quinta-feira, novembro 18, 2021

Caetano da Cunha Reis

Acabo de saber que morreu o meu amigo Caetano da Cunha Reis. Conheci-o nos idos de 80, no Procópio, através do Nuno Brederode Santos. Fazia parte da nossa “seita” da Mesa Dois: “O meu Bushmills, com duas pedras, Juvenal!”. O Caetano vinha do “outro lado” da política, tinha sido fundador e o primeiro líder da Juventude Centrista. Era um grande amigo do “Diogo”, de quem foi episodicamente adjunto no MNE. Nunca esquecerei que, no dia em que assumiu essas funções, em 2005, me ligou para Brasília, dizendo-me apenas: “Telefono-te para te lembrar que tens aqui um amigo”. E ele era-o, bem amigo dos seus amigos. Ao longo de décadas, de uma mera simpatia inicial, pontuada de humor, evoluímos para uma relação de forte proximidade, mesmo de cumplicidade. “Eu faço parte da tua quota de amigos reacionários”, brincava sempre ele. Nos meses iniciais da pandemia, passava por minha casa para se “municiar” de livros - ele que era um leitor militante. O Caetano era culto e inteligente, generoso e educado. E corajoso, diz-me quem o conheceu na luta política. Teve uma vida cheia, era ele mesmo um homem cheio de vida, que muito gostava dela e das coisas boas que ela podia trazer. E que ele soube aproveitar. Alto, com aquela antiga barba que eu qualificava de “à Grossgrabenstein”, lembrando Edgar P. Jacobs, apreciava, nos últimos anos, sentar-se ao fresco da esplanada da Cristal, no passeio que, por muito tempo, gostava de fazer até à Lapa. Falei-lhe, pelo telefone, há semanas. Tinhamo-nos visto, pouco tempo antes, de raspão, numa festa, onde o notei abatido. Os problemas de saúde, de que tínhamos falado há meses num almoço a quatro, tinham-se agravado. A esperança de recuperação, contudo, mantinha-se. Tinha-o posto em contacto, entretanto, com outro amigo pessoal, que eu sabia ter a mesma doença; ficaram a dar-se lindamente, claro! Agrada-me muito que, na nossa última conversa, o seu sempiterno humor, a que se agarrava e que teimávamos sempre em cultivar, também tivesse permanecido intacto. O Caetano tinha um grande coração, mas os corações, mesmo os grandes, também se cansam. Sinto uma imensa tristeza pela saída de cena do meu amigo Caetano da Cunha Reis. Um abraço muito forte ao Joaquim e à Mami.

4 comentários:

Flor disse...

Descanse em Paz:(

Luís Lavoura disse...

Os meus pêsames.

Nos meses iniciais da pandemia, passava por minha casa para se “municiar” de livros

Isso era proibido! Nos meses iniciais da pandemia, só se podia sair de casa para ir às compras. Não se podia ir a casa de amigos!

Francisco Seixas da Costa disse...

Ó Luís Lavoura! Não se dá conta daquilo que escreve? Por favor…

Paulo Guerra disse...


Não há nada pior na vida que ver partir os nossos entes queridos. Desde que nos damos conta pela primeira vez da nossa própria finitude até ao fim. Bonita homenagem e sinceras condolências a ambas as famílias

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