sexta-feira, novembro 05, 2021

Ouviram bem?

Na sua mensagem ao país, o presidente deixou três notas:

- que o país não desejava uma crise política;

- que a maioria dos portugueses não queria a rejeição deste orçamento;

- que a aprovação deste orçamento era particularmente importante, num tempo de recuperação da pandemia e na expetativa dos fundos comunitários.

Ao dizer o que disse, o presidente denunciou a irresponsabilidade dos partidos políticos, ao terem atuado como atuaram, à revelia do sentimento e interesse públicos.

Ficou a impressão de que o recado era, em especial, para o PCP, e um pouco para o Bloco, que, no passado, cada um a seu modo, tinham viabilizado orçamentos, nos dois governos socialistas.

Porém, gostava de sublinhar um ponto, que pode ter escapado a alguns: Marcelo Rebelo de Sousa também lembrou que, em tempos idos, face a governos minoritários do PS, sendo ele líder do PSD, que tal como hoje acontece era então o principal partido da oposição, havia tomado a decisão de viabilizar orçamentos, que, no entanto, lhe mereciam objeções, fazendo-o apenas por razões de Estado e de interesse do país.

Esta referência não foi, a meu ver, nada inocente: o recado sobre a irresponsabilidade política recaiu também sobre o PSD.

9 comentários:

José disse...

Safa-se o PAN que foi "pago" para se abster numa votação que foi perdida.
Que negócio!

albertino ferreira disse...

Eu, se fosse responsável pelo PSD viabilizaria este orçamento, pondo em cheque BE e PCP, independentemente do que Costa disse, tendo em conta o interesse do País na presente conjuntura. As sondagens dão vitória ao PS sem maioria absoluta, vamos para eleições para ficar tudo na mesma!? O PR desta vez tem um grave problema em mãos que ele não desejou. Vamos entrar num ciclo infernal de eleições "`a italiana"!? Até obter uma maioria, de Direita ou Esquerda!Alguns dos nossos políticos devem ser dos mais burros da Europa!

Luís Lavoura disse...

o recado sobre a irresponsabilidade política recaiu também sobre o PSD

Discordo. Esta frase recaiu sobre o PS, uma vez que (1) o PS rejeitou explicitamente, em tempos, a dependência do PSD para a aprovação de orçamentos, e (2) neste orçamento em particular, ele poderia ter-se dirigido ao PSD a pedir-lhe a aprovação e não o fez.

Carlos Diniz disse...

O senhor embaixador está profundamente errado. O voto, a favor ou a abstenção do PSD, implicaria que Costa se demitisse. Afirmou que o dia em que dependesse do voto desse partido o governo acabava.
Isto, claro, partindo do princípio que Costa tem coluna vertebral.....

disse...

Não sendo socialista, tenho grande admiração pelo Dr. António Costa que me parece ter sempre desempenhado as funções públicas que exerceu com profissionalismo, rigor e honestidade. Dito isto, o Sr. Embaixador concordará certamente que a acrimónia, quando não falta de respeito, com que o Dr. António Costa se dirige sistematicamente aos partidos da direita, e em particular ao PSD, não deixa margem absolutamente nenhuma para uma aprovação do orçamento por parte desses partidos. O Dr. António Costa tem de aprovar o seu orçamento com os parceiros que elegeu. Nada mais diferente do estilo cordial e cavalheiro do Dr. António Guterres, que não diabolizava o PSD do Prof. Marcelo.

Dito de outro modo, se o Dr. António Costa queria ver os seus orçamentos aprovados pelo PSD deveria ter privilegiado o PSD para o estabelecimento de entendimentos. Porque, ninguém se engane, são o PS e o PSD os partidos que defendem os grandes consensos políticos em Portugal. As franjas querem a disrupção.

João Forjaz Vieira disse...

Convém não ter dois critérios: António Costa não viabilizou um governo, igual ao de Guterres, sem maioria que tinha ganho as eleições.
João Vieira

Jaime Santos disse...

Sr. Embaixador, Costa disse que no dia em que precisasse do voto do PSD para aprovar um OE, o Governo acabaria.

Entende-se a razão, concorreu às eleições de 2019 fazendo o elogio da Geringonça, e argumentando contra a teoria do arco da governação.

Não faria qualquer sentido pois que procurasse o apoio do PSD e se este decidisse que ainda assim viabilizaria o OE, a troco de nada, o PS e o PSD ficariam ambos em maus lençóis, por razões distintas.

Às vezes são precisas clarificações e esperemos que as próximas eleições as tragam. Se ficar tudo mais ou menos igual, Costa estará pelo menos livre do compromisso com os Partidos de Esquerda.

Zé, os Partidos não têm estados de alma, têm princípios. Não são os exageros verbais que em política levam a que as pessoas deixem de se falar. Catarina Martins et al andam a sugerir que Costa preparou a crise, o que é uma acusação francamente insultuosa, o PM teria não apenas que padecer de falta de patriotismo mas também de estupidez.

Tenho no entanto a certeza que Costa falará com ela se for preciso...

Carlos disse...

Vamos a caminho dum governo liderado por Paulo Rangel … é o cenário mais provável ! Basta ver o protagonismo que lhe é oferecido pela SIC e pelo Expresso … ele são entrevistas na SIC, as notícias dos abaixo assinados, a seleção dos seus apoiantes no Expresso da meia noite, num país em que alegadamente os midia são dominados pelo governo. De forma mais ou menos subtil o PR da o seu contributo para este desiderato com a sua audiência a Paulo Rangel e o sobressalto mediático que a acompanha.

António Costa recusou com acinte a possibilidade de fazer algumas reformas importantes com o apoio de Rui Rio e apostou numa polarização acéfala, tanto mais que os parceiros da esquerda das esquerdas e da classe operária, não resistem a exigir tudo para o dia seguinte amanhã e preferindo como alternativa o quanto pior melhor.

Luís Lavoura disse...

Carlos

Vamos a caminho dum governo liderado por Paulo Rangel … é o cenário mais provável !

Quem escolhe o líder do PSD são todos os militantes do PSD e não as estruturas distritais ou concelhias, nem os media. É verdade que os media estão a carregar Paulo Rangel às costas, mas não é certo que os militantes do PSD vão na cantiga.

António Costa recusou com acinte a possibilidade de fazer algumas reformas importantes com o apoio de Rui Rio e apostou numa polarização acéfala

Exatamente. Se não fosse essa atitude hostil de António Costa, o PSD poderia tê-lo ajudado a aprovar o orçamento. Mas Costa rejeitou tal entendimento.

Após as eleições, provavelmente teremos que voltar a desabituar-nos da dicotomia esquerda-direita a que estivemos condenados nos últimos anos.

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