segunda-feira, setembro 30, 2024

Cobardia?


Que temor ou cobardia trava o Ministério Público de acusar de xenofobia e de óbvia incitação ao ódio e à discriminação os responsáveis por este cartaz?

Há falso e falso?

Perante a história da "professora" que deu décadas de aulas e publicou manuais, tendo falsificado habilitações académicas, gerou-se por aí um ambiente de absolvição, quiçá de carinho pela ousadia. Como reagiriam essas pessoas se tivessem sido operadas por um falso cirurgião?

Extrema-direita

O comportamento da polícia na proteção da manifestação da extrema-direita deve ser lido à luz da mais do que conhecida infiltração dessa mesma extrema-direita nas fileiras da polícia.

Terceira história do 28 de Setembro de 1974


Pelos corredores de Caxias, nesses dias posteriores ao golpe do 28 de Setembro, cruzavam-se os barbudos da época, a maioria à paisana, alguns fardados com um porte que fazia a angústia dos puristas. 

Algumas salas estavam atulhadas de papelada da PIDE, a cujo escrutínio sabia-se que tinham acesso figuras com ligações partidárias, com caras sempre graves. 

Eu e o Casimiro Talhinhas, então capitão da Força Aérea, tínhamos sido escolhidos pelo brigadeiro Pedro Cardoso, que chefiava a divisão de informações do EMGFA, onde trabalhávamos, para ir a Caxias consultar alguma documentação que poderia ser relevante para dossiês que estávamos a seguir.

Por vaga indicação de um tenente da Marinha – os marinheiros pareciam dominar Caxias –, fui parar a uma determinada sala e iniciei o vasculhar de uns caixotes com documentos. 

De súbito, uma voz masculina interrompeu-me: 

“O que é que está aqui a fazer? Quem é você?”. 

Voltei-me e vi-me confrontado com uma figura à civil, especada na soleira da porta, claramente in charge da situação e do lugar. Eu também estava sem farda, mas socorri-me de uma vaga autoridade militar: 

“Eu sou oficial do Exército”. E contra-ataquei, ainda amável: “E o meu amigo quem é?”. 

A resposta veio seca, definitiva: 

“Chamo-me Jean-Jacques Valente e você não pode estar aqui!”. 

Nesse segundo, rebobinei década e meia de história contemporânea e dei-me conta de estar perante alguém que tivera um papel central na saga da morte do capitão Almeida Santos, revolucionário do “golpe da Sé”, nessa tragédia político-romântica que o José Cardoso Pires viria a consagrar, anos mais tarde, na «Balada da Praia dos Cães».

Tentei recuperar a iniciativa: 

“Essa agora! por que é que não posso estar aqui a trabalhar?”. 

“Porque eu não deixo e, se quiser, vá perguntar porquê lá acima”, lançando-me um nome de um conhecido graduado da Marinha. 

Saí furioso, fui inquirir da autoridade do meu histórico interlocutor e logo fui confrontado com a inevitabilidade de ter de me acomodar. O setor político a que Valente pertencia dominava essa área do arquivo da PIDE e nem os militares, pelos menos aqueles a quem eu tinha acesso, podiam contrariar a liberdade com que a sua gente se movimentava por ali. 

Regressei de mãos a abanar à 2ª Divisão.

Mas, vá lá!, ao menos eu tinha tido um inesperado encontro com a História.

domingo, setembro 29, 2024

sábado, setembro 28, 2024

O fracasso de Biden


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Segunda história do 28 de setembro de 1974


Depois da derrota política sofrida no dia 28 de setembro de 1974, o general António de Spínola, presidente da República, na ressaca dos acontecimentos e das manifestações desse dia que ficou histórico, tinha convocado o Conselho de Estado para 30 de setembro. Foi anunciado que, nessa ocasião, faria uma comunicação ao país pela televisão e rádios, diretamente de Belém.

Eu andava pelo palácio da Cova da Moura, onde até dois dias antes tinha sido adjunto da Junta de Salvação Nacional, instituição a que Spínola ainda presidia, mas que a curto prazo se alteraria. O meu chefe, Galvão de Melo, tinha-se demitido da Junta e, dentro de dias, eu ia ser transferido para a divisão de informações do EMGFA. 

Contudo, o 28 de Setembro, para mim, não terminaria ainda: duas semanas depois, por indicação do general Pedro Cardoso, fui representar a 2ª Divisão do EMFGA numa investigação nos arquivos da prisão de Caxias, precisamente no quadro da Comissão de Inquérito ao 28 de Setembro. 

Por conflitos políticos travestidos de conflitos de competências, o EMGFA foi rapidamente afastado dessa tarefa e, tanto eu como o hoje general Pacheco Talhinhas, regressámos ao nosso comum gabinete de trabalho no Palácio da Ajuda. Onde ficaríamos até ao 11 de Março... mas isso são outras histórias!

Voltemos ao dia do discurso de Spínola. Juntámo-nos uns tantos, de tendências político-militares bastante diversas e até antagónicas, em torno de um televisor, para ouvir a intervenção do chefe de Estado.

Os tempos eram muito tensos, o ambiente político era de cortar à faca. Naquela sala estava gente cujo futuro iria ser, a partir desse dia, muito díspar. Lembro-me de que havia por lá um general do Exército, cujo nome não consigo recordar, recém-regressado de uma Angola em convulsão, que sabíamos ser um "spinolista" ferrenho. Estava acolitado por figuras que não conhecia, com cara patibular, de quem tinha ficado do lado dos derrotados nas “batalhas” das vésperas.

Todos antecipávamos as palavras do "velho" (como os "spinolistas" gostavam de chamar à sua figura tutelar). A ideia mais comum era a de que se demitiria em direto das funções, mas outros cenários, nomeadamente de alguma resistência à recente derrota nas ruas dos seus apaniguados, ainda eram plausíveis.

O discurso começou, com a voz rouca de Spínola, naquele registo épico e um pouco teatral que era o seu, a dramatizar, como era de esperar, a situação política, na exata linha das suas anteriores frustradas tentativas de fazer levantar a suposta "maioria silenciosa" do país.

O diagonóstico que saía da sua boca era ácido e impiedoso para os vencedores dessas horas. Todos olhávamos o aparelho de televisão mas, verdadeiramente, policiávamo-nos pelo canto do olho, sabendo que cada um lia as palavras de Spínola de forma diferente. Para mim, como jovem militar "a prazo", que me via do lado vencedor da contenda, o momento era excitante.

