Há horas, em Faro, deparei com uma avenida dedicada a Adelino da Palma Carlos. Se se perguntar quem é, muito poucos, nos dias de hoje, saberão identificar esta cara e esse nome como o primeiro chefe do governo após a Revolução de abril.
Palma Carlos foi um advogado escolhido, aos 69 anos, para chefiar esse I Governo Provisório. Figura relevante da “barra” dos tribunais, ex-bastonário da sua profissão, tinha sido afastado de funções docentes por razões políticas e só muito mais tarde foi contratado como antigo professor da Faculdade de Direito de Lisboa. Era-lhe associada uma aura liberal. Embora lhe não fosse creditada qualquer atividade relevante contra o Estado Novo - que se sabia que o detestava, sempre sem o incomodar muito - Palma Carlos, que fora membro da Maçonaria, tinha frequentemente defendido opositores políticos da “situação”. A sua forte aceitação nos meios económicos privados terá também sido um dos fatores na base da sua escolha pelo presidente António de Spínola.
O seu percurso na política ativa ia ser muito breve. Deixar-se-ia rapidamente enredar numa tentativa de reforço do poder de Spínola (que ficou conhecido, no jargão da pequena História, como o “golpe Palma Carlos”), ao que se diz, inspirado por Sá Carneiro, o que fez com que o Movimento das Forças Armadas rapidamente retificasse o erro de “casting” e forçasse a sua substituição pelo coronel Vasco Gonçalves. Palma Carlos só voltaria a ressurgir na política muitos anos mais tarde, associado a Ramalho Eanes, na efémera aventura do Partido Renovador Democrático (PRD).
O seu percurso na política ativa ia ser muito breve. Deixar-se-ia rapidamente enredar numa tentativa de reforço do poder de Spínola (que ficou conhecido, no jargão da pequena História, como o “golpe Palma Carlos”), ao que se diz, inspirado por Sá Carneiro, o que fez com que o Movimento das Forças Armadas rapidamente retificasse o erro de “casting” e forçasse a sua substituição pelo coronel Vasco Gonçalves. Palma Carlos só voltaria a ressurgir na política muitos anos mais tarde, associado a Ramalho Eanes, na efémera aventura do Partido Renovador Democrático (PRD).
Ontem, ao ver o nome de Adelino da Palma Carlos naquela artéria da cidade onde nasceu, dei comigo a pensar que ele será, com forte certeza, a personalidade política com relevo institucional que hoje está mais esquecida, dentre todas as que surgiram nesses primeiros anos de democracia.
11 comentários:
Adelino da Palma Carlos foi na verdade uma figura incontornável na vida politica portuguesa . Mas Grão Mestre da maçonaria ? Como diz o outro “ não necessitava “...
Ceci dit gosto de saber que a sua terra natal o tenha homenageado dando o seu nome a uma rua . Só espero que seja numa das artérias principais ( Portugal costuma ser um país envergonhado ) ...
Também duvidei (e muito) do “Grão Mestre da Maçonaria”, mas vem na biografia...
Palma Carlos era Director da Faculdade de Direito na crise de 1969. Não creio que tenha sido expulso de professor depois dessa data. Quanto à maçonaria não sei se foi Grão Mestre mas não me surpreende nada que o tenha sido.
Fernando Neves
Deve ser fácil de confirmar hoje em dia
Na própria Maçonaria, tratando-se de um homem sério, conhecido, etc.
Induzido por uma indicação que está na net, referi inicialmente que APC fora grão-mestre da Maçonaria. Verifiquei agora que esta informação estava errada. As minhas desculpas. Este blogue não costuma ser impreciso quanto aos factos
Lidos o post e os comentários.
Despacho
Podia não ter sido G.M.
Mas que era um republicano de 1910, era-o de certeza. Daí deduzir-se facilmente que era "Free Mason" com as respectivas obrigações.
Não é defeito mas sim feitio.
Deferido apenas em parte.
Não foi Grão-Mestre?!
Mas será possível que tal erro conste da prestigiada Wikipédia? Esta referência é feita duas vezes
Será então a Wiki assim tão pouco fiável?
Que foi Bastonário da Ordem dos Advogados, foi. Já agora, Sr. Embaixador; foi Presidente do seu Sporting Clube de Portugal!.
Obrigado pela rectificação .
Considerando-me liberal acho que as pessoas podem seguir as opções que quiserem , mas a maçonaria é daquelas organizações que considero oportunista , e sempre que fico a saber que alguém por quem tenho consideração faz parte dela , desce uns pontos ... É verdade tivemos Reis maçons , nunca percebi porquê ... afinal nessa época ainda não existia o célebre conceito “ jobs for the boys “ ... que para os Reis também não interessava .
Nos tempos que correm não é preciso o avental para “ subir” na vida , basta fazer parte do Governo , ou ser tio , tia , primo , prima etc , ou ainda melhor marido ou mulher de alguém que por lá ande .
Voltando a Adelino da Palma Carlos foi um homem de grande mérito . O meu pai era amigo da familia , eu próprio fui paciente de um dos irmãos ( ou primo , já não me lembro ) , excelente médico ...
Ver a gravata na foto.
É algum simbolo ?
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