Ferreira, pedagogo e escritor, que morreu em 1996.

É minha impressão ou persiste, na sociedade cultural portuguesa, uma relativa falta de atenção em torno da figura e obra de Mourão-Ferreira? Ouve-se tanto incensar alguns outros escritores e tão pouco se fala de Mourão-Ferreira. 

Será a política? Será uma casta reação ao erotismo de alguma da sua poesia? É que pensei que um outro compreensível preconceito, fruto da competição por algumas senhoras, já teria ficado resolvido pelas inexoráveis leis do tempo.

Olhares noturnos (2)


Passei lá há pouco, nas minhas caminhadas noturnas. É a sede do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, em Lisboa.

O Centro foi criado em 1990, dedicando-se a promover a cooperação, em determinados setores, entre dois “mundos” separados por um fosso de desenvolvimento.

Pelo período de um ano, entre 2013 e 2014, fui diretor-executivo do Centro. Foi uma experiência interessante, que desempenhei “pro bono”, já após a minha aposentação do serviço público. Não me foi possível prolongar esse exercício, porque constatei que me ocupava demasiado tempo e obrigava a muitas viagens internacionais, mais do que aquilo que a minha nova vida profissional permitia.

Aproveito para aqui contar um episódio curioso.

Em inícios de janeiro de 2014, comigo ainda a chefiar o Centro, estive presente na sessão de cumprimentos de Ano Novo ao chefe de Estado português, como membro do corpo diplomático... estrangeiro acreditado em Lisboa.

As organizações internacionais apresentam-se, nessa cerimónia, imediatamente após os embaixadores bilaterais. Como “aquisição” recente, eu era, naturalmente, quase o último (senão mesmo o último) da fila dos diplomatas. 

No meu fraque (com colete claro, como é de regra para cerimónias diurnas, tal como o meu colega e “mestre” de Protocolo, José Bouza Serrano, sempre me recomendou), ali estava eu, naquele imenso salão de vidros e espelhos do Palácio de Queluz, aproveitando para uma conversa sempre divertida, em voz baixa, com o meu colega de fila, o meu querido e velho amigo (e vizinho!) Nazim Ahmad, representante em Portugal da Fundação Aga Kahn.

A certa altura, faltando ainda dois ou três diplomatas para o cumprimento a Cavaco Silva, este viu-me, à distância. Notei-lhe um olhar espantado: “O que é que este tipo está aqui a fazer?”, deve ter pensado. Nem se deve ter lembrado do Centro Norte-Sul! O qual, aliás, sempre fora dirigido por estrangeiros. Eu era o primeiro português a exercer essas funções.

Cavaco conhecia-me bem. Fora membro do júri do concurso em que fui admitido como diplomata, em 1975. Tinhamo-nos reencontrado numa visita dele à Noruega, em 1980, sendo ministro das Finanças, comigo ali em primeiro posto. Voltara a cruzá-lo, já como primeiro-ministro, em S. Tomé, em 1989, e, depois, em Londres, em 1992 e 1994, durante deslocações oficiais. Estava presente, como primeiro-ministro cessante, no dia em que fui empossado como secretário de Estado, em 1995. Em 2005, ocorreu ter sido o primeiro embaixador português a ser por ele recebido em Belém, logo após o início de funções como presidente da República. Algumas outras vezes por lá voltei, noscanos seguintes, acompanhando políticos brasileiros. E eu era embaixador português no Brasil quando Cavaco Silva ali se deslocou, em 2008.

Quando, nessa cerimónia em 2014, chegou a minha vez de o cumprimentar, e com o chefe do Protocolo, a seu lado, a entender que não valia a pena estar a explicar quem eu era, achei por bem esclarecer o que estava ali a fazer, integrado no corpo diplomático ... estrangeiro! Cavaco Silva sorriu imenso e ainda teve tempo para me perguntar como ia o Centro, que ele próprio tinha criado - como me lembrou - e com cujo futuro eu sabia que ele se preocupava.

Achei então que era capaz de ser excessivo revelar que fora eu quem, a pedido do ministério, nesse ano já longínquo de 1990, escrevera o discurso que ele tinha lido na cerimónia inaugural da abertura do Centro, creio que proferido no auditório do Monumento dos Descobrimentos (um local muito “na berra”, por estes dias).

Um diplomata, tal como Thomas More, é “a man for all seasons”. Aliás, naquele instante protocolar, eu era talvez a melhor prova provada disso mesmo!

quarta-feira, fevereiro 24, 2021

“A Arte da Guerra”




Na “Arte da Guerra” desta semana, falo com António Feitas de Sousa do novo tempo na Organização Mundial de Comércio, dos equilíbrios políticos na Catalunha depois das últimas eleições e da situação em Myanmar.

Pode ver carregando aqui.

Non grata

Um abraço amigo à Isabel Brilhante Pedrosa, embaixadora da UE na Venezuela. Está a ser uma "vítima colateral" da decisão europeia de impor sanções a figuras do regime.

A Isabel, contudo, que passou pela Líbia em guerra civil, está habituada a momentos bem complexos.

E difícil, isso sim!, é a situação do seu Benfica! Também haverá por lá "personas non gratas"?

Conselho amigo

Um conselho de amigo, com a maior e mais penosa autoridade: nunca transportem uma garrafa num tabuleiro!

Deputados

É sintomática do baixo nível a que isto chegou a linguagem que se vê usada por deputados, nas redes sociais, para criticarem colegas seus de outros partidos, bem como figuras do governo ou responsáveis da oposição. Nem sequer um mínimo de camaradagem política é respeitado.

Olhares noturnos (1)

 


Morte ao Acordo Ortográfico!

23- F


Recordo-me de que o seu nome era Flavia. O marido era herdeiro de uma família ligada a uma das mais conhecidas bebidas de Espanha. Era um casal divertido, extremamente agradável. Tínhamo-nos conhecido, dias antes, através do meu colega da embaixada espanhola em Oslo, Rafael (Rafa) Conde, em casa de quem passavam uns dias de férias.

Havíamos convidado os dois casais espanhóis para jantar, nessa noite, em nossa casa. Era o dia 23 de fevereiro de 1981. Os espanhóis, que gostam de crismar as datas com peso histórico, haveriam de chamar a esse dia o 23-F.

Pela tarde, chegaram notícias: um golpe militar estava em curso em Espanha. Hesitei em falar do assunto ao Rafa. Acabou por ser ele a ligar-me: “Já sabes o que se passa? Mantemos o jantar?”. Eu ri-me e disse-lhe: “Desde que não venhas fardado!” Ele esclareceu: “Sabes que os nossos convidados são ‘muy de derechas’!” Eu não era ingénuo: já tinha dado conta. E acrescentou: “A Flavia é sobrinha daquele que parece ser o chefe dos golpistas, o general Miláns del Bosch!”. Aí arrematei: “Não há problema! Traz ‘los fachos’ e depois logo se vê!”