A certo passo da intervenção, mas ainda antes do anúncio da demissão do "caco" (como Spínola também era conhecido, por virtude do seu monóculo), um homem da Marinha, cujo nome não interessa para o caso, não se conteve e fez ecoar pela sala alguns adjetivos qualificativos, muito pouco abonatórios para o presidente da República e presidente da Junta de Salvação Nacional, a cujos quadros pertencíamos e em cuja sede estávamos.

Praticamente, ninguém o acompanhou na expressão vocal dos sentimentos que o motivavam, os quais, no fundo mas apenas no íntimo, creio que eram partilhados pela maior parte dos presentes. Mas, com os diabos!, Spínola era um derrotado daqueles dias e havia outras maneiras de, como dizem os militares, "explorar o sucesso", tanto mais que "não se dispara sobre ambulâncias". 

O oficial marinheiro, porém, estava imparável, indignado com os ataques de Spínola ao MFA, e não se calava, nos insultos que ia proferindo, em crescendo. O general chegado de Angola, a alguns metros dele, fervia de raiva, marcada pela impotência que Spínola confessava no seu discurso. Os seus escassos acompanhantes remoíam em silêncio.

Quando tudo terminou, depois de Spínola ter anunciado a sua demissão, todos nos levantámos, ainda um pouco aturdidos com o início de uma nova fase da Revolução que o seu gesto prenunciava. O tal general, lívido, passou pelo matinheiro e, num assomo de autoridade, lançou-lhe: "Você devia ter vergonha pelo que disse". A compostura militar impôs-se e o jovem oficial não reagiu. Ou melhor: deixou sair o superior da sala e comentou, para nós: "Estive para o mandar à ....". Mas não mandou. E ainda bem. O general já tinha tido a lição dos factos.

A tragédia de Israel


Ver aqui.

Primeira história do 28 de setembro de 1974


Hoje sabemos melhor o que foi o chamado “28 de Setembro” de 1974 - um primeiro grande momento de confronto público entre setores ultra-conservadores, apoiantes de um movimento para dar plenos poderes ao general Spínola, e forças políticas da esquerda, que habilmente aproveitaram o ensejo para afastar o polémico presidente da República que, no 25 de Abril, haviam sido forçadas a aceitar, para a legitimação da Revolução, e que se estava a tornar progressivamente mais incómodo. É que, à época, assistia-se a um crescente ambiente anti-25 de Abril, alimentado pelo próprio Spínola, que estava a colocar a esquerda e o Movimento das Forças Armadas à beira de um ataque de nervos.

Nessa noite, eu tinha sido destacado para uma determinada missão, juntamente com o António Reis - o líder dos milicianos da Escola Prática de Administração Militar, de onde eu era originário, embora, à época, eu fosse adjunto da Junta de Salvação Nacional, instituição que os acontecimentos desse dia iria transformar radicalmente. Íamos sob o comando de um jovem alferes “do quadro”, o Manuel Geraldes, uma generosa figura do MFA, que não vejo nem contacto há mais de 40 anos. Levávamos connosco uma “praça”, um soldado, o Moura. O Moura tinha na sua mão uma intimidante metralhadora G3. 

Estávamos a entrar para o meu carro pessoal, um Fiat 128, algures nas “Avenidas Novas”, a altas horas da noite. Por razões que não vem ao caso explicar, a tensão do momento então muito grande. Aquela noite do 28 de Setembro acabou por ser muito complexa e longa.

De súbito, uma surpresa: começa a vislumbrar-se, à distância, vinda do alto da rua, uma figura de baixa estatura, estranhamente com as mãos no ar, como se estivesse a render-se. Naquele enquadramento noturno, sem vivalma em roda, a cena era patética e infundia uma súbita insegurança. 

O soldado Moura começou a demonstrar uma perturbação agitada, com jeitos de querer afirmar a capacidade operacional de que a sua condição de barman da messe da EPAM era “sólida” garantia: num instante, põe a patilha da G-3 na posição de disparo, leva a arma ao ombro e, num derradeiro e precioso segundo, é travado pelo Geraldes com um “está quieto!” e o afastar a arma do alvo.

Aparentemente sem se aperceber do nosso nervosismo e do risco de vida que estava a correr, a personagem continuava lentamente a aproximar-se, agora já se lhe ouvindo coisas, numa voz procuradamente surda, para não alertar a vizinhança, tais como “Sou eu! O Manel”. Lentamente, pudemos identificar quem lá vinha.

Era o Manuel Serra, o sempiterno revolucionário dos golpes da Sé e de Beja, figura que, meses depois, titularia uma célebre cisão de esquerda no Partido Socialista, com a criação da Frente Socialista Popular, afastando-se de Mário Soares. 

As vidas políticas dos últimos meses haviam-nos feito, entretanto, cruzar com essa curiosa personalidade, com um brilho quase adolescente nos olhos e um sorriso cúmplice, oriunda do cristianismo radical, que há muito trazia a revolução nas veias. Nos anos 60, ainda antes do fracassado golpe de Beja, em que participou de forma ativa, o Manel havia sido protagonista de uma lendária fuga da embaixada de Cuba em Lisboa, onde estava refugiado, disfarçado de padre... 

Depois do 25 de Abril, por uma escolha que a confusão política proporcionou, Manuel Serra tinha sido nomeado o inesperado chefe de gabinete desse igualmente improvável ministro que foi o jornalista Raul Rego.

“Então, rapazes, há novidade? Vi-vos por aqui e vinha perguntar se necessitam de alguma coisa. Temos ali duas viaturas com pessoal e material, para o que der e vier. Não precisam mesmo de nada? Está tudo em ordem?”

Ficou a ideia que o Manel e os seus amigos andavam nessa noite pela cidade, numa espécie de piquete do ACP, para “avarias” de outra natureza. 

Demos os abraços da praxe e presumo que devemos ter esclarecido que “está tudo sob controlo”. No fundo, sem lho revelarmos, estávamos imensamente aliviados por se ter conseguido travar a precipitação quase trágica do Moura, o qual talvez nunca tenha entendido bem quem era aquela alma penada e meio careca, saída do escuro da rua, afinal amigalhaço dos seus superiores, a quem estivera prestes a dar um tiro. 

E lá foi o Manel de volta, pela noite, à busca da revolução que sempre lhe consumiu os dias. Dias que terminaram em 2010, quando o Manel tinha 78 anos.

