terça-feira, janeiro 29, 2013

O preto?

Certeiro e desassombrado, Ferreira Fernandes aborda hoje, na sua crónica no "Diário de Notícias", a ridícula polémica que por aí se desencadeou, por virtude de um comentário do líder da CGTP, Arménio Carlos, que teve a "ousadia" de anunciar assim o regresso da "troika": "vêm aí outra vez o três reis magos: um do BCE, outro da CE e o mais escurinho, do FMI". Algumas vestais saíram logo a terreiro com a alegação de que a referência ao "mais escurinho" era uma pura manifestação de racismo.

Confesso que tenho cada vez menos paciência para o "politicamente correto" e para o modo policiesco como alguns olham qualquer frase que, remota ou diretamente, toque um conjunto de temas que se convencionou colocar numa espécie de redoma.

Um dia, em Angola, estava numa festa no Hotel Panorama, a que tinha ido com um grande amigo angolano, Manuel Domingos Augusto, hoje membro do governo daquele país. A certa altura, chamei-lhe a atenção para uma pessoa que estava do outro lado da sala, que eu tinha a ideia de conhecer de qualquer lado. Expliquei que era "aquele tipo baixo, de casaco escuro, encostado à janela". Havia duas pessoas nessas condições, pelo que foi preciso dar outro pormenor: "o que está a fumar". Aí o Manel reagiu: "Ora bolas! É o preto? Já podias ter dito...". Era, mas eu, "travado" pelo politicamente correto, estava a hesitar dizer isso ao Manel, ele próprio bem negro. Nada como gente sem complexos para nos colocar à vontade.

Por este andar, um destes dias, ainda alguém nos vem chamar a atenção se dissermos que "a coisa aqui está preta". E não está?

21 comentários:

Julia Macias-Valet disse...

L'Homme de Couleur

Quand je suis né, j'étais noir !
Quand j'ai grandi, j'étais noir !
Quand j'ai peur, je suis noir !
Quand je vais au soleil, je suis noir !
Quand je suis malade, je suis noir !

Quand tu es né, tu étais rose !
Quand tu as grandi, tu es devenu blanc !
Quand tu vas au soleil, tu deviens rouge !
Quand tu as froid, tu deviens bleu !
Quand tu as peur, tu deviens vert !
Quand tu es malade, tu deviens jaune !

Et après tout ça,
Tu oses m'appeler,"Homme de couleur " !!!

Léopold Sedar Senghor

A via seria tao mais fácil se os homens lessem um pouco mais de poesia :)

Julia Macias-Valet disse...

Uma pequena correcção

O poema de Léopold Sedar Senghor chama-se : "Cher frère Blanc" e não "Homme de Couleur" e depois de jaune devera ler-se :

"Quand tu mourras, tu seras gris.

Alors, de nous deux,
Qui est l'homme de couleur ?"

É caso para dizer que tive um "branca" :)
Com a idade a memoria ja nao é o que era...

Francisco disse...

Tanto alarido por tão pouco. Esses que falam mal dos "pretos", deveriam dar-se mais com eles, para perceber que "preto" é uma expressão: Oh Bacano, aquele cabrão, aquele gajo, aquele tipo fixe...

Estes termos é o que significa "preto" no meio deles. Nós brancos é que somos uns enconados...

tenho dito

Anónimo disse...

Eh, eh, eh! Nem mais! E que saborosos comentários!
Biscaia

Angie disse...


Há ainda que ter cuidado com os vermelhos!
como diz a Fáfá


Vermelho
Fafá de Belém

A côr do meu batuque
Tem o toque, tem o som
Da minha voz
Vermelho, vermelhaço
Vermelhusco, vermelhante
Vermelhão...

O velho comunista se aliançou
Ao rubro do rubor do meu amor
O brilho do meu canto tem o tom
E a expressão da minha côr
Vermelho!...

A côr do meu batuque
Tem o toque, tem o som
Da minha voz
Vermelho, vermelhaço
Vermelhusco, vermelhante
Vermelhão...

O velho comunista se aliançou
Ao rubro do rubor do meu amor
O brilho do meu canto tem o tom
E a expressão da minha côr
Meu coração!...

Meu coração é vermelho
Hei! Hei! Hei!
De vermelho vive o coração
He Ho! He Ho!
Tudo é garantido
Após a rosa vermelhar
Tudo é garantido
Após o sol vermelhecer...

Vermelhou o curral
A ideologia do folclore
Avermelhou!
Vermelhou a paixão
O fogo de artifício
Da vitória vermelhou...