A alegria da Flavia, naquela noite, era bem menos transbordante do que era seu costume. Pediu-nos, por duas ou três vezes, para poder telefonar para Madrid. O Rafa piscava-me o olho, com uma atitude contida, perante a coreografia que interrompia o jantar. Sempre que a Flavia regressava do hall onde estava o telefone, depois da consulta à família em sobressalto armado, perante um nosso “entonces?” mais curioso do que compungido, sentíamo-la cada vez mais chorosa.

Depois, na sala, os únicos canais de televisão que tínhamos, noruegueses e suecos, ainda davam um relato parco da cena nas Cortes. A heroicidade do trio - Mellado, Suarez e Carrillo - que não obedeceu ao berro fascista “Todos al suelo!”, do patético Tejero, só a viemos a saber muito depois.

A simpática Flavia viveu o resto da noite preocupada com o destino do tio. Eu, discreto, até à sua saída, como a educação de um anfitrião recomendava, aguentei com garbo a alegria que sentia com a prevista derrota daquele golpe de franquismo tardio. A certa altura, num instante de cumplicidade, atravessando a sala à distância, com um discreto esgar sorridente, eu e o Rafa tínhamos aproveitado para fazer um ibérico, democrático e silencioso brinde.

Só depois de todos os convidados saírem é que, já em família, se bebeu um copo à liberdade em Espanha. Tive pena, confesso, de não ter então à mão um álcool da produção do marido da Flavia...

terça-feira, fevereiro 23, 2021

A Mensagem de Lisboa


Já está nas bancas! Ou melhor, basta um clique e pode ler a Mensagem de Lisboa, uma bela e alegre aventura de jornalismo digital, alheia a politiquices e outras picuinhices, da lavra de Catarina Carvalho e José Ferreira Fernandes, com colaboração muito diversa. Promete! 

Carregue aqui.




segunda-feira, fevereiro 22, 2021

“Observare”


Esta semana, no “Observare”, Carlos Gaspar, Luís Tomé e eu, sob a coordenação de Filipe Caetano, falámos das tensões no mar da China e dos esforços para a estabilização do Sahel, sob a ameaça islâmica.

Pode ver aqui.

domingo, fevereiro 21, 2021

O Excelsior e o café de Timor



No desaparecido Café Excelsior, em Vila Real, na parede por detrás do balcão, havia um caixilho que enquadrava uns dizeres, escritos sobre um papel bege: “O melhor café é o de Timor”.

Eu era miúdo e, por essa época, nem café bebia, mas via o meu pai e o meu avô serem servidos do produto, pelo Manuel “Rato” ou por um outro empregado mais forte, com “pés de chumbo”, que era pousado naquelas mesas pequenas com tampo de mármore muito amarelado e raiado a verde, com açucareiros de metal com dupla tampa, connosco sentados numas cadeiras extraordinárias, em couro trabalhado, com as iniciais do café.

Timor era uma coisa distante, de que se falava muito pouco, uma terra no meio da Oceania, de onde não havia notícias. E, aprendi eu na vida, com assumida arrogância eurocêntrica, quando, do mundo “subdesenvolvido”, não há notícias, costuma ser bom sinal!

O Excelsior era um grande café de referência na nossa cidade.

Por aqui tenho falado dos seus bilhares - onde o Chico Menezes, o Olívio e o ciclista Firmino Claudino davam cartas - e da sua sala do dominó, onde, além do dito dominó, outras cartas também se jogavam.

(Hesito em referir, por pudor, a escada, a pique, para os sanitários, de onde, em tempos de calor, exalava um odor a ácido úrico que alguém, com óbvio exagero, disse um dia, que, abertas as janelas, “em dias regulares, enchia a sala das “permanentes” das senhoras do Pimentel cabeleireiro, atingia o largo do Vilarealense, e, em históricas rabanadas de vento, chegava a entrar pela Capela Nova e dava a volta à Misericórdia”...)

Creio nunca ter visto isso referido por escrito mas, nos anos 50, no Excelsior havia, por vezes, espetáculos, depois do jantar, com ilusionistas e outras figuras visitantes, dotadas para algumas artes. Pagava-se para assistir. Os espetadores eram, claro!, exclusivamente homens, porque as senhoras, nesse tempo, não iam aos cafés (a nenhum!) depois do jantar. Houve também por ali sessões de hipnotismo - eu vi! - e tenho na memória uma apresentação de um “fenómeno” que sabia 18 línguas (deve-nos ter baratinado, a nós que então sabíamos uma ou duas). Posso estar equivocado, mas nenhum outro café de Vila Real teve uma tão diversificada atividade artística.

Por que trago o Excelsior aqui hoje? Porque, para fazer o meu café de balão, uma “mão amiga” ofereceu-me um belo café de Timor, que juntei a outro que, há pouco mais de um ano, eu próprio trouxe da Colômbia. Fizeram um lote excelente!

Em tempo:

O meu amigo Mário Fernandes Pinto, que é o curador da memória do saudoso “Excelsior”, lembrou, a propósito deste num comentário no Facebook, um folheto do café onde se lê e que aqui reproduzo, com a devida vénia:

Bebi agora um café
que era mesmo um primor
e sabeis de onde é que é
é o café de Timor 

Este café só se toma
naquele café da esquina
onde vai depois que coma
toda a nossa gente fina 

E nunca ficareis mal
pois que eu digo e não me calo
que o EXCELSIOR de que falo

é um CAFÉ ideal
e agora já não me ralo
pois também lá vou tomá-lo

sábado, fevereiro 20, 2021

E os marcianos, senhores!




A sonda pousou em Marte. Mas ainda não vi nenhuma declaração sobre marcianos. 

As gerações pós-ET entraram num outro registo, mas, para a minha, os marcianos tiveram um papel mítico importante.

Por isso, o que é que eu peço? Apenas que nos ajudem a encerrar o assunto. Que nos digam se há ou não marcianos!

Custa assim tanto sossegar-nos?!

Isto agora começa a ser a sério!