Oh! Lacerda


Foi ontem. Tinham sido quase três horas de concerto. Extraordinária, aquela que foi a primeira das muitas noites que, nos próximos meses, vamos passar no auditório principal da Gulbenkian. Desta vez foi "A Danação de Fausto", de Berlioz. Começou às sete, abancámos para o jantar/ceia no "Oh! Lacerda" às dez.

Há quantos anos vou por ali, ao "Cortador Oh! Lacerda"? Imensos! Desde os anos 60! É, pela certa, nos dias de hoje, um dos mais antigos restaurantes de Lisboa. 

Ali por perto, já se comeu bem no "Paco", já se recomendou mais a "Tia Matilde", foi sempre abaixo de assim-assim a Sereia, deixou imensas saudades o fim de "A Gôndola", foi em tempos uma catedral lisboeta "O Polícia", belos jantares se fizeram no desaparecido "De Castro Elias". 

Hoje, tirando uma opção quase sempre razoável que é a "Valbom" (em especial, na esplanada, quando está tempo para isso), o eterno matar de saudades de uma bacalhauzada na "Laurentina", um bom nepalês que por ali há, o "La Finiestra" quando se consegue passar à frente dos "motoboys" da Glovo e um arménio de que me falam bem, a zona em torno da Gulbenkian é um imenso deserto em termos de restauração.

O "Oh! Lacerda" não deve vir no Michelin. A casa é muito simples, tem uma velha decoração rústica com um delicioso ar decadente - tem exatamente o mesmo ar, há décadas -, oferece uma comida simpática e, para o meu gosto, um dos melhores bifes do lombo de Lisboa - e eu gabo-me de os conhecer quase todos.

Depois dos acordes da fantástica orquestra e coro da Gulbenkian, uma refeição no " Oh! Lacerda", com alguns músicos a acompanharem-nos por lá em outras mesas, é um programa com bastante graça.

A França e o seu novo governo

 


Veja aqui.

Na morte do João Diogo


Conheci João Diogo Nunes Barata há meio século. No cumprimento do serviço militar, ambos fomos adjuntos da Junta de Salvação Nacional, no palácio da Cova da Moura, logo após o 25 de Abril. 

Ele trabalhava com o presidente da Junta, o general Spínola, com quem seguiu para Belém quando este assumiu a presidência da República, eu assessorava o general Galvão de Melo, para as questões do desmantelamento da PIDE/DGS. 

No dia 28 de setembro de 1974, faz hoje precisamente 50 anos, Spínola e Galvão de Melo saíram da Junta de Salvação Nacional e o João Diogo e eu fomos ocupar outras funções. 

Voltámos a encontrar-nos no Ministério dos Negócios Estrangeiros, cujos quadros ele já integrava e onde eu ingressei no ano seguinte. Embora alguns anos nos separassem na idade, uma certa proximidade política e um grupo de amigos comuns fez com que criássemos uma excelente relação de amizade, que se prolongou até aos dias de hoje.

O João Diogo foi um dos melhores diplomatas com quem me cruzei, nas minhas quatro décadas nas Necessidades. Digo isto com imensa sinceridade. Inteligente, culto, com grande sentido do interesse do Estado, foi uma voz sempre escutada por Mário Soares, de quem foi colaborador muito próximo. 

Teve uma interessante carreira diplomática, mas sempre considerei que o seu percurso nas Necessidades acabou por não estar à altura que era devida à sua qualidade profissional. Isso pode ter acontecido por opções próprias, somadas a decisões dos poderes políticos de turno que acabaram por condicionar o seu percurso e determinar algumas escolhas. 

Uma noite, no aeroporto de Fiumiccino, em Roma, onde o João Diogo era embaixador, fui testemunha presencial de um convite que lhe foi formulado pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, para que ele viesse ocupar um lugar de topo na hierarquia diplomática das Necessidades. O João Diogo recusou o lugar. Jaime Gama, ao seu estilo, não revelou nenhuma reação perante a recusa, mas percebi que não gostou de ver rejeitado aquele honroso convite. A carreira do João Diogo poderia ter tido um "boost", se tivesse aceitado. Antes de entrar para o avião, eu disse-lhe: "Acho que fizeste muito mal". Ele só teve tempo para me responder: "Eu depois explico-te". Nunca houve ocasião para isso.

O João Diogo Nunes Barata, que ontem morreu num hospital em Paris, tinha 83 anos. O Grémio Literário era, nos últimos tempos, o lugar onde mais frequentemente nos íamos encontrando. 

sexta-feira, setembro 27, 2024

CPLP


Ao final da tarde de hoje, no painel de encerramento do 2° Forum de Economistas lusófonos, em que fui convidado a intervir, deixei algumas notas críticas sobre o funcionamento da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). 

Com a limitação de ser uma transcrição de um improviso de cerca de seis minutos, aqui fica notícia que a Agência Lusa fez dessas minhas declarações.

A ilusão israelita

É trágico que Israel há muito não tenha líderes à altura daquilo que os seus cidadãos merecem: paz e segurança. Uma paz que só será possível quando também seja garantida a segurança e um futuro político autónomo aos palestinos. Até lá, Israel vai ganhando umas batalhas, algum tempo e cada vez mais inimigos. 

6ª Conferência de Lisboa


Inscreva-se. Vai valer a pena.

"Snob"


Foi-se o "Outro Tempo Bar". Amanhã fecha o "Snob" (um abraço ao senhor Albino). Estão a acabar os locais serenos e a bom preço para cear em Lisboa. Não quero parecer nostálgico, mas isto não me está a agradar nada.

Maggie Smith


O teatro inglês não será o mesmo sem Maggie Smith, que morreu hoje.

Nuclear

O que torna muito perigosa a situação internacional é a natureza do processo decisório de certos atores que são os "donos" da guerra e da paz. Ver Putin assumir, como se se tratasse de uma decisão unipessoal, a questão da nova doutrina nuclear da Rússia é perturbador.

"Solar dos Duques"


"Come-se muito bem aqui", disse-me o amigo com quem ontem fui jantar ao "Solar dos Duques", em Campo de Ourique. É verdade. Vamos tantas vezes a um restaurante, habituamo-nos tanto a um lugar, que já nem valorizamos a constância da qualidade que a casa nos proporciona. 

Vai para oito anos que a Petra e o Robert "agarraram" o "Solar dos Duques" e, com grande dedicação, souberam dar continuidade a uma casa que tinha já um nome firmado no mercado. Tenho visto novos proprietários destruirem, em poucos meses, a fama um restaurante. Aqui, isso não aconteceu. Os novos proprietários souberam deitar mãos à obra e consolidar o prestígio da casa. A melhor prova é o facto de muitos dos velhos clientes terem continuado a frequentar a casa.

