Já aqui falei do "Egoísta", essa revista de culto a que a Patrícia Reis conferiu textura (nunca a palavra foi tão adequada), o Henrique Cayatte foi reinventando a forma e Mário Assis Ferreira soube dar vida, com o seu bom gosto. Acabo de saber que vai fechar. Caramba! Também a "Egoísta"?
A "Egoísta" era uma revista tão bonita que, às vezes, parecia que a forma tomava conta do conteúdo. Cada número era bem diferente, às vezes no tamanho, outras vezes até na forma. Era uma surpresa, sempre agradável, um gozo para os sentidos, mas também para o intelecto.
Um dia, escrevi por lá um artigo. Um amigo meu, por razão profissional atento ao tema que eu abordara, disse-me que era uma pena que um texto, que ele achava interessante, fosse publicado numa revista onde as pessoas, por sistema, se distraíam com o objeto-revista. Não tinha razão. A "Egoísta" lia-se e era mesmo de um escrupuloso cuidado naquilo que publicava. Há textos belíssimos, que ganhariam em ser republicados.
Ao Mário Assis Ferreira, ao Henrique Cayatte e à Patrícia Reis quero deixar uma palavra de imenso apreço pelo "produto" que, ao longo destes já muitos anos, fizeram o favor de nos proporcionar, para gozo (algo pluriegoísta, confessemos) do grupo de privilegiados a quem a publicação era oferecida.
Depois da "Câmara Clara", desaparece a "Egoísta". Os tempos não vão de feição para a cultura. Que ninguém se lembre agora de nos tirar a escrita de Margarida Rebelo Pinto e as telenovelas assinadas Tozé Martinho. Era só o que faltava!
10 comentários:
:) rio-me da ironia, mas não do conteúdo. caminhamos para um desalento que se traduz na falta de cultura, que por sua vez também me parece ser o início do problema.
a (falta de) cultura deste país...
É verdade meu amigo. Os tempos não vão de feitura a não ser para quem toca a partitura.
Não sou o Alcipe mas até rima!
Que ninguém se lembre,é de se esquecer que sem cultura começamos a retroceder.
PS A assinatura de revistas de qualidade infelizmente é cara, o que em tempos de austeridade, pese embora uma boa relação custo benefício, sejam preteridas a renovação das assinaturas de revistas anuais como medida de contenção de despesas.
Esse elitismo nunca perde uma oportunidade para se manifestar...
Gostei particularmente do último parágrafo senhor embaixador... Que não desapareça o sentido de humor! :)
Também tenho pena do fim da Egoista que o Mário Assis Ferreira me enviava sempre. Mas devia ser carissima, e longe vai o tempo em que o Casino do Estorl não era só jogo.
Como foi um projecto pessoal do Mário Assis Ferreira, com a saída dele acaba.
Pois é... será que a cultura vai ter de ser reciclada para a época que estamos a viver?? Com o humor já se verifica isto.
Mas.... eu não sei, até porque tudo está a mudar a um ritmo alucinante....
A acontecer o último parágrafo era uma catástrofe para a cultura nacional :)))
Isabel BP
Senhor Embaixador: associo-me as preocupações que exprime na ultima parte do post de hoje.
De facto seria verdadeiramente penoso que essa hipotese se verificasse.
Os programas novos que possam surgir talvez tragam mesmo aquele antigo papel que tinha o Coro na TRAGÉDIA GREGA: anunciar as desgraças ou os castigos para quem não andar "certinho"... Se não nos agradar o estilo "nuevo" põe-se um filme ou o "toca-discos"! O cinema pode voltar a ter o papel que lhe reconhecemos nos anos 60. Na música já se vê o retorno de algumas das "velhas BANDAS" ou de cantores que nessa época tinham alcançado já muito sucesso. Não estou a falar dO "TEMPO VOLTA P'RA TRÁS..."
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