 


Navegar foi preciso


Acho oportuno, no dia de hoje, recordar um texto que publiquei por aqui, há três anos, aquando do debate sobre um museu sobre a aventura marítima portuguesa:

“As viagens tituladas pela coroa portuguesa, desde o ataque a Ceuta, foram quase sempre operações de conquista (com exceção das desertas ilhas atlânticas), com toda a violência que isso à época implicava. Afonso de Albuquerque foi um guerreiro sanguinário e os outros capitães das frotas e das naus não devem ter sido muito mais meigos. Pode imaginar-se o modo como foram tratados os árabes, os negros ou os indianos e outros orientais que lhes apareceram pela frente, nessas expedições para encher alforges e porões, tendo como alibi ideológico a expansão da cruz. A captura e uso de escravos, com a desenfreada exploração laboral e sexual, fez parte integrante da empresa ultramarina e Portugal foi dos Estados europeus que prolongou essa selvática prática até mais tarde. O nosso atraso histórico é, aliás, recorrente: um século depois, quando já quase toda a Europa tinha descolonizado, por cá ainda se falava do “Ultramar” e do “Portugal do Minho a Timor”.

O Estado Novo, prosseguindo, aliás, uma velha narrativa colonialista republicana, pretendeu dar a essa aventura além-Europa uma aura de santidade civilizacional. Usou “Os Lusíadas” como bíblia apologética e capturou oportunisticamente em favor de um patriotismo de regime essa parte da nossa História, consagrando-a de forma caricatural, em textos e momentos hagiográficos, de que a Exposição do Mundo Português (que já ecoava modelos alheios) foi o mais curioso exemplo. A minha geração deve ter sido a última que foi atulhada por uma historiografia gongórica, de que muita da estatuária que por aí anda é aliás tributária.

A notável aventura marítima foi o que foi. Foi fantástica no que representou de inventividade e ousadia, marítima e não só, e o mundo credita-nos isso sem o menor problema, penso mesmo que muito menos do que deveria, à luz do esforço feito por um pequeno povo, numa ambição quase planetária. 

Acho, contudo, sem o menor sentido - e até de uma despropositada arrogância histórica por parte da geração atual, que parece achar ter o direito de poder julgar as anteriores - estar a fazer juízos de valor sobre atos cometidos à luz de conceitos e princípios que estavam muito distantes dos nossos de hoje.

Uma coisa é podermos reagir com horror a crimes cometidos na idade contemporânea, quando já vigoravam padrões de valores civilizacionais muito próximos dos atuais - como os assassinatos em massa promovidos pelos nazis, ou os crimes do colonialismo mais recente, já dentro do século XX. Outra coisa é andar a escolher seletivamente episódios ou práticas de um passado distante, assumindo culpas (repito, à luz dos princípios de hoje) por atos como a inquisição, o colonialismo ou a escravatura. É que, por essa ordem de ideias, estaremos, um destes dias, a pedir contas a alguém pela brutalidade das invasões bárbaras, antes da nossa nacionalidade. E esses ciclos nunca terão fim.

Voltemos às descobertas. São descobertas ou achamento, como se debateu no Brasil? Para Portugal, entidade invasora, detentora do olhar que enformou a sua perspetiva de titular desses atos, foram descobertas, de terras e de gentes que o poder português dominou - à força, claro, porque, que eu saiba, as operações de conquista foram sempre feitas pela violência, às vezes extrema e impiedosa. E, claro, com massacres, agressões de toda a ordem, desrespeito total pelos povos encontrados, por muito que, aqui ou ali, pudesse ter havido práticas menos constrangentes. Mas reconheçamos isso, com toda a frontalidade, agora sem ter de recorrer à ganga apologética que o discurso historiográfico da ditadura nos impôs, mas igualmente sem prescindir, nem por um segundo, de relevar o caráter fantástico e pioneiro da empresa das navegações, no que ela teve de avanço para o conhecimento e abertura do mundo.

Nós somos, como povo, o somatório dos vários segmentos sucessivos da nossa História. No terreno colonial, outros a sofreram para que, deste lado, o país de então pudesse beneficiar - na exploração dos recursos económicos e humanos, com uso de escravatura e trabalho forçado, ignorando e espezinhando as identidades dos povos, com práticas racistas em que o “outro” foi, muitas vezes, apenas uma “coisa”. Nesse aspeto, podendo a colonização portuguesa ter tido alguns matizes próprios, basicamente ela seguiu um padrão muito comum aos restantes conquistadores europeus. Foi o que foi e assim deve ser estudada, entendida e exposta, com total transparência histórica.

Dificilmente conseguiremos consensualizar uma discurso comum sobre a História. Aliás, não vejo qualquer vantagem nisso. No trabalho sério em torno do passado, importa apenas não esconder nenhum aspeto da verdade, devendo, contudo, estar sempre preparados para que essa leitura seja diferente, de acordo com as diversas perspetivas, também elas decorrentes da experiência de cada um. Divulguemos e exponhamos os factos, todos os factos.

Ainda no que toca ao debate sobre um museu sobre a aventura marítima e colonial portuguesa, acho, sem a menor hesitação, que deveria ser um “museu das descobertas”, da mesma maneira que devemos aceitar, com toda a naturalidade, que, do lado de quem sofreu uma invasão brutal do seu território, possa e deva ser feito um “museu da exploração colonial”. São as duas faces de uma mesma verdade. Pretender a reconciliação dos olhares, como que “hierarquizando-os”, nunca será aceite por todos, é um artificialismo que não conduzirá a nada. Em particular à tal verdade.“

É isto que eu penso.

Num Calvário, também


É um clássico da minha terra, no histórico Campo do Calvário.

O nosso Sport Clube de Vila Real (fez há pouco 100 anos, é um dos mais antigos clubes de futebol do país!), até dez minutos do fim, estava empatado com um dos seus adversários tradicionais. Provavelmente, o Desportivo de Chaves.

Vivia-se um ambiente de nervoseira desatada! A certa altura, num ataque glorioso, metemos um golo.

Da bancada, ergueu-se então um cavalheiro (de gravata e chapéu, como era de regra) que lançou para o campo, pelado como ele era, um berro que ficou na memória: “Vamos à dúzia!”

A assistência caiu de risota.

Não sei bem porquê, ao ver este título, lembrei-me daquela saída, grávida de esperança, a convocar uma boa risada. 

Num Calvário, também.

sexta-feira, fevereiro 19, 2021

O regresso de Bolsonaro


Há não muitos meses, eram bastantes os observadores da situação política brasileira que apostavam em como os dias do presidente Jair Bolsonaro estavam contados. Embora não fosse muito evidente o modo como ele podia vir a sair de cena - desde o “impeachment” até uma espécie de golpe militar “bondoso” -, tudo chegou a parecer melhor a muitos do que a continuidade de alguém que havia sido um quase negacionista da pandemia, que revelava uma flagrante impreparação para governar, com um executivo atravessado por frequentes crises e demissões. A fraquíssima prestação da economia e o agravamento de muitas políticas públicas apontavam um mau destino ao presidente.

