À polémica em torno do modelo da prova de cultura geral a que foram sujeitos os candidatos ao acesso à carreira diplomática, assunto de que já aqui se falou, acaba de ser somado um novo capítulo: o exame foi anulado, aparentemente não por um qualquer juízo de inadequação sobre a prova, mas por irregularidades detetadas na respetiva execução. Na blogosfera fala-se também de outros episódios, como o recurso ao Google por parte de alguns concorrentes, o que, a ser verdade, revelaria outras deficiências na fiscalização.
Não gosto de ver o "meu" Ministério envolvido em processos polémicos e só posso lamentar que um ato tão importante como a escolha de novos diplomatas possa ficar inquinado por um episódio desta natureza. Episódio que - convenhamos - com algum cuidado poderia ter sido evitado.
O acesso à função pública, em particular num momento tão complexo como aquele em que vivemos, tem de ser um processo cristalino e "irreprochable". Há que esperar que a repetição da prova anule agora todas as dúvidas e consagre um processo incontroverso, apurando os mais competentes e, já agora, pessoas com um nível cultural à altura do privilégio e da honra que significa representar Portugal no mundo.
21 comentários:
É inacreditável como não se podia rasurar as respostas e alguns vigilantes deram segundo enunciado a alguns dos candidatos... Elementar!
E poderem ir à casa-de-banho com as novas tecnologias à "mão de semear"? Quando tinha provas, era habitual ir ao wc antes porque não se podia sair naquelas horinhas (e numa época em que não havia telemóveis!).
Obviamente, isto já vai "inquinar" o concurso porque não é justa a anulação para os candidatos a quem correu bem a prova e a fizeram com honestidade.
Isabel BP
Senhor Embaixador,
Que se acabe com os encaixes da incompetência no Palácio das Necessidades...Bem sabe o Senhor Embaixador que não sou diplomata, mas ligado à diplomacia por 24 anos e de ter servido 6 embaixadores e não sei já quantos aspirantes a chefe de missão deu-me a oportunidade de afirmar que servi diplomatas, e humilhado por eles, que nem para varrer o chão da chancelaria serviam. Saudações de Banguecoque - José Martins
Qual deles, Paulo?
O que acontece nas Necessidades é o que acontece na administração pública a todos os níveis (central, local, regional).
A “chusma” entrou em catadupa, desbaratam tudo e criaram o défice, e este governo não tem força para a enfrentar. A forma que encontraram foi cortar a eito nos funcionários, quer nos que trabalham e têm competência, quer na grande chusma que entrou pela mão de políticos de todos os partidos. O estado a que isto chegou tem claríssimas origens. Mas não se retiram! Nenhum! Nem os retiram!
E o problema deste país é só este!
E a minha dúvida é saber: se o governo quer destruir administração pública, por interesses inconfessáveis, ou se não tem capacidade para a tornar competente para desempenhar as funções, de estado, de serviço social e de fiscalização que são indelegáveis!
o exemplo relviano não pode estender-se, contaminar corpos responsaveis e exemplares, mas a partir de agora já nada se rege por modelos que tinham a sua etica, a função publica, corpos especializados ou não, vai degradar-se, haverá cada vez mais tarefeiros, recibos verdes, outsiders, etc, assistimos ao desmantelamento da administração tradicional, vamos ter oportunistas, mercenários, amigos do partido, etc, enfim, cenário que pessoalmente antevejo...
Ah! como é difícil ser-se diplomata...
Síndrome Relvas ou o chco-espertismo lusitano.
Caro Paulo Gorjão: alguém dizia que um diplomata é alguém que é pago para mentir no estrangeiro na defesa dos interesses do seu país. Às vezes é preciso ser-se criativo e tentar ajudar o poder político a criar uma racionalidade que o proteja das consequências das suas próprias decisões. Em alguns longínquos países, a diplomacia é a tábua de salvação para corrigir o espontaneísmo.
Bom, alguém deveria ser chamado à pedra e ser responsabilizado. Para além do ridículo da situação, é a imagem de trapalhada que o MNE dá de si próprio, o que não é, longe disso, habitual. Tempos modernos? Tempos de hoje?
