segunda-feira, agosto 04, 2025

O serviço na restauração turística


Estou de férias numa zona de praia. Um pouco por todo o lado, mais do que em anos anteriores, quando falo com responsáveis pelos restaurantes, ouço sempre queixas de falta de pessoal para o serviço de restauração. Já nem é pessoal qualificado, parece ser pessoal "tout court". Será que isso se deve, como é voz corrente, às baixas remunerações que são oferecidas? Não sei, mas admito que possa ser isso. Sinto que a qualidade média do serviço que é prestado nos restaurantes mais caros baixou de forma sensível, tendo como termo de comparação anos anteriores. Nos restaurantes de qualidade inferior a diferença não é tão sensível, talvez porque as expetativas não são já muito elevadas. Pode ser uma perceção caricatural da minha parte, mas fico também com a ideia de que, na maioria das unidades de restauração, neste mercado que dura apenas alguns meses, está criada uma espécie de hierarquia funcional: os portugueses chefiam, por regra, os brasileiros, com os empregados de outras nacionalidades a cumprirem, quase sempre, funções abaixo ou sob o controlo destes. Aliás, os brasileiros são, a uma grande distância, na perspetiva do regular cliente de restaurantes que sou, o que vai salvando, pela sua simpatia, a qualidade do serviço que nos é prestado - mesmo se comparados com os empregados portugueses. E alguns patrões já perceberam isso, atribuindo-lhes crescentes responsabilidades. Os empregados de outras nacionalidades têm maior dificuldade em ultrapassar o desconhecimento das subtilezas da língua portuguesa e isso condiciona-os bastante, não obstante o visível esforço que a maioria faz para estar à altura das tarefas. Em geral, é patente uma grande debilidade na formação profissional para as funções executadas, uma falta de maturidade no "métier", área em que também não se salvam muitos empregados portugueses. Como consumidor, mesmo pagando caro, sinto que há um visível declínio no serviço prestado pelo pessoal na restauração, em zonas de alta intensidade e de exigência turística. Dito isto, fica uma boa notícia: salva-se a comida, cuja qualidade, nos locais mais caros, não me parece ter baixado de qualidade.

7 comentários:

Anónimo disse...

As remunerações são baixas é certo, mas talvez o excesso de restauração e afins, turismo descontrolado a ser encaminhado sempre para os mesmos locais? Nativos incluídos!

Unknown disse...

Constata-se uma grande diferença entre a maioria dos empregados brasileiros e a maioria dos portugueses. A nível de competência , de eficiência e a nivel de simpatia. Será da maneira de ser dos povos, dos baixos salários ou será mesmo do regime e dos "direitos" que foram encaquestados nas cabeças dos portugueses, que desencadeia maior frustração ? Eu propenderia para uma resposta triplamente afirmativa.

João Cabral disse...

A imigração de mão-de-obra barata e pouco qualificada havia de ter esse efeito, o abaixamento geral e ainda maior dos salários, que, pelos vistos, já nem esses aceitam. Ninguém antecipou isto? Qualquer dia, pedir um salário é considerado um luxo. Que país estamos a construir?

Anónimo disse...

João Cabral, que sabe você, em concreto, sobre a evolução do nível de salários - na restauração ou alhures - para poder afirmar que há um "abaixamento geral"?
Que eu saiba, o salário mínimo tem aumentado constantemente, e não pouco.

João Cabral disse...

É capaz de ser a única pessoa aqui a afirmar que esses salários subiram. Deve ser por isso que há cada vez menos gente a aceitar os trabalhos desses salários. E até me referia aos salários em geral. Às vezes basta juntar 1+1 e pensar...

caramelo disse...

O salário mínimo é 870 euros. Quem sabe o que se pode comprar com isto, atualmente, sabe bem que um emprego em que se ganhe isto não é exatamente uma carreira aliciante e motivadora ou o sonho de alguém. Enfim, é género um biscate... Mas é que há muitos que na hotelaria e restauração (como em tantas outras coisas) nem sequer isso ganham. O trabalho sem contrato, o trabalho à experiência, etc. Mas isto demorava muito a explicar-lhe.

Anónimo disse...

Em tempos, passei uns dias numa unidade hoteleira na zona do Caramulo, que coincidiu com o estagio de uma escola profissional das redondezas. Pobres estagiários, até abrir uma garrafa de vinho, era uma aventura. Imagino como seria os formadores e o programa de formação...

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