Olhando para trás, muitos brasileiros que haviam votado Bolsonaro interrogavam-se sobre a opção tomada. Não porque estivessem arrependidos por terem contribuído para a derrota de Fernando Haddad, que substituíra Lula na “chapa” da esquerda, mas porque, manifestamente, Bolsonaro ficara muito abaixo das suas mais modestas expetativas.

Na realidade, Bolsonaro não foi eleito por si próprio, pela convicção maioritária na sua qualidade política, mas, pura e simplesmente, como cabeça de cartaz de uma coligação informal para travar o “petismo”. Claro que havia, e há bolsonaristas, pessoas seduzidas pelo seu discurso extremado, que vai do saudosismo da ditadura militar até à ideia de que, com o PT e o seu candidato no poder, o Brasil acabará por ter um futuro “venezuelano”.

Na Europa, curiosamente, nunca houve uma consciência real do impacto, por contraste, que o exemplo do “chavismo” sem Chávez havia provocado em muitos eleitores brasileiros. Além do mais, Lula e os seus foram sempre incapazes de condenar o regime de Caracas.

Enquanto largos setores da opinião pública internacional partilhavam alguma admiração pela figura de Lula, positivamente marcados pelo modo como a imagem do Brasil se tinha prestigiado nos seus anos de poder, uma maioria de eleitores, sinceramente convicta de que a corrupção tinha passado a estar na matriz do “petismo”, consagrou no voto em Bolsonaro toda a sua indignação.

Foi essa perspetiva de rejeição que ganhou e, com ela, Bolsonaro foi eleito.

À época, tinha ficado evidente que os políticos conservadores tradicionais haviam perdido a sua oportunidade, suspeitos que eram também de moscambilhas financeiras, surgindo muitos deles envolvidos em escândalos que minaram as suas hipóteses de serem escolhidos. Bolsonaro, vindo de fora do sistema, foi o feliz usufrutuário deste desencanto generalizado.

O novo presidente teve uma gestão errática. Começou por condenar a “velha política”. Esta resistiu, conseguiu convencê-lo de que era impossível obter soluções governativas sem o apoio dos partidos do “centrão”.

E, de um dia para o outro, o presidente optou por “costurar alianças” com os inimigos da véspera. Travou assim os riscos de “impeachment”, alargou a governabilidade, abrindo o governo a antigos críticos. E pode mesmo vir a conseguir ser reeleito.

O futuro da Europa


Nota-se, em alguns meios, um sopro de entusiasmo a propósito da ideia de uma nova conferência sobre o futuro da Europa. Começo por confessar que acho essa conferência, no momento que atravessamos, aquilo que alguns costumam crismar de uma falsa boa ideia.

Mas, é claro, se o tema vier a prosperar, não há como fugir-lhe. E, nesse caso, haverá que desenvolver uma posição portuguesa sobre o assunto, a qual, a meu ver, deveria ter um suporte político interno tão alargado quanto possível.

Vale a pena ter a coragem de assumir que o tão vilipendiado “centrão” foi a base política que nos permitiu, ao longo das últimas décadas, estruturar uma atitude europeia consistente, coerente e, o que é mais importante, vista de fora como uma vontade maioritária. Se a política europeia de Portugal tivesse ficado à mercê do vai-e-vem do CDS, do negacionismo do PCP e dos zigzags do Bloco, não teríamos ido longe.

Recorde-se que, por muitos anos, e desde o documento inicial de Roma, a estrutura institucional da Europa permaneceu inalterada. Foram o Ato Único Europeu e o Tratado de Maastricht que vieram a consagrar novas e substanciais adaptações de fundo no modelo de cooperação entre os Estados membros. Uma saudável onda de ambição atravessou então o projeto, soprada pelo ambiente do fim da Guerra Fria e pela noção de que uma Europa-potência, mais do que uma Europa mercado, era então possível, ancorada no eixo-franco alemão. A diluição dos nacionalismos, as oportunidades da globalização e, muito em especial, as vantagens óbvias do Mercado Único e o pesado custo da “não-Europa”, para usar a bela expressão de Delors, tudo isso criou um ambiente de euro-entusiasmo. Daí também o projeto do euro, em que já só alguns se empenharam, tal como, para a liberdade de circulação de pessoas, foi criado o acordo de Schengen.

Houve sempre, como sabemos, alguma ambiguidade quanto ao destino final do processo europeu. Uns diziam-se favoráveis a um salto federal, outros (entre os quais Portugal sempre esteve) privilegiavam um aprofundamento progressivo, outros ainda mostravam ser companheiros relutantes de jornada. Alguns mudaram entretanto de posição; nós não. Com pressões e cedências, foi-se andando.

A perspetiva de um grande alargamento, proporcionada ou forçada pelo fim da Guerra Fria, levou a que se procurasse adaptar as instituições, tendo como preocupação essencial a sua funcionalidade, para que a paralisia decisória nunca viesse a ter lugar. E, de caminho, foram aumentadas as competências da União, em especial em áreas que se tornavam essenciais para assegurar o êxito do mercado interno. Foram esses os passos dados em Amesterdão e Nice.

Ainda na lógica “delorsiana” de que a Europa é como uma bicicleta, isto é, de que é necessário continuar sempre a pedalar, sem o que se cairá para o lado, houve o sonho do Tratado Constitucional, logo travado pelo pesadelo dos referendos frustrados na França e nos Países Baixos. Com um jeito jurídico muito à moda de Bruxelas, foi possível dar a volta ao texto e retirar dele alguns dos seus maiores “escândalos” semânticos. E daí surgiu o Tratado de Lisboa, concluído durante a nossa presidência de 2007. É onde estamos hoje.

O que se passou na Europa, desde então? Muita coisa. Houve a crise financeira, seguida da das dívidas soberanas, emergiu uma inesperada e pouco saudável “diversidade” nas questões migratórias e no acolhimento dos refugiados, em certos Estados membros foi detetada uma deriva face aos compromissos de respeito pelos princípios do Estado de direito democrático.

A obsessão com a estabilidade financeira levou, entretanto, a gizar um outro tratado intermédio. A saída do Reino Unido trouxe, simultaneamente, um enfraquecimento do projeto mas, igualmente, para alguns puristas a ideia de que, finalmente, se pode caminhar sem esse empecilho.

Refundar a Europa? No estado de divisão interna que o projeto atravessa, com pulsões soberanistas e opiniões públicas a tê-la como bode expiatório das suas frustrações e medos, acho um suicídio tentar uma nova “síntese” a 27. Mas logo veremos!

Entrevista


Nunca tinha visto esta entrevista, depois de a ter gravado! Foi em 2008 que tive esta conversa, muito simpática, com Marina Pimentel e José Manuel Fernandes, difundida na RTP e na Renascença, editada também no Público.

Não tinha tido oportunidade de vê-la. Aqui entre nós, já nem me lembrava do que tinha falado! Hoje, uma pessoa mandou-ma.