Que a nova Secretária-Geral, Ana Martinho, possa ter uma palavra a dizer sobre isto. E que nunca mais se repita.
a)Rilvas
Ao ler estes comentários, que parecem ser de pessoas ligadas à "profissão" (?) , (ponto de interrogação, porque não sei se é uma profissão ou uma vocação), devo dizer que utilizei freqüentemente os serviços das embaixadas no estrangeiro( franceses) , isto é os conselheiros comerciais, afim de estabelecer contatos localmente ou "facilitar" certas negociações.
Tive sempre a impressão que as pessoas que escolhem de trabalhar longe da pátria são curiosos dos países onde agem, e chegam a criar uma espécie de amizade pelos povos respectivos, onde se integram perfeitamente por um tempo.
Mas o que me impressionou sempre é a boa saúde de que gozam, para suportar a vida que levam. Os jantares, as recepções, as discussões, as viagens, o jet-lag, etc. E a capacidade de, todos os quatro anos, integrarem novas culturas e apoderar-se de novos dossiés!
Quanto aos embaixadores, os diplomatas de alto nível, com a globalização, a tecnologia e a centralização, e a informação em direto na Internet, não sei se têm a mesma importância do passado. Os governos tendem a passar por cima dos embaixadores, e estes a transformar-se em simples hoteleiros!
Mas onde "admiro a qualidade" real dum diplomata, é quando são obrigados de defender posições dos países que representam, mesmo se as aparências são contraditórias. Por exemplo, quando o embaixador Suíço no Egito deve explicar que o seu pais não é contra o Islão, mesmo se teve a iniciativa de se opor à construção dos minaretes na Suíça ... deve ser difícil !
E depois distingo os diplomatas , a quem os altos interesses géo-estratégicos dos seus países, os obrigam a manobras vergonhosas que os descreditam para o resto da vida. Como Colin Powell na ONU, obedecendo às ordens de Bush, tentou convencer o mundo da justeza da invasão premeditada do Iraque, exibindo os frasquinhos de plástico mortais made-in Saddam Hussein!
Ou Kissinger na organização dos golpes de estado na América do Sul, e sobretudo contra Allende.
Quando se atinge este nível de "diplomacia" , penso na opinião de Napoléon sobre Talleyrand: " Vous êtes un tas de merde dans un bas de soie"!
Mas também é verdade que o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros o traía alegremente com os Austríacos !
Felizmente que a diplomacia não se limita a estes sinistros personagens da Historia, nem a estes países que fazem a Historia.
J. de Freitas
Obrigado ao MNE por achar a minha peca " A Ceia dos Cardeais" e o imortal verso '
"Aí como e diferente o amor em Portugal"
Indispensáveis a cultura de um diplomata português,
.
a)Júlio Dantas (através do médium Henrique de Menezes Vasconcellos Vinhais)
Senhor Embaixador diz-me a experiência de docência no ensino superior durante dezoito anos, que a melhor prova para avaliar capacidades é o teste misto com perguntas fechadas e abertas, por exemplo a capacidade de redigir só pode ser avaliada no desenvolvimento de um tema assegurando uma explanação com um mínimo de 100 palavras.
Quando o teste não é de consulta e é necessária a vigilância apertada(desde logo que pena, sem dúvida uma relação de desconfiança à partida...)presumindo que todos são inocentes até à primeira prevaricação,O decurso da prova pode ser sempre filmado, os "docentes" selecionados para vigiar os candidatos podem consultar as imagens para assegurar a postura do candidato durante a prova e assegurar que não houve adjuvantes de memória que pudessem adulterar a equidade necessária à seriação perante os critérios pré estabelecidos.
As tentativasa de fraude podem sempre ser prevenidas informando os candidatos antes que há câmaras a assegurar a honestidade do processo.
Ah, é irrelevante a preocupação com o espirito santo de orelha cada um estará basicamente preocupado consigo mesmo, é a vida e a falta ou desfasamento do nº de vagas face ao número de candidatos.
Caro J. de Freitas: Kissinger e Colin Powell, independentelente da sua qualidade intelectual, não são diplomatas, mas sim políticos a quem competiu dirigir a máquina diplomática americana. São coisas diferentes.
Senhor Embaixador: E o Frank Carlucci em Portugal, o que era ? E que papel desempenhou em 1975 em Portugal.
Muito obrigado.
