Há tempos, falou-se aqui da grande patranha feita, há mais de quatro décadas, por uns falsos árabes no restaurante Tavares, enganando o jornal "O Século" e lançando alguma polvorosa política.
A propósito disto, gostava de desafiar os muitos leitores deste blogue (com os diabos! São já cerca de 1.200 em média diária) a ajudarem-me a reconstituir uma outra história em que um ato de ficção enganou a imprensa portuguesa.
Do que me lembro - mas posso estar errado - tratou-se do seguinte: nos anos 60, na Sociedade Nacional de Belas Artes, teve lugar uma (falsa) conferência, creio que apresentada por uma personalidade que se apresentava como um académico estrangeiro, o qual, a meio da sua apresentação era "assassinado". Tudo não passou de um exercício teatral quase surrealista, mas que era um pouco ousado para a "séria" sociedade portuguesa de então. Por um qualquer lapso de interpretação, a agência de informação portuguesa para África, a "Lusitânia", terá dado a notícia como tendo-se tratado de um real assassinato (ou tentativa, já não recordo bem). Alguma imprensa portuguesa das colónias (ou seria da África do Sul?) publicou a história, como se ela correspondesse a um crime verdadeiro. Outros órgãos de informação estrangeiros terão também repescado a notícia, dando-a como boa. O assunto começou a constar em Lisboa. Porém, em Portugal, nada surgiu nos jornais, porque a censura não deixou. Assim, a história correu num boca-a-boca, tendo sido dessa forma que eu a soube.
Alguém se recorda disto? Terá sido assim mesmo? Alguém tem mais dados sobre esta fantástica história? Quem me pode ajudar?
13 comentários:
Caro Embaixador,
já retransmiti o apelo a ex-quadros da Lusitânia, pode ser que eles se lembrem...
cpts
fco
Que historia, Sr. Embaixador! Não conheço essa, mais recordo-me da "tentativa" de assassinato do vice-presidente americano, Hubert Humphrey, em visita oficial a Berlim, em 1967, rapidamente anunciada pelos media, "executada" por um grupo estudante anti-americano, como muitos nessa época, que lutavam contra a hegemonia americana no mundo. Só que, a "bomba" não explodiu, porque era constituída duma mistura de caramelo e queijo fresco !
Talvez esta "blague" anunciasse a "Fracção da Armée Rouge e o bando de Bader, que infelizmente fará "la une" dos jornais mais tarde.
Senão, a "melhor" que conheço, será a do Andy Bichlbaum, que conseguiu obter uma entrevista na BBC, apresentando-se como representante da Dow Chemical americana, responsável do desastre que ocasionou 3 000 mortos. no horrível acidente de Bhopal, na Índia, em 2004.
Esta entrevista, em "prime time", vista por milhões de telespectadores, durante a qual ele aceitou a inteira responsabilidade moral e jurídica da sociedade Dow Chemical ( dona da Union Carbide, responsável directo da catástrofe), e decidiu de compensar as vítimas com 13000 milhões de dólares distribuídos às milhares de vitimas, deixou os accionistas sem voz e provocou a queda brutal da acção Dow Chemical na bolsa. Foram necessárias algumas horas para que a BBC descubra que o scoop era obra dos YES MEN !
Senhor Embaixador, essa história promete... mas não sou grande ajuda porque, dependendo do ano, ou ainda não tinha nascido ou era muito pequenina.
Isabel BP
never heard, alguma brincadeira de artistas, talvez, espero por outros comentários informativos, fiquei curioso...
Chegou-me, por mão amiga, a primeira indicação sobre o evento na SNBA.
Tratar-se-ia de uma conferência do "célebre" sociológo francês Peradan ("pai Adão"), para a qual foram convidados os então raros cultores em Portugal desse ramo científico. A grande figura por detrás desta encenação terá sido o advogado Vasco Vieira de Almeida. No final, terá acontecido o "asassinato" do conferencista.
este vasco vieira de almeida terá sido o que foi ministro de economia no governo de transição (mixto) de angola entre 74-5?