Devo confessar uma imensa surpresa. Caramba! O embaixador português em Brasília permitir-se falar, para além dos temas do Brasil - língua portuguesa, CPLP, relações Brasil-EUA, conselho de segurança da ONU, relações brasileiras com Angola - do Iraque e de Bush, da atitude de Cavaco Silva sobre o reconhecimento do Kosovo, das relações com a China, da questão do Tibet e do modo como o Dalai Lama foi recebido em Portugal, de Timor, da política portuguesa de Direitos Humanos, da polémica em torno da presença portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim, da política europeia de Portugal, das relações transatlânticas e do modo como nós e Europa olhamos os Estados Unidos, enfim, da política externa portuguesa como um todo, foi uma imensa ousadia! Ah! E, 13 anos passados, não me arrependo do que disse, mas arrependo-me (muito!) da gravata!

(Apesar disso, alguém, que teve a paciência de ver e ouvir o que eu disse, avaliou: “Foste muito oficioso!”. Pudera! Era o mínimo que eu podia fazer!)

Dito isto, confesso que achei graça “rever-me”. Mas isso é normal! No passado, o futuro era melhor!

Pode ver aqui.

quinta-feira, fevereiro 18, 2021

“A Arte da Guerra”


Em conversa com António Freitas de Sousa, no “Arte da Guerra”, do “Jornal Económico”, abordamos hoje em video as próximas eleições legislativas em Israel, as pressões chinesas sobre Hong-Kong e a profunda crise político-social em que está mergulhado o Líbano.

Pode ver aqui.

Retrovisor


E é assim que se fala de Portugal por terras de De Gaulle.

Vou escrever uma carta de protesto ao Jean-Jacques Servan-Schreiber.

Vacinas

Dos 193 países que fazem parte da ONU, 130 ainda não receberam uma única dose de vacina.

O mundo não tem vergonha!

“ A Arte da Guerra”


Numa conversa com o jornalista António Freitas de Sousa, a que o “Jornal Económico” deu o nome de “A Arte da Guerra”, falamos da situação atual nos Estados Unidos, do novo governo italiano e do futuro do Kosovo, depois das recentes eleições legislativas.

A conversa pode ser vista aqui.

quarta-feira, fevereiro 17, 2021

Tratar do jardim


Para o mundo, George Schultz era a imagem sorridente da diplomacia dura dos Estados Unidos, no tempo de Ronald Reagan. Tendo substituído o erro de “casting” que tinha sido a escolha de Alexander Haig para o Departamento de Estado, Shultz revelou-se um pragmático inteligente.

Conseguiu o raro “milagre” de ter boas relações com o Conselheiro de Segurança Nacional, Colin Powell, e entendeu-se, às mil maravilhas, com Reagan, cujos instintos soube aproveitar muito bem e cujas gafes foi procurando evitar.

Coube-lhe desenhar, com reconhecido mérito, um tempo de aproximação tática com uma União Soviética que acelerava a sua decrepitude, a qual acabaria por redundar na sua implosão, resultante histórica para a qual, diga-se, os Estados Unidos muito trabalharam.

Schultz, de quem o mundo há muito não ouvia falar, morreu agora, com 100 anos.

Creio ter sido nas suas memórias que Schultz crismou a ideia de que fazer diplomacia era, basicamente, como tratar de um jardim: era necessário dar atenção constante aos diversos canteiros, em especial evitando que as ervas daninhas acabassem por arruinar o espaço. Peço perdão, se a metáfora não era exatamente assim, mas cito de cor.

Não sendo uma coisa muito sofisticada, a ideia tem os seus méritos práticos. Manter um mínimo de atenção em relação a cada uma das vertentes daquilo que constitui um quadro de relações externas, não deixando que um excesso de concentração em algumas temáticas, conjunturalmente mais relevantes, obscureça as outras dimensões e as deixe degradar, parece uma linha política saudável.

Os Estados são como as pessoas e, às vezes, também ocorre os espaços políticos serem amigos entre si. E os amigos cultivam-se, frequentam-se. Deixar cair, por desleixo diplomático, algumas dimensões nas relações internacionais é uma péssima prática. Não é prudente, nem sábio.

Vem isto, uma vez mais, a propósito da União Europeia e da sua afirmação externa. Pode ser que alguns achem errada esta perceção, entendendo que ela não corresponde à realidade dos factos. Mas, em política, como diria o outro, o que parece é.

E a mim parece-me muito evidente que, obcecada com o errático parceiro transatlântico, irritada com Moscovo, atrapalhada com a China, a União não presta a devida atenção à dimensão mediterrânica de onde emanam tantos problemas, tem uma retórica rotineira para a África, vive apenas a sua vocação comercial com a América Latina.

Se Bruxelas esquece isso, há que lembrar-lhe. E as presidências também servem para tal.

terça-feira, fevereiro 16, 2021

Carmen Dolores


Há dias (melhor, há noites), nas minhas voltas noturnas, passei por lá, pelo espaço onde foi a Casa da Comédia. Creio que foi já há bastantes anos que desapareceu aquele pequeno teatro na Lapa.

Devo lá ter ido umas duas ou três vezes. No entanto, apenas recordo uma única peça, com Carmen Dolores e Augusto de Figueiredo. E, pelas datas, só pode ter sido “A dança da morte em doze assaltos”, de Dürrenmatt, em 1972, encenada por Jorge Listopad, que tinha sido meu recente professor de ... russo!

Lembro-me da voz inconfundível de Carmen Dolores. E também de Augusto de Figueiredo, com uma maneira de dizer um pouco “à antiga”, muito enfático, mas um excelente ator. 

Mas nada dessa memória de vozes tem a ver com essa minha ida à Casa da Comédia. Nesse tempo, a (única) televisão que existia passava imenso teatro. Por isso, quem tem hoje uma certa idade viu representar, em teatro televisivo, todos os grandes (e outros um pouco menos) atores portugueses. E quem é mais novo também assistiu a alguns a reconverterem-se às telenovelas, porque tristezas não pagam dívidas.

Há pouco, foi noticiado que Carmen Dolores morreu hoje, com 97 anos.

Nas conversas não há cedilhas

Ia eu, pela noite, a fazer a minha caminhada, quando chegou o telefonema, de um amigo, leão e de forte esquerda: “Dupla vitória, não foi?”.

O Sporting tinha acabado de ganhar 2-0. Mas ”dupla vitória” porquê?

“Então! Ganhámos e derrotámos o Paços!”.

