quinta-feira, janeiro 17, 2013

O Zé

Não, o senhor embaixador não está, só volta amanhã, explicou a secretária ao cavalheiro que estava do outro lado da linha. Diga-lhe que é um amigo dele, dos tempos de Roma, que estou por aqui dois dias e que gostava muito de o encontrar, disse o interlocutor.

A cena passou-se numa embaixada portuguesa no Norte da Europa, há muitos anos. A secretária ouviu o nome, tomou a devida nota e deixou um pequeno apontamento sobre a mesa do embaixador: "Telefonou um senhor italiano, o Dr. José Fireli". Na realidade, a pessoa que a contactara tinha dito "o Zé Fireli", mas a secretária entendeu por bem não usar o "petit nom", fruto seguramente da intimidade do cavalheiro com o embaixador. E, pelo sim pelo não, colocou o "Dr." atrás, porque os amigos do seu embaixador eram, quase sempre, gente com curso universitário.

No dia seguinte, o embaixador leu a nota, sorriu e lá pediu à sua colaboradora para lhe ligar para o seu amigo e realizador de cinema Franco Zeffirelli.

26 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

As coisas repetem-se. Consta que num jantar em casa do meu colega Mardel Correia, com vários amigos, teria havido um telefonema de um amigo para o anfitrião. Este delicadamente pediu á empregada que perguntasse o nome. Segundos depois a dita reapareceu com ar atrapalhado.
- Quem era, Maria?
- Ai, Senhor Dr. o nome é tão feio.
- Diga lá o nome, Maria
- Ai Senhor Dr, era um senhor chamado Sacaninhas.
A gargalhada foi geral quando se percebeu que seria o Nikias Skapinakis...

Gil disse...

Poderia acontecer que se tratasse de uma amiga, a Ana Coreta. Ou a Sara Maga.

gherkin disse...

Mais outra boa! Continue com o sdu rosário de pérolas!
Abraço
Gilberto Ferraz

Anónimo disse...

Ah! E quanto não vale um dr...
Talvez mais cómico ainda quando é o próprio interessado a insistir em pôr o dr atrás.
Passou-se comigo quando numa assembleia contestei um ponto de vista diferente ao do interveniente precedente e este, como para dar mais consistência ao seu propósito largou esta tirada: "olhe que eu tenho um dr atrás". Claro, fiquei logo sem argumentos.
José Barros

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Gil
Ri de gosto com as suas duas hipóteses. Mas pior era se fosse a Ana Gomes!

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro José Barros
O meu irmão mais velho, Embaixador na reforma, atendeu há pouco tempo um telefonema de uma menina de um banco onde tem conta. Eis o diálogo:
- É o sr Sérgio?
-É de casa dele
-E posso far com o senhor Sérgio?
- Não. Não pode. Pode falar com o Senhor Sacadura Cabral, pode falar com o Dr Sacadura Cabral, ou pode falar com o Embaixador Sacadura Cabral. Qual deles quer?
- O senhor Sérgio
-Esse não está.
- E quando estará?
- Nunca. Boa tarde, passe bem!

Agora, quando lhe telefono, pergunto sempre pelo sr Sérgio...

Anónimo disse...

Oh, se gostei da hipótese de que fosse a Ana Gomes! Com "duas ou três coisas destas" se começa melhor o dia! Dia que entrará na História das "estórias" que o Senhor Embaixador nos há-de vir a contar. Que os tempos lhe sorriam daqui p'ra frente, e, que os Fados o acompanhem sempre como na sua carreira de "Mundos e de Experiência feita".

patricio branco disse...
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José Carlos A.C. Carvalho disse...

Não posso deixar de contar uma parecida.
Há largos anos, um amigo recebeu em casa um casal de italianos. Como bom anfitrião, e querendo obviamente fazer com que as visitas se sentissem bem, no segundo dia, perguntou-lhes onde queriam ir tomar café, após o jantar.
Tudo isto numa linguagem gestual, castelhana, francesa, inglesa, menos italiana, que o anfitrião não dominava.
Mas eles perceberam a pergunta e responderam em italiano qualquer coisa como:
"Vogliamo andare allo stesso posto di ieri sera", isto é, "ao mesmo sítio de ontem à noite", o calmo café da terra.
Ah ! Bem escolhido, querem ir à Ericeira ?
Vamos então !

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Senhor Embaixador,

Ainda estou a rir sózinho com este seu post.

Anónimo disse...

Nos anos 90, no início da não aproveitada imigração de leste, chegado a casa um alto quadro de uma instituição bancária:
- O que há para jantar?

A resposta da empregada foi, por uma vez, lesta e decidida...
- Cabr~! Senhor Dr.

De início (e nas suas próprias palavras) ainda pensou que era uma ofensa ou quiçá um aviso. Felizmente, a tempo, percebeu o equívoco, o animal que assava no forno teve vida curta e madrasta, não pode ganhar o “ão” de sufixo e não passou de cabrito.

N371111

Anónimo disse...

Tambem houve um diplomata portugues que numa visita de Estado a Mocambique, chamou a Senhora Dona Mia Couto para ser apresentada ao nosso Chefe de Estado...Nao sao so as secretarias que se enganam...( teclado sem acentos)

Helena Sacadura Cabral disse...

