Quando era miúdo, em Vila Real, vivi por uns anos em frente a uma "casa de saúde". Recordo que nela havia apenas dois médicos: o dr. Vilar e o dr. Durão. Os médicos da cidade contavam-se então pelos dedos das mãos, pelo que os seus nomes eram conhecidos de toda a gente.
Não faço ideia se, à época, eu já tinha iniciado a minha bem sucedida "carreira" de hipocondríaco, mas posso imaginar, conhecendo-me intimamente, que essa geografia me devia dar algum sossego. Tanto mais que, algumas vezes, vi esses médicos lá por casa, a acorrer a um febrão de alguém da família.
Um dia, por esse tempo de infância, ouvi uma conversa entre os meus pais em que, a certa altura, um deles terá dito que "o dr. Durão está doente". A minha mãe recordava-se de eu ter ficado muito surpreendido com essa referência. É que, até esse momento, nunca me tinha passado pela cabeça que os médicos, que nos curavam as doenças, também podiam adoecer. A dúvida que levantei era "pertinente": se eles ajudavam a prevenir e sabiam curar as doenças dos outros, por que diabo eles próprios adoeciam? Devo ter pensado que só se fosse por desleixo...
Lembrei-me ontem desta ingenuidade de infância ao ouvir casualmente, numa conversa familiar em Vila Real, que um determinado médico conhecido, por virtude de uma maleita qualquer, tinha recorrido ... a uma consulta médica! Tenho consciência de que recuei num milésimo de segundo, mas confesso que a primeira imagem que me ocorreu foi a minha velha síndrome do dr. Durão.
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