quinta-feira, abril 23, 2015

Confiança

Ontem, ouvi na televisão o presidente do Montepio Geral afirmar, com plena e determinada convicção, que os respetivos depositantes podem, em absoluto, estar descansados quanto à possibilidade de terem os seus depósitos e aplicações garantidos.

Há uns anos, uma afirmação destas, feita com toda esta solenidade, dar-me-ia uma imensa garantia. Eu ficaria sossegado quanto aos riscos que estava a correr e, em especial, determinaria as minhas decisões fortemente ancorado nestas "rassurantes" declarações.

Porém, ao ouvi-las ontem, a minha primeira reação foi precisamente oposta: "se ele se sente na obrigação de vir a público dizer isto, é porque alguma coisa vai mal". 

Há uns meses, todos assistimos a declarações de importantes titulares de cargos políticos a dar garantias solenes de que o BES era uma entidade acima de toda a suspeita de insolvência. Depois, foi o que se viu.

Mais tarde, assistimos a afirmações perentórias a assegurar que os portugueses não gastariam "um único euro" com a solução dual mau/bom banco. Hoje já todos perceberam que, salvo um improvável "milagre das rosas", o contribuinte português vai ter de esportular algum para a fatura final daquela imaginativa "engenharia financeira".

Cada vez mais, os portugueses estão a habituar-se a olhar a realidade político-financeira como olham as declarações dos dirigentes do futebol sobre a estabilidade dos treinadores: está tudo bem, até ao dias em que esteja tudo mal.

Muitos olharão para isto com um sorriso irónico. Como se de uma inevitabilidade se tratasse. Eu acho que isto é uma imensa tragédia.

7 comentários:

Anónimo disse...

É uma tragédia. Mas mediática. Se o foguetório semanal no jornal Expresso não tivesse conduzido ao levantamento de 10 mil milhões de euros de depósitos no primeiro semestre de 2014 o destino do BES teria sido o mesmo?

Anónimo disse...

anedota do dia:

Sempre que António Costa afirmar que vai amamentar deve ser obrigado a espremer as mamas.

Anónimo disse...

Tomando isto com um grão de sal, é a sindrome Nixon: "I'm not a crook" ;)

Joaquim de Freitas disse...

Houve 176 crises financeiras desde que o dólar passou a moeda de referência, a moeda é por conseguinte o problema.

Ora as crises repetitivas do sistema económico vigente, além de serem provocadas pelos países ricos, deveriam ter alertado quanto à caducidade duma doutrina que não responde às necessidades da governança financeira mundial.

Há o caso da Grécia _ o mais mediatizado e compreende-se – mas não há só a Grécia e, numerosos são aqueles hoje ameaçados de bancarrota como sanção do sistema em questão. Todos os países ocidentais, incluindo os EUA – vivem acima dos seus meios

A crise que põe as grandes potências económicas e as instituições financeiras internacionais no estado febril em que se encontram, lança uma luz crua sobre os Estados gangrenados pela corrupção, os vale-direitos, o roubo organizado (o serviço da dívida do FMI) e os famosos paraísos fiscais.

Na realidade, a grande finança internacional é um mundo totalmente corrupto, como o demonstrou claramente os escândalos das subprimes que levou no seu rasto dezenas de grandes bancos nos EUA e na UE. E porque razão um banco português deveria escapar?

M,Franco disse...

Quando a desconfiança se instala...
De acordo com tudo o que diz, de uma
maneira tão bem exposta.

opjj disse...

Se tivesse sido nacionalizado como foi o BPN não teria sido bem pior?
Se do BPN se fala em 7.000 milhões, do BES seriam 40.000 milhões directos, depois acrescentava-se mais de 10.000 empregos e empresas duma assentada.
Pergunto, com contas falsificadas desde o ano de 2000, como foi possível apresentar-se centenas de milhões de lucros todos os anos e distribuídos como dividendos? Ainda não vi ninguém tocar no assunto.

Bartolomeu disse...

Bom, a constatação desta "moda" ajuda os mais previdentes a tomar uma decisão que será forçasamente inversa àquilo que os detentores de cargos de responsabilidade, veem publicamente fazer crer.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...