Ontem, como quase sempre me acontece, comi por lá muito bem. Que assim continue, é o meu voto, que assumo com o egoísmo de quem é cliente habitual.

quinta-feira, setembro 26, 2024

Companhias (2)


Ontem, mostrei por aqui uma imagem da sala da Assembleia Geral da ONU, no momento em que o presidente da Ucrânia discursava. Foi induzido em erro: era uma fotografia de um ano anterior. Esta é a imagem de 2024. O estado da sala não diverge muito.

quarta-feira, setembro 25, 2024

Companhias


Uma imagem em que importa atentar: a ocupação dos lugares na Assembleia Geral da ONU durante o discurso do presidente da Ucrânia. 

O dédalo


Hoje, vou dar uma aula ao ISCTE. A grande questão vai ser descobrir a sala. Seria a primeira vez em que me não perderia naquele dédalo arquitetónico. 

"The Spectator"


Desde a sua criação, o "The Spectator" já foi dirigido por figuras "tory" bastante exóticas, a menor das quais não terá sido Boris Johnson. Mas a notícia de que Michael Gove passa agora a diretor da revista é mais do que surpreendente, é aterradora! É quase como se Liz Truss passasse a diretora do "The Economist". É mesmo justa causa para suspender uma assinatura! 

Lucros


No novo governo francês, vi surgir uma ministra que tem a seu cargo, entre outras tarefas, "l’intéressement". Nunca tinha ouvido falar. Fui ver o que era. Trata-se, muito simplesmente, da participação nos lucros das empresas. 

Daqui a semanas, fará 53 anos que entrei para a Caixa Geral de Depósitos, o meu primeiro emprego "a sério". Andava com a vida universitária atrapalhada por diversas razões e decidi fazer-me à vida real. Fiz concurso com mais de um milhar de candidatos. As provas tiveram lugar no liceu Passos Manuel. Porque me enganei numa permilagem, no exame de contabilidade, fiquei a meio da tabela, dentre os trezentos e tal admitidos. No dia de admissão, telefonei ao meu pai, a quem não tinha avisado dessa aventura, e disse-lhe: "A partir de hoje, somos colegas!". Com alguma diferença de tempo: ele tinha entrado para a Caixa em 1930! Estávamos em 1971. 

Fui trabalhar para o Calhariz, no "Serviço de Títulos". No final do ano, a Caixa fazia distribuição de lucros pelos funcionários (é verdade!). Não era muito dinheiro, mas era algum dinheiro com o qual as pessoas contavam. Todos os funcionários recebiam? Não. Apenas os que tivessem a classificação de "muito bom". Eu estava descansado: trabalhava muito e bem. Mas enganei-me. Num dia, com o fim do ano a aproximar-se, ouvi do meu chefe, do inefável senhor Marques: "O senhor Costa fez um excelente trabalho ao longo deste ano, mas, infelizmente, não vou poder dar-lhe "muito bom". Temos instruções para não atribuir essa classificação a pessoas recém-admitidas". Não lhes digo o que calei. 

Não sei como são as regras do "l’intéressement" lá por França, mas, com o obsessivo "jeunisme" a ser hoje a regra do jogo um pouco por todo o mundo, estou certo que as coisas não se passarão como naquele meu outro tempo de funcionário bancário.

"Raposo"


Não verifiquei se o nome vem (nem viria o menor mal ao mundo se não viesse) no Michelin, no Time-Out ou no Boa Cama - Boa Mesa (um dia falaremos dos mitos existentes a propósito disto e de alguns truques associados). Nunca é fácil estacionar por ali (o restaurante é na Passos Manuel, em Lisboa, perto do Jardim Constantino). Às vezes, o espaço interior torna-se um pouco barulhento. E, se não reservar, arrisca-se a ter de ir comer o sinistro bife da Portugália, ali perto.

Mas por que diabo será - a mim, que me gabo de conhecer imensas mesas por Lisboa e seus arredores, isto é, de Melgaço e Sendim a Sagres e Monte Gordo, da Camacha a Vila Praia da Vitória - que, quando me apetece jantar fora (cada vez me apetece menos, confesso), o nome do "Raposo" me vem logo à ideia? Por alguma razão será!

O ambiente é, por ali, desde que o frequento, o mesmo de sempre. Guardanapos de pano, "linha vermelha" que impus a mim mesmo, sempre que fora das tascas (e, em algumas, já exijo). O serviço é muito atento - mas, honestamente, tenho de fazer o desconto de me conhecerem há muito e de me tratarem sempre bem. A comida tem uma constância admirável. É cuidada, embora sem "efes e erres", honesta, no melhor sentido do termo - e tem outros. Além disso, a casa apresenta ótimos vinhos a preços bem razoáveis. A conta final esteve, como sempre está, na conta certa.

Voltei ontem ao "Raposo", como adivinharão. Se acaso tivesse de regressar por lá amanhã sentir-me-ia feliz. Há melhor elogio que se possa fazer a um restaurante?

terça-feira, setembro 24, 2024

Pior que Obama!

Biden consegue a proeza de ser ainda pior do que Obama, em matéria de política externa. Deixa o mundo num caos. Não corrigiu Guantanamo. Não reverteu Trump no acordo nuclear com o Irão. Saiu humilhado do Afeganistão. Não impediu a agressão de Putin. Cedeu à chantagem de Israel. 

Ela aí está !

 


Livraria Martins


O nome é simples, o conceito também. É uma livraria arrumada, pela mão de quem sabe da poda. É na Guerra Junqueiro, a dois passos da Mexicana (que agora se chama Tasca!). Tem o sereno ambiente de algumas livrarias de Londres ou de Nova Iorque. Pode beber-se um copo (saudades da "Opinião"!) e tem cadeiras no passeio, para por ali ficar um pouco. Passei lá há minutos. Ainda bem que a "Livraria Martins" fica muito longe de minha casa. Ia ser o bom e o bonito...

Pela lógica...

Estou convicto de que aqueles que se extasiam perante a genialidade da ação israelita de armadilhamento dos pagers e walkie-talkies devem manter uma admiração infinda, embora quiçá discreta, pela ainda mais criativa inventividade que esteve subjacente aos atentados do 11 de setembro contra as Torres Gémeas.

Ponto final


Tudo na nossa vida tem um fim, até ao dia em que ela própria terá o seu. Decidi agora colocar um ponto final na colaboração que, desde há quase três anos, mantinha com a CNN Portugal. Foram 33 meses!