Nas conversas não há cedilhas...

segunda-feira, fevereiro 15, 2021

A Ajuda, Trotsky e o “Expresso”


Parece que já muito pouca gente se lembra da “pouca vergonha” que era a entrada traseira do Palácio da Ajuda, aquela chaga sinistra num edifício com alguma dignidade, mas que, à moda de Santa Engrácia, ficou incompleto mais de dois séculos. Mas, para que isso se atenue, vou deixar aqui uma retrato desses tempos.

Recordo-me de discussões, nos anos 80 e 90, sobre a necessidade de pôr cobro àquela indignidade, como tenho ideia de outros projetos surgidos, e nunca levados à prática, que foram engrossar a imensa torre do tombo onde foram têm sido arquivadas ideias arquitetónicas que nunca disso passaram.

Nos anos em que Luís Castro Mendes foi ministro da Cultura de António Costa, a ideia de “fechar” aquele espaço, com uma obra de novo estilo, foi retomada.

Saudei-a, com sincero entusiasmo, por aqui. Brinquei então com o facto de que o ministro poderia ficar “na História” se conseguisse lançar as bases da conclusão do palácio. E ele conseguiu.

Um dia, com a pompa republicana e os capacetes de segurança da praxe, lá vi Castro Mendes e Fernando Medina arrancarem com a obra - a qual, para surpresa de muitos, avançou mesmo e, ao que parece, vai agora concluir-se.

Castro Mendes, entretanto, deixou o governo, mas a obra que lançou, e cuja iniciativa promoveu, ali está e vai ficar, à vista de todos.

O “Expresso” publicou, entretanto, um longo texto sobre a obra. Mas aí consegue, voluntária ou involuntariamente, com a capacidade de ilusão de um Luís de Matos, retirar Castro Mendes da "fotografia". Terá sido deliberado? Nem quero crer!

Quem há muito conhece Luís Castro Mendes, como é o meu caso, sabe que ele andou, em tempos, nas bordas do “trotskismo”, essa doutrina persistente que sempre me surge, bem vincada na cabeça, quando dou por mim a partir gelo com um martelo.

Ora sabe-se que Trotsky foi, militantemente, "apagado" das fotografias históricas por Stalin, seguramente por tricas bolchevistas de alcova, que não vêm aqui para o caso. Houve mesmo um tal Mercader que se meteu ao barulho.

Não se suspeitava, no entanto, é que o “Expresso” pudesse sofrer, nos dias de hoje, de uma qualquer deriva estalinista, anti-trotskista, disso resultando o "apagamento" de Castro Mendes da fotografia das obras do Palácio da Ajuda.

Não excluo, repito, que possa ter-se tratado apenas de um erro pontual. Mas, a sê-lo, e sendo os factos o que são, não ficaria mal ao “Expresso” reconhecê-lo.



domingo, fevereiro 14, 2021

De capot aberto


O país do mundo onde me recordo de ver mais capots de carros abertos foi, sem a menor dúvida, a República Democrática Alemã. Por aquelas ruas e estradas, os históricos Trabant pareciam ter sido construídos para estarem com a bocarra à espera de um mecânico ou, muito simplesmente, sedentos de óleo ou água.

O Trabant foi uma espécie de Carocha de terceira classe, criado do outro lado do muro. Há não muitos anos, já na Berlim sem a parede a meio, assisti a um desfile de Trabant, hoje uma relíquia dos “maus tempos” do Leste Europeu - embora eu saiba que, lá no fundo, ainda há por aí uns saudosistas desse triste mundo a-preto-e-branco.

Lembrei-me dos dias dos Trabant quando, há pouco, fiz figura de cidadão leste-alemão numa rua de Lisboa. De capot do meu carro aberto, com o aquecimento do carro a saltar, num instante, do amarelo para um vermelho alarmante, lá fui eu, em dia de confinamento, de táxi, à procura de líquido refrigerador.

Pois isso! As estações de serviço hoje só vendem combustíveis e “comida empacotada”, como me foi dito em dois desses locais.

Desde há muito tempo que criei uma carapaça psicológica, algo artificial mas muito eficaz, que me tem dado um jeitão: quando alguma coisa me corre mal, nas coisas simples da vida quotidiana - se um vidro se parte, se um pneu tem um furo, se há um risco novo na pintura, se perco os documentos ou as chaves -, dou a mim mesmo apenas um minuto para me aborrecer com o assunto. E, a partir daí, penso: “É a vida!”. E não perco nem um segundo mais do meu tempo a blasfemar contra a sorte. Era só o que faltava que um qualquer azar me viesse estragar os dias! Em tempos normais, aliás, quando uma coisa assim acontece, procuro rir-me e vou mesmo beber um copo, de homenagem à imensa sorte que é estar vivo. (Em anos fora da pandemia, costumo usar o mesmo truque para as derrotas do Sporting. E também funciona! Nesra temporada, não tem sido preciso. Cruzes! Canhoto!)

O simpático taxista, que tinha ido comigo tentar encontrar o líquido refrigerador, constatada a impossibilidade de compra, iniciou logo um discurso a atacar as regras impostas às lojas, a insensatez de não deixarem vender óleo e outras coisas assim. E, claro, como qualquer sábio de esquina, tinha teoria assente de como “devia ser”.

E deve ter ficado um pouco desiludido quando me viu reagir num sentido em tudo contrário ao seu: “Isto não tem a mais pequena importância! Passa-se por um indiano, compram-se duas garrafas de água e desenrasca-se o assunto. Com um dia tão bonito como está, só faltava eu estar a aborrecer-me com as regras do confinamento. Se as coisas têm de ser assim, que sejam, pronto!”

O homem embatucou. Tinha querido ser solidário com a minha (moderada) desventura e via-me (não via, porque eu usava máscara) a sorrir com a vida, mesmo com o dia a não me correr de feição. “Que tipo estranho!”, deve ter pensado! E lá me levou de volta ao meu carro, que continuava de capot aberto, a arrefecer, ajudando-me mesmo a pôr a água do Luso, muito por conta da boa gorgeta que eu lhe tinha dado.

Contei, divertido, esta história a um amigo, a quem telefonei a pedir um conselho sobre os tempos do fim do meu carro (que, com mais de 15 anos, bem mais de 200 mil kms e a gastar mais do que 10 litros de gasolina aos 100, já está a pedir reforma ou “lay off”).

Ao ouvir a reação que eu tinha tido perante os protestos do taxista, teve esta saída: “Havia de ser no tempo do Passos! Estavas aí a clamar contra o governo, não era?”.

E não é que ele é capaz de ter alguma razão?! O que só prova que o António Costa no governo me põe bem disposto. Pode dizer-se melhor de um governo do que afirmar que ele nos põe bem dispostos?

(E, agora, façam favor: os comentários são livres).

