A Conferência Mundial da Água, que teve lugar em Istambul, acabou ontem - no Dia Internacional da Água - no que já é considerado um fracasso, à luz das respectivas conclusões.
As questões da água constituem uma das mais complexas temáticas do mundo contemporâneo, sendo ignorado por muitos que elas estão já na raiz de alguns dos actuais conflitos. Para além das óbvias dimensões ambientais, as questões da água prendem-se com os problemas da estratégia global em matéria de recursos vitais e, no imediato, estão no centro dos grandes debates em matéria das políticas de desenvolvimento.
Uma das grandes dificuldades em abordar este tema à escala global prende-se com a muito diferenciada dependência dos Estados em matéria de recursos hidrícos, o que conduz a atitudes de egoísmo nacional, que não facilitam soluções de consenso. Por outro lado, e não obstante os chocantes números sobre os efeitos na vida das populações da escassez de água, ainda se está longe de reconhecer o "direito à água" como um direito fundamental no plano multilateral, pelas consequências orçamentais que muitos não querem disso retirar.
Duas notas pessoais.
Não esquecerei nunca a imagem de uma criança, na berma de uma estrada quase deserta, no Uzebequistão, estendendo a quem passava uma garrafa de plástico vazia. Vim a saber ser uma prática regular na região "mendigar" água potável...
A segunda nota prende-se com Espanha. Os nossos principais rios nascem em território espanhol, onde várias regiões autónomas se debatem com sérios problemas em matéria de água e têm tentações de a utilizarem de forma mais intensiva, a montante da sua chegada a Portugal. Recordo a dificuldade com que, na virada do século, nos vimos confrontados numa dura negociação com Madrid sobre o regime dos caudais desses rios. Mas foram-me marcantes, em especial, as tensões que então pudemos observar entre o Governo central espanhol e as autonomias, para fixarem uma posição comum de acordo connosco. A Península Ibérica sofre um acelerado processo de desertificação e, por essa razão, o futuro das águas comuns vai continuar a ser uma tarefa a que a diplomacia portuguesa terá de permanecer atenta.