A côr do meu batuque
Tem o toque, tem o som
Da minha voz
Vermelho, vermelhaço
Vermelhusco, vermelhante
Vermelhão...

O velho comunista se aliançou
Ao rubro do rubor do meu amor
O brilho do meu canto tem o tom
E a expressão da minha côr
Vermelho!...

A côr do meu batuque
Tem o toque, tem o som
Da minha voz
Vermelho, vermelhaço
Vermelhusco, vermelhante
Vermelhão...

O velho comunista se aliançou
Ao rubro do rubor do meu amor
O brilho do meu canto tem o tom
E a expressão da minha côr
(Vermelho!)
Meu coração!...

Meu coração é vermelho
Hei! Hei! Hei!
De vermelho vive o coração
He Ho! He Ho!
Tudo é garantido
Após a rosa vermelhar
Tudo é garantido
Após o sol vermelhecer...

Vermelhou o curral
A ideologia do folclore
Avermelhou!
Vermelhou a paixão
O fogo de artifício
Da vitória vermelhou.

Anónimo disse...

ha pretos mulatos cafe
os cabritos os brancos
os brancos mesmo brancos
e os pretos quasi azuis da guine

ha brancos de africa pretos da europa
chineses da australia judeus do irao

indianos da china e arabes de israel

isto e mais complicado do que o plantel de uma equipa da terceira divisao...


Anónimo disse...

Como o sr. sabe, no Brasil, se alguém chamar preto, a um preto, vai imediatamente de cana. Aliás, lá, são tão politicamente correctos que chamam aos mulatos pardos (à noite todos os gatos são...) e aos pretos, morenos. Enfim, um dos povos mais hipócritas do mundo.

Anónimo disse...

O quanto não se irritaram com a frase: "Una Bronzato Barack Obama" só porque foi dito por “il cavaliere”. E suou mesmo a brincadeira despojada de qualquer intuito racista, a meu ver.
Tenham paciência. Não acredito que o sindicalista seja racista, mas que o seu “humor” está bem longe do de Berlusconi, não há dúvidas! Aliás o homem parece que veio pedir desculpa.
É bem certo que humor e inteligência emparelham sempre… e, ainda por cima, nós portugueses, somos muito como o catavento…

Anónimo disse...

Quando eu trabalhava em Angola so tinha funcionarios angolanos (pretos) e aconteceu-me perguntar: "quem e o Bruno?", ao que reponderam: ´´e aquele ali, o escurinho."

M. Faria

Anónimo disse...

Ó Senhor Embaixador, como diz a Dra. Sacadura Cabral. Até ler o texto temi que já se estivesse a meter em política partidária.

Santiago Macias disse...

Racismo talvez seja excessivo. Mas que há ali paternalismo condescendente no tom em que foi dito, isso há...

Anónimo disse...

Telefona-me agora a velha senhora, comovida, a pedir-me que agradeça à cara Julia Macias-Valet o tê-la feito reler Leopoldo Senghor, que muito admira:

que inveja júlia eu velha tenho de senghor
de como assim arruma a não-questão da cor
'finesse' a sua de poeta e grã senhor

concordo júlia: a vida quão melhor seria
se a gente lesse um pouco mais de poesia


Diz-me ainda a senhora que a versão que tem do "Poème à mon frère blanc" é ligeiramente diferente, pelo que me sugere que a envie para publicação, caso o nosso caro Autor concorde:


Cher frère blanc,
Quand je suis né, j'étais noir,
Quand j'ai grandi, j'étais noir,
Quand je suis au soleil, je suis noir,
Quand je suis malade, je suis noir,
Quand je mourrai, je serai noir.

Tandis que toi, homme blanc,
Quand tu es né, tu étais rose,
Quand tu as grandi, tu étais blanc,
Quand tu vas au soleil, tu es rouge,
Quand tu as froid, tu es bleu,
Quand tu as peur, tu es vert,
Quand tu es malade, tu es jaune,
Quand tu mourras, tu seras gris.

Alors, de nous deux,
Qui est l'homme de couleur ?

ARD disse...

Há dois aspectos que não podem ser negligenciados neste caso.
O primeiro é sublinhado pelo citado Ferreira Fernandes e é uma regra estética e moral a que sou fiel há muitos anos: pode fazer- se piada com tudo mas não cómoda a gente, como se pode dizer mal de tudo mas não a toda a gente.
O segundo, é que a criatura não falou se "preto" mas sim de "escurinho"; ora, isso é linguagem de alinhada, de fascista suburbano, de taxista stressado e é indigna de um dirigente, sobretudo de um dirigente de esquerda.
Voilà.