Vá lá rir . Nem sei se já contei esta, passada comigo, quando dirigia uma revista de política. Sim, isso mesmo. Há percalços na vida de todos nós...
Eu falava com alguém que pretendia saber para onde e para quem mandar uma determinada documentação.
-Minha senhora. Diga-me então por favor o nome e a morada para onde enviar os documentos.
- Mande por favor para Helena Sacadura Cabral.
Av. Sacadura Cabral nº 2
- Minha Senhora, desculpe, pode dizer-me o nome?
- Helena Sacadura Cabral
- E a morada?
- Av. Sacadura Cabral, nº
- Desculpe, já percebi o nome. Quero é a morada.
- Mas é a morada que lhe estou a dar. Trabalho numa rua com o meu nome.
- Ah, sim?!
E desligou-me o telefone. Se vos contasse quem esta senhora secretariava, então é que a risota seria total. Hoje, fico-me por aqui!

Claro que me deu um ataque de riso. Mas não consegui resolver o meu problema!

Helena Sacadura Cabral disse...

Ó meu caro Patrício Branco tem toda a razão. Mas quando uma menina do outro lado do balcão o trata por você, tendo idade para ser sua filha, o que lhe diz?!

patricio branco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...


Senhor embaixador A mamae tem uma história também mas não com gente famosa como todos contaram. Quando chegamos pra morar em uma cidade de Minas Gerais, mamae foi a um mercado pra perguntar se podia ter caderneta. Ela perguntou no balcão o nome do dono do estabelecimento. A moça disse Sô Agapito E assim ela chamou ele por muito tempo. E o homem sempre respondia com uma cara ruim. Ele morava em frente a nosa casa. Uma noite mamae e papai escutaravam uma sereneta em homenagem ao Sô Agapito. Quando o cantor disse no microfone. Parabens para o Senhor Souza Pinto. Mamae e papai cairam na gargalhada.
com carinho Monica

Anónimo disse...

Deliciosas as suas memórias.
Desde que descobri este blog, venho cá todos os dias e gosto.
E também acho piada aos comentários dos seus visitantes...
Bem Hajam










Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro Patrício Branco
No Brasil o "você" é mais frequente do que o "tu" e, talvez por isso, não me choca. Sei que não representa intimidade. E, para mim, é de intimidade que se trata, afinal.
Sou uma criatura normal, mas gosto de alguma forma de distância que não tem que ver com que "o que sou", mas sim com "quem sou". Por isso trato sempre quem não conheço por "a senhora" ou "o senhor".
A intimidade de tratamento, é, a meu ver, algo que se dá. Mas não se toma.
Em Inglaterra ou na América como em Espanha o "you" é semelhante ao "usted", mas são diferentes do nosso "você".
Possivelmente, caro Patrício Branco, estou a ficar velha, mas não gosto que qualquer um me trate por você, sem me conhecer de lado algum...
Viu o que aconteceu ao "Alvaro" que por acaso é Ministro da Economia?
:-)))

Anónimo disse...

Por acaso os meus pais estavam no jantar com o Nikias, mencionado mais acima e que se realizou nos anos sessenta em casa de amigos comuns com um outro nome do que o mencionado. Tem ainda mais piada: a empregada referiu-se ao senhor Sacanitas Camionagem!

EGR disse...

Senhor Embaixador:ainda bem que vai havendo quem nos provoque o riso, como é caso do post e dos comentarios que desencadeou.
Gostaria,porém, de exprimir a minha concordancia com Helena Sacadura Cabral quanto ao tratamento por "você" que parece estar muito em voga.
Também fico irritado quando pessoas de quem eu poderia ser pai, e até, porventura avô, se me dirigem nesses termos.
Tenho verificado isso mesmo por parte de pessoas, digamos de estratos sociais,donde se suporia tal não acontecer.
Para mim é simplemente uma questão de má educação.
Há matérias em que sou muito conservador...

patricio branco disse...

cara hsc, de acordo, o você é uma forma de tratamento traiçoeira, ingrata, fugimos dela, de a usar e não gostamos da ouvir. embora tivesse havido uns tempos em que o você era chique, há umas décadas, entre amigas ou amigos em certos meios, tal como houve alguma classe de pessoas que se tratavam dirigindo-se umas às outras por a menina, o menino.
sim, o senhor/a é um tratamento educado, correcto quando não conhecemos a pessoa ou há uma certa distancia ou respeito. muitas vezes acrescentado dum titulo. mas mesmo assim pode haver de vez em quando problemas!
o português é uma lingua confusa e complexa no que respeita a formas de tratamento. não sei se são uma riqueza todas estas nuances nas formas de tratamento, mas complexidade é, atrapalham.
Ps. e agora na brincadeira que me diz a outras formas como: o amigo pode-me dizer onde fica a rua tal...ó cavalheiro, dá licença...etc etc
quanto ao álvaro, há coisas que funcionam no canadá mas não cá!!

cunha ribeiro disse...

Delicioso "petit texte", Sr Embaixador.

Isabel Seixas disse...

Curioso este post não só a história engraçada como os comentários afins.

Aborda um tema, sempre delicado, face à comunicação interpessoal, como o direito a ser tratado com o nome que mais se gosta além da manifestação de "respeito" quando há diferença de idades, de gerações, que envolve o tratamento por senhor ou senhora se for o caso.

Também sou do tempo em que tratar alguém mais velho (principalmente num primeiro contacto) por você era grosseria.

Anónimo disse...

Também parece caber nestas histórias o nosso caro Boilá.

Helena Sacadura Cabral disse...

O que já me ri com "o caro amigo", meu caro Patricio Branco!
Tem razão mas sempre prefiro ser amiga do que "intima"...
Quanto ao "boilá", ri-me de novo, porque já não me lembrava dela.
É que proibi o seu uso, numa aula, há uns anos, a um aluno que começava todas as respostas por essa expressão...

Helena Sacadura Cabral disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...