Os meses que levo de funções em França ensinaram-me que a questão do ensino da língua portuguesa é uma realidade muito complexa, com uma variedade de situações que aconselham uma abordagem diferenciada.
Desta vez, analisei longamente, com diversos responsáveis da Universidade de Estrasburgo, bem como com docentes portugueses que aí operam, a importância de podermos caminhar para modelos de maior identificação da língua portuguesa no quadro do respectivo processo de ensino e formação. Portugal está disposto a conceder meios acrescidos para tal fim, desde que seja possível consensualizar novos formatos académicos, susceptíveis de abrirem as portas a uma frequência acrescida de alunos.
Neste domínio, há uma realidade e um mito que importa referir.
A realidade é que a promoção do português no plano internacional não deve ser vista, nos dias de hoje, como uma responsabilidade exclusiva de Portugal. Todos os países que se exprimem oficialmente em português têm hoje consciência que a difusão e o prestígio da sua língua comum são elementos constitutivos da sua própria relevância no quadro global. Por essa razão, Estados como o Brasil e Angola, com recursos capazes de poderem auxiliar a uma expansão da língua que nos é comum, estão hoje ao nosso lado numa luta que, no passado, parecia uma responsabilidade única de Lisboa. Com isso, ganhamos todos e ganha cada um.
O mito é a ideia de que o interesse em promover o ensino da língua portuguesa em França tem a ver, exclusivamente, com a vontade estratégica de Portugal de aculturar as novas gerações de luso-descendentes no cultivo da mesma língua. Quem assim pensa, esquece a importância crescente para a própria França de ter gente preparada para actuar em português, por exemplo, em mercados da importância do Brasil ou de Angola. E põe de lado, do mesmo modo, a consideração do interesse de um país como a França em sublinhar e promover a riqueza que constitui a sua própria diversidade interna, ao serviço de uma agenda de influência global. Daí que a continuidade das emissões em língua portuguesa na Radio France Internationale me parece que faz parte do quadro de interesses específicos da própria França.
Vamos ter muito que falar sobre a língua portuguesa em França.
9 comentários:
Tenho, por vezes, tentado conceber uma ideia daquilo que valem homens como o Embaixador Seixas da Costa para Portugal quando colocados, como é o caso, nos centros do mundo. Confesso não ter qualquer sucesso, sei, e sei-o bem, que é muito. Sempre que me deixo enlear por este tipo de exercício, vejo-me em apuros. Só me chega aos "olhos" aquela ideia de Agostinho da Silva de que este país, hoje tão mal tratado pela escassa inteligência de quem é a sua cara mais visível, que são, queira-se ou não, os políticos, precisa apenas de colocar "estrategicamente" em todo o lado, portugueses bons cuja missão é apenas fazer a sua vida do dia a dia, ir ao café, ao pão, falar, falar muito com quem lhes aparece pela frente... ser, em suma, português onde estiver. É que este país é isto mesmo: os milhares de portugueses corajosos,, temerários mesmo, que encheram nos idos de 60 os bairros de lata de Paris... e o Embaixador Seixas da Costa nos dias de hoje, os homens das artes e das ciências que ainda pelos de 60 foram para a capital francesa, e o respeito que a cultura e Portugal começam hoje a conquistar onde a Luz se faz cidade todos os dias...
Perante isto, só resta esperar que o mau momento que Portugal vive em... Portugal, passe depressa!!
Rita
Tem a Rita toda a razão. O problema é que Portugal também precisa, aqui, de Embaixadores como o Dr. Seixas da Costa!
Sim Sr. Embaixador tem td a razao, however, e como fica os luso-canadianos, portugues nas escolas canadianas, ja era o tempo, ha 20 anos atras qd ca cheguei sim, ainda fui das priviligiadas, tive portugues integrado no liceu, hoje em dia e uma raridade, depende da zona q se vive, tenho duas sobrinhas q tem portugues (escola catolica) mas nas escolas publicas ja esta a desaparecer. Quem quer escolas de portugues, tem q pagar. portugues por estes lados tem tendencia a desaparecer, o q e triste. O q nos salva e q ainda temos por aqui uns pais bem teimosos q obrigam as criancinhas a falar portugues, e ainda podemos andar nos transportes publicos por esta cidade e ouvir a lingua de Camoes.