J. de Freitas
Há uma profunda falta de transparência e o exame não é senão a gota de água no oceano. As chefias sabem-se a posteriori através de listas telefónicas onde se vai a correr ver a quem calhou a taluda. Funcionários diplomáticos são colocados em Embaixadas em segredo sem concurso, sem nada. E que dizer do Consulado-Geral de Macau onde foi nomeado sem abertura sequer de aviso de concurso o chefe de gabinete do ex-ministro dos Assuntos Parlamentares. Parafraseando-o: "como compreenderão já não tenho nada a acrescentar..."
Pois,..sr.Freitas Pereira, não sendo do meu agrado e pelos vistos também do seu, Carlucci foi uma peça essencial para que os militares-do-charuto-cubano-muralhas-de-aço-comunistas, tomassem o poder e seríamos mais uma ditadura com os respectivos "campos". O Sr. lá no fundo sabe disso!
Alexandre
Caro Anónimo das 20.02: as colocações dos funcionários diplomáticos nos postos obedecem, desde há muito, a regras claras. Essas decisões são tomadas pelo Conselho diplomático, uma instância da qual fazem parte os responsáveis hierárquicos dos MNE bem como os representantes eleitos das várias categorias. É evidente que essas decisões podem ser discutíveis, mas obedecem a regras e estão sujeitas a um escrutínio.
Ao Senhor Alexandre:
Estando ausente de Portugal nesses anos cruciais, não sei bem exatamente qual foi o papel de Carlucci em 1974. De que maneira interferiu ou não no processo revolucionário. E não pude ler nada sobre o assunto.
Mas o que sei, é que esse artista da CIA e a sua equipa, ( entre os quais Bill Colby et Ted Schackley ) se encontravam por traz duma lista impressionante de operações destabilizantes: Cuba, Vietname, Angola, Congo, Argentina, Iran-Gate-Contragate... etc, equipa criada para efetuar as piores ações da política exterior americana.
A partir de 1954 com um golpe de estado no Guatemala, para derrubar um presidente eleito democraticamente, como mais tarde no Chile, na Nicarágua, na Argentina, no Congo ; foi também o artista do desembarque da baia dos Porcos. E a partir de 1963 gerou uma epidemia de golpes de estado em toda a América Latina. Carlucci foi o especialista criador do mecanismo fatal para destabilizar primeiro , destruir e impor um outro regime depois.
Da ditadura brasileira à revolução dos cravos, o nome de Frank Carlucci aparece sempre em filigrana!
Sabemos que para Washington, há sempre bons e maus terroristas, bons e maus regimes políticos, segundo os interesses dos USA.
Mesmo se Carlucci está agora à cabeça do grupo Carlyle , outros membros da sua equipa continuam em postos chave do sistema.
Foi a razão do meu comentário sobre o papel dos embaixadores , particularmente americanos, porque para mim não existe nenhuma diferença entre Carlucci o embaixador, e os "politicos" Kissinger e Colin Powell, patrões dos embaixadores no Pentágono. Trabalham todos da mesma maneira e têm os mesmos objetivos.
J. de Freitas
Caro Anónimo das 20.02,
O caso que refere, o C-G de Macau, permita-me o esclarecimento, obedeceu a uma situação diferente, na medida em que aquele Posto Consular está equiparado a Chefia de Missão e, nesse sentido, não cabe ao Conselho Diplomático decidir a sua colocação, mas ao Ministro (depois de consultado o SG do MNE). Assim, Vitor Sereno, o ex-Chefe de Gabinete do ex-Ministro Miguel Relvas foi escolhido para aquela chefia do C-G em Macau de acordo com um critério diferente, perfeitamente legítimo. Naturalmente que, uma vez ali colocado e a desempenhar aquelas funções, deverá vir a ser promovido à categoria seguinte, de Ministro Plenipotenciário, oportunamente, como, aliás, sucedeu com o seu antecessor, já regressado a Lisboa (ou, como se diz na gíria do MNE, à Secretaria de Estado).
Meu caro colega:
Quando respondi ao meu colega Machado de Assis, pensei ter deixado claro que o meu "Crime do Padre Amaro" não tinha qualquer influência da "Faute de l'Abbé Mouret" do Sr. Zola. Vejo que o MNE de hoje não acredita! Lamento.
a) Eça de Queiroz
via Henrique Vinhais
E que dizer a 44 candidatos aprovados, num universo superior a 2300?? É tudo assim tão inculto??? E que dizer ao facto de só terem sido aprovadas DUAS mulheres??? Estranho, não...?
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