“Sai um cafezinho, bem cheio, p’ró senhor Madureira!” “Aquele Trump, só a tiro!” “Eu cá, acho que a história do gajo do Irão está mal contada...” “E ninguém fala de Israel, que esteve por detrás daquilo tudo?” “Você absolvem os aiatolas, mas aquilo no Irão é uma ditadura!” “Está bem, está, mas se fôssemos matar todos os ditadores, nunca mais se acabava...” “Então e o Trump não andou aos beijinhos com o maluquinho da Coreia, o das bombas?!” “Os americanos é para o lado que lhes dá mais jeito. Tanto apoiam ditadores, como os perseguem.” “E o Putin? Está ali, está para ficar para sempre!” “Às tantas, se não criar mais chatices, até é bom que fique”. “Viram a entrevista da engenheira de Angola? Aquilo é que é uma santinha!” “Da Ladeira, digo eu!”. “Sorte para logo, ó Leitão! É bom ser do Belenenses, nestes dias!” “De qual Belenenses. Agora há dois, não é?” “Mau, mestre! Lá começam as provocações”.
A coreografia dos cafés, dos croissants com fiambre, da meia de leite, da torrada “em pão de forma, com manteiga só de um lado”, do pingado “ali para a senhora dona Amélia”, foi abafando a sociedade das nações em que aquele espaço se tinha transformado, por minutos, esta manhã. A conversa já ia no futebol, único tema em que, em geral, o lado de dentro do balcão se sente tentado a intervir, em tudo o resto patrão e empregados só se autorizam alguma exclamação ou contribuem com esgares de leitura não unívoca. Quando saí para a rua, a violência doméstica do Armando Gama começava a aceder ao “hit parade” dos comentários. A menina Adelaide, que chegava para o seu queque tradicional, diria alguma coisa sobre o tema?
A coreografia dos cafés, dos croissants com fiambre, da meia de leite, da torrada “em pão de forma, com manteiga só de um lado”, do pingado “ali para a senhora dona Amélia”, foi abafando a sociedade das nações em que aquele espaço se tinha transformado, por minutos, esta manhã. A conversa já ia no futebol, único tema em que, em geral, o lado de dentro do balcão se sente tentado a intervir, em tudo o resto patrão e empregados só se autorizam alguma exclamação ou contribuem com esgares de leitura não unívoca. Quando saí para a rua, a violência doméstica do Armando Gama começava a aceder ao “hit parade” dos comentários. A menina Adelaide, que chegava para o seu queque tradicional, diria alguma coisa sobre o tema?
É este o Portugal dos “cafezinhos”. Gosto imenso deste país lisboeta de bairro, de quem conhece o outro mas não muito (e, se calhar, ainda bem), dos “vizinhos” de quem não sabemos o nome mas que há anos cumprimentamos (e de quem passamos a íntimos, se cruzamos na praia ou no estrangeiro), das sorridentes cumplicidades implícitas com algumas pessoas (quase sempre, por inferência intuitiva), mas também das antipatias nunca explicadas (“não gosto da cara daquele gajo, pronto!”). Lisboa é imbatível!