Catia
Senhor Embaixador,
Vou-lhe contar uma historia que se passou à alguns anos atràs (5 ou 6 talvez) no Consulado de Portugal em Paris. Decidiu o Consulado organizar um debate em que o tema era "Lingua Portuguesa em França que futuro ?". Estavam presentes professores, pais e encarregados de educaçao, representantes da Coordenaçao do Ensino da Lingua Portuguesa em França, do Consulado, o Proviseur du Collège Honoré de Balzac (o qual estava interessado em integrar uma secçao europeia com ensino da lingua portuguesa na sua escola) e touti quanti...
Para minha grande surpresa TUDO decorreu em françês : as apresentaçoes dos elementos da mesa, os oradores (portugueses) fizeram os discursos em françês e quando acabaram os seus "exposés" perguntaram a assembleia EM FRANçÊS se alguém tinha perguntas, duvidas ou algo a acrescentar.
Alguns pais, por certo alguns com grande dificuldade, alinhavaram perguntas em françês, as quais na maior parte dos casos tinham a ver nao com grandes debates filosoficos mas com um problema concreto : o da transmissao e da continuidade da lingua portuguesa junto dos filhos, porque o regresso a Portugal esta sempre presente.
As respostas eram sistematicamente dadas em francês... por portugueses.
Achei que o "nonsense" tinha atingido os limites do aceitavel.
Enchi-me de coragem, pedi a palavra e perguntei em PORTUGUÊS (algo que nao soava naquela sala ja hà umas dezenas largas de minutos) :
Porque é que estavamos no Consulado Geral de Portugal a debater entre portugueses (excepto o Sr. Proviseur) o futuro da Lingua Portuguesa em França em Francês ?
Quase que nao consegui acabar a pergunta porque um aplauso de mandar o Consulado a baixo se fez sentir.
A resposta foi-me dada por uma senhora da Coordenaçao que me respondeu perguntando-me : "Se eu, em minha casa (em Paris) atendia o telefone em Português ou em Françês ?"
Retorqui-lhe que a minha casa nao era um Consulado e que eu nao representava um pais.
O debate nao terminou de uma forma muito calma...
Aproveito para lançar alguns pedidos :
1 - Que o ensino da Lingua Portuguesa continue a ser feita por professores portugueses vindos de Portugal e colocados pelo Ministério da Educaçao com o apoio da Coordenaçao.
2 - Que as familias portuguesas registadas no Consulado recebam a documentaçao necessaria para a inscriçao nas aulas de Português organizadas pelo consulado na escola elementar. A informaçao passa actualmente de "boca a orelha".
3 - Que na Coordenaçao em Paris (passage Dosmbale) atendam os telefones em português. Conheço pessoas que nao telefonam para ter informaçoes porque nao sabem falar bem francês, optando por vezes em nao inscreverem os filhos nas aulas organizadas pelo Consulado.
4 - Por ultimo espero que a Biblioteca Gulbenkian, avenue d'Iena: tenha actualmente um sistema de empréstimo de livros mais "aberto" para as crianças e os jovens do que ha uns anos atras.
Falar, estudar, ler em Português em França é um percurso de combatente e quase tao cansativo como remar contra a maré.
Fico feliz em saber que "Vamos ter muito que falar sobre a lingua portuguesa em França".
Pode contar comigo !
Julia Macias-Valet
OUPS !!!!
Alguns "francês" no texto anterior adoptaram o "ç" é obviamente um erro.
As minhas desculpas à lingua portuguesa.
Julia Macias-Valet
Senhor Embaixador Seixas da Costa,
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Mas afinal quem sou eu para me estar a imiscuir num tema tão delicado?
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Ora o Senhor Embaixador tecla o interesse de promover a língua portuguesa em França, o que me deixa um pouco confuso quando nesse país há centenas de milhares de Portugueses e pensava que o ensino da língua de Camões seguia de vento em popa.
Pelos vistos não é assim.
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As línguas com o correr do tempo como os impérios também se desmoronam e tem sido o que está acontecendo à língua portuguesa.
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Não me vou aprofundar demasiadamente no tema, mas sei que embaixadores de “garra” como Seixas da Costa (sem graxa de minha parte) existem só uns poucos, na Diplomacia Portuguesa que por norma quando pretendem levar a bom porto a sua nau, ventos contrários a dirigem para ruim.
