Frequentemente, os cidadãos europeus tendem a esquecer que a ação política que sustenta a vida das suas instituições é apenas o modelo enquadrador de um projeto multidimensional de vida e civilização, fruto de um compromisso entre as diversas expressões nacionais de poder. Um projeto cuja sustentação depende da continuidade da adesão dos cidadãos a um imaginário que se renova no quotidiano, alimentado pela dinâmica do processo de construção europeia.
Porque se impõe mediaticamente, a coreografia dos atores políticos surge,
muitas vezes, aos olhos da opinião pública, como uma espécie de substituto
daquilo que é, na realidade, a essência desse projeto: os objetivos, os
valores, as expetativas, isto é, a narrativa em torno de uma ideia de paz e
desenvolvimento, interiorizada pelos cidadãos.
De um conceito mobilizador, que foi capaz de organizar institucionalmente a
esperança e edificar um inigualável período de bem-estar e de apaziguamento de
tensões, a Europa pareceu, nos últimos anos, ter perdido o elã coletivo que a
motivou, surgindo mesmo, aos olhos de alguns, como o bode expiatório das suas
frustrações e desencantos.
Em muitos casos, o espírito crítico abandonou a sua indispensável função
promotora de alternativas para se situar para além da linha da preservação do
modelo, às vezes contestando mesmo a validade da sua própria permanência no
tempo.
A Europa e quem nela acredita não podem deixar vencer-se por um qualquer
pessimismo, por um derrotismo de conjuntura que amorteça a vontade de garantir
um futuro àquele que é, sem a menor dúvida, o maior e mais completo caso de
sucesso, em toda a História, em matéria de cooperação internacional. Colocar em
causa este fantástico adquirido seria uma imensa irresponsabilidade.
Mas o mero voluntarismo não é suficiente para garantir a vitória de uma
ideia. Há que convocar para ela a vontade dos cidadãos, assegurar a sua adesão.
Para tal, não devemos persistir numa mera repetição do mantra rotineiro,
devemos trabalhar o discurso com base na evolução da própria realidade.
Uma nova e mobilizadora narrativa europeia tem assim de ser construída e
deve assentar em dois pilares que se complementam.
Por um lado, deve conseguir envolver os cidadãos, em especial as novas
gerações, na revisitação dos seus fundamentos culturais coletivos, explorando
as virtualidades das novas tecnologias e da vida sustentável, a imensidão de
plataformas de incentivo à criatividade, as dimensões das práticas sociais
solidárias, gerando uma afetividade ao projeto europeu, produto de uma adesão voluntária
às suas imensas virtualidades e potencialidades. Deve, no fundo, trabalhar para
um Novo Renascimento.
Esse registo deve também assentar na exploração das dinâmicas resultantes
dos novos “territórios” comuns que a Europa conquistou entretanto para os seus
cidadãos, introduzindo, progressivamente, uma reflexão de matriz europeia nos
espaços públicos, nacionais ou continental. Há que dar passos na construção da
Europa “como cidade”, uma polis com
alma própria, identificável pela sua projeção civilizacional autónoma.
Trata-se, assim, de organizar o discurso em torno de um Novo Cosmopolitismo.