Julgo que o VascoV Almeida também já havia estado ligado, junto com o Manecas Mocelek, ao "golpe" do Tavares!
Tinham muita graça na altura...
o próprio, caro patricio branco, o mesmo que, depois, tem sido sucessivamente apontado como possível candidato a pr (o que sempre desmente com humor - 'podem os portugueses ficar descansados') e o mesmo que, quando em tempos o atual pr, então ainda muito jovem, se lhe apresentou na casa dele no algarve como 'cavaco silva, doutorado pela universidade de york', se lhe apresentou como 'vasco almeida, banhista'.
a) franquelino da mottaesm
obrigado pelo esclarecimento ao francelino da mottaesm, tambem eu mostraria serias duvidas!
procurando, vejo que o vva, se é o mesmo homem,foi ministro no 1º governo provisório em 1974 2 meses e ministro em angola na transição a convite de costa gomes 9 meses.
na entrevista sobre a sua vida que li mostra um grande humor mas não fala do episodio do "assassinato" na snba.
refere sim um episódio quando esteve preso no aljube em que um dos companheiros de cela, tambem preso politico, adoeceu. a filha deste preso escreveu ao salazar a responsabilizá lo se o pai piorava ou morria na prisão por falta de tratamento medico ao que o ditador respondeu num cartão de visita pessoal escrito pelo seu punho "António de Oliveira Salazar cumprimenta V.Exa. e informa que seu pai se encontra bem e goza de assistência médica permanente."
vva, se é o mesmo do episódio das belas artes, mostra de facto ser homem de muito humor, e é ou era advogado ali para o marquês de pombal, um buffet de advogados que leva o seu nome e associados, toca musica (estudou com grandes professores do conservatório)e é filho do filósofo e professor universitário vieira de almeida.
etc, etc
A parte mais surpreendente é a que se refere à participação do Dr. Vasco Vieira de Almeida na encenação. Tendo em conta as intervenções públicas ninguém diria. E no entanto...
Embora estivesse em Angola, onde foi dada a anotícia do assassinato do "filósofo belga" Peradon numa conferência no SNBA, tive conhecimento de toda a trama, urdida pelo grupo de Vasco Vieira de Almeida. Trabalhava junto em Luanda com João Esteves da Silva, capitão miliciano, que era umm génio, autor do livro "Para uma Treoria da História - de Althussser a Marx", homeme dotado de uma cultura e umammem´ria proverbial, que além disso tocava viola e cantava sem interrupção o repertório inteiro de Btrassens ou Chico Buarque,com um sentido de humor invulgar e que fazia parte ou ao menso tinha participado em mitas das actividades lúdicas do grupo V.V de Alameida. Ele sabia pois de toda a trama: o famoso Peradon, interpretado pelo Tony Leite de Faria, filho do Embaixador, invulgra poligolota capaz de imitar a pronúncia do francês da bélgica ia ao longo da sua conferência fastando-se das susas teorias originais, que tinham fiéis seguidores. Um deles, oindignado, iria contestá-loe a certo ponto, sentido-se traído, desesperado por ver ruir o mundo em que acreditava, assassinava-o. Foi ummfrémito no panorama cinzento da Lisboa de então. E o xcorrespondente da Lusitância não foi atempo de constatar que se tretava de uma comnédia- Nem a censura, tão prfessurosa, o ajudou. Fernando Neves.
Boa tarde, senhor embaixador.
Demorei muito mais tempo do que esperava e cheguei a pensar que nunca encontraria registos deste caso. Há um mês, porém, tive sorte e encontrei por fim a ponta do novelo.
Eis então a farsa do sábio Alphonse Peyradon, "assassinado" na Sociedade Nacional de Belas-Artes, noticiada no Ultramar.
Aqui: http://ecosferaportuguesa.blogspot.pt/2014/12/o-sabio-peyradon-morreu-na-primeira.html
Melhores cumprimentos.
GP
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