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Como é sabido, historicamente, a língua portuguesa foi a franca em todos os portos da Ásia, Índias Orientais e Extremo Oriente. Hoje nessas paragens longínquas, o português perdeu-se e, apenas, assimiladas umas palavras a dialectos, em Malaca, Sri Lanka e outras terras. Em Goa ainda as pessoas velhas o falam e em Macau umas poucas.
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Uma língua quando é ensinada num país estrangeiro é porque há relacionamento comercial e se este não existe o interesse dos naturais será nulo o darem-se ao luxo de falar mais uma língua quando dela não vão fazer uso.
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Mas outro drama existe é que os filhos dos emigrantes cada vez mais se estão a desinteressar de aprender a língua de seus pais portugueses. Se estes vieram do ventre de mãe portuguesa, então sim falam-na e a chamada da mama. Mas nascendo de mães estrangeiras (o caso de minha filha de 22 anos) nunca a aprenderão.
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Minha filha desde os cinco anos começou a frequentar um infantário onde as primeiras palavras que aprendeu foram inglesas e transitou pouco depois para uma escola internacional, a seguir para uma universidade e obteve a sua licenciatura, nas “Novas Tecnologias de Comunicação” aos 22 anos, na língua de Shakespeare .
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Tenho muita pena de o afirmar que a língua portuguesa, continuará a ser falada entre os cerca de 300 milhões de portugueses e lusófonos, mas a verdadeira de raízes lusas tem tendências a desaparecer.
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Evidentemente que o Brasil o grande país e em desenvolvimento constante tomará o guião do ensino nos países estrangeiros e passa então a língua de raízes lusitanas a um dialecto e uma algaraviada falada.
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Não tenhamos ilusões e esta é a realidade dos factos.
José Martins
Em Luanda, ensina-se (ou ensinava-se até há pouco)…português no Centro Cultural Francês, já que o bonito Centro Cultural Português não possuía então um professor de português, não por culpa do excelente Adido Cultural , João Pignatelli, a fazer um belíssimo trabalho, mas por culpa de...Lisboa, ou seja falta de verba do Instituto de Camões (ou do MNE?). É assim.
Adido de Embaixada
Ainda mais triste é o facto do meu filho ter escolhido a « prestigiada » escola superior de comércio ENC, 70 Bd Bessières, 75017, onde frequenta o 1° ano da Classe preparatória HEC, pelo facto desta escola também ministrar cursos de Português, quando na realidade, por falta de coordenação da referida escola(horários sobrepostos), só pode estar presente nos ultimos 30 minutos duma aula de 1h45 minutos.
Olá Senhor Embaixador Seixas da Costa! Estava a procurar sítios portugueses na Internet e deparei-me com seu blog que parece-me muito giro!
Eu sou filipino mas adoro Portugal e a língua portuguesa. Sou lusófilo 100%. Em 2001 quando resolvi aprender português por minha conta fui à Embaixada de Portugal em Manila para pedir ajuda porque aqui nas Filipinas quase não houve (até agora) materiais para aprender esta língua e fui recebido bem pelo pessoal aí. Deram-me jornais e revistas e sítios na Internet para eu confirasse e até o consul quis falar comigo em português! Na altura ainda não falava muito bem (e até agora tenho de melhorar meu nível de compreensão e nível na língua escrita mas já vou conseguir sim!). Era um dia que não vou esquecer mesmo na minha vida. Un dia gostaria de ensinar Português na Universidade de Filipinas (a única universidade que oferece cursos de português nas Filipinas) ou em qualquer escola e por isso estou a fazer meu melhor para estudar esta língua e com certeza vou estudar esta língua formalmente numa instituição para obter título também porque sempre aprendi esta língua por minha conta. Eu sei que tenho muitas coisas mais para aprender mas vou conseguir. Profissionalmente, aqui nas Filipinas os que falam português têm muita vantagem e eles (eu também) têm trabalhos bem renumerados. Agora acabei de começar a ensinar português a minha irmã mais nova e logo ensinar também meus sobrinhos que quero que cresçam falando português com mais naturalidade. Será dificil num país onde não se fala português mas estou disposto a fazer isso e novamente digo: vamos conseguir! =)
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