“Observare”


No “Observare” desta semana, na TVI 24, falamos das eleições na Catalunha, no quadro dos equilíbrios políticos em Espanha, bem como das aventuras de Josep Borrell no país de Vladimir Putin, com análise à diplomacia de uma Europa muito dividida estrategicamente. Por mim, falei tambem dos direitos de cidadania das mulheres na Arábia Saudita e da repressão aos dissidentes na China.

O programa pode ser visto aqui.

sábado, fevereiro 13, 2021

Um Presidente é assim!



Há dias, publiquei por aqui uma fotografia do arco da rua Augusta. Também o fiz no Twitter. Alguém, olhando o cabo que pendia, à vista, perguntou por lá: “Que cabo é aquele?”

Respondi que era “o cabo dos trabalhos”. E acrescentei: “Já pedi ao Fernando Medina para o tirar. Tentarei de novo, para a semana”.

(Claro que não tinha pedido nada! Era pura brincadeira).

Passaram 48 horas. No mesmo Twitter, Fernando Medina publica uma nova foto do arco, já sem o cabo pendente, com a nota: “Já foi retirado, caro Francisco. Cumprimentos”.

Estar atento à cidade a que preside qualifica um Presidente.




Um mau dia


Era preciso resolver aquele assunto, que já se arrastava há uns tempos. Se tentasse fazê-lo através do MNE, com ofício para cá e para lá, as coisas não iam funcionar. Provavelmente, um contacto com a pessoa certa seria suficiente para desbloquear o problema. E pessoa certa era o presidente da Câmara Municipal de ... Eu tinha-o conhecido, uns anos antes, e lembrei-me de lhe telefonar.

Era então embaixador em Brasília. Disse à minha secretária: “Ligue-me para Portugal, para a secretária do presidente”, acrescentando o nome da Câmara que o homem chefiava. Como mandam as regras de boa educação telefónica, disse que me passasse o secretariado, porque queria já estar no outro lado da linha, quando o edil viesse a atender.

Passaram uns minutos e a minha secretária disse-me que estavam a responder do gabinete do presidente. Era uma voz de senhora. Estranhei o tom que me chegou do outro lado, num registo muito baixo, quase sussurrante. Expliquei quem era e que gostaria de falar uns minutos com o “senhor presidente”.

Notei que a senhora, embora muito delicada, continuava um tanto atrapalhada. Começou por dizer: “Vai ser difícil!” Eu percebia que o homem podia estar em reunião, que não fosse possível interrompê-lo. Tantas vezes me acontecia a mim o mesmo. Perguntei a que horas podia ligar ou se seria possível ao ”senhor presidente” ligar-me de volta.

A atrapalhação, do lado da senhora, continuava. “Hoje vai ser mesmo muito difícil!”. Pronto, paciência, tentaríamos num outro dia! E preparava-me para desligar, dizendo à minha secretária para me relembrar o assunto, quando a minha interlocutora, sempre quase ciciando, adiantou as razões, bem fortes, para o impasse: “Sabe, o senhor presidente está ali ao lado, no gabinete, com a Polícia Judiciária, que veio, de surpresa, revistar as papeladas da Câmara! Hoje é um dia mau!”

Caramba, claro que era um péssimo dia! Não se falava mais nisso! Desliguei, disse que esperava que corresse “tudo bem”, já com pena do homem, embora não fizesse a mais leve ideia do assunto que o envolvia. E tive o pudor de não insistir, nos dias seguintes. Aliás, nunca mais liguei!

Anos mais tarde, na imprensa, vi que todas as imputações que tinham levado as autoridades da justiça ao seu gabinete, nesse malfadado dia em que eu tinha tido a extraordinária “pontaria” de lhe telefonar, não tinham o menor fundamento. Era um homem honestíssimo!

Por que é que me lembrei disto, agora? Porque, há minutos, numa notícia digital, já antiga, me surgiu o nome do homem. Ah! E o meu assunto? Sei lá! Pode ser que o tempo o tenha resolvido...

sexta-feira, fevereiro 12, 2021

Forum Demos


Álvaro Vasconcelos anima o “Forum Demos”, onde regularmente se passam debates do maior interesse. Foi esse o caso hoje.

quinta-feira, fevereiro 11, 2021

“Take away”


Não achas que pode ser um pouco chocante, neste tempo em que há mais gente desempregada, em que tantas famílias passam por dificuldades, estar a falar de serviços de “take away” de restaurantes, que não são propriamente baratos, a que nem todos podem ter acesso?”.

Há pouco, ao referir, ao telefone, a uma pessoa amiga, a minha intenção de dar nota de três restaurantes aos quais, nos últimos tempos, recorri, para encomendar refeições, recebi a resposta com que abro este texto.

E respondi assim: “E achas que as pessoas que trabalham nesses restaurantes não têm família para sustentar, não precisam de encomendas e não têm de fazer algum negócio para pagar as rendas e os seus empréstimos?” A pessoa amiga concordou.



Pronto, aqui vai o que quero dizer: mandei vir refeições dos excelentes “Salsa & Coentros”, do “Poleiro” e do “Nobre”.

Nos três casos, fiquei muito satisfeito com o serviço. E isto não é publicidade. Foi um serviço pago, a preços que não me pareceram excessivos. É só isto que queria dizer.



“Flatiron” à moda da Madragoa


 

quarta-feira, fevereiro 10, 2021

“Atlantic Talks”


Filipe Santos Costa é um jornalista cujas qualidades ultrapassam, em muito, a peculiar circunstância de partihar comigo as mesmas iniciais. Leio-o por aí com regularidade e, gostava de dizer, tenho pena de o não ler mais. Quem quiser perceber a política portuguesa de décadas recentes não pode deixar de conhecer a obra sobre o jornal “O Independente” que, há alguns anos, escreveu com Liliana Valente. Não sei mesmo se alguns já lhe perdoaram essa ousadia...

Há semanas, chegou-me, “por mão amiga” (já não se vê muito escrita esta simpática expressão antiga), um livro, editado pela Fundação Luso-Americana (FLAD), em que Filipe Santos Costa entrevista vinte personalidades portuguesas sobre a influência dos Estados Unidos da América em Portugal, nos últimos 35 anos, os mesmos que a FLAD leva de existência. O volume chama-se “Atlantic Talks” e traz-nos visões, frequentemente bastante informativas, sobre diversas áreas. As entrevistas podem ser apreciadas nos “podcasts” originais.

Os livros institucionais são, muitas das vezes, uma imensa chatice, servindo apenas para encadernar a rotina da casa que os edita e encher-nos as estantes. Não é, manifestamente, o caso de este. Rita Faden, presidente da FLAD, está de parabéns por esta bela iniciativa.