Tive um imenso gosto em fazer parte dos colaboradores da estação, desde o seu primeiro dia. Conheci por lá gente fantástica, de um imenso profissionalismo, de uma grande simpatia. Fiz ali muitos amigos e, creio, nenhum inimigo (pelo menos, que eu tenha dado conta). Contudo, depois de algumas semanas de deliberada pausa, concluí que aquele meu ciclo de trabalho, no comentário político na área internacional, estava esgotado.

Fico gratíssimo ao Nuno Santos pelo magnífico acolhimento que me deu naquela casa, que continuarei a ter como "minha", bem como à amável e insistente tentativa que nas últimas semanas fez para que eu não levasse esta minha decisão por diante. Mas cada coisa tem o seu tempo e, depois de alguma ponderação, concluí que este era o tempo certo para deixar a colaboração regular com a CNN Portugal, embora não exclua, no futuro, poder dar uma saltada pontual a Queluz de Baixo, se a ocasião se proporcionar e surgir um convite para tal. 

Não vou nomear, porque são muitas, as pessoas de cujo convívio regular vou sentir alguma falta - da produção à maquilhagem, da redação aos pivots, dos colegas comentadores a tanto do restante pessoal. Elas e eles sabem a quem me refiro. A muitas dessas pessoas fico a dever atenções que não esqueço.

Uma nota especial para o "painel da guerra", às quintas-feiras, que sempre me deu muito prazer fazer: um abraço à Diana Soller e ao Agostinho Costa. Os três ajudámos a provar que o pluralismo opinativo - que é o contrário do unanimismo - é a imagem de marca única do excelente jornalismo internacional da CNN Portugal.

segunda-feira, setembro 23, 2024

Crise

Não gostei das declarações do Senhor Presidente da República sobre o orçamento e a crise. Não gostei do comunicado provocatório do governo, sem o menor sentido de Estado. Não gostei do comunicado do PS, reagindo no mesmo tom de chicana. Chego à conclusão que o problema sou eu.

"Much ado about nothing"

A França já tem governo. A ruidosa barragem política - o "Front Républicain" - construída nas eleições legislativas para travar a extrema-direita acabou por ter, como resultado prático, uma aliança de governo entre o centro-direita e a direita democrática, que só consegue subsistir com a complacência daquela mesma extrema-direita. O inimigo comum, o verdadeiro inimigo, é a esquerda. Nada de novo, mas é bom que isso tenha ficado bem claro.

domingo, setembro 22, 2024

Um belo museu


Do Entroncamento não nos chegam apenas coisas estranhas, como reza a lenda. É também ali que funciona o excelente Museu Nacional Ferroviário, dotado de um pessoal atento, que gosta e tem orgulho no que faz, e com algumas peças notáveis. Passem por lá! Eu fui hoje. 

Ai, Sporting!

A carreira do (meu) Sporting parece tão sólida que até eu, um cético pessimista sempre preparado para viver com o pior, escaldado por tantas desilusões, começo prudentemente a acreditar que, daqui a uns meses, até posso vir a não ter mais uma.

Já chegámos?

Eu até nem gosto muito da ideia preconceituosa de que "não há fumo sem fogo", mas devo confessar que a sucessão de casos que associam o governo regional e outros poderes públicos da Madeira a irregularidades dá que pensar. 

Mau sinal

Acho muito mau sinal: quando os líderes do governo e da oposição desejam obter um acordo encontram-se discretamente, não anunciam a hora da sua reunião. E à saída? Cada um dá uma conferência de imprensa?

No reino de sir Keir


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Palestina


Ver aqui.

A América a caminho do voto


Ver aqui.

sábado, setembro 21, 2024

Fim da tarde

 


"Um Mundo Dividido"


Estão abertas as inscrições para a 6a Conferência de Lisboa, um encontro internacional organizado a cada dois anos pelo Clube de Lisboa. 

Na Conferência deste ano, que terá lugar em 10 e 11 de outubro, o tema de "Um Mundo Divido" mobilizará os oradores oriundos de vários países.

Clique aqui para saber mais.

Tupperware


Recebo com alguma nostalgia a notícia de que a Tupperware faliu.

Lamento imenso que ao inventor do seu genial saca-rolhas, uma das obras-primas do mundo da vida prática, não tenha ainda sido atribuído o Prémio Nobel, em paralelo com esse génio que foi o criador das rodinhas nas malas e, acima de tudo, dessa imensa figura que nos trouxe o ar condicionado.

Ao três, figuras anónimas a quem muito devo, a minha eterna gratidão.

A nova Comissão Europeia


Ver aqui.

sexta-feira, setembro 20, 2024

Desvario

O tratamento mediático das eleições americanas que nos chega está visivelmente enviesado contra Trump. Mas mesmo descontando isso, fica a sensação de que a campanha deste entrou em desvario e numa onda de quase desespero. Foi extraordinário, em poucas semanas, o efeito Harris!

Cisjordânia

Ao votar ao lado da maioria dos Estados que, na Assembleia Geral da ONU, aprovaram uma resolução condenando Israel pela sua ilegal presença com colonatos na Cisjordânia, a diplomacia portuguesa esteve do lado certo - do lado da preeminência do Direito Internacional. 

A União Europeia dividiu-se na votação sobre o fim dos colonatos ilegais na Cisjordânia - uns Estados a favor, outros contra, outros abstendo-se. 

Assim se confirma ser um perfeito mito a possibilidade de poder vir a existir uma política externa comum, como também fica claro que, para alguns Estados com os quais partilhamos o "clube", a legalidade é um pormenor mais ou menos despiciendo.

Eutanásia

A canhestra fuga do governo à necessidade de regulamentação da lei da eutanásia representa um escandaloso desrespeito pela imperatividade da sua implementação. É uma clara "chico-espertice" antidemocrática, que se traduz no "arrastar de pés" de quantos foram derrotados no voto.

Próximo Oriente


Veja aqui.

quinta-feira, setembro 19, 2024

E assim acontece


Hoje, durante um almoço com algumas pessoas, entre as quais o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, veio à conversa uma historieta passada com ele em Paris, há cerca de 12 anos. 

Eu tinha convidado Carlos Moedas, na altura secretário de Estado envolvido nas negociações com a Troika, para conhecer o antigo diretor-geral do FMI e antigo governador do Banco de França, Jacques de Larosière, na altura consultor do BNP Paribas. 

