Javier Solana define-se a si próprio como um "optimista profissional". Só pode, como se diz no Brasil! Com uma Europa que, entre si, se divide sobre as relações com a Rússia, sobre o (eufemisticamente chamado) "processo de paz" no Médio Oriente, sobre a reforma do Conselho de Segurança, sobre a representação europeia no G20 e nas instituições de Bretton Woods, sobre a adesão da Turquia, sobre a amplitude de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear - para apenas mencionar alguns dos muitos pontos de divergência intra-europeia - o chefe da diplomacia da UE faz um esforço notável para mostrar uma cara alegre.
Hoje de manhã, aqui em Paris, Solana respondeu, durante quase duas horas, a questões colocados por um auditório reunido em torno do Institute for Security Studies, dirigido por Álvaro de Vasconcelos. Com transparência e frontalidade, embora sempre com o tal oficioso "optimismo", o chefe da diplomacia europeia abordou os múltiplos desafios externos com que a União está confrontada.
De todas as intervenções, transpareceu a ideia de que a entrada em vigor do Tratado de Lisboa é um passo muito positivo no sentido do reforço da coerência da acção externa da União Europeia. Mas igualmente ficou claro que permanecem muitas interrogações sobre o modo como será possível compatibilizar o papel futuro do conjunto de "figuras" que o novo Tratado colocará no terreno, nomeadamente no tocante à respectiva visibilidade em nome da União. E que é na sábia escolha de algumas dessas personalidades que reside a chave do sucesso para uma futura representação externa - unificada e eficaz.
4 comentários:
O Senhor Embaixador elencou apenas alguns dos problemas que a UE terá de resolver. Haveria mais a mencionar, como também muito bem diz.
Preocupam-me alguns dos nomes aqui falados como possíveis e que, neste blog, não devem ser mencionados.Porque alguns, confesso, parecem-me ser mais do domínio dos cadeados do que do das chaves...
Vou atribuir um Selo VIP ao "Duas ou Três Coisas"... daqui a pouco, no A Nossa Candeia.
Abraço,
Ana Paula
Convém também não esquecer que Solana esteve, antes de ser o que o que é hoje há já algum tempo, à frente da NATO, tendo aceite, ou tomado decisões, nessa altura, que não terão sido as mais recomendáveis. A memória é curta...
João Forjaz
Caríssimo Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa:
1. Concordo inteiramente consigo quando afirma haver uma completa falta de estratégia da UE em matéria de política internacional. Os historiadores irão certamente demonstrá-lo.
2. Aliás, na minha visão pessimista que deixo transparecer nalgumas crónicas do meu blogue faço sentir que o mundo corre num corrupio sem um fio estratégico condutor, sem alma e sem coração... Só talvez algumas honrosas excepções remem contra a maré do pragmatismo imediatista.
3. É verdade que a UE cresceu de forma desmedida sob as pressões deste Globalização técnica e da vontade do velho Continente voltar "a dar cartas" na cena internacional... Só algumas almas nobres entendem que é necessário muito humanismo e cultura para reconfigurar o paradigma político-ideológico das relações internacionais e um papel mais autêntico da UE.
4. Sou um pouco céptico, embora também bastante ignorante, em relação às virtualidades do Tratado de Lisboa para colmatar estas carências assinaladas.
Com os melhores cumprimentos deste seu atento leitor,
Nuno Sotto Mayor Ferrão ( autor do blogue Crónicas do Professor Ferrão )
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