Não vou destacar nomes, dentre os entrevistados no livro, para que se não diga que, a contrario, estou a não querer relevar outros. Nem sequer vou colocar a fotografia da capa, indiciando alguns dos entrevistados, para não facilitar a vida aos medíocres preguiçosos do “Ah! O livro tem uma entrevista com essa? Ora aí está uma boa razão para não o ler!”.

Imagino que, no site da Fundação, possam saber mais sobre esta bela iniciativa.

Fomento de polémica

É chicana politiqueira a polémica sobre a escolha do presidente do banco de Fomento. Haverá, no mundo financeiro, alguém que tenha capacidade técnica para presidir a um banco e que, simultaneamente, não tenha passado por instituições bancárias onde tenha havido problemas?

RTP

Não deve haver órgão de comunicação cujas “bad news” sejam tão “saudadas” pelos seus “camaradas” de “métier“ como a RTP. A bisbilhotice sobre a vida da empresa tem mesmo os seus “especialistas“ quase diários, acolitados por compacentes “correspondentes”, que lhes alimentam o fel da má língua.

CDS

Acabam de me garantir que não tem o menor fundamento a ideia, posta a correr, em alguns meios maldosos, de que a crise que abalou o CDS, nas últimas duas semanas, teria sido criada com o único objetivo de garantir ao partido alguns títulos e artigos de imprensa, bem como tempo de antena nas TVs.

Brasil

Olhando o debate político no Brasil, fica a sensação de que o PT, ao insistir na aposta no nome de Lula e, no caso de ela falhar, no seu “genérico” Haddad (o nome menos ”poluído” dentro das ”cartas” que o partido pode apresentar), não terá aprendido suficientemente as lições do passado.

Ao pretender continuar a hegemonizar a liderança da esquerda, sem fazer um compromisso de modéstia com forças e personalidades mais ao centro, o PT pode estar, irremediavalmente, a afastar-se da possibilidade de voltar a ser uma alternativa de poder.

Em baixa!



A Baixa está bastante em baixo! Melhores fotógrafos e mais turistas virão! 

Um poder solitário


Há dias, ao ver o ministro russo Sergei Lavrov assumir uma atitude de arrogância para com o chefe da “diplomacia europeia”, Josep Borrell, travei, num segundo, a vontade de rir que a cena me deu. Era a União Europeia que ali estava a ser humilhada - e isso não deve regozijar quem se sente solidário com esse projeto. Naquele instante, contudo, tive uma melhor perceção do drama que, nos dias de hoje, atravessa o poder europeu, na sua expressão internacional.

Não vale a pena entrar muito pelo detalhe do óbvio, que já foi dito e redito: a União Europeia é um gigante económico e um anão político. Já foi mais gigante e já foi mais anão. Sob o impulso de alguns Estados membros e desajudado por outros, a União tentou, nas últimas décadas, afirmar-se no cenário internacional das potências. Quer o Brexit quer os anos Trump funcionaram, contudo, a contra-ciclo desse objetivo, a que o Tratado de Lisboa tinha procurado dar algum músculo internacional.

Onde está hoje a Europa, como poder, pelo mundo?

Com a Rússia, depois de, há anos, ter alinhado na aventura ucraniana da administração Obama, soprada pelo ódio anti-Moscovo que prevalece no Leste da sua geografia, a União tem a relação que ficou patente na cena Lavrov-Borrell. Há quem deseje um divórcio total com Moscovo, há quem veja a Rússia como parceiro incontornável mas, por ora, algo incontrolável.

Com os EUA, ignorada no primeiro discurso sobre política externa de Joe Biden, Bruxelas pode estar já a pagar o preço de um apressado “acordo de princípio” de investimento com a China, o qual, sendo uma afirmação legítima da sua “autonomia estratégica”, arrisca consequências nefastas no relacionamento transatlântico. Se o pendor multilateralista da nova administração americana abre um mundo de esperanças, há muito quem, na Europa, não esteja disponível a comprar a boa vontade americana a custo de uma subalternização e tutela política.

Com a China, a Europa não se decidiu ainda sobre o que fazer: como compatibilizar o aproveitamento das fantásticas oportunidades económicas sem perder o ensejo de se mostrar firme perante as posturas autocráticas, e estrategicamente desafiadoras, de Beijing.

E poderíamos continuar, por aí adiante. A verdade é que a União Europeia dos novos tempos é um compósito com contradições internas longe de superadas, espelha interesses frequentemente contraditórios e, o que é mais preocupante, não parece a caminho de afirmar uma unidade de propósitos estratégicos. Ora isso é que carateriza uma potência.

terça-feira, fevereiro 09, 2021

Medidas de contingência

 


A mulher coragem


É uma mulher com algumas vidas, com muitos livros, com imensos amigos, com uma coragem acima do mundo. À minha amiga Leonor Xavier, a existência tem pregado partidas, sustos e, às vezes, jogado com ela às escondidas. A Leonor, com aquela voz rouca e doce que, à primeira vista, poderia transportar um discurso naïf, é alguém que descobriu que as dificuldades se agarram de caras, que os problemas se resolvem combatendo em terreno aberto. É uma cabeça arejada, positiva, que olha as pessoas de frente, guiada por uma ética à prova de bala, com valores que caldeou ao longo dos anos. Quando saímos do seu convívio, das conversas sempre interessantes que com ela temos, fica-nos uma admiração imensa pela sua força e determinação. Posso dizer uma coisa muito sincera, sem correr o risco de se julgar que estou a fazer um ’número’?: saio sempre melhor do que me sentia, depois de falar com a Leonor, nem que seja apenas pelo telefone. Mas, claro, tenho saudades dos almoços lentos no Ribatejo, das ocasiões em que ela sabe juntar a gente certa, para horas divertidas, coisa que a pandemia interrompeu. Lembrarei para sempre aquele seu aniversário louco, com baile, na Barraca! E a poesia na igreja do Rato. E o debate sobre o Brasil no El Corte Ingles. E as histórias com Sérgio Godinho e Nélida Piñon no CCB. E também me fazem falta as noites na Dois, no Procópio, com a Leonor a dar a deixa para as gargalhadas da Alice. Em outros tempos, também com o Raul por lá, depois os tempos passaram a ser com alegres saudades dele. A Leonor faz sempre da vida uma festa - e, para nossa sorte, convida-nos para ela!

A Leonor publicou agora, renovada, uma carta que acho que devia ser lida por muita gente. Quando há tanto défice de esperança, há por aí gente, como a Leonor, que tem um admirável superávite de coragem. Como podem ler aqui.

Os Estados Unidos e a China


 Pode ler aqui.

A União Europeia e a Rússia

 


Leia aqui.

Deve haver uma sa-brosa...

 


B & B

Há bastantes anos que ouvia falar daquele restaurante, situado numa certa capital de distrito, onde não vou muito e onde tinha escassas refe...