Larosière, uma grande figura da vida económico-financeira de França, tinha-me dito, semanas antes, na ocasião em que eu lhe fora apresentado por Artur Santos Silva, que teria muito gosto em trocar impressões com alguém do governo português de então. Amigo de Portugal, o antigo banqueiro, homem com uma experiência internacional ímpar em França, disse-me ter algumas ideias que, no seu entender, poderiam ser úteis ao nosso país. 

Organizei então um encontro na embaixada entre Moedas e Larosière. Foi uma conversa interessante e, quero presumir, com alguma utilidade para nós.

"Que será feito de Larosière?", hoje com 95 anos, interroguei-me hoje durante o almoço.

A realidade respondeu-me. No final, passei pela FNAC do Chiado e comprei o "Le Point" de ontem. Traz uma entrevista com Larosière, em torno de um livro que acaba de publicar.

E assim acontece a vida, como diria o Carlos Pinto Coelho.

O periscópio

Portugal vai cair no ridículo pelo mundo quando se souber que pode surgir como candidato presidencial alguém a quem ninguém conhece uma singela ideia política e que ficou famoso por ter montado com eficácia um sistema de distribuição de vacinas. Quantas gargalhadas vamos ouvir! 

Temor?

Noto o embaraço da maioria dos meus amigos professores universitários quando lhes pergunto por que não reagem à continuação das praxes e não tomam uma atitude contra essas práticas degradantes, nos órgãos próprios das suas escolas. Será um temor reverencial face aos estudantes?

Favas

Em 2017, quem "pagou as favas" políticas foi a sempre presente no terreno ministra da Administração Interna. Já se percebeu que há uma solução para evitar essa situação: desaparecer.

quarta-feira, setembro 18, 2024

José Bento dos Santos


Chama-se Medalha Municipal de Mérito Cultural da Cidade de Lisboa. Foi hoje atribuída por Carlos Moedas a José Bento dos Santos, sem sombra de dúvida a mais importante figura na promoção da Gastronomia portuguesa nas últimas décadas.

Um forte abraço de parabéns, caro Zé.

A importância de um comissário

Para avaliar a importância de uma pasta no colégio de comissários europeus importa saber se o seu "portfolio" controla, nos termos dos tratados, competências próprias da União ou se apenas temáticas que ainda relevam dos poderes nacionais. É nas primeiras que reside o verdadeiro poder.

Contrariamente ao critério saloio de que, para um país, o importante é que ao "seu" comissário seja atribuída uma pasta que cubra os seus interesses nacionais diretos, a experiência prova que muito mais relevante é que ele controle áreas em que os outros Estados lhe tenham de vir "comer à mão".

Finalmente, um critério simples, e quase "numérico", para avaliar a importância de uma pasta no colégio de comissários é conhecer o envelope financeiro que por ele passa a ser diretamente controlado. Há comissários que não dispõem de quaisquer verbas dessa natureza.

Coincidências

Ouviram falar de José Emílio da Silva? 

A muitos leitores deste blogue imagino que o nome deve dizer pouco ou nada. Outros, com alguma idade e memória política, recordar-se-ão do militar do MFA que teve um papel relevante no processo de descolonização de Angola e que, por cá, chegou a ocupar o cargo de ministro da Educação e Cultura, em dois governos do período revolucionário, além de presidente da RTP.

Ontem, almocei com dois amigos que, tal como eu, também viveram em Luanda. 

A certo passo da conversa, um deles recordou José Emílio da Silva. Falou-se então da atividade político-militar dessa figura, das suas opções ideológicas e do impacto da sua ação em Angola. Lembro-me de ter comentado o facto de, desde há muitos anos, o nome daquele oficial daquele ter desaparecido das notícias.

Horas depois, a meio da tarde, abri a caixa de emails e deparei com uma comunicação acabada de chegar, da Associação 25 de Abril. Dava conta do falecimento de José Emílio da Silva.

terça-feira, setembro 17, 2024

Os Tapados


"Era a propriedade de que o teu avô mais gostava", dizia-me sempre a minha mãe, a quem, em herança, coube esse terreno, em Bornes de Aguiar, ali ao lado das Pedras Salgadas. E que eu, como filho único, vim a herdar, há bem mais de duas décadas. 

Para além de uma casa em Bornes que, felizmente, ainda hoje permanece nas mãos de pessoas da minha família, todas as pequenas parcelas rurais, algumas minúsculas, quase simbólicas e sentimentais, que o meu avô materno tinha deixado aos seus cinco filhos, foram entretanto alienadas.

Restou a maior de todas elas, a quinta dos Tapados, que eu nunca vendi. É um terreno bonito, com mais de uma dezena de hectares, parte num cénico declive, de onde se olha a velha estrada entre as Pedras e Vidago. Já teve pinheiros e castanheiros. Nos últimos anos, a terra tem servido apenas para pastoreio.

Por temperamento, sou muito pouco dado a áreas rurais, salvo para visitas de toca-e-foge. Na vida, que me lembre, fui meia dúzia de vezes aos Tapados, se tanto. Um dia, cheguei a pensar fazer por lá uma casa, mas logo concluí que não iria ter nem vida nem paciência para a usar devidamente. Cada um nasce para o que é.

A circunstância de ser feita a limpeza básica regular dos terrenos não impediu que, na noite de ontem, como agora me chega, os Tapados, como muitos dos terrenos à sua volta, tivessem sido afetados pelo forte incêndio que rondou a aldeia de Bornes e áreas adjacentes. 

Sinto tristeza pelo facto dos Tapados terem ardido. Porque sei que esse seria o sentimento da minha mãe e do meu avô, que me antecederam na posse daquela terra que, afetivamente, lhes dizia bastante.

segunda-feira, setembro 16, 2024

Já agora

Haverá quem venha responder que "isso agora não interessa nada". Mas seria importante saber: que avaliação faziam as autoridades sobre o grau de efetivo cumprimento das medidas obrigatórias de limpeza de terrenos nas zonas rurais, em vigor no início deste verão de 2024?

SIC

O meu prezado amigo Dr. Luís Marques Mendes é um putativo candidato à presidência da República. Está no seu pleno direito. Mas nós também temos o direito de pensar que, ao se ter abstido de comentar, na sua rubrica na SIC, a caricata questão Melo/Olivença, isso pode ter algo a ver com um apoio futuro do CDS às suas pretensões. Esse é o problema deste estranho ambiente português de termos profissionais do comentário com ambições políticas.

domingo, setembro 15, 2024

"Deixar África" (1974 - 1977)


Em 2013, apresentei no Porto o livro de Alexandra Marques "Segredos da Descolonização de Angola". 

