Ontem à tarde, ao chegar a Estrasburgo, tive saudades do Álvaro Guerra.
Senti falta das nossas conversas depois dos opíparos jantares que a Helena por aqui preparava, quando ele era embaixador junto do Conselho de Europa. Gostava das nossas eternas discussões sobre os touros, vício vilafranquense que eu combatia com argumentos ideológicos, com ele a atirar-me à cara com o Hemingway. Um dia, ofereceu-me um livro de Jean Cocteau para me convencer da bondade natural da "fiesta".
O Álvaro era um homem com uma serenidade bem disposta, que tinha prazer genuíno em partilhar connosco leituras feitas, que nos ajudava a procurar na magnífica imensidão da Kléber. Nunca concretizámos uma viagem várias vezes planeada pela "route des vins", durante a qual me prometia que eu iria conhecer néctares que iam ser a alegria cimeira dos meus triglicéridos.
Teve uma vida cheia, do jornalismo à literatura, da política à diplomacia. Foi uma figura maior da intelectualidade portuguesa, que é importante não esquecer e dar a conhecer às novas gerações. Para o ano, na comemoração do centenário do estertor da chefia hereditária do Estado em Portugal, convirá relermos o seu "Café República".
8 comentários:
Muito obrigado por nos ter relembrado Álvaro Guerra. Considero-o um dos mais importantes escritores contemporâneos portugueses. A sua trilogia dos Cafés é um monumento, creio mesmo que deveria ser de leitura obrigatória nas aulas de História.
Álvaro Guerra. Mãe santíssima, como gosto de reencontrar Portugal na sua trilógica República. Gosto de Álvaro Guerra como gosto de Vieira, de Agostinho da Silva, de Pessoa, Herberto... como gosto de pensar que um país que os pariu não pode ser este país que andamos a reparir como se uma só vez não bastasse passar pelas dores de parto que em tão robusta criatura resultou.
Rita
Bem haja Senhor Embaixador por lembrar o nome do meu querido Alvaro Guerra. E, de caminho, da Helena, minha colega de estúrdias, no antigo Liceu Dona Filipa de Lencastre.
Tem toda a razão em avivar a memória de quem possa, já ou até, nem a ter!
Foi durante a sua missão em Estrasburgo que o Álvaro Guerra escreveu, em outras coisas, bem entendido, as “Crónicas Jugoslavas”, uma elegia amarga e raivosa sobre o fim trágico da Jugoslávia que tão bem conhecera e amara desde que servira em Belgrado.
O post traz-me à memória, com grande nitidez, a vivacidade e boa-disposição dos longos serões na Rue de l'Orangerie, quase sempre antecedidos pela excelência gastronómica garantida pela Helena.
Tive mais sorte do que o Embaixador e pratiquei com ele, várias vezes, a “route des vins”, com paragens obrigatórias em Liesel, berço do “fois gras” que aí foi inventado, e em Munster, para o queijo. E, depois de reservas feitas com, pelo menos, três meses de antecedência, uma das catedrais da cozinha francesa: L’Auberge de l’Ill.
Foi um dos homens mais generosos (e delicados) que conheci. Meu amigo.
Também tenho saudades.
Parabéns, Senhor Embaixador!
O Álvaro Guerra, com quem tive o privilégio de conviver, sempre foi um HOMEM de partilha e de grande generosidade!
Preciso de ajuda acerca do livro!! Alguém que me possa ajudar? Estou a ler o livro e tenho que entregar uma data de perguntas acerca da obra, mas visto que não vou chegar a acabar de ler, precisava de alguém que já tivesse lido a obra completa. Obrigada e aguarda uma resposta
Pode-me responder sff? O meu e-mail é andreiia_gomes@hotmail.com. Obrigado e boa noite
Cara Andreia. Eu não sei que idade tem, mas talvez já deva ter a suficiente para perceber que o que propõe, sendo talvez um "expediente" comum no mundo de estudantes, não é uma ideia com um mínimo de seriedade, desculpe lá! Tire algum tempo ao Facebook e leia a obra de Álvaro Guerra. Pode crer que ficará "melhor" pessoa...
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