Nos anos 90, uma revista política britânica de circulação muito limitada, "Scallywag", publicou um rumor, que era falso, sobre um "affaire" do então primeiro-ministro conservador britânico, John Major.
Durante alguns dias, ninguém mais tocou no assunto. Major não desencadeou qualquer ação judicial contra a revista.
Passadas breves semanas, a revista "New Statesman", uma publicação bastante lida, muito próxima dos trabalhistas, retomou o tema, num tom clássico de quem quer ecoar a coisa, mas distanciando-se dela: ”Então não querem lá ver que andam por aí a dizer isto…”
Era comentado o conteúdo do artigo do "Scallywag", embora não credibilizando necessariamente o boato.
Porém, porque o "New Statesman", ao falar no assunto, amplificou a divulgação da mentira, Major (e a senhora envolvida no boato) processaram a revista. E depois, naturalmente, também o "Scallywag" foi a julgamento. Para a História: Major ganhou os dois processos.
O comportamento inicial de John Major mostra que seguiu uma regra básica da comunicação: quando as mentiras têm uma difusão restrita ou escassa credibilidade, reagir contra elas, em termos públicos, acaba por ser contraproducente.
Lembrei-me desta história a propósito de uma “notícia” espalhada na internet por uma boateira profissional espanhola de extrema-direita, detentora de um historial incontável de mentiras, como bem sabe quem acompanha minimamente a política do país aqui ao lado.
A visada, a deputada Mariana Mortágua, não reagiu quando por aí começaram a ser “retweetados” esses delírios. Mas pôs logo em tribunal o seu colega parlamentar de extrema-direita, correligionário luso da maluquinha espanhola, quando este deu amplificação ao assunto.
E fez muito bem!
6 comentários:
A Mariana "mortedeagua" (é o que a espanhola lhe chama), fez muito bem.
Este é um daqueles casos que mostra bem a estupidez por trás de muitas das ações do Ventura. Reparem que estupidez não significa necessariamente "burrice". Este tipo de coisas fideliza votos! Mas... vale mesmo a pena?
Recentemente foi formada uma associação para a promoção da "negritude" no meio artístico. É uma coisa que congrega "artistas" pretos, quase pretos ou quase brancos (sempre gostei desta formulação do Caetano Veloso). Trata-se de uma iniciativa claramente racista, a merecer queixa às autoridades competentes e a vergonha pública dos seus promotores ("promotoras", parece-me). Onde está o Ventura? Calado. Se se lançasse contra esta imbecilidade, se entalasse quem a criou e a promove (jornal Público, como não podia deixar de ser), não só fazia um bom serviço à comunidade como ganharia pontos para os seus argumentos e, certamente, mais votos e de maior qualidade do que aqueles de pessoas que andam a ler twits. Mas prefere estas palermices.
Se isto não é ser estúpido...
Eu acho que fez muito mal.
Primeiro, porque o boato (que ela recebeu dinheiro do presidente do BES) não tem nada, à partida, de difamante. Ela pode ter recebido dinheiro legalmente por atividades perfeitamente legais.
Segundo, porque ajudou a difundir o boato.
Terceiro, porque qualquer político sabe que está sujeito a boatos e que a estes deve ser dada grande latitude. A liberdade de expressão deve sempre prevalecer como critério. É isso mesmo que afirma o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, ao qual Portugal está submetido. Se o assunto lá chegar, Mariana Mortágua perderá a causa.
publicou um rumor, que era falso, sobre um "affaire" do então primeiro-ministro conservador britânico
Mas ter um "affaire" é crime? Não é.
O rumor causou algum prejuízo, objetivamente quantificável, ao primeiro-ministro? Não causou.
Portanto, o rumor não acusou o primeiro-ministro de nenhum crime nem lhe causou qualquer prejuízo objetivo, observável e mensurável.
Logo, esse rumor não deveria ter sido punido pela lei.
A liberdade de expressão serve, em boa parte, para dizer disparates. Esses disparates não devem ser punidos, a não ser que causem um dano objetivo, claramente verificável e mensurável. Não basta uma pessoa alegar que ficou muito triste e psicologicamente afetada pelos disparates que sobre ela foram ditos; ela deve ter que demonstrar que sofreu um dano claramente observável e mensurável.
José
uma associação para a promoção da "negritude" [...] uma iniciativa claramente racista
Não me parece racista. Não envolve necessariamente uma discriminação negativa injustificada contra não-negros.
Mexer influências para ajudar ("promover") negros, ou judeus, ou mulheres, etc etc etc não me parece condenável por lei.
Que arte, Embaixador!...
José Figueiredo
Lavoura,
Sugiro que você, que é um artista do comentário e tantas vezes parece estar às escuras, tente aderir à dita organização. Depois, diga-me se foi aceite.
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