Era um retrato muito frontal sobre o processo político-militar que envolveu a independência de Angola, com um polémico apontar de dedo a gente que, à época, teve responsabilidades nas decisões que, por ação ou omissão, marcaram muito daquilo que acabaria por suceder no terreno. 

Alexandra Marques, uma década depois, volta ao tema, alargando o âmbito geográfico do estudo, com "Deixar África" (1974-1977), subtitulado "O trauma dos portugueses de Angola e Moçambique" 

A autora, antiga jornalista entretanto doutorada, traz-nos agora uma recolha de testemunhos de imensa gente que, por esses dias, acabou atropelada pela História e, em grande parte sem a menor culpa no cartório histórico, sofreu a circunstância de estar no mau momento no lugar errado, vendo por essa razão as suas vidas voltadas do avesso. Soma a esses desabafos, cuja leitura é um filme desses dias de angústia, o teor de alguns relatórios oficiais, portugueses e não só, que nos aportam perspetivas diversas e interessantes. 

Ainda que descontado o pontual exagero emotivo de algumas leituras a quente, em particular de quem sofreu - na pele, nos bens e na família - esse complexo quotidiano, o retrato que resulta da leitura do livro oferece ampla matéria para que se continue a refletir sobre esse tempo traumático na vida do nosso país. 

Na forma como ocorreu, a descolonização foi o outro lado da moeda da Revolução libertadora do 25 de Abril. Melo Antunes disse, um dia, que a descolonização foi uma tragédia, como trágica havia sido a colonização. Sempre estive de acordo com essa dupla perspetiva. 

"Clube dos Jornalistas"


Como é possível que um dos mais simpáticos pátios/esplanadas de Lisboa, com uma preciosa, magnífica e agradável sombra, praticamente ímpar, neste dia de braseiro, local que está sempre aberto aos domingos (aleluia!), com uma lista muito criativa (mas já a precisar de um "refreshment", cara Luísa, digo isto com a autoridade de ser um cliente habitual), estivesse assim à hora de almoço? 

Fiquei a pensar nisto

 


Bebinca


Ao final da tarde de sexta-feira, numa conversa em viagem entre Coimbra e Lisboa, falou-se de cozinha goesa. Sou pouco conhecedor do assunto, mas recordei uma extraordinária sobremesa da culinária indiana: a bebinca. Nem sei como o nome me veio à ideia! Há muitos anos que não como bebinca e, à despedida,  ficou encontrada uma solução para eu, proximamente, matar saudades desse doce. 

Cheguei a casa. Minutos depois, ao olhar net, vejo a notícia de que há um furacão a assolar as Filipinas. O nome do furacão? Bebinca.

Não há coincidências, mas sei lá!, para combinar títulos de dois livros de uma autora que já andou mais em moda.

Só para lembrar...


... que os dias de sol estão a acabar. 

Depois, não digam que não avisei! 

Jogos parisienses

Os jogos olímpicos e paralímpicos em Paris correram muito bem. E ainda bem! Mas fica a sensação de que os franceses estão a ir um pouco longe demais na exploração desse êxito. Caramba! Uma cidade como Paris não precisa de todo este "foguetório" à sua volta. "Ça suffit!"

sábado, setembro 14, 2024

Olivença - a simplicidade de uma questão complexa

Olivença é um território que, nos termos inequívocos de um tratado internacional de que Madrid foi livre subscritor, pertence a Portugal. Na sequência desse tratado, a Espanha deveria ter transferido o território, ainda no século XIX, para a soberania portuguesa e não o fez. 

O Estado português, em muitos, diversos e contrastantes ciclos políticos, fez questão de nunca abdicar formalmente dessa soberania. Mas, do mesmo modo, e nesses mesmos tempos políticos, optou por jamais suscitar a questão no terreno jurídico internacional. 

Por que razão não o fez? Porque Portugal entende, num juízo de meridiano bom senso, que encetar um contencioso internacional com Espanha a esse respeito, em particular num tempo em que em terras de Olivença se vive em democracia, de onde não emerge um qualquer surto significativo de vontade de reversão da atual soberania política, acarretaria um grave custo para a importante relação bilateral que desenvolve com o nosso único vizinho terrestre. E também porque Portugal teve sempre a consciência de que a possibilidade de vir a ter vencimento nessa questão era quase nula, por não haver plausivelmente um cenário prático de resolução - repito, prático - que lhe viesse a ser favorável. 

Foi essa a decisão, explícita ou implícita, dos sucessivos governos portugueses, que, no entanto, acabaram sempre por ir no sentido de não abdicar formalmente desse direito de soberania, nunca assumindo, aliás, atitudes que pudessem ser interpretadas como significando uma abdicação dele. 

Tive o gosto de fazer parte de um governo que, perante o interesse português e espanhol em levar a cabo uma obra pública na zona geográfica cuja soberania sofre contestação, soube encontrar com Madrid, com bom senso, imaginação e sem abdicação mínima de princípios, uma solução prática que satisfez ambas as partes.

No atual contexto europeu e internacional, ressuscitar a questão de Olivença pode ser um exercício com algum interesse académico. Contudo, ser um governante portuguêsa fazê-lo, ainda por cima alguém que tem a seu cargo uma pasta de soberania e no quadro de uma cerimónia militar, confessadamente a título meramente partidário e sem a menor coordenação no seio do executivo a que pertence, é um grosseiro ato de irresponsabilidade, que aliás o obrigou a uma retratação atabalhoada e humilhante. Para somar a tudo isso, basta apreciar o nível dos aplausos que a "boca" do ministro suscitou para se ficar com uma bela montra qualificadora do grau de seriedade da mesma.

Esta senhora faz hoje 80 anos!


Se acaso fosse verdade a existência de divindades, e se, nessa improvável circunstância, elas tivessem um mínimo de bom senso e bom gosto, nunca seria permitido que isto acontecesse. Por estas e por outras é que continuo ateu.

A Alemanha, a Ucrânia e uma nota sobre Gaza


Ver aqui.

sexta-feira, setembro 13, 2024

A boca do senhor ministro


Estou certo que o senhor presidente da República, o senhor primeiro-ministro e o senhor ministro dos Negócios Estrangeiros terão, neste momento, a consciência muito clara do caráter profundamente inconveniente das palavras que hoje foram proferidas pelo senhor ministro da Defesa, pessoa que, pelos vistos, não entende que uma coisa é ser membro do governo português e outra é ser eventual associado do grupo dos amigos de Olivença. 

