1. Putin conseguiu evitar que Trump lhe impusesse um cessar-fogo, que de todo não lhe convinha, porque perdia o ímpeto ofensivo e, essencialmente, permitia à Ucrânia refazer o seu dispositivo militar. Foi a grande vitória russa em Anchorage.
2. Putin não vai conseguir que Trump pressione os europeus a deixarem de armar a Ucrânia, porque o negócio de armas americano é um lóbi demasiado forte. Provavelmente, vai ter de viver com isso. Além disso, a "desmilitarização" da Ucrânia não é concebível.
3. A próxima e muito difícil "batalha" de Putin é garantir que os europeus não colocam tropas na Ucrânia, para as famosas "garantias de segurança". Trump já lhe fez "meio favor", ao dizer que retiraria as garantias NATO. Mas Putin nunca aceitará "boots on the ground" europeias.
4. Se Trump conseguir impor a Zelensky a entrega à Rússia do terço restante de Donetsk, a Ucrânia perderia cinco áreas fortificadas vitais, criadas depois de 2014. Para a Ucrânia, significaria a "entrega dos pontos". Parece-me muito difícil que isso aconteça.
5. Putin poderá viver facilmente com as linhas da frente que existem hoje em Zaporizhia e Kherson. Ao que se sabe, é sua cedência para recuperar o resto de Donetsk. Se o conseguisse, seria um excelente negócio, não perdendo a central nuclear de Zaporizhia.
6. Putin quer obter dos EUA uma recusa formal à possibilidade de entrada da Ucrânia para a NATO. Trump pode dar-lha, mas é duvidoso que consiga blindar o futuro. Um estatuto de neutralidade da Ucrânia, no modelo austríaco, não parece possível.
7. No atual estado de coisas, é implausível que Trump venha a tentar impor aos europeus uma "arquitetura de segurança" que acomode uma revisitação das "root causes" que Putin continua a referir, isto é, a reanálise das fronteiras NATO pós 1997.
8. Não é concebível que, se os EUA conseguirem pilotar até ao fim um processo de paz, não venham a ser conduzidos a levantar as sanções à Rússia. Nada indica, contudo, que venham a conseguir que os europeus procedam de idêntica forma.
9. Parece ser muito difícil aos EUA, por muito boa vontade que tenham para com Putin, conseguir desmantelar os mecanismos jurídicos internacionais entretanto levantado contra este e contra a Rússia. Mas o acesso aos mecanismos de transações financeiras é plausível.
10. Para além dos ganhos territoriais "de facto" (será difícil serem "de jure"), a grande vitória da Rússia na Ucrânia, para além de não ter de pagar quaisquer indemnizações, seria a substituição de Zelensky. A Europa terá aqui a sua real prova de força, ou de fraqueza.
11. É óbvio que o efeito Nobel anda na cabeça de Trump, a propósito da Ucrânia. Isso será um fator de aceleração da sua vontade. Se Zelensky e os europeus (que Trump acusará de influenciarem uma provável recusa ucraniana do seu plano) se opuserem, vai ser o bom e o bonito...
12. No entanto, tudo o que escrevi vale o que a realidade vier a confirmar ou a infirmar.
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