Julia Macias-Valet disse...

Dear Old Lady,

Entre todos havemos de ir lá :)

Esta cabeça também ja nao é o que era...mas olhe dei o mote é o que importe !

era importa ? nao faz mal assim rima e dá aquele toque ;)

Anónimo disse...

O senhor sindicalista-chefe deu uma ideia ao patrão da obra: "oh escurinho, traz daí esse martelo!". Claro que não hà racismo ! Desgraças. Daniel Ribeiro

Anónimo disse...

A coisa aqui está preta, como dizia o Chico Buarque em "Meu caro amigo".
Disso não há dúvidas!

Anónimo disse...

A partir do momento em que se diz que o Obama é "negro", já estou por tudo...

Anónimo disse...

Complex is not complex
Dizem com quantas letras podem escrever que desconfiam que a 'joggeuse' de Nîmes (assassinada há dois dias) terá sido assassinada por um britânico. E escrevem "britânico" sem qualquer complexo... De certo nem ninguém se apercebeu que se está a estigmatizar uma comunidade.
Ora isto é inabitual. Imaginemos que o suspeito fosse um português. Ou um negro. Ou um árabe... e os jornalistas escrevessem a palavra português, negro ou árabe no lugar de britânico: Desconfia-se que o assassinato da 'joggeuse' seja um árabe, ou um negro, ou um português?
Complexo, muito complexo...
José Barros

patricio branco disse...

o do escurinho foi um pequeno deslize sem intenção racista, não pensou antes, tempestade num copo d'agua, concordo.
é realmente estranho que de pessoas africanas, ou de etnia negra, como será melhor dizer? não se possa dizer: aquele sr preto, enquanto que a um branco se pode dizer...mas os preconceitos fixaram-se assim, coisas historicas, resultados de colonialismos, apartheids, escravaturas, direitos civis, sei lá.
pois é, como jm-v, apoiemo-nos na autoridade de senghor, "femme noire", onde ele recorre e sublinha precisamente o escuro:
"Femme nue, femme noire
Vétue de ta couleur qui est vie...
la nuit de ta peau
femme obscure...etc"

mas o melhor será mesmo evitar usar certas palavras em certas circunstancias, que fazer então? usar eufemismos de substituiçao hoje aprovados, mulher de cor, mulher africana?
gil vicente não tinha ainda esse problema quando mete cómicas personagens negras nas peças e encena o seu modo de falar...

Anónimo disse...

caro jose barros

negros arabes brancos das periferias sao a prestigiosissma racaille que os media franceses
tanto gostam de elogiar.
quanto a termos prefiro os bem definidos: prefiro
argelino a arabe
congoles a preto
frances de origem x a de origem x

portugueses sao as pessoas de cidadania portuguesa de todas as cores e feitios, arabes pretos sao termos raciais muitas vezes utilizados discriminatoriamente. de certeza que quando pensa num "beur" nao esta propriamente a pensar num qatari...


bem haja

Paulo Rato disse...

O racismo só se dará por acabado quando ninguém se sentir ofendido por uma mera palavra, nem ninguém pense que pode ofender só com uma palavra.
Quanto ao Arménio Carlos, falou, de facto, com desprezo, justificadíssimo. De quem? Dos (cito) "reis magos, dois brancos e um escurinho" (então, só o "escurinho" é que é "racismo", ó racistas? e os brancos não são colocados exactamente no mesmo desprezível plano, ó confusionistas?). O dirigente da CGTP referia-se ao bando de idiotas convencidos, intelectualmente limitados a colunas de números e uns tantos preceitos básicos que lhes meteram nas cabeçorras e que repetem mecânica e acefalamente, sem nada acrescentarem à "cartilha", cientes só do seu "poder" de usurários que vêm "conceder empréstimos" a juros imorais, com o belo resultado de os únicos a lucrar com a "operação" serem o FMI (que o "escurinho" representa) e as organizações cúmplices (representadas pelos "brancos") e o único a perder ser o povo, esse representando por uma cáfila de governantes "negocieiros" sem escrúpulos - nem sabença que os ilustre. Quando e onde é que a "ajuda" do FMI e apaniguados ajudou o povo de alguma país? Só se chamarem "povo" ao Pinochet e família... Tenham dó... das vossas próprias inteligências, ó criaturas baralhadas e ignaras!
Nota: Sou, por natureza, politicamente incorrecto e tenho o horrendo hábito de dizer o que penso, sem desvios, nem as hipócritas "boas maneiras" preconizadas pela Dona Bobone.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...