Sarkozy detido! Não sou muito dado a surpresas, mas devo dizer que esta é uma notícia inesperada. Ver um presidente da V República sujeito à mesma disciplina pública de qualquer outro cidadão é uma "première" e diz muito de como o mundo mudou.
Para o bem e para o mal, a sacralização da função presidencial diluiu-se definitivamente num país onde o prestígio da função era, em si mesmo, uma das forças constituintes do imaginário do próprio poder. A V República já não é o que era ou os seus presidentes já não são aquilo que nos habituáramos que fossem? Será que a responsabilização dos políticos já ganhou um estatuto irreversível?
Não consigo deixar de comparar Sarkozy com Nixon. A mesma energia, uma inegável capacidade de ação e, a confirmarem-se estas imputações, o mesmo desprezo pelos princípios e uma lógica de fins a orientar-lhe a vida.
13 comentários:
Seria impensável no nosso caso. Com as tricas muito mal explicadas relacionadas com o BPN, já teria, pelo menos, sido obrigado a demitir-se. Mas não. Lá continua. E Isaltino foi parar à cadeia porque o partido e ele se separaram e deixou de ter suporte político. Caso contrário, quem sabe, ainda estava na Câmara. Por cá aceitam-se certas explicações de certos políticos e a coisa passa. Coisas deste género e depois ver grandes responsáveis políticos obrigados a demitirem-se, ou irem parar à cadeia, ou enfrentar a Justiça, acontecem em países como os EUA, Israel, França, Alemanha, R.U, etc. Mas nunca por cá. Nem com envolvimentos mal explicados na porcaria daquele lamaçal que é o BPN. PR, PM, Ministro, por cá acabam por conseguir um estatuto de intocável. Lamentável.
Nuno J.
"Não consigo deixar de comparar Sarkozy com Nixon. A mesma energia, uma inegável capacidade de ação e, vê-se agora, o mesmo desprezo pelos princípios e uma lógica de fins a orientar-lhe a vida".
Embora não nutra por Sarkozy qualquer simpatia, o homem ainda não está julgado. Foi detido para inquérito e averiguações, o que pode suceder a qualquer um sem distinção de cargos.
Não sei se a V República já não é o que era ou se são os seus presidentes que já não são aquilo que foram, o que sei é que a "função" ou "prestígio da função em si mesma" não pode ser causa de exclusão da ilicitude ou da impunidade. Pelo contrário, homens e mulheres que pretendem ocupar a gestão da "res publica" têm de ser/ter obrigatoriamente qualquer coisa mais do que o cidadão dito normal. Se não contrato alguém mediano para desempenhar uma tarefa difícil e complexa, também não devo eleger ninguém a quem falte um conjunto de predicados mínimos para o desempenho da função. Por sua vez, o eleito tem de ter a plena consciência dessa exigência de caracter e de postura e deve aceitar as decorrências disso. Por isso, deve prestar contas daquele desempenho e deve ser censurado, se for caso disso. Abomino quem usa os poderes públicos para tratar da sua vidinha e tenho pena que, no quadro legal nacional, não haja mais demonstrações de inequívoca
capacidade de investigação sobre a vida de quem, exercendo funções publicas, tem desprezo pelos princípios e uma lógica de fins a orientar-lhes a vida.
LN
Os homens e mulheres da justiça em Portugal não sei se têm a mesma verticalidade que os franceses!
Decerto até têm e não haverá é homens da craveira do Sarkozy.
Mas o vocabulário da justiça também não é igual em França e em Portugal!
Em França, a situação do Sarkozy, nesta etapa do processo, não merece o titulo de "detido" mas tão somente o de "mis en examen" o que em si já é carregado de simbolismo...
Mas todos os comentadores acrescentam, como para atenuar, que "une mise en examen" não é uma condenação e que o homem pode estar completamente inocente etc e tal.
Por isso, o Sarkosy não está detido! A justiça está a averiguar o caso. Este caso.
Aqui não se diz "detido"; nem "détenu" nem "retenu", mas "une mise en examen" já é uma coisa do caraças!
José Barros
Cara Helena: tem toda a razão! Há uma presunção de inocência que sempre deve ser respeitada. Foi una precipitação da minha parte. Vou alterar o post.
E a Bruna?
O sr. embaixador só registou um acontecimento.
Nos tempos que correm há muitos comportamentos que devem vir a lume.
O poder não pode ser só uma bola de encantamentos.
Há muita fome sofrimento e injustiça social.
Silva.
Sarkozy não foi detido. Foi só " mis en examen" com a duração máxima de 24+24 horas. Depois disso se verâ.
Para acabar com a discussão:
DETENÇÃO – Código do Processo Penal: "A detenção é a captura de qualquer pessoa para ser presente a um juiz, como arguido ou para assegurar a presença do detido em acto processual, que obtém cobertura no artigo 27º, nº 3 da CRP. Trata-se de uma medida breve, constituída pela captura de uma pessoa com finalidades imediatas."
O código de processo penal português ainda não se aplica em França, creio eu. Aliás, Sarkozy foi colocado em "garde à vue" e (ainda?) não "mis en examen". Nem o Senhor Embaixador nem o anónimo das 20.53 têm razão.
Agora sim! Sarkozy acaba de ser" mis en examen" por corrupção activa. Ainda há justiça neste mundo.
Há alguém que deve estar a esfregar as mãos de contente. Alguém a quem Sarkozy havia prometido pendurar por um"gancho de talho" e que sofreu vicissitudes judiciárias várias. Alguém chamado Villepin.
em portugal passam à condição de irrevogável inconseguido ou seja agora fazes o que queremos ou deixa de haver presunções & água benta.
Espero que os juízes tenham tido conta peso e medida na sua decisão e não seja mais uma manobra de afirmação do poder judicial.
Acções destas, se não estão devidamente fundamentadas apenas servem para destruir a credibilidade do sistema político e não creio que isso seja útil hoje em dia.
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