Ou então, como já antes aconteceu, ele virá a terreiro dizer que falou "a título pessoal", embora tenha sido filmado a dizer o que disse num enquadramento de tropas e não num banho estival nas águas do Caia. 

Às palavras do dr. Nuno Melo faltou um mínimo de sentido de Estado e de respeito pelos delicados equilíbrios da nossa política externa, que o Estado português, através da sua diplomacia, demorou muito tempo a estabilizar e não podem ficar à mercê de impulsos patrioteiros, populistas e, também por isso, irresponsáveis.

(Em tempo: entretanto, o senhor ministro, como já se estava à espera, à luz de comportamentos anteriores, já veio dizer, depois de devidamente "apertado" por que tem responsabilidades e sentido das mesmas, que falou "como presidente do CDS, embora num contexto equívoco, porque presente numa cerimónia como ministro". Escrever "num contexto equívoco" é extraordinário! E, não fosse alguém suspeitar do contrário, logo acrescentou: "Como é óbvio, essa opinião não vincula o Governo". Também era só o que faltava! Da próxima vez, aposto que o dr. Nuno Melo, contra quem nada me move no plano pessoal mas tudo me move por via destas infantilidades em terreno sério dos interesses nacionais, ainda vai acabar por dizer que falou em nome do Sporting de Braga... Na verdade, o único "contexto equívoco" em tudo isto é aquele que permite que o dr. Nuno Melo continue ministro, depois de uma gafe destas.)

Le Pen aceita Barnier


Ver aqui.

"Sharing Knowledge"


Gostei muito do debate em que hoje participei, na Universidade de Coimbra, com Carlos Costa, antigo governador do Banco de Portugal. O tema foi a Europa atual e os seus desafios. 

Acolhidos pelo vice-reitor professor João Calvão da Silva, ambos ali procurámos estimular uma livre reflexão, que se prolongou por algumas horas. 

Maria Manuel Leitão Marques, Manuel Lopes Porto, António Tavares e Vital Moreira foram alguns dos intervenientes nesta animada jornada.

Sob o incansável estímulo de Jaime Quesado, que há anos dirige a iniciativa "Sharing Knowledge" - uma espécie de tertúlia aperiódica dedicada a trocar conhecimentos e a refletir, sem o menor sectarismo, sobre temáticas económicas e sociais de interesse geral - concluímos mais uma utilíssima jornada de troca de ideias.

Parabéns ao Jaime Quesado por mais esta bela iniciativa, que julgo enriqueceu todos quantos nela participaram.

O último debate?

 


Ver análise aqui.

Ainda há postais?


É que "fiz" agora um bilhete postal. 

O "basófias"

quinta-feira, setembro 12, 2024

Ninguém tem dúvidas de que uma mera "recomendação" do Ministério da Educação, para que seja limitado o uso dos telemóveis nas escolas, dando a cada uma a liberdade de decidir, vai ser resistido pela esmagadora maioria delas. Isto é cobardia no exercício da autoridade do Estado.

Não há coincidências? Que ideia!


A conversa durou quatro horas. Foi ontem, ao jantar, numa tasca da Baixa lisboeta. Não me perguntem por onde andou o diálogo, entre mim e o meu amigo José Ferreira Fernandes, esse mesmo!, o grande mestre da crónica jornalística. Falámos de imensas coisas, com a agenda bem cheia de coisas de quem não tem agenda. 

Acabámos a noite a passear naquele lugar onde os Restauradores afunilam, a caminho do Rossio. Falei-lhe então de um túnel que, no passado, levava os passageiros que chegavam à estação do Rossio diretamente para o Hotel Avenida Palace. A propósito de eu lembrar estarmos a dois passos do local onde, em "O Leão da Estrela", o António Silva andou desesperadamente à cata de um bilhete para o Porto-Sporting, o José Ferreira Fernandes contou-me que o autor do "script" do filme era um ferrenho benfiquista. E também me revelou algo que eu estava longe de saber: que "O Pátio das Cantigas" foi inteiramente filmado em Coimbra. Aproveitei para lhe contar que a Maria Paula, uma das atrizes do filme, tinha tido um bar perto da Artilharia 1, onde, aí por 1976, a ouvi cantar ao piano canções reacionaríssimas. O José Ferreira Fernandes disse-me que a Amália estivera para entrar no filme e que tinha sido por pressão do galã António Vilar que isso não tinha sucedido.

Nessa altura demos connosco a pensar quão decisivas e relevantes eram as informações que estávamos a trocar para o que importa ao mundo de hoje. Perguntámo-nos, aliás, sobre o que diriam, se inquiridos sobre esses assuntos, os muitos jovens com os quais por ali nos cruzávamos, nessa primeira hora de quinta-feira O mais certo é que achariam que aqueles cotas já se tinham passado de vez.

Na noite fresca que já entrava pelo dia seguinte, e não sei a propósito de quê, o José Ferreira Fernandes falou da Grande Guerra, da guerra 14/18. E referiu um livro que, há uns anos, tinha lido sobre o conflito e que muito o impressionara. À medida que descrevia episódios da obra, aquilo começou-me a soar a algo de familiar. Lembrei-lhe uma cena e a conclusão foi imediata: tínhamos ambos lido o mesmo livro.

Recordei então o título da obra: "Au revoir, là-haut", do escritor francês Pierre Lemaître. E contei que, há 10 anos, tinha sido eu quem apresentou a sua edição portuguesa, no que fui acompanhado pelo autor, no Centro Cultural Luso-Francês, ainda na sua antiga morada. A isso, recordava, tinha-se seguido um jantar com Miguel Sousa Tavares, na Tágide, Até aqui, nada de novo.

Então? Nesse ano de 2014, o contacto para eu vir a apresentar o livro fora feito por Eduardo Marçal Grilo. Ora, há poucas horas, exatamente ontem!, o Eduardo tinha-me telefonado, a propósito de outro assunto. E eu e o ele raramente falamos. Durante a mesma tarde, também ontem, recebi da responsável pela edição do livro, pessoa com quem eu já não me correspondia há mais de dez anos, um email a convidar-me para elaborar um prefácio para um outro trabalho que vão publicar. Ambas as coisas, repito, ocorram ontem.

Não há coincidências? Pois não!

Soares

Estou certo que Mário Soares teria ficado muito satisfeito se acaso, ultrapassada que fosse a impossibilidade